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O papel de Chávez na Colômbia
por : Juan Andrés Gallardo

11 Sep 2007 | Durante os últimos meses foi crescendo na Colômbia a pressão, tanto interna como externa, para chegar a uma “troca humanitária” entre os reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colombia (FARC) e os membros desta organização nas prisões colombianas e dos EUA...

Durante os últimos meses foi crescendo na Colômbia a pressão, tanto interna como externa, para chegar a uma “troca humanitária” entre os reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colombia (FARC) e os membros desta organização nas prisões colombianas e dos EUA. O acordo que deixaria em liberdade mais de 400 membros das FARC em troca de 45 reféns se encontrava estagnado, entre os quais se encontra a ex-canditata ã presidência Ingrid Betancourt (com dupla nacionalidade, francesa e colombiana) e três estado-unidenses. O governo colombiano de Alvaro Uribe, que se encontra em meio a um escândalo por sua relação com os paramilitares (ver aparte), depois de ter fracassado as tentativas de mediação por parte do presidente francês Nicolás Sarkozy [1], acaba de fazer um acordo com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, sua mediação para negociar com as FARC.

Nem vencedores nem vencidos?

A intervenção de Chávez poderia destravar as negociações que já estavam começando a se tornar um problema tanto para Uribe como para as FARC. As enormes mobilizações dos últimos meses a favor de uma “troca humanitário”, que no começo foram aproveitadas por Uribe a favor de sua política direitista e como base de apoio para seu governo, haviam começado a se converter em uma pressão para uma saída de diálogo contraposta ã posição que Uribe mantinha de ataque militar unilateral para resgatar os reféns. Esta política era rechaçada pelos familiares dos reféns que em alguns dos atos massivos chegaram a repudiar Uribe.

As FARC, por sua parte, necessitavam um “facilitador” que lhes permitiria sair do isolamento político no qual se encontram, ainda mais logo após a morte de 11 deputados regionais nas mãos das FARC, durante uma suposta tentativa de regaste militar fracassado em junho. A mediação de Chávez instala também as FARC como uma das “partes em conflito”, demanda desta organização que rechaça a categoria de “terrorista” com a qual o governo de Uribe a classificou diante da comunidade internacional.

Para além do êxito ou fracasso da missão de Chávez, o objetivo é permitir um diálogo no qual não haja nem vencedores nem vencidos. O assassino Uribe vai ter que apertar forte os dentes enquanto Chávez compara as FARC com o Estado colombiano, ainda que ao mesmo tempo a participação do presidente venezuelano é uma lavada de cara para seu governo, questionado por seus laços com os paramilitares. Por sua parte, as FARC já aceitaram começar o diálogo em solo venezuelano e resta ver se seguirão exigindo, para o intercâmbio de reféns, que o governo deixe dois municípios da Colômbia (Florida e Pradera), um das exigências centrais que até agora vem sendo rechaçada por Uribe e tem feito fracassar todas as intenções de diálogo. Para destravar este conflito uma das variantes que se coloca é a de um despejo parcial sem presença armada das FARC nem do Estado, sob o controle internacional segundo uma proposta da França, Espanha e Suíça.

Para além das variantes possíveis, se sai melhor desta situação o próprio Chávez que entra na Colômbia como um ator regional que pode garantir a estabilidade, não só em competência com outros governos da região como Lula, com os que mantém relação pela liderança no subcontinente (não por nada Lula lhe ofereceu imediatamente “toda a colaboração política e diplomática que requeresse em sua delicada tarefa’’), mas também frente a relação com os EUA em um país que é considerado um de seus maiores aliados na região. Este não é um detalhe menor já que hoje muitos colombianos sentem que os EUA vêm lhes “soltando a mão”. A maioria democrata no parlamento norte-americano vem freando o Tratado de Livre Comércio que era um dos cavalos de batalha de Uribe. Este “vazio” deixado pelos EUA também foi aproveitado por Chávez que além das conversas pela “troca humanitária”, aproveitou sua viagem para firmar vários acordos comerciais com Uribe [2].

Ainda é muito cedo para saber o resultado das negociações, mas o certo é que durante os últimos meses foram geradas grandes expectativas e se somoram uma grande quantidade de atores internos e externos ao conflito colombiano. Um fracasso das negociações pode trazer junto uma série de crises começando pelo governo de Uribe que já vem sido golpeado pelo escândalo dos paramilitares. Isto acontece em um momento em que sua base social que está basicamente coesionada ao redor do crescimento econômico (8% no primeiro trimestre do ano) e um mini boom de consumo, pode se ver afetada pelos efeitos da crise financeira internacional. Junto a isto, a baixa de sua popularidade (que apesar de se manter em alta, caíu mais de 9 pontos), poderia tirar-lhe respaldo para os ataques aos trabalhadores com os quais Uribe pensava fechar seu segundo mandato [3].

