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A greve na encruzilhada
por : LER-QI, Brasil

07 Jun 2007 |

Os sucessivos escândalos de corrupção, a perda de legitimidade do PT, que passou a ser visto como um partido igual aos outros, tudo isso fortalece e aprofunda uma crise de legitimidade que atinge as principais instituições do regime. O único que até agora mantém seu prestígio e legitimidade é o presidente Lula, que mesmo no momento em que seu irmão é acusado de envolvimento com as máfias da corrupção se utiliza disso para fortalecer a imagem do seu governo como um governo disposto a apurar as denúncias “doa a quem doer”.

Mas se isso fortalece momentaneamente a figura de Lula, enfraquece de conjunto as instituições e o próprio regime. Frente ao cinismo descarado dos partidos e instituições que comandam o país, aos sucessivos escândalos de corrupção, ás políticas que condenam os trabalhadores e o povo pobre a sofrimentos e privações cada vez maiores, a luta dos estudantes paulistas em defesa da educação e contra os decretos do governador José Serra se transformou rapidamente numa referência nacional para os trabalhadores, o povo pobre e setores das classes médias.

O sentimento que prima entre os estudantes que encabeçam a greve nas universidades é de repúdio não só ã burocracia acadêmica que controla a universidade, mas também ao governador Serra e seu secretário de Ensino Superior (Pinotti), autores dos decretos. O sentimento de revolta se estende contra as organizações tradicionais do movimento estudantil, como o DCE da USP, comandado por direções do PT, PCdoB e PMDB; e contra os partidos que na primeira fase da mobilização atuaram como freios do movimento, como o PSOL e o PSTU, que defenderam o fim da ocupação da reitoria por mais de seis vezes, quando esta tinha um papel decisisvo para desatar a greve (posição sobre a qual o PSTU foi obrigado a auto-criticar-se para não ficar completamente isolado dos setores mais combativos do novo movimento estudantil).

Dando-se conta desta dinâmica, a própria UNE governista está covocando ocupações de reitorias na tentativa de recuperar um pouco sua imagem. Este estado de ânimo dos estudantes em luta pode estar antecipando processos similares no movimento operário. Ainda que muitas das lutas operárias e do próprio funcionalismo público que estão em curso, como a greve da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) ou a greve nacional do Incra, sejam dirigidas pela CUT essas direções já não contam com a mesma legitimidade de antes. E principalmente o PT já não tem a mesma legitimidade e a autoridade de antes para evitar futuros processos de radicalização no movimento operário. Não à -toa os estudantes se transformaram numa referêencia nacional tão rapidamente.

Ao se enfrentar com a política do governador José Serra, um dos possíveis candidatos ã presidência em 2010, e ao ser a principal luta que caminha por fora das direções tradicionais, a greve de estudantes, funcionários e professores das universidades paulistas assume uma importância estratégica em meio a um processo inicial de greves do funcionalismo e de setores operários em todo o país. A Frente Contra a Reforma Universitária, conformada pela Conlute e pela FOE (Frente de Oposição Estudantil, ligada ao PSOL), deveria também colocar toda sua força na solidariedade ã greve dos estudantes paulistas e na convocação que o movimento de greve está fazendo de uma Plenária Nacional para o dia 16. É fundamental também que a Conlutas coloque toda a força dos seus sindicatos para montar um comitê de solidariedade ã greve das universidades, para ajudar na sua vitória. Esse seria o momento de se apoiar na greve das estaduais para convocar uma plenária unificada de todo o funcionalismo público do estado de São Paulo e organizar uma grande greve estadual capaz de barrar os decretos e conquistar as demandas dos trabalhadores. Infelizmente essas iniciativas não foram tomadas até agora.

E a greve entra agora num momento decisivo. Diante da força que adquiriu o movimento, o governador acenou com um recuo da sua política e retrocedeu em alguns pontos parciais e pontuais, numa tentativa de desarmar a unidade dos três setores e isolar o movimento estudantil e a greve de funcionários para justificar medidas repressivas. Uma manobra para manter a espinha dorsal da sua política universitária: uma “reforma universitária tucano-paulista” que tem como objetivo avançar na privatização da universidade; além dos ataques aos demais setores do funcionalismo público que estão contidos no conjunto dos dectcretos.

