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PSOL – eleições e debates
por : Daniel Alfonso , Fernando Pardal

01 Oct 2014 | Com pouco tempo e recursos disponíveis para campanha, Luciana Genro tem aproveitado os debates nacionais para tornar suas posições conhecidas. Ganhou terreno no debate promovido pela CNBB ao se diferenciar de PT e PSDB. No debate do último domingo, adotou postura moderada em meio a afirmações homofóbicas de Levy Fidelix. A candidatura de esquerda com (...)
PSOL – eleições e debates

Com pouco tempo e recursos disponíveis para campanha, Luciana Genro tem aproveitado os debates nacionais para tornar suas posições conhecidas. Ganhou terreno no debate promovido pela CNBB ao se diferenciar de PT e PSDB. No debate do último domingo, adotou postura moderada em meio a afirmações homofóbicas de Levy Fidelix. A candidatura de esquerda com mais visibilidade atrai simpatizantes, mas falha na defesa dos interesses dos trabalhadores e da juventude.

Uma campanha que não esteve ã altura de Junho

A candidatura de Luciana Genro foi decidida no começo do ano, após intensas lutas internas. Em um primeiro momento, Randolfe Rodrigues havia obtido a nomeação em congresso nacional do partido, com Luciana Genro como vice. Entretanto, em meio a denúncias de fraude na eleição de delegados, o enfraquecimento de sua base política em seu Estado (Amapá) e ã obstinada busca de Genro pela liderança partidária, o nome de Rodrigues foi retirado e Genro assumiu o posto em convenção, no começo do primeiro semestre. Decididos os nomes, mãos ã obra.

Em junho do ano passado o Brasil protagonizou uma série de manifestações massivas que abriram um novo momento político nacional. O impacto foi tão profundo que obrigou todos candidatos a falarem “em nome da mudança”. Para os partidos de esquerda, ouvidos mais atentos ás suas ideias. O PSOL, entretanto, não mudou uma vírgula de seu script de eleições passadas; apenas aprofundou medidas de adaptação ao deplorável regime político-partidário brasileiro. Aceitou, mais uma vez, dinheiro de empresas capitalistas. Dando corpo a seu programa de desenvolvimento capitalista com direcionamento estatal (entenda-se, burguês), focou sua propaganda essencialmente em denúncias da política econômica do govermo Dilma.
A candidatura de Luciana Genro não serviu como palanque das lutas operárias e populares. Como exemplo marcante podemos citar a greve da USP e das estaduais paulistas, que após 116 dias de um duríssimo enfrentamento com reitorias e governos conseguiu impedir ataques estruturais ã universidade pública, como a tentativa de desvinculação do Hospital Universitário da USP, e ainda arrancar um reajuste salarial contra a proposta de 0% das reitorias. As candidaturas do PSOL em nenhum momento colocaram como seu eixo fortalecer essa importante luta em defesa da educação e da saúde públicas: pelo contrário, ã frente dos DCEs da USP e Unicamp, enfraqueceram a luta para priorizar suas campanhas eleitorais completamente por fora desse processo.

Dois debates, dois resultados: uma mesma ideia

O intricado sistema partidário brasileiro é absolutamente antidemocrático. Funciona de tal maneira a privilegiar os partidos tradicionais, que defendem a ordem. Genro ganhou destaque no debate realizado pela Confederanção Nacional de Bispos (CNBB), no dia 19. O trecho que mais circula na internet é a sequência de pergunta, resposta, réplica e tréplica que teve com o candidato tucano Aécio Neves. O tucano havia terminado uma sequência de ataques ã Dilma, denunciando os casos de corrupção mais recentes, com destaque para o caso da Petrobrás. Após concordar que o governo Dilma e o PT devem ser criticados pela maneira como se apopriam do Estado em benefício próprio, Luciana Genro remarcou que o PSDB foi o precurssor dessa prática. Lembrou o caso da compra de votos no Senado em 1997 em prol da emenda constitucional que garantisse a reeleição. Com vigor e entusiasmo, abraçou a velha bandeira da ética do PT pré-mensalào. Infelizmente, a candidata não aproveitou a oportunidade para denunciar a relação simbiótica entre o Estado capitalista, seus partidos políticos, os bancos e o crime organizado. A corrupção e o crime organizado são inerentes ao Estado dirigido pela burguesia, pois é ela a principal beneficiária dessa relação. Aos trabalhadores, ã juventude e ao povo pobre, que ouve busca atentamente uma alternativa política que defenda de fato seus interesses, ficou somente a falsa ideia de que basta mudar as pessoas que compõem os organismos do regime político brasileiro que as coisas serão diferentes.

A repercussão obtida pelo desempenho de Genro não é tributária da força de suas ideias. O espaço político para ideias de esquerda depois de junho é crescente. Em meio ao marasmo e ã podridão política dos partidos oficiais, refrescar a memória e lembrar que os governos do PSDB não devem em nada quanto ã corrupção aos do PT, ainda mais se diferenciando pela esquerda, é estimulante para aqueles que se sensibilizaram com junho. Mas é absolutamente insuficiente.
O debate do último domingo, televisionado pela Rede Record, foi um momento que definiu a intervenção de Genro. Já no final, a candidata do PSOL perguntou a Levy Fidelix porque alguém que defende a família se recusa a reconhecer o casamento entre homosexuais. A resposta de Fidelix foi um ataque aos mais elementares direitos dos homossexuais, uma manifestação homofóbica com incitação ã violência.

A mesa estava posta para uma demonstração de como a esquerda responde a posições como essa. Melhor ainda, em cadeia nacional. O que poderia ter sido um combate frontal contra Fidelix e sua postura digna de defensores de regimes autoritários, tranformou-se em mera resposta genérica, defendendo o casamento igualitário. Perdeu-se enorme oportunidade de desmacarar Dilma e PT, que governam com o apoio da bancada evangélica, perseguidora das lésbicas, gays, travestis, transexuais e trasgêneros. Desmascar Marina Silva e seu discurso de “nova política”, mas que define seu programa com os conselhos de Malafaia.

O sopro refrescante de denúncia tanto de PSDB quanto do PT em matéria de corrupção no debate da CNBB encontrou sua outra face no debate da Record. Luciana Genro defende um projeto político que propõe se apropriar das estruturas do regime político nacional e, a partir daí, realizar transformações sociais e políticas. A questão é que esse mesmo regime serve para defender os interesses dos capitalistas. Ter como objetivo principal ocupar paulatinamento os espaços políticos existentes desarma os trabalhadores o povo pobre para a defesa de seus interesses. A força da candidatura de Luciana Genro entre setores importantes da esquerda e jovens que despertaram politicamente ao protagonizar Junho não está em suas ideias. Se econtra justamente no anseio de algo a mais, de uma política atrelada aos destinos dos trabalhadores e do povo pobre. O PSOL, porém, não está a altura desse desafio.

 

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