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COPA DO MUNDO NO BRASIL

Para quê serviu a Copa do Mundo no Brasil?

16/07/2014

Para quê serviu a Copa do Mundo no Brasil?

Apesar das muito medíocres passagens da seleção brasileira pelas oitavas e quartas de final, a paixão pelo futebol fez com que a torcida pela seleção tomasse o sentimento da maioria da população. Durante algumas semanas, as enchentes, as filas nos hospitais, as escolas que se assemelham a cadeias, a precariedade e os altos preços dos transportes, a falta de moradia, a corrupção deslavada, as greves contra a desvalorização dos salários provocada pela crescente inflação, todas essas questões que vinham se alternando no primeiro plano da realidade política nacional passaram para um segundo plano em função da torcida e da diversão proporcionada pelos jogos.

Não que os motivos para comemorar fossem unânimes. Muitos literalmente assistiram (?) ã Copa debaixo d’água, com suas casas inundadas pelas enchentes e familiares mortos. No estado do Paraná, mais de 423 mil pessoas foram atingidas. 27% dos municípios do Rio Grande do Sul ficaram em estado de emergência. Em Natal, uma das cidades-sedes dos jogos, centenas de famílias ficaram desabrigadas pelas chuvas. Milhares de famílias ainda se encontravam desabrigadas depois da cheia de um dos maiores rios da Amazônia. Uma realidade que se repete todos os anos, em tragédias anunciadas, e que esse ano, com os R$ 26 bilhões investidos em estádios e obras para turistas (85% dos quais provieram dos cofres públicos), não pôde ser diferente. Mas, claro, isso não foi mostrado pelas TVs de todo mundo que se encontravam no Brasil cobrindo o Mundial. Como muito, noticiaram o desabamento do viaduto que matou duas pessoas ás vésperas da semifinal, numa das alardeadas “obras de mobilidade” feitas para a Copa.

As expectativas geradas pelo ufanismo dos comerciais de TV (para os que não estavam debaixo d’água), ainda mais golpeadas pelo vergonhoso 7 x 1, se transformaram em um sabor amargo, que precisa dar lugar a certa reflexão. A presidente Dilma tenta a todo custo “driblar” a derrota sofrida pela seleção brasileira em campo para ganhar votos nas eleições de outubro vendendo a imagem de “boa gestora”. Seu grande triunfo teria sido não ter caos aéreo, não ter faltado água ou luz (para os turistas), não terem desmoronado arquibancadas nos estádios finalizados ás pressas, não terem ocorrido greves de transportes públicos ou grandes manifestações de massas que inviabilizassem ou pusessem em crise os eventos. Esse é o grande “legado” que Dilma tanto vendeu que ficaria para o povo brasileiro com a Copa do Mundo.

Entretanto, o verdadeiro legado da Copa é outro. Segundo dossiê da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop), 250 mil pessoas já foram ou estão sendo removidas de suas casas em todo o Brasil, seja para dar lugar ás obras ligadas ã Copa e ás Olimpíadas de 2016, seja em função da especulação imobiliária alentada por essas obras. Os estádios ficam como grandes “elefantes brancos”, que em grande parte não serão utilizados nem mesmo para o futebol local.

Mas um dos principais legados da Copa é um aparato militar repressivo muito mais bem equipado e treinado para lidar com explosões sociais inerentes a um país baseado na reprodução crônica de gigantescos contingentes de pobreza aglutinados nas favelas; e que desde junho de 2013 vem demonstrando das mais variadas formas que não aceita mais passivamente serviços públicos tão caros e precários, condições de trabalho tão precárias e degradantes, a brutalidade da violência policial, o parasitismo dessa casta de políticos que só sabe se enriquecer ás custas do povo. Foram gastos R$ 1,9 bilhões: 150 mil agentes das Forças Armadas foram treinados para atuar nas ruas das principais capitais, utilizando tanques, blindados e armamento pesado; armas modernas, sistemas de inteligência, veículos especiais etc. Algumas das principais favelas em localizações estratégicas foram ocupadas pela ação conjunta das topas do exército e das polícias especiais. Foram testados equipamentos comprados do Estado de Israel, semelhantes aos que hoje são usados contra o povo Palestino na Faixa de Gaza. Ativistas foram presos e manifestações foram brutalmente reprimidas antes mesmo de começarem.

Depois da amarga derrota, com certo constrangimento pairando no ar pelos milionários salários recebidos pelos jogadores e pela equipe técnica, afora as infinitas campanhas de publicidade que pareciam ser mais importante que a bola, a paixão brasileira pelo futebol ficou obscurecida. Aquilo que deveria ser uma “arte” se mostrou corrompido e degradado pela sede de lucro dos cartolas e dos capitalistas da FIFA, da CBF, dos patrocinadores do megaevento. A ressaca começa a passar, e voltam a ganhar importância todos aqueles problemas estruturais que não deixaram de existir, ainda que agora os partidos dominantes tentarão escondê-los com sua demagogia eleitoral.

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