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As reivindicações de junho continuam como “promessas”
por : Val Lisboa

08 Aug 2013 | Preparar o mês de agosto, nas ruas, escolas, universidades, fábricas e empresas para impor um plano de luta e conquistar as reivindicações das manifestações de junho.

Preparar o mês de agosto, nas ruas, escolas, universidades, fábricas e empresas para impor um plano de luta e conquistar as reivindicações das manifestações de junho

As últimas semanas ficaram marcadas pela presença, no Rio de Janeiro, principalmente, do papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude. O “efeito papa” revelou um mar de demagogias, principalmente entre os políticos. Justamente na cidade onde as jornadas de junho parecem continuar vivas. O governador Cabral (Rio de Janeiro), depois de ser flagrado passeando de helicópteros para ir ã praia (até o cão de estimação tem esse privilégio), vergonhosamente tenta justificar esse verdadeiro saque dos cofres públicos. Mas, consternado pelo clima do momento disse que o papa o fez descobrir a “humildade”. Geraldo Alckmin (PSDB), governador paulista, em encontro com o papa falou em “honestidade, transparência, austeridade, coerência, proximidade e maior abertura”. Quanta cara-de-pau! A presidente Dilma Rousseff, “comovida” e fazendo passar por “amiga das ruas” e “dos pobres”, propôs um “pacto contra a desigualdade social”, dizendo que “lutamos contra um inimigo comum: a desigualdade, em todas as formas”. Quanta demagogia, mentira, hipocrisia e falsidade!

A realidade dos governos petistas é que “o Brasil ainda é um dos países com maior desigualdade social do mundo”, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 2012, apesar do PIB brasileiro representar 32% do PIB total da América Latina, o PIB per capita (por pessoa) no Brasil, pouco mais de US$ 4 mil/ano, ocupava o 13° lugar, abaixo da média latino-americana. Na região, o país é o 4° mais desigual, ficando atrás apenas da Guatemala, Honduras e Colômbia. A “forma” principal da desigualdade se expressa na apropriação da riqueza nacional pelas classes sociais. O Censo de 2010 mostra que os 10% mais pobres ganharam apenas 1,1% do total de rendimentos. Já os 10% mais ricos ficaram com 44,5% do total. O rendimento médio do 1% mais rico é de R$ 16.560,92, enquanto a renda média da população foi de R$ 1.202, além de indicar que metade da população recebia até R$ 375 por mês, valor inferior ao salário mínimo oficial em 2010 (R$ 510).

Só atacando a raiz do problema pode-se combater a pobreza e a desigualdade social. Há que expropriar os expropriadores, acabar com a ditadora do capital e instituir uma república verdadeiramente democrática (não há democracia sem repartir igualitariamente a riqueza), dirigida por um governo operário e popular.

As reivindicações de junho e julho não podem ficar no esquecimento

As enormes manifestações de rua em junho lançaram à luz diversas reivindicações sentidas pela maioria da população. Desde a questão do transporte barato, seguro e de qualidade, saúde e educação, e as questões democráticas (Contra a Cura Gay e outras), até agora os governantes e políticos apenas apresentaram promessas e “projetos de lei” que não têm validade real. O governo Dilma renegocia com os deputados e senadores todas as propostas aprovadas “sob o fogo das ruas”, eliminando qualquer medida progressista que favoreça a população, em nome de reconstruir a governabilidade e salvar o atual estado de coisas que impõe privatizações dos serviços públicos e altos negócios para os capitalistas. Para garantir o pagamento dos juros dos detentores de títulos da dívida pública Dilma Rousseff prega a “responsabilidade fiscal”, ou seja, cortar gastos e investimentos sociais para garantir o “sagrado superávit primário” – primeiro o pagamento para os grandes monopólios, bancos e especuladores, e se sobrar, migalhas para o povo. O prefeito Haddad (São Paulo), descaradamente declara que “a revogação do aumento da tarifa de transporte público não beneficiou a população, mas os empresários”, ameaçando a população ao dizer que “deverá sentir em breve os efeitos negativos da medida, já que a prefeitura não dispõe de recursos extras para custear o subsídio do ônibus”. O mesmo vimos com a suspensão dos pedágios pelo governador Alckmin (PSDB), pois essa medida “ouviu” as ruas, respondeu ã pressão das manifestações que fechavam rodovias e destruíam praças de pedágio contra os altos preços, mas na verdade garantiu os lucros das concessionárias das rodovias. É sempre assim: o que os trabalhadores e as massas obrigam os governos e capitalistas a entregar com a mão esquerda, logo eles dão um jeito de recuperar com a mão direita, jogando nas costas dos trabalhadores e do povo o custo das conquistas.

Os patrões não perdem tempo. Quando os trabalhadores param suas lutas e não avançam com planos contundentes a patronal retoma a iniciativa. Os monopólios da indústria automobilística, depois de ganhar lucros exorbitantes e benefícios fiscais do governo, avançam contra os trabalhadores. A GM deu licença remunerada de três semanas para os 750 operários da linha Classic, em São José dos Campos. Voltariam de férias coletiva no dia 5 de agosto, agora só voltarão no dia 26. Além disso, prorrogou o plano de demissões “voluntárias” (PDV) até o dia 23. Lamentavelmente, a direção do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos (PSTU), não apresentou qualquer plano de luta contra essas claras medidas de ataque aos empregos e condições de trabalho na GM. No mês passado, em São Bernardo, a Volkswagen e a Scania interromperam linhas de montagem. As linhas da PSA Peugeot Citroën vão parar nas próximas semanas, em Porto Real (RJ), impondo férias coletivas a 2,7 mil funcionários. O que pretendem esses monopólios é diminuir a produção para eliminar os estoques de veículos (as vendas caíram), além de aproveitar essa situação para chantagear os trabalhadores a aceitar medidas de ajuste que lhes retire salários, direitos e condições de trabalho, além de ganhar novos benefícios do governo. Enquanto isso, a burocracia sindical (CUT, Força Sindical) do ramo automobilístico, nada faz, evita qualquer possibilidade de plano de luta que unifique todos os operários das montadoras para enfrentar esses ataques.

