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A armadilha do Cabildo em La Paz
por : Eduardo Molina

01 Aug 2007 |

Não ao “grande acordo nacional” com a reação. Plano de luta para derrotar a direita e impôr as demandas dos trabalhadores e do povo

O cabildo de 20 de julho em La Paz , apesar de sua grande massividade, não foi uma ação de luta contra a oligarquia, pelo contrário, foi uma jornada “pela unidade nacional” e “em apoio ao processo constituinte” onde existia uma consgna “que a sede não se mova!” que estava a serviço da conciliação com a classe dominante em seu conjunto e dos interesses da burguesia de La Paz em particular.

Foi convocado e organizado pelo prefeito de La Paz , Juan Del Granado (ex sócio de Goni, “mimado” pelo Banco Mundial e atual aliado de Evo Morales), Favor Nava, prefeito de El Alto (que defende o manejo privado de serviços como reciclagem), o prefeito neoliberal de La Paz , José Luis Paredes (do PODEMOS), as câmaras de empresários do departamento e outras “forças vivas”, e assistiram figuras da direita como Doria Medina (líder da Unidade Nacional e grande empresário na Bolívia, o “rei do cimento”).

O Cabildo terminou com a ameaça de paralisação caso não se retire antes de 06 de agosto o tema da sede dos poderes dos debates da Constituinte, para “dividir o campo” frente ás reivindicações de Sucre, que quer recuperar a “capitalidade plena” perdida na guerra civil de 1899. No dia seguinte, o presidente Evo Morales voltou a chamar a concestación com a direita pedindo que “a Constituinte não toque no tema da sede, nem na criação de novos departamentos” (havendo já aceitado as autonomias departamentais que exigem a elite da “meia lua”: Santa Cruz, Taruja, Pando e Beni).

Os socialistas revolucionários da LOR-CI denunciamos de antemão o caráter do cabildo e seu engano contra as massas, e assim como denunciamos os reacionários cabildos da oligarquia de Santa Cruz, chamamos a não partcipar da montagem do MAS e da burguesia de La Paz.

Disputas em busca de um “grande acordo nacional” na Assembléia Constituinte

O cabildo do dia 20 se insere nos regateios em torno do “grande acordo nacional” ou “pacto social e político” a que chamam o governo tanto como destacados porta-vozes da oposição burguesa, assim como uma forma de recompor o regime e estabilizar o país. Com este objetivo acordaram prolongar até o fim do ano as leis trabalhistas da Constituinte onde os “consensos” tem avançado muito, apesar de haver importantes diferenças sobre a reorganização do Estado e o desenho do novo regime político.

A direita conservadora, encorajada pelas enormes concessões do governo e porque este se ocupa de manter as massas fora de cena, não quer ceder em nada e sobe a aposta de suas exigências na Assembléia de Sucre. O MAS, defende suas tímidas colocações reformistas a serviço da colaboração de classes, e aposta todas suas fichas em um compromisso com os representantes dos empresários, das transnacionais e latifundiários. Se negocia “tensionando a corda” e “golpeando a mesa de negociações com um punho”, mas no fim das contas para terminar em um pacto.

A disputa entre Santa Cruz e La Paz

Na medida em que o MAS começa a manter as massas fora de cena, passam pra primeiro plano as divisões regionais na classe dominante e as disputas pela divisão do poder estatal e o controle da enorme renda hidrocarburífera conseguida através de impostos e regalias.

A ascendente burguesia de Santa Cruz reivindica autonomia departamental como uma vala a qualquer ameaça em temas como a propriedade da terra, mas também para aumentar sua participação no poder e nos recursos do Estado. A decadente burguesia de La Paz quer reter seu tradicional controle do Estado e portanto do orçamento, e mantém uma “aliança estratégica” com o governo em defesa dos interesses do ocidente andino.

Santa Cruz e seus aliados fracassaram em girar ao campo autonomista ao departamento de Cochabamba devido ao levantamento de janeiro. Mas satisfazendo ás elites de Sucre (que querem “intervir” entre Oriente e Ocidente) com a possibilidade de recuperar a sede de todos os poderes, esperam melhorar sua relação de forças, impor uma maior descentralização dos recursos e o aparato estatal, e ainda chantagear o MAS.

