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Brasil

Para desmascarar a direção governista da CUT

13/05/2007 Palavra Operária N° 30

Que todos os setores do movimento sindical, incluídos os sindicalistas da CUT e da Força Sindical que nos últimos anos passaram muito mais tempo em negociatas com o governo e a patronal que ao lado dos trabalhadores, comecem a falar de unidade é um indicio importantíssimo. Obviamente não estamos dizendo que os pelegos da Força Sindical, que na maioria dos sindicatos constituem uma máfia ligada a patronal, ou da CUT, que tem apoiado todas as medidas de ataque do governo Lula, estão se transformando em sindicalistas combativos que defendem a unidade real dos trabalhadores. Mas quando estes senhores começam a falar de unidade, isso é a expressão de que começa a haver uma mudança no estado de animo dos trabalhadores, uma nova disposição de luta para melhorar seu nível de vida e barrar os ataques que estão em curso, pois todo trabalhador sabe que para defender nossos interesses a unidade da classe é nossa mais preciosa arma. Esse novo estado de animo tem se expressado em uma série de greves salariais de categorias importantes, em mobilizações de trabalhadores sem teto em grandes cidades do país, nas paralisações parciais contra a emenda 3, nas paralisações convocadas pela Conlutas contra a emenda 3 e o conjunto das reformas de Lula, na luta dos professores contra o teto salarial que o governo quer impor, que se expressou na última quarta-feira em paralisações e passeatas em todo o país.

A unidade que propõe a CUT tem pernas curtas

Que a CUT esteja convocando mobilizações contra a emenda 3 e se coloque de palavra ao lado da luta dos professores, demonstra como a pressão das bases começa a aumentar e obriga a burocracia sindical da CUT a se re-localizar para não ser ultrapassada pela base. Apesar de convocar algumas mobilizações contra a emenda 3 e até se dizer contra a reforma da previdencia, a CUT não diz que será o próprio Luiz Marinho, a mando de Lula, quem vai aplicá-la. Falam de direitos trabalhistas ao mesmo tempo em que defendem o governo Lula e ataques como o super-simples que legaliza a fraude trabalhista nas pequenas e médias empresas. Falam a favor do direito de greve, mas defendem todo tipo de restrição à luta dos trabalhadores como a resolução 151 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que na prática proibe a greve do funcionalismo.

Com a entrada do PT e do PCdoB no governo federal os sindicalistas da CUT, em especial os da Articulação Sindical do PT, passaram a ocupar uma infinidade de cargos de primeiro, segundo, terceiro e todos os escalões possíveis na máquina do estado. Estão dispostos a entregar os direitos dos trabalhadores se conseguirem em troca, negociar com o governo Lula e a patronal a manutenção dos seus privilégios e cargos. A patronal tenta avançar com um conjunto de medidas que na prática significariam o fim dos direitos conquistados durante as lutas da década de 80 e que de uma forma ou outra estão assegurados (juridicamente pelo menos) na constituição de 88. Se isso acontece, no entanto, também os burocratas governistas podem perder toda sua força e cargos. Durante a década de 90 a direção da CUT prestou um grande serviço a burguesia convencendo os trabalhadores que era necessario aceitar as retiradas de diretiros, o banco de horas, e outros ataques, em troca da manutenção dos empregos. E apesar de todas essas concessões, nada impediu a patronal de avançar com as demissões e seu projeto de reestruturação produtiva. Mas agora, quando a burguesia quer avançar para acabar com o direito de greve, impor um teto para o aumento do funcionalismo e retirar nossos direitos trabalhistas e previdenciários, os próprios burocratas sindicais sentem que a burguesia já não quer mais se utilizar deles, que ela vai preferir cada vez mais recorrer diretamente aos serviços do judiciário e da policia para acabar com as nossas lutas.

