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Dilma ganha, mas governo sai enfraquecido
por : LER-QI, Brasil

27 Oct 2014 | Apuradas as urnas, Dilma foi eleita com 51,64% dos votos, enquanto Aécio ficou em segundo lugar com 48,36%. Foi a menor diferença de votos desde a disputa entre Collor e Lula em 1989. Apesar do triunfo, o PT sai mais enfraquecido em relação ás três eleições anteriores, principalmente levando em conta que governará um país que passou pelas (...)
Dilma ganha, mas governo sai enfraquecido

Apuradas as urnas, Dilma foi eleita com 51,64% dos votos, enquanto Aécio ficou em segundo lugar com 48,36%. Foi a menor diferença de votos desde a disputa entre Collor e Lula em 1989.

Apesar do triunfo, o PT sai mais enfraquecido em relação ás três eleições anteriores, principalmente levando em conta que governará um país que passou pelas manifestações de junho de 2013 e vive uma acelerada deterioração da economia. Apesar da derrota, o PSDB se encontra num momento de maior fortalecimento desde que perdeu o governo federal para o PT em 2002.

Uma vitória com sabor amargo

Em 2010, disputando o pleito contra o tucano José Serra, Dilma obteve 55,8 milhões de votos no segundo turno, equivalente a 56% dos votos válidos. Agora, contra Aécio, a candidata ã reeleição obteve 54,5 milhões de votos, 1,3 milhão a menos. Entretanto, para além desses votos que transitaram do PT para o PSDB, os tucanos levaram também os 6 milhões de votos equivalentes ao crescimento dos votos válidos. Foi por isso que enquanto Serra obteve 43,7 milhões de votos em 2010, Aécio acaba com 51 milhões. Essa diferença, de 7,3 milhões de votos a mais, é a responsável pela transferência de quatro pontos percentuais de votos do PT para o PSDB.

O estado de São Paulo trouxe uma derrota acachapante para o PT. Em 2010, o PT havia obtido nesse estado 10,5 milhões de votos. Este ano, esse montante caiu para 8,5 milhões. Somado ao 1 milhão de crescimento do contingente eleitoral, que foi destinado ao PSDB, a queda de Dilma chegou a 10% dos votos válidos. Santa Catariana não foi muito diferente, com uma queda de 8% dos votos no PT. No Rio de Janeiro e Minas Gerais, apesar de Dilma ter ganhado, sua votação caiu 6%. No Paraná os tucanos reelegeram seu governador no primeiro turno, e Dilma caiu 5%; e no Rio Grande do Sul e Espírito Santo, sua queda foi de 3%. Ou seja, nas regiões sul e sudeste (as mais ricas do país), sem exceção, o PT foi diretamente derrotado ou saiu enfraquecido. Em todos esses estados não só houve transferência de votos do PT para o PSDB, mas os tucanos capitalizaram o crescimento do contingente eleitoral.

No Distrito Federal (Brasília), em 2010, Dilma recebeu 53% dos votos contra 47% para Serra. Agora, Aécio obteve 62% contra 38%de Dilma. No Amazonas, o maior estado do norte do país, apesar de ter-se mantido vitorioso, o PT caiu 16%. E em Goiás, maior estado da região centro-oeste, os tucanos voltaram a ganhar, fazendo o PT cair 6%. De conjunto, pode-se dizer que, apesar de no sul e sudeste as diferenças a favor dos tucanos serem mais expressivas, o PSDB foi vitorioso no centro-oeste e começou a construir uma importante posição conquistada no norte do país, onde Lula reinava de forma inconteste até 2010 (Aécio também ganhou nos pequenos estados do Acre, Rondônia e Roraima).

A principal contra-tendência ao debilitamento do PT foi o nordeste. Em Sergipe, Dilma cresceu seu cabedal de votos em 13%; no Rio Grande do Norte, 10%; em Alagoas, 9%. Somando todos os estados do nordeste e o estado do Pará (que é o estado no norte que faz divisa com o nordeste), o PT cresceu 1%, equivalente a 1,7 milhões de votos.

Um governo mais débil

Na reta final do segundo turno, o PT ter conseguiu ativar um setor mais amplo de militância agitando o fantasma de que um eventual triunfo do PSDB traria uma onda conservadora e direitista para o país. Entretanto, essa mesma polarização que permitiu a vitória de Dilma aumenta as contradições do novo governo.

Por um lado, ela só foi possível escondendo que os três anos de mandato do PT se basearam em alianças com parte dos setores mais reacionários e oligárquicos da política brasileira, na negação dos direitos democráticos mais elementares, e no favorecimento dos grandes monopólios capitalistas em detrimento das demandas mais sentidas pelo povo, que vieram ã tona em junho de 2013. Ou seja, para dialogar com o sentimento de mudança que prima na sociedade, só foi possível alentando expectativas e ilusões de que o novo governo possa ser mais ã esquerda que o anterior.

Por outro lado, essas ilusões e expectativas vão se chocar com um governo que vai ter que atender ás exigências de ajuste por parte do empresariado para enfrentar a deterioração da economia. Assim, ainda que não esteja claro quais serão os ritmos, podemos esperar cortes nos gastos sociais para lidar com o alto endividamento público, aumento do desemprego para lidar com os altos índices inflacionários, aumento das tarifas contidas pelas eleições e um longo etc.

Ao mesmo tempo, justamente porque o PSDB e o PMDB saíram mais fortalecidos das eleições, o PT, para governar, será ainda mais refém das alianças com oligarquias reacionárias que compõem a base aliada, postergando para o dia de São Nunca as promessas mesmo no âmbito dos direitos civis mais elementares das mulheres e dos homossexuais, como o direito ao aborto e ã criminalização da homofobia.

Ou seja, as ilusões mais ã esquerda se chocarão com um governo mais débil e mais ã direita. Esse é um cenário muito fecundo para que possa voltar a emergir as energias liberadas nas grandes manifestações de junho de 2013 e nas greves que têm sacudido o país.

 

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