O Cabildo de La Paz , como as ações “autonomistas” no Oriente, são episódios nesta disputa permanente onde cada um busca impor melhores maneiras para negociar, criando a possibilidade de “provas de força” e crises que vão mais além do que quer o governo, oposição e cívicos, abrindo “brechas” nas alturas do regime por onde possa colar-se e intervir o movimento de massas.

A frente popular em ação

Entretanto, as direções masistas e a burocracia sindical se movimentam afim de impedir que isso suceda. O Cabildo de La Paz foi uma boa mostra da mecânica política da colaboração de classes da frente popular: a burguesia de La Paz impôs o programa da mão do governo. Os dirigentes oficialistas das organizações camponesas e populares, as juntas de vizinhos, a COR de El Alto, etc, levaram as massas ao pé de seus objetivos, canalizando o descontentamento e o ódio ás oligarquias burguesas por trás dessa política de conciliação e sem permitir sequer que se expressem as demandas dos operários, camponeses, aymaras e setores populares do Departamento. Mais ainda, permitiram que se apresentem como “amigos do povo” os empresários escravistas que pagam salários de menos de 40 dólares por mês, os exportadores de La Paz que querem um TLC com os EUA, os monopolizadores de terras no norte de La Paz que querem imitar o “modelo cruceño”, os neoliberais “paceñistas” como Doria Medina e “Pepelucho” Paredes. Esta política só serve para desarmar as massas e dividir os explorados do oriente e ocidente.

O movimento de massas

Entretanto, o estado de ânimo combativo de amplos setores de trabalhadores, camponeses, indígenas e do povo pobre em geral se expressa em uma tensa polarização e a permanente “conflitividade social”. A demanda camponesa e indígena de terra e território é explosiva e ainda que o MAS a contenha com a promessa de que “a Constituinte o resolverá”, emerge de vez em quando em lutas como as dos guaranis em El Chaco , bloqueios em San Julián , Yapacani, etc.

No dia 21 de julho um policial morreu em Sorata ( La Paz ) em um choque com camponeses que exigiam a liberdade de detentos. Em Tarija, um forte bloqueio camponês já completa uma semana. Há poucos dias os 5 mil mineiros de Huanuni saíram em greve e o bloqueio com demandas como a “autogestão da empresa” estatal sob o “controle operário social” (o que põe em discussão a necessidade de avançar até a gestão diretamente operária), o monopólio estatal da comercialização de minerais e outros, chocando com uma brutal repressão policial enviada pelo governo. Dia 23, milhares de estudantes normalistas marcharam em La Paz em defesa das conquistas do magistério e contra a nova lei que quer impor o governo, anunciando novas mobilizações.

Plano de luta e mobilização

Este estado de ânimo combativo mostra que seria possível desenvolver a mobilização generalizada de todo o povo trabalhador para impor as reivindicações operárias e populares e derrotar a direita empresarial pró-imperialista.

È necessário que o movimento operário e de massas intervenha na cena política. Mas para isso, é necessário combater a subordinação da COB, os sindicatos e organizações de massas ao governo de Evo Morales. Há que impor um plano de luta por salário e emprego para todos, verdadeira nacionalização, sem indenização sob controle operário do gás, as empresas públicas “capitalizadas”, o minério e os recursos naturais; terra e território e autodeterminação dos povos originários, a ruptura da humilhante submissão ao imperialismo.

A questão de fundo não é em qual cidade residirão os poderes do Estado semicolonial, mas nas mãos de quem estarão a terra, os recursos naturais, as fábricas e os bancos. Só um governo operário e camponês baseado nas organizações e no armamento das massas pode dar uma saída de fundo a estes problemas cruciais. É necessário que os sindicatos combativos e a vanguarda operária e popular tomem a iniciativa, colocando em marcha um movimento pelas demandas operárias que alente a coordenação das lutas, defenda a independência política dos sindicatos frente ao governo e os partidos empresariais e discuta uma alternativa política dos trabalhadores.

 

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