FT-CI

Noruega

O massacre de Oslo e a decadência capitalista

02/08/2011

No último 22 de julho a Noruega se viu sacudida pelo massacre mais horroroso desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Primeiro, uma bomba destruiu um edifício governamental no centro de Oslo, deixando pelo menos sete mortos. Poucas horas depois, um homem vestido de policial e fortemente armado assassinava 68 jovens que participavam de um tradicional acampamento de verão do Partido Trabalhista (partido que está a frente do governo federal) na ilha de Utoya. Era esperado o primeiro ministro - Jens Stoltenberg participaria do acampamento - como normalmente fazem os principais dirigentes trabalhistas. Como disse o diário Le Monde, este evento é um dos pilares “da vida política da noruega” e simboliza o modo que se produz a elite política de um dos principais partidos nacionais, o que amplifica o impacto do ataque.

Imediatamente, e sem nenhuma evidência, a imprensa local e internacional responsabilizou grupos islamistas pelos atentados. Contudo, pouco depois descobriram que quem perpetrou este ataque não foi nenhum membro da Al Qaeda nem partidário da “jihad”. O assassino tem nome “ocidental”, se chama Anders Behring Breivik, e é um jovem de classe média nórdico, loiro e bem educado, ex-membro do direitista Partido do Progresso, cristão fundamentalista, raivosamente anti-muçulmano e simpatizante da extrema direita européia e norte-americana.

Todavia não se sabe se atuou sozinho ou contou com a colaboração de outros indivíduos ou organizações. Mas esse não é o único questionamento. Ao longo dos dias proliferam as teorias da conspiração, que envolvem desde as forças de segurança locais até serviços secretos de outros países, como o Mossad israelense, embasadas no fato de que Breivik contou com uma hora e meia para levar adiante seus planos sem que nada o detivesse e pelo fato de que no acampamento se discutiria o apoio ao boicote internacional contra Israel.

Embora em maio deste ano os planos de Breivik tivessem sido anunciados pela compra de uma grande quantidade de fertilizante – utilizado para fabricar explosivos –, e que tivesse sido detectada uma crescente atividade de uma nova extrema direita anti-islamista, similar ao que vem surgindo em outros países europeus como a Liga de Defesa Inglesa, para a polícia norueguesa a principal ameaça de segurança vinha de grupos muçulmanos radicalizados (Avaliação Anual de Risco 2011).

Como é de costume nestes casos, as principais corporações midiáticas que alimentam o racismo e não se cansam de agitar o fantasma do “terrorismo islà¢mico” como o principal inimigo dos “valores democráticos ocidentais”, tentam explicar o ocorrido dizendo que Breivik é um psicopata solitário.

Mas o que é certo é que Breivik levou anos planejando meticulosamente esta ação, que tem um objetivo político claro e deixou como testemunho um manifesto de cerca de 1500 páginas onde expõe abertamente uma ideologia racista e xenófoba que se nutre das políticas anti-imigração e beligerantes dos estados capitalistas “democráticos”.

Imperialismo, racismo e xenofobia

Nas últimas duas décadas diversos grupos da extrema direita européia vêm aumentando sua influência. Embora alguns tenham discursos populistas e “anti-establishment”, estes partidos são completamente funcionais aos interesses da burguesia, já que com o racismo e a xenofobia evitam o questionamento ao capitalismo e desviam o ódio social para os trabalhadores imigrantes, sobretudo os provenientes dos países mais pobres da África e do mundo muçulmano.

Este fenômeno deu um salto com o estourar da crise econômica internacional, que golpeia principalmente os países centrais e que deixa os trabalhadores imigrantes em uma situação de extrema vulnerabilidade.

Alguns exemplos que mostram o ascenso eleitoral da extrema direita são o Partido do Progresso norueguês, que se transformou na segunda força parlamentar com 23% dos votos em setembro de 2009; os Democratas Suecos que obtiveram pela primeira vez representação parlamentar com 5,7% no ano passado, o Partido da Liberdade na Holanda que obteve em 2010 15,5% com uma campanha agressiva contra os imigrantes, e na França a Frente Nacional de Marie Le Pen que não deixa de subir nas pesquisas para a eleição presidencial do próximo ano. A esses se somam os Verdadeiros Finlandeses, o Partido da Liberdade da Áustria ou o Partido do Povo Dinamarquês, sem contar os grupos neonazistas mais tradicionais na Europa Oriental.

De maneira similar, o surgimento do Tea Party nos EUA expressa esta crescente polarização social e política, agudizada com a crise capitalista. Está claro que esta agenda anti-imigrante e em particular anti-islà¢mica, de nenhuma maneira é patrimônio da extrema direita, mas é política de Estado nos países da União Européia e EUA.

