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O fim da “Obamania”
por : Claudia Cinatti

06 Nov 2014 | As eleições de meio mandato de 4 de novembro deram aos republicanos um triunfo ainda mais contundente do que prognosticavam as enquetes. O partido Republicano ampliou seu domínio na Câmara dos Representantes, conseguiu a maioria no Senado e ficou com diversos governadores nos estados. Conseguiu inclusive reeleger o governador de Wisconsin, Scott (...)
O fim da “Obamania”

As eleições de meio mandato de 4 de novembro deram aos republicanos um triunfo ainda mais contundente do que prognosticavam as enquetes. O partido Republicano ampliou seu domínio na Câmara dos Representantes, conseguiu a maioria no Senado e ficou com diversos governadores nos estados. Conseguiu inclusive reeleger o governador de Wisconsin, Scott Walker, que impôs uma legislação profundamente antioperária e antisindical.

Este resultado é uma derrota para o partido Democrata e um duro revés para o presidente Barack Obama, que deverá transitar como um presidente debilitado pelos dois últimos anos de seu mandato. Isto provavelmente o empurrará a uma política conciliadora com os republicanos. Ao menos todos os sinais vão neste sentido.

Algumas particularidades da política norteamericana contribuíram para que a derrota democrata fosse mais estrepitosa: nas eleições legislativas baixa o número de votantes e sobe a porcentagem do eleitorado masculino, branco e maior de 40 anos, tradicionalmente base do partido republicano. A isto se soma que o Senado se renova um terço de cada vez, e nesta eleição primavam as bancas de estados com fortes tendências conservadoras.

Mas a explicação de fundo é o profundo descontentamento com a administração democrata e com o presidente Obama, que subiu com a promessa da “mudança” e governou como garantidor do status quo a serviço dos interesses imperialistas da mesma elite corporativa, financeira e política, que seu antecessor George Bush. Não por casualidade, os principais contribuintes da campanha, que custou nada menos que US$4 bilhões, são as grandes empresas, como os irmãos Koch (proprietários do segundo grupo industrial dos Estados Unidos) ou Paul Singer (o abutre de Elliot Management), que contribuíram generosamente para tornar possível o triunfo republicano, assim como o magnata George Soros havia contribuído na campanha democrata.

O partido Republicano compreendeu rapidamente que fazendo uma campanha “negativa” contra Obama poderia transformar-se em veículo deste descontentamento, dado que o sistema bipartidário só permite o jogo da alternância de poder dos principais partidos capitalistas. Outra lição que tirou a liderança do partido republicano das derrotas anteriores é que para ganhar devia domesticar o Tea Party, a ala de extrema direita, e adotar um discurso mais moderado, sobretudo em questões raciais e em conquistas democráticas como o direito ao aborto.

Por isso, como primeira definição, mais que um giro ã direita, o que as eleições expressaram é o fim das ilusões no partido democrata. Este estado de ânimo se manifesta em que somente 38% da população votou (as eleições não são obrigatórias).

O voto democrata segue sendo majoritário entre as mulheres (sobretudo solteiras), jovens, as minorias (afroamericanos, latinos), os que têm salários mais baixos (até 30 mil dólares por ano) e a elite intelectual, tradicionalmente progressista e liberal. Mas estes setores não encontraram razões válidas para ir votar e ficaram em suas casas.

Há outros dados curiosos que mostram o cansaço e a falta de entusiasmo na votação: as mesmas enquetes de boca de urna que registraram 59% de descontentamento com Obama, encontraram também 61% de opinião desfavorável aos líderes republicanos no Congresso.

Militarismo

Obama ganhou a presidência em 2008, no meio do estouro da Grande Recessão e depois de quase uma década de aventuras militares desastrosas que levaram ás derrotas no Iraque e no Afeganistão. Sua grande promessa foi colocar fim ás guerras de Bush. Não obstante, durante seus dois mandatos, aumentou a presença militar no Afeganistão, donde ainda os Estados Unidos não pôde retirar-se, continuando a “guerra contra o terrorismo”. E como se a história se repetisse como tragédia ou como farsa, terminará sua presidência com os Estados Unidos lutando uma guerra, por ora apenas aérea, no Iraque e na Síria, contra o Estado Islà¢mico, um grupo surgido no Iraque produto do caos e da exacerbação de conflitos produzidos durante os anos da ocupação norteamericana.

Ainda que a política de Obama de intervir na Síria e no Iraque contra o Estado islà¢mico conseguisse apoio popular, particularmente depois que o EI decapitou jornalistas e cidadãos ocidentais tomados como reféns, o limite que tem Obama é o envio de tropas terrestres.

Pela direita, sua política externa é criticada por ser demasiado branda por republicanos e neoconservadores que lutam por uma política militar mais agressiva.

Continua sendo a economia...

Na campanha presidencial de 1992, Bill Clinton tornou famosa a frase “é a economia, estúpido,” como explicação popular de seu triunfo sobre o candidato republicano, George Bush pai. Desde então, essa frase expressa como influi o emprego ou a inflação na hora de votar.

A economia norteamericana saiu da recessão em 2009. O terceiro trimestre de 2014 registrou um índice de crescimento de 3,5% (comparado com uma situação de virtual estancamento e tendências ã recessão na União Européia). A taxa oficial de desemprego caiu para 5,9% em setembro de 2014. E o mercado de valores alcançou números recordes. Mas estes indicadores macroeconômicos relativamente “exitosos” não bastam para convencer a grande maioria da população trabalhadora (chamada de “classe média”) que vê que sua situação não melhorou. Apenas como exemplo, a metade dos norteamericanos considera que ainda há recessão, e dois terços acreditam que a economia vai piorar no próximo período.

E não é para menos. Os cinco anos de recuperação beneficiaram apenas o “1%” mais rico. Enquanto os lucros corporativos chegaram a seu ponto mais alto nos últimos 85 anos (1,7 trilhão de dólares em 2013, o equivalente a 10% do PIB), o salário está em seu nível mais baixo dos últimos 65 anos. Milhões de assalariados cobram um salário mínimo miserável, fixado em US$7,5 a hora.

Segundo a Oficina de Censos, ainda há 43,5 milhões de norteamericanos, 14,5% da população, vivendo abaixo da linha de pobreza (estabelecida em um ingresso de 23.834 dólares anuais para uma família de 4 pessoas).

A situação das minorias tampouco melhorou qualitativamente. Como informa o Economic Policy Institute, a comunidade afroamericana tem a taxa de desemprego nacional mais alta (11%), seguida pelos latinos (6,9%).

Estas condições de salários baixos, empregos precários e leis antisindicais deram lugar a fenômenos novos, como a organização AltLabor que expressa tendências ã organização dos setores mais precarizados, como os trabalhadores das redes de fast food, e a campanha pelo aumento do salário mínimo para 15 dólares a hora. Inclusive, vários estados que votaram nos republicanos também votaram pela subida do salário mínimo que se havia colocado sob referendo (junto com outras questões, como a legalização da maconha).

Ainda que tanto Obama como os republicanos dessem sinais de buscar a governabilidade, ou seja, não polarizar e encontrar consensos, neste novo cenário não se pode descartar que se repitam situações de crise interna, sobretudo tendo em consideração que já começou a campanha pelas eleições presidenciais de 2016. Isto teria conseqüências não somente na política doméstica, mas também no plano externo, porque complicaria ainda mais a administração por parte do governo norteamericano da sustentada decadência de sua liderança como principal potência imperialista do mundo.

 

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