Ao convocar algumas mobilizações a CUT tenta se utilizar da disposição de luta dos trabalhadores para na realidade ter força nas mesas de negociação para manter seus cargos e privilégios. A direção da CUT quer mostrar a patronal que seus serviços ainda são necessários. Quando conseguir alguma migalha para si, deixará os trabalhadores a ver navios, como já fez em tantas oportunidades.

A responsabilidade da Conlutas e da Intersindical

O Encontro do dia 25 mostrou a debilidade que as direções do PSOL e do PSTU têm. As direções destes partidos, que se entusiasmaram tanto com a presença do MST e do PCdoB no Encontro, se recusaram a votar uma política para incidir na base da CUT e das outras centrais. Agiram como se a unidade do dia 25 fosse suficiente para levar adiante a luta contra as reformas de Lula, quando todos sabemos que não é.

As condições estão dadas para que a Conlutas e a Intersindical dêem um salto na sua inserção entre a classe operária e inclusive para que tomem a direção destes processos de mobilização contra os ataques neoliberais. Mas para isso, muito mais do que participar de dias de luta “unificados”, é preciso uma política concreta para derrotar os ataques do governo, política que passa necessariamente pela defesa de uma unidade real da classe contra todos os ataques.

Seria mais necessário do que nunca neste momento um chamado a unidade de todos os trabalhadores e de todos os sindicatos deste país a organizar uma luta séria contra as reformas que já estão em curso e que visam acabar com os nossos direitos. As meias medidas de luta da CUT contra a emenda 3 devemos opor um plano de mobilização, um verdadeiro plano de guerra contra todos os ataques, venham eles da oposição burguesa, ou de Lula. Paralisações de duas horas não bastam para quebrar a força da burguesia. É necessário avançar para uma grande greve nacional que paralise o funcionalismo publico em unidade com todos os principais serviços e indústrias do país.

Mas um uma greve assim deve ser preparada. As manifestações e paralisações que ocorreram no dia 10, dia 17, 23 e 25 são apenas um primeiro passo. É preciso exigir a realização de um dia de paralisação total, com atos de massas em todas as grandes cidades do país. O funcionalismo publico estadual, federal e municipal, que tem acumulado importantes experiências de luta ao longo do primeiro mandato de Lula, pode e deve deflagrar o mais rápido possível uma grande greve nacional contra o arrocho salarial e os ataques as aposentadorias e convocar todos os trabalhadores a uma luta unificada contra todos os ataques. É preciso formar em cada empresa e local de trabalho comitês de organização e mobilização, como forma de fazer chegar a cada trabalhador de base a noticia dos ataques em curso, assim como das medidas de luta planejadas para barra-los. É preciso organizar assembléias em cada empresa e local de trabalho para votar como se incorporar ao plano geral de mobilização e começar a organizar a greve nacional em defesa dos nossos direitos. Neste caminho, seria uma medida de fundamental importancia a organização de um encontro nacional de delegados para unificar pela base os trabalhadores em luta em todo o país.

Levantando uma política assim, a Conlutas e a Intersindical poderiam fazer os trabalhadores comparar sua atuação com a da CUT em lutas unificadas, o que só fortaleceria os setores anti-governistas. Para isso é necessário uma política concreta para derrotar as reformas (todos sabem que apenas grandes atos são insuficientes) e para que estas lutas unificadas se dêem. Se a Conlutas e a Intersindical se dirigissem as bases da CUT exigindo das direções destas um plano de guerra para derrotar todos os ataques em curso e explicando pacientemente por que a CUT convoca apenas pequenas paralizações, organiza dias de luta, mas não uma greve nacional contra as reformas, a autoridade política da Conlutas e Intersindical aumentaria enormemente entre as bases da CUT. Uma luta séria para levar a cabo essas medidas em cada local de trabalho onde a Conlutas e a Intersindical tem presença, aplicando corretamente a tática de exigências e denuncias contra a direção da CUT, poderia acelerar enormemente a experiência com a direção governistas.

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