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Os ataques do Governo alemão ã greve dos maquinistas
por : Stefan Schneider

14 Nov 2014 | Na Alemanha, centro imperialista visto por muitos como o “vencedor” da crise, acontecem poucas greves que tenham se tornado um verdadeiro assunto de Estado. As direções burocráticas dos sindicatos fazem todo o necessário para que as lutas operárias não fiquem fora de controle. Mas a atual greve de maquinistas e as respostas por parte do governo, dos (...)
Os ataques do Governo alemão ã greve dos maquinistas

Na Alemanha, centro imperialista visto por muitos como o “vencedor” da crise, acontecem poucas greves que tenham se tornado um verdadeiro assunto de Estado. As direções burocráticas dos sindicatos fazem todo o necessário para que as lutas operárias não fiquem fora de controle. Mas a atual greve de maquinistas e as respostas por parte do governo, dos partidos do regime e dos meios de comunicação, mostram que algo está mudando na luta de classes na Alemanha.

A entrada dos condutores de trem em greve, organizados no Sindicato de Condutores de trens Alemães (GDL, de acordo com as siglas em alemão), se deve em parte ã competição entre dois sindicatos: o GDL e o Sindicato de Ferroviários e de Transporte (EVG, de acordo com as siglas em alemão).

O EVG forma parte de um grande aparato burocrático da Confederação Alemã de Sindicatos (DGB, de acordo com as siglas em alemão) enquanto o GDL se encontra por fora do mesmo, ainda que em termos gerais não seja menos burocrático.
No passado, o GDL costumava representar apenas os condutores de trens, mas recentemente está buscando representar o conjunto dos trabalhadores da ex empresa estatal Deutsche Bahn (Ferrovia Alemã, DB), o que está causando fortes tensões com o EVG. Não só porque estão competindo diretamente pelas filiações, mas também porque questiona a lógica atualmente conciliadora dos sindicatos da DGB. Enquanto isso, tanto a empresa DB alimenta o fogo, se negando a negociar com o GDL sobre um acordo coletivo que abrangeria mais profissões que apenas os condutores de trens.

Por enquanto, o GDL tem, neste conflito, organizado várias “greves de alerta” e duas paralisações completas, a última de três dias que terminou no sábado passado. Inicialmente, essa paralisação havia sido anunciada para durar cinco dias, coincidindo com os atos de Estado pelo 25° aniversário da queda do Muro de Berlin em 9/11 e sendo a greve mais longa da história da categoria.

Houve uma campanha midiática feroz contra o GDL na qual tomou parte o conjunto da imprensa burguesa, o governo alemão, todos os partidos do regime (inclusive figuras públicas do Partido da esquerda, o Die Link, ainda que com um discurso mais ambíguo) e grande parte dos sindicatos da DGB. Como resposta, o dirigente do GDL, Horst Weselsky, acabou com a greve ao final de três dias em um “gesto de conciliação”, como disse, para que os festejos do dia 9/11 não fossem comprometidos.

Ainda assim, se esperam mais jornadas de greve, porque o conflito está longe de chegar a uma solução.

A greve do GDL sai fora da lógica comum de greves na Alemanha fundamentalmente por duas razões. Por um lado, a versão burocráticas da consigna de “sindicato único” levou a que comumente haja apenas um sindicato por categoria, sem a menor discussão política ou estratégica em seu seio. No caso do sindicato GDL, que se encontra por fora da Confederação DGB, o sindicato EVG é um competidor direto, e por isso a própria DGB também se colocou como parte da campanha midiática contra a greve. Mas essa competência também leva a que o GDL se mostre como ator ofensivo e combativo para não perder filiados.

Por outro lado, o conflito se coloca no marco de uma discussão na classe dominante alemã que começou ao ano de 2012 quando a Corte Suprema alemã renunciou ao princípio de que em uma empresa só poderia valer uma filiação coletiva.
Desde então, sindicatos por fora da Confederação DGB tem feito tudo o que é possível para estender sua área de influência. Em geral são sindicatos menores e submetidos a mais pressão pela base. Tendo que legitimar sua existência por fora da DGB, esses sindicatos se apresentam como muito mais combativos.

Em sua última greve (em 2007), o sindicato GDL exigiu um aumento salarial de 30%, conseguindo finalmente os 11%, taxa altíssima comparada com os resultados usuais de lutas salariais na Alemanha. Esse nível mais alto de combatividade está cada vez mais questionando as práticas de conciliação de classes que a burocracia sindical da DGB se acostumou a ter.

Por isso o governo alemão lançou um projeto de restabelecer pela lei o princípio de “uma empresa, uma filiação”, na prática cortando o direito de greve daqueles sindicatos que se encontram fora do convênio. Essa questão está se tornando cada vez mais urgente para a burguesia alemã devido aos insipientes sinais de que a crise econômica está finalmente chegando ã Alemanha.

A campanha midiática contra a greve do GDL mostra que não se trata somente de um conflito sindical, mas de um conflito político que coloca em questão a estratégia de conciliação de classes dos aparatos sindicais. Se trata de um ataque preventivo para erradicar os sinais de um insipiente aumento dos conflitos trabalhistas na Alemanha. O resultado final da greve – qualquer que seja – será, portanto, um sinal para toda a classe operária na Alemanha. Se é possível lutar e ganhar, ou se com outro resultado, a campanha “por cima” e o papel nefasto das direções sindicais conciliadores da DGB inibiram o ascenso da luta operária neste centro imperialista.

 

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