Um grande entrave para essa unidade que potencializaria a força das massas para dobrar os políticos e capitalistas está na existência de uma nefasta burocracia sindical que domina os sindicatos e as centrais sindicais para manter seus privilégios, cargos políticos e negociatas com os governos e os patrões. A classe operária que se apresentou no dia 11 de julho, mesmo com essa burocracia controlando e desviando a luta, só busca alternativas que apresentem um verdadeiro plano de ação, preparando reuniões por fábricas e interfábricas e assembleias sindicais democráticas que votem uma pauta de reivindicações que unifique as demandas da juventude e do povo com as dos trabalhadores, contra a precarização do trabalho, salários e direitos iguais para efetivos e terceirizados, garantia do emprego, reajustes salariais imediatos para repor as perdas de poder aquisitivo geradas pela inflação de todos esses anos, entre outras.

Preparar para valer o 14 de agosto, contra a corrupção, por transporte público, estatal e controlado pelos trabalhadores e usuários

No metrô paulista, os tucanos foram desmascarados em suas negociatas com a Siemens e várias empresas. Há corrupção, óbvio, que “paga” os serviços dos políticos do PSDB e seus aliados, assim como altos funcionários públicos e da Companhia do Metrô. São bilhões roubados do suor dos que trabalham para os bolsos dos capitalistas. Os políticos burgueses e os burocratas sindicais vendidos aos patrões e aos governos são os “funcionários” desta casta parasita de capitalistas. Em troca recebem propinas, altos cargos nas empresas e órgãos públicos, financiamentos eleitorais etc.

Contra toda essa canalha que saqueia o país, devemos em cada fábrica, empresa, escola, universidade, bairro, preparar um grande Dia 14 de agosto, contra a roubalheira no metrô paulista, pela apuração e punição dos responsáveis (empresas, políticos e altos funcionários), expropriando seus bens para ressarcir o que saquearam, assim como a revogação de todos os mandatos e exoneração dos funcionários envolvidos. Também devemos aproveitar essa luta contra a corrupção para colocar na linha de frente o combate por um metrô e transporte público, estatal, administrado pelos trabalhadores e comitês de usuários, única solução progressista para garantir transporte de qualidade, seguro e barato, além de emprego e condições de trabalho dignas para todos os trabalhadores do transporte.

Não devemos cair na armadilha de achar que o “verdadeiro” dia de paralisação é apenas o dia 30 de agosto, convocado oficialmente pelas centrais sindicais. Por um lado, porque ainda que exista, como se demonstrou no dia 11 de julho, disposição de luta da classe operária, sua entrada efetiva em cena impõe um enfrentamento com a burocracia sindical que condiciona o dia 30 de agosto ás respostas do governo, indicando que apenas pretende “pressionar” o governo para que “sente ã mesa”. Já abandonaram o 6 de agosto, que seria um dia de luta contra a precarização do trabalho, em troca de negociações com os deputados e o governo. Por outro lado, porque o dia 14 de agosto abre a possibilidade de retomada de mobilizações, desta vez combinando importantes demandas das jornadas de junho como a questão do transporte e da corrupção com a aliança entre a classe operária, a juventude e o povo pobre (Cadê Amarildo?). A esquerda – PSTU, PSOL, Conlutas, Intersindical, Unidos – continua presa aos “calendários”. A melhor preparação para um verdadeiro 30 de agosto não é esperar a resposta do governo ou negociações com os políticos corruptos e patronais, mas construir com determinação, nas bases, o dia 14 de agosto em São Paulo que, a depender do resultado, poderá ser uma faísca que incendeie novamente o país inteiro, desta vez unindo trabalhadores, jovens e povo pobre.

Como parte dessa iniciativa a direção do sindicato dos Metroviários (PSTU-PSOL) deveria fazer um chamado claro a todas as centrais sindicais, centros acadêmicos e diretórios centrais estudantis e organizações populares para unificar todos nesse dia para que não seja mais um “dia de luta” no calendário e sim uma jornada combativa – com paralisações, atos e outras ações – pelas reivindicações do povo, da juventude e dos trabalhadores. Nós da LER-QI, ao lado de dezenas de trabalhadores e estudantes independentes nos locais de trabalho e estudo onde atuamos, buscaremos trabalhar no sentido de preparar esse plano de luta, construindo desde já uma forte presença no dia 14 de agosto pela unidade da juventude e da classe operária para não deixar nossas reivindicações virarem “promessas”.

Neste processo dinâmico da realidade, os revolucionários não podem deixar de adequar suas ferramentas de análise política e teórica, para que sirvam cada vez mais ã organização e ação prática, e por isso este Jornal Palavra Operária passa a ser quinzenal como um primeiro passo neste sentido, que nos permita incidir efetivamente no rico processo de luta de classes que o “junho” brasileiro detonou e que terá ritmos e dinâmicas que ainda não são de todo notáveis nem previsíveis.

 

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