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Endividados e desempregados
por : Celeste Murillo

30 Aug 2007 | As estatísticas oficiais do governo ianque reconhecem ter perdido cerca de 75.000 empregos na construção devido ã baixa da bolha imobiliária...

O leitor quiçá se lembre do Secretário do Tesouro norte-americano, Paul O’Neil, que em 2001 negava ajuda financeira ã Argentina, dizendo: “Os carpinteiros e encanadores norte-americanos, que ganham 50.000 dólares por ano, não têm porque defender financeiramente os países o os bancos que fazem loucuras”. Evidentemente, O’Neil e companhia têm menos pretextos quando os bancos e as empresas norte-americanas especulam com os salários dos trabalhadores norte-americanos.

Até pouco tempo atrás, um trabalhador da construção, inclusive latino ou até imigrante ilegal, podia ter acesso a um crédito subprime (de alto risco) e comprar sua casa própria. Hoje, esses trabalhadores enfrentam a possibilidade de ficar desempregados e ter de enfrentar uma dívida hipotecária sem saber se poderão pagá-la. Caso a crise venha a se agravar, afetará todos os carpinteiros e encanadores, cujos interesses tão cinicamente O’Neil dizia defender há seis anos atrás.

Estima-se que 2 milhões de pessoas com créditos subprime poderiam sofrer a execução de sua hipoteca. Previsões do Centro de Empréstimos Responsáveis indicam que cerca de 20% das hipotecas subprime contraídas entre 2005 e 2006 cairão por terra.

Entre os devedores, uma grande parcela são trabalhadores e setores empobrecidos, justamente por ser um empréstimo mais acessível. Segundo este mesmo centro, é mais provável encontrar devedores com hipotecas subprime em bairros com maioria latina (1,5 vezes a mais) ou negra (2,2 vezes a mais), que no conjunto de devedores a nível nacional com este tipo de hipotecas.

As estatísticas oficiais do governo ianque reconhecem ter perdido cerca de 75.000 empregos na construção devido ã baixa da bolha imobiliária, e esperam como mínimo outras 20.000 demissões ainda este ano. Estas cifras, apesar de modestas para semelhante disparate da construção, poderiam estar ocultando que já muitos trabalhadores irregulares foram despedidos. Ainda que seja cedo para prever as conseqüências da crise do mercado imobiliário em termos de emprego, nada de positivo trará aos trabalhadores da construção, especialmente aos latinos que, junto aos milhões de devedores de hipotecas, serão os que pagarão pela crise. Junto aos trabalhadores da construção, também se espera que os funcionários do setor imobiliário e de empresas de créditos sofram as conseqüências da crise. Só este ano, já se perdeu 40.000 postos de trabalho no setor, apontando a mais demissões, como de fato vem ocorrendo nas últimas semanas: First Magnus Financial que declarou falência no dia 21/08 demitiu 6.000 empregados (99% de sua fábrica), Lehman Brothers Holdings demitiu 1.200 empregados de sua seção de créditos subprime. O boom imobiliário criou uma parte importante dos novos empregos após a recessão de 2001 (29%, quase 1/3) e os latinos ocuparam cerca de 40%. A principal fonte de trabalho para os latinos recém chegados: dos novos empregos criados na construção, 2 em cada 3 foram ocupados por trabalhadores latinos, a metade destes, ilegais. Dos quase 18 milhões de latinos que trabalham nos EUA (12,4% da classe operária), estima-se que 7 milhões sejam ilegais (4,9% da força de trabalho). Destes trabalhadores, 30% concentram-se no setor de serviços, 25% na agricultura e 19 % na construção.
O salário médio (que nos EUA são pagos por semana) de um trabalhador latino legal neste setor é de 428 dólares, enquanto o salário de um trabalhador ilegal é de 388 dólares. Os latinos constituem o grupo que recebem pior pagamento entre os trabalhadores (pior que os negros, asiáticos e, obviamente, que os brancos).

Os trabalhadores ilegais não são demitidos, simplesmente deixam de ser chamados pois “não há mais trabalho”. Sem trâmites, indenizações ou seguro desemprego. Os empregadores são pequenos contratistas, contratados pelas empresas construtoras (contratam-se diferentes empresas para cada parte da casa).

Já existem setores reacionários que vociferam por um endurecimento das leis migratórias e as represálias aos que as infrinjam, como centenas de milhares que entram ilegalmente nos EUA a cada ano. É possível que tais discursos direitistas ganhem peso caso a crise da construção se agravar.

Contra estes setores reacionários, imigrantes legais e ilegais se mobilizaram de maneira massiva em abril e em maio de 2006, exigindo direitos democráticos elementares. Por trás das perdas milionárias publicadas nos meios de comunicação ao redor do mundo, há milhões de trabalhadores e pobres que carregarão nas costas esta crise, com seus trabalhos e sua única fonte de renda.

 Fontes: Pew Hispanic Center, Bureau of Labor Statistics, Center for Responsible Lending, US Census Bureau.

 

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