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A Europa do capital contra o povo grego
por : Diego Lotito , Josefina Martinez

04 Jul 2015 | As declarações dos principais mandatários europeus, chamando a votar “SIM” na consulta grega de domingo, formam parte de uma descarada campanha de ingerência imperialista que busca infligir uma derrota humilhante ao governo do Syriza e ao povo grego. Nesta operação participam representantes do BCE e da UE, mandatários europeus e o FMI; conservadores e (...)
A Europa do capital contra o povo grego

As declarações dos principais mandatários europeus, chamando a votar “SIM” na consulta grega de domingo, formam parte de uma descarada campanha de ingerência imperialista que busca infligir uma derrota humilhante ao governo do Syriza e ao povo grego. Nesta operação participam representantes do BCE e da UE, mandatários europeus e o FMI; conservadores e socialdemocratas, as duas alas do mesmo partido da Troika, de que também formam parte Nova Democracia, PASOK, To Potami e toda a oposição capitalista grega.

O referendo grego é apresentado pelo establishment político europeu como uma escolha entre continuar na Zona do Euro e o temido “Grexit”, uma possível expulsão da Grécia do Euro, que nos marcos da crise atual e sem um programa que avance decididamente contra os interesses e a propriedade capitalista (o que está fora do horizonte do governo de Tsipras) provocaria uma forte desvalorização da moeda com a posterior inflação e mais penúrias para os trabalhadores e a população.

O socialdemocrata e ministro de finanças alemão, Sigmar Gabriel, começou a semana com artilharia pesada: “Se vence o não, será um voto claro contra a permanência no Euro”. “O melhor seria cancelá-la”, disse sobre a consulta. Angela Merkel não só acompanhou estas declarações, em uma coletiva de imprensa conjunta, senão que vários dirigentes de seu partido, a CDU, declararam que descartam um acordo com a Grécia, e que esperam a vitória do “SIM” para que se produza uma mudança de governo. E caso houvesse alguma dúvida, no 1° de julho, o jornal britânico The Times, difundiu declarações de um alto cargo alemão, dizendo que enquanto Tsipras e Varoufakis continuassem no poder, não se iria chegar a um acordo.

Também Matteo Renzi, o Primeiro Ministro italiano a quem Tsipras buscou de aliado desde o início das negociações para “frear a austeridade”, foi um dos primeiros em alistar-se na campanha pelo “SIM”. Em sua conta do Twitter escreveu em inglês: "o referendo grego não é um enfrentamento entre a Comissão Europeia e Tsipras, senão que entre o Euro e o dracma. Essa é a decisão".

Mas o Primeiro Ministro francês Manuel Valls tampouco ficou atrás. "Respeitamos o povo grego e as decisões do Governo (...) Lhes corresponde votar, mas lhes pedimos que votem com os olhos abertos, medindo todas as consequências do que poderia acarretar o não, que poderia fazer a Grécia sair da Zona do Euro", disse nesta quarta-feira (1).

Como de costume, as declarações mais provocadoras vieram do mandatário espanhol, o conservador Mariano Rajoy, que sob a pressão que implica para o desgastado Partido Popular o ascenso do Podemos, disse: “se Tsipras perde o referendo, isso será bom para a Grécia. Se ganha o referendo, a Grécia não tem mais alternativa a não ser sair do Euro”. “A boa notícia de que o governo (grego) perderia o referendo é que haveria outro com quem negociar", soltou.

Ainda que uma das declarações mais ácidas e prepotentes tenha vindo do Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. O rico político luxemburguês disse aos gregos: "não deveria suicidar porque a morte te assusta".

Mas estas declarações são só a cara midiática da ofensiva do imperialismo europeu. A outra cara se mostra no terreno e faz sofrer a maioria dos trabalhadores e do povo gregos. Como dizíamos em outro artigo recentemente, laexcesiva confiança do Syriza nas negociações “por cima” e as manobras tácticas como a convocatória do referendo, se desenvolveram em um marco em que a Troika não deixou de apertar o pescoço do povo grego, empurrando a economia do país ã catástrofe, enquanto os magnatas e milionários gregos, retiravam bilhões de euros para a Suíça e outros paraísos fiscais.

Enquanto isso, os porta-vozes do imperialismo norte-americano evitam pronunciar-se claramente sobre o assunto, ainda que os EUA ventilam sua posição por meio de seus “representantes intelectuais”, como Paul Krugman ou Stiglitz, que chamaram a votar “NÃO” e defendem que se estabeleça uma reestruturação da dívida grega. Uma política a que inclusive parece ter se somado o FMI nas últimas horas. Posições que longe de expressar algum tipo de atitude democrática ou solidária com o povo grego, mostram que as disputas interimperialistas (especialmente entre Estados Unidos e Alemanha), também se manifestam na crise grega.

“It’s too late”

Nesta terça-feira o jornal britânico matutino Financial Times filtrou uma carta que Tsipras enviou ao Eurogrupo na segunda ã noite, na qual o governo grego assegurava que a mudança de um novo plano de “resgate”, aceitaria quase a totalidade das exigências da Troika, salvo algumas modificações menores.