- A Narco-parapolítica

A descomposição do regime colombiano nunca se manifestou com tanta firmeza como na atual crise da parapolítica. Os grupos paramilitares apadrinhados pelo Estado são os responsáveis pelas perseguições e assassinatos de trabalhadores e camponeses, custando-lhes a vida de mais de 2.500 dirigentes sociais desde 1991. O governo de Uribe criou uma lei que não é mais que uma anistia generalizada para os paramilitares. Entretanto as declarações de Salvatore Mancuso, um de seus chepes máximos, (membro das Autodefesas Unidas da Colômbia, principal grupo paramilitar) gerou um verdadeiro escândalo mostrando os laços de políticos, militares e empresários com o narcotráfico e o financiamento dos paramilitares. Duas dezenas de congressistas, 14 deles uribistas estão presos, altos funcionários reununciaram e o vice-presidente está sendo investigado. Uribe também Uribe apareceu, em fotos e vídeos publicados por jornais dos EUA com chefes paramilitares em sua campanha presidencial de 2002, e o acusa de ter dado apoio a formação de grupos paramilitares durante seu mandato como governador de Antioquia em meados da década de 90.

Segundo Mancuso, praticamente todas as empresas, transportadoras, cafeeiras e petroleiras financiavam o paramilitarismo. Empresas norte-americanas como aChiquita Brands pagavem os paramilitares um centavo de dólar por cada caixa de banano exportada para eliminar dirigentes camponeses e sindicalistas, e a empresa Coca Cola 14 assassinatos.

O plano de impunidade gestado por Uribe, longe de “desmobilizar” já conseguiu que 10.000 novos paramilitares se organizem desde o fim do ano passado.

- Aonde vção as FARC?

Os revolucionários não negamos o directo das FARC de se sentar para negociar e defendemos incondicionalmente as organizações guerrilleras frente a repressão do Estado burguês, denunciamos a hipocrisia de catalogá-la como “organização terrorista” para garantir a intervenção imperialista no país. Entretanto, não podemos deixar de denunciar a nefasta política e estratégia da cúpula das FARC, oposta pelo vértice ás necessidades da mobilização dos operários e camponeses da Colômbia. A política das FARC demonstra que toda sua estratégia se limita a pressionar para conseguir algumas reformas políticas ao mesmo tempo em que amacia o caminho para se integrar ao regime burguês colombiano. Assim o demonstra as declarações de um de seus dirigentes máximos, Raúl Reyes, ao afirmar que depois da “troca humanitária”, “terá que vir a outra parte, que tem a ver com a paz da Colômbia.” (Página/12, 4/9), e aclarando que poderia formar parte de “uma coalisão para conformar um governo pluralista, patriótico e democrático, que se comprometa com a verdadeira paz (...) como por exemplo um governo do Pólo Democrático Alternativo” (Clarín, 27/8). Recordemos que o mesmo Pólo Democrático é parte da integração ao regime burguês de parte dos dirigentes da velha guerrilha do M19 e que hoje conforma a principal força de oposição burguesa de centro-esquerda [4].

Na Colômbia é imposible conquistar demandas dos trabalhadores e das massas pobres sem atacar as bases da propiedade dos latifundiários, dos grandes empresários e expulsar o imperialismo do país. No entando, como demonstra a política das FARC, isto é parte de sua estratégia de colaboração de classes que pretende subordinar os operários e camponeses sob seu discurso de um governo “patriótico e democrático” em direção a uma política burguesa, se convertendo em um obstáculo para a aliança operária e camponesa.

Esta política de colaboração de classes também é compartilhada pela burocracia sindical da CUA e do Pólo Democrático que vem de trair uma importante luta dos trabalhadores da educação no mês de maio.

Frente a esta política é necessário impulsionar a unidade da luta dos trabalhadores e camponeses para derrotar o governo narco-paramilitar de Uribe e suas políticas anti-operárias, e impor a realização íntegra e efetiva das demandas de terra, pão, trabalho, liberdade e independência nacional. Só um verdadeiro partido operário, revolucionário e internacionalista poderá lutar consequentemente por este programa e esta estratégia.

 

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