Quase uma década antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, o cientista político norteamericano S. Huntington já havia inventado sua teoria sobre o “choque de civilizações” para fundamentar as políticas anti-imigrantes. A “guerra contra o terrorismo” de Bush transformou o islamismo no novo inimigo do imperialismo e serviu para justificar as guerras no Afeganistão, Iraque e estigmatizar as comunidades muçulmanas. Essas políticas militaristas continuaram com o governo de Obama com o ataque imperialista contra a Líbia e as ações no Paquistão e Iemen no plano externo e com o endurecimento das leis contra os imigrantes ilegais, como a chamada “lei Arizona”, no plano interno.

Na França, Sarkozy, com o apoio do Partido Socialista, proibiu as mulheres muçulmanas de usar o véu em instituições públicas, o que constitui um ato brutal de discriminação e opressão. E na intenção de recuperar a popularidade ordenou a deportação em massa de comunidades de ciganos, o que foi recebido com simpatia por Berlusconi.

Na UE tanto os governos social-democratas, como o de Zapatero na Espanha, como os de direita tradicional, vêm tomando medidas cada vez mais duras contra os imigrantes ilegais, transformando-os em criminosos, abrindo verdadeiros campos de concentração onde são detidos e mantidos presos antes de serem deportados a seus países de origem. Incluindo a chanceler alemã Merkel, junto com Sarkozy e Cameron, o primeiro ministro britânico conservador, teorizam sobre o “fracasso do multiculturalismo” para justificar suas políticas de mão dura.

Ante o fluxo de refugiados que chegam ã Itália e outros países fugindo desesperadamente dos bombardeios na Líbia, os governos europeus estão discutindo reimplantar os controles fronteiriços dentro da chamada zona Schengen, liquidando o princípio de livre circulação dentro da UE. Estas políticas policiais e racistas dos principais partidos da burguesia são o que alimentam o ódio de grupos e indivíduos como Breivik.

Um “paraíso perdido”?

As principais mídias capitalistas pretendem criar um senso comum de que a Noruega é a realização de um tipo de “utopia escandinava” onde é possível a prosperidade, a paz e a harmonia social sob o capitalismo, graças ás suas enormes reservas petrolíferas e aos governos social-democratas, que salvo alguns períodos de governos conservadores, se sucedem desde o fim da Segunda Guerra.

Ainda que a Noruega seja um país com uma grande riqueza petrolífera, o que lhe permite sustentar níveis de benefícios sociais maiores comparados com outros países europeus, está longe de ser um “paraíso” onde, como disse um artigo do Le Monde, “patrões e operários sabem conversar em nome do interesse coletivo”. Como em qualquer país capitalista, suas grandes empresas multinacionais privadas e estatais como a petroleira Statoil ou a química Yara, exploram milhares de trabalhadores na Noruega e em vários países do mundo. A greve de 20 mil trabalhadores da construção civil de abril de 2010 por salário e contra a flexibilização deixou descoberto como as patronais locais se beneficiam das condições de precarização em que se encontram a maioria dos operários poloneses empregada no setor, condições que se aprofundam com os efeitos da crise econômica que se sentiu, particularmente, em 2009.

Na política externa, Noruega é um aliado tradicional dos EUA: ingressou na OTAN em 1949, e com o Partido Trabalhista foi um dos principais baluartes contra o avanço do comunismo durante a Guerra Fria. Apesar da forte oposição interna, participou da guerra imperialista no Afeganistão (também participou no Iraque quando o Partido Conservador estava no governo) e seus aviões contribuem de maneira decisiva nos bombardeios contra a Líbia, onde tem importantes interesses petroleiros.

O fenômeno ascendente do Partido do Progresso e o horroroso massacre perpetrado por Breivik fizeram desmoronar a ilusão social-democrata de uma sociedade homogênea onde as contradições de classe se resolvem com o diálogo. Os atentados de Oslo iluminaram as tendências burguesas, que hoje têm como alvo principal os setores mais vulneráveis, mas amanhã se voltarão contra as organizações dos trabalhadores se estas tomam um curso revolucionário.

O surgimento da extrema direita em um pólo e o levante da luta de classes com as rebeliões no Norte da África, os “indignados” na Espanha e a resistência dos trabalhadores gregos aos brutais planos de ajuste, estão antecipando as batalhas futuras no marco da crise capitalista e mostram a urgência de colocar de pé partidos operários revolucionários que estão a altura desses desafios.

Traduzido por Alexandre C.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Jornais

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)