Tsipras pediu um novo plano de resgate, com um financiamento de 30 bilhões de Euros e uma reestruturação da dívida grega, a mudança de comprometer-se a cumprir com a maioria do programa da Troika. O pedido foi uma tentativa de “última hora” para chegar ao que Tsipras chama “um acordo viável”, mas que implica aceitar uma variante “moderada” da austeridade que quer impor a Troika.

No entanto, apesar desta oferta tão “generosa” – com mais concessões do que já tinha feito o governo grego na semana anterior, antes da ruptura das negociações e da convocatória do referendo –, o Eurogrupo disse que já era tarde demais para negociar; “It’s too late”. Os “falcões” alemães se negaram a seguir negociando antes do referendo. Jogam-se pela vitória do “SIM” e estão embarcados em uma campanha reacionária continental para conseguir este objetivo, que se alcançado implicaria uma dura derrota para o governo de Tsipras e o povo grego, e inclusive a convocatória a novas eleições.

O referendo e a política de Tsipras

Milhões de trabalhadores e setores empobrecidos e castigados pela crise votarão “NÃO” neste domingo, como forma de repudiar o “arrocho” da Troika e dizer que não querem mais austeridade e cortes. “Voto não, porque já não tenho medo de estar pior”, disse um aposentado grego com seus três filhos desempregados a uma rede de televisão espanhola.

No entanto, o referendo convocado pelo Governo do Syriza tem profundas contradições, começando pelo fato de que a cédula de domingo consulta sobre uma proposta que o Eurogrupo diz que já não está sobre a mesa.

O Syriza apresenta o voto “NÃO” como uma forma de melhorar sua posição nas negociações e conseguir um “acordo viável”, uma “solução justa” depois do referendo. Mas essa solução implica nada menos que aceitar 95% das exigências da Troika, em troca de uma promessa de reestruturação da dívida, apresentando a aceitação de uma austeridade ligeiramente moderada como um duro enfrentamento com a Troika.

Por sua vez, a estratégia conciliadora que vem sustentando o governo nas negociações, oferecendo todo tipo de concessões e prometendo chegar a um acordo para um novo resgate, mina desde dentro as possibilidades de uma vitória do “NÃO”, gerando incerteza sobre o que acontecerá no dia seguinte.

A situação está muito polarizada. Ainda que várias pesquisas dão como ganhador o “NÃO”, estaria encurtando-se sua diferença com o “SIM” nos últimos dias. O discurso televisivo de Tsipras tentou inverter esta situação, mas os resultados do referendo ainda são incertos.

NÃO ã chantagem da Troika, NÃO ao pagamento da dívida e os planos de ajuste

Para enfrentar a prepotência da Troika, é necessário dizer NÃO ã chantagem imperialista contra o povo grego, mas também NÃO ao pagamento da dívida e aos planos de ajuste. Os trabalhadores e o povo grego não podem seguir pagando pela crise dos capitalistas e que caia sobre seus ombros o pagamento da dívida para salvar a Zona do Euro. Ainda que tampouco é sustentável para o povo grego uma saída do Euro sem tomar medidas contra a ofensiva que seguramente fará o capital, que incluiriam a desvalorização da moeda e que se desate a inflação com consequências catastróficas para o nível de vida da classe trabalhadora e os setores populares, como aconteceu na Argentina depois do default de 2001.

Definitivamente, uma saída favorável aos interesses das maiorias sociais da Grécia não sairá das negociações “de palácio” com a Troika. A única saída realista passa por desenvolver a mobilização operária e popular, romper definitivamente as negociações com a Troika, a UE e todos os memorandos, e impor um plano de emergência que comece com o não pagamento da dívida, o cancelamento de todas as privatizações, a anulação de todos os impostos indiretos ã população impondo impostos ao capital e aos ricos, para recuperar o que perderam os salários e as pensões, a reincorporação de todos os trabalhadores demitidos e o fim da austeridade.

Nestes marcos a nacionalização dos bancos sem indenização e sob controle dos trabalhadores, assim como o estabelecimento do monopólio do comércio exterior, são medidas elementares de autodefesa, para deter a fuga de capitais, evitar manobras especulativas, acabar imediatamente com o congelamento das contas (o “curralito”) que sofrem os trabalhadores, os aposentados e os donos de pequenas poupanças, e em lugar disto descarregar a crise sobre os capitalistas, nacionais e estrangeiros, que são os que provocaram a crise e se beneficiaram todos estes anos.

Nestes dias estão acontecendo mobilizações em diferentes países em solidariedade ã Grécia. Conseguir que estas mobilizações sejam massivas é a melhor arma de solidariedade com o povo grego e para enfrentar a reacionária campanha imperialista a favor do “SIM”. As direções reformistas dos sindicatos e as novas formações políticas como o Podemos, devem pôr-se ã cabeça de convocar estas manifestações e brindar seu apoio incondicional aos trabalhadores e o povo gregos, começando por exigir o cancelamento unilateral da dívida em seus próprios países imperialistas.

Hoje mais do que nunca é necessário impulsionar a mobilização social e a solidariedade internacional.

 

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