Essa política do governador já teve seus reflexos no movimento dos professores, com setores importantes propondo o fim da greve. As direções conciliadoras dos professores, encabeçadas pela Adusp, pautadas por uma estratégia cooporativista indicaram que o movimento de greve deve se encerrar, pois supostamente já teriamos conquistado uma grande vitória. Entretanto, alguns professores combativos, como os da Faculdade de Letras da USP e de Ribeirão Preto, votaram a continuidade da greve em aliança com os estudantes e funcionários.

Apesar de tudo, a greve estudantil se mantém. Na Assembléia Geral de 5/06 foi votada a continuidade da greve e da ocupação da reitoria, foi ratificada a luta pela revogação dos decretos, por mais verbas e pela estatuinte. Na Unicamp os estudantes votaram um indicativo de ocupação da reitoria. Entretanto, também entre os estudantes existem aqueles que, como o PSOL, pensam que o recuo pontual e parcial de Serra já foi uma grande vitória.

Ainda não está claro qual vai ser a resposta da massa estudantil frente a manobra do governo e a pressão dos professores pela volta ás aulas. Nós da LER-QI apostamos na aliança entre um movimento estudantil cada vez mais massificado e os funcionários da USP que desde o início estiveram lado a lado com os estudandes para levar a luta até o final. Mas pode-se dar pelo menos três cenários distintos com o desenvolver da luta: a) que os professores suspendam a greve, porém que se mantenham a greve de estudantes e funcionários e a ocupação da reitoria; b) que junto com os professores suspendam a greve os funcionários, porém se mantenham a greve estudantil e a ocupação; c) que também se suspenda a greve dos estudantes e termine a primeira etapa do conflito estudantil, sem haver conseguido nenhuma reivindicação importante.

Nos dois primeiros casos se trata de desmascarar a manobra do governo de dividir as categorias em luta, desmascarar o corporativismo dos professores e seguir a batalha para massificar a greve e derrubar os decretos e o secretário Pinotti.

No terceiro caso, na medida em que a chave de nossa intervenção é defender uma perspectiva combativa para o conflito, expressada em estratégia, em programa de ação e organização, temos também que aprender e educar que, se for necessário, é preciso saber retroceder junto com o movimento de massas, para preparar a futura contra-ofensiva. Não somos de nenhuma forma substitucionistas da ação das massas. Isso implica que se há um setor que insiste em manter a ocupação ou a greve contra a decisão majoritária dos alunos, nós, que no início estivemos na primeira fileira sustentando a ocupação com os combativos, contra os conciliadores do PSTU e do PSOL, defenderemos a necessidade de recuar de forma organizada.

Seja para que a greve estudantil possa avançar e se colocar de fato a tarefa de derrotar os planos de Serra, conquistar o aumento de verba e abrir um processo de estatuinte livre e soberana, isto é, sem a tutela da reitoria e da burocracia, seja para que possamos retroceder de forma organizada, é fundamental que se conforme um comando de greve, com representantes das assembléias de base, revogaveis e mandatados, isto é, um comando que se apóie na auto-organização dos estudantes a partir dos cursos.

Não podemos esperar que esse processo se desenrole espontaneamente. A LER-QI e o Movimento A Plenos Pulmões se propõem a tarefa de formar, junto com estudantes independentes e combativos, uma ala esquerda neste processo de greve que seja capaz de levar adiante a luta pela democracia direta dos estudantes e por uma direção do movimento que prepare a luta pela transformação da universidade. Essa foi a tarefa que nos propusemos no Encontro Estadual de estudantes realizado no dia 6 de junho, e é a tarefa que nos damos para a Plenária Nacional que será realizada no dia 16, na qual queremos discutir com todos os estudantes do país como tirar conclusões da experiência da greve das estaduais paulistas e expandir esta experiência para outros estados.

 

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