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Apesar da burocracia sindical, os trabalhadores surgem como fator político nacional
por : LER-QI, Brasil

17 Jul 2013 | No último dia 11 de julho, dezenas de milhares de trabalhadores participaram das ações operárias por todo o país por melhores condições de trabalho e de vida.

No último dia 11 de julho, dezenas de milhares de trabalhadores participaram das ações operárias por todo o país por melhores condições de trabalho e de vida. De norte a sul do Brasil, vimos cortes de estrada, paralisações, atrasos na entrada no local de trabalho e manifestações de rua. Não foi um dia normal para Dilma e os capitalistas nas fábricas, refinarias, portos, construções, no funcionalismo e tantos outros setores, já que os trabalhadores brasileiros começaram a entrar em cena no importante processo que vem sacudindo nosso território.

Nosso país já não é mais o mesmo, e a politização das jornadas de junho contamina o maior proletariado do hemisfério sul. A luta pelos legítimos direitos a saúde, transporte e educação públicos, assim como a raiva contra a corrupção dos distintos partidos da ordem, tornam-se temas cotidianos em cada lugar de trabalho, já que os trabalhadores viram que é possível arrancar conquistas como mostrou a mobilização de massas encabeçada pela juventude, e foi isso que obrigou as centrais sindicais a organizarem essa mobilização nacional.

Essa experiência ainda não é mais profunda pois tem nas atuais direções sindicais um freio para a entrada organizada dos trabalhadores, como se mostrou durante todo o mês de junho ao não organizar os trabalhadores ao lado da juventude. Apesar da enorme disposição e de importantes paralisações nas categorias em que os sindicatos organizaram de fato a mobilização, poderíamos ter tido milhões entrando massivamente com seus próprios métodos de luta. A burocracia sindical (CUT, Força Sindical, CTB, CGTB, UGT, Nova Central) buscou organizar medidas pontuais e controladas para “descomprimir” a raiva e disposição dos trabalhadores sem que fugisse de seu controle.

Os empresários e os governos sabem da força de nossa classe, e seguirão fazendo de tudo para barrar a entrada dos trabalhadores em cena. A grande mídia começa um operativo de ataque aos sindicatos, buscando apoiar-se nos privilégios da burocracia sindical, assim como na disputa mafiosa pelo controle do Sindicato dos Condutores de São Paulo ocorrida há poucos dias, para dividir nossa classe e dizer que a fluidez das ruas, da multidão, é suficiente, pois sabe que se os trabalhadores retomarem seus instrumentos de luta será um grande perigo. Não devemos nos enganar com as críticas da grande imprensa, que conscientemente quer dividir nossa classe e tem nessa campanha – aparentemente contra a burocracia mas na verdade contra a classe operária – uma continuidade de sua política iniciada nas jornadas de junho de criminalização da esquerda e dos movimentos sociais.

Um novo momento em nosso país

Milhares de brasileiros protagonizaram uma importante e massiva jornada nas ruas desse país no mês de junho. A juventude esteve ã frente. A burguesia viu que o melhor seria tentar “controlar”, começando por revogar os aumentos dos transportes e dos pedágios e apressando-se a oferecer “promessas” de “mudanças”. Dilma, Renan Calheiros e centenas de governadores e prefeitos em cada cidade desse país estão vendo despencar sua popularidade e buscam responder com medidas pontuais para desviar esse processo. A entrada da classe operária, a despeito do freio e controle da burocracia sindical, acrescenta um “novo” fator na desestabilização do ciclo lulista de contenção social, encerrando o período de “paz social” que lastreou o saque capitalista das riquezas nacionais e do suor dos trabalhadores. O país não será como antes.

Temos uma mudança na situação nacional que é parte de um processo de mobilizações juvenis em todo o mundo, e que começa a apontar a entrada também da classe trabalhadora em cena na América Latina, como vimos na Bolívia e agora no Chile. A enorme participação juvenil pelas ruas do país, a politização dos trabalhadores, o questionamento aos governos e partidos da ordem (atingindo o PT, que atuou como “fusível” protetor dessa democracia dos ricos), a desaceleração econômica, os efeitos da recessão na Europa, a reversão do fluxo de capitais e a desaceleração da China, acrescentando fissuras e instabilidade nas alianças do governo petista marcam a nova etapa da situação brasileira.

A tentativa de pacto de desvio de Dilma e do PT, assim como sua proposta de plebiscito e reforma política fracassam até o momento. O único pacto que está sendo religiosamente cumprido por todos os partidos dominantes do regime é o da responsabilidade fiscal, que garante o pagamento de juros e amortizações da dívida pública (apenas os bancos detêm mais de 30%, seguidos pelos fundos de pensão e de investimento nacionais e estrangeiros) e por essa via segue sustentando a sangria que o capital financeiro nacional e internacional realiza sobre a economia do país. Os demais “pactos” de Dilma são promessas parciais que estão longe de atender as demandas de saúde, educação e transportes que emergiram das mobilizações de junho, como mostram as restrições impostas pelo governo ao montante de recursos do petróleo que seria destinado ã educação e ã saúde, sem falar que estes recursos do pré-sal sequer existem.

O governo federal vive um momento de crise com o PMDB e os partidos aliados, pois a brutal queda na popularidade de Dilma enfraquece em grande medida sua capacidade de aglutinar forças para uma reeleição em 2014, o que coloca os partidos da base aliada – e a oposição burguesa (PSDB, PPS, DEM) – em uma disputa para ver quem chegará melhor localizado nas negociações eleitorais que fecharão as coalisões. A dinâmica de desaceleração da economia, os elementos de recessão em setores da indústria, as pressões inflacionárias e a dinâmica de refluxo dos capitais estrangeiros para o país, ainda que por ora não configurem um cenário de crise mais aguda, limitam em grande medida as possibilidades do governo realizar concessões minimamente significativas frente as demandas de serviços públicos melhores e mais baratos. E a patronal certamente utilizará essas novas condições econômicas para não apenas manter a nível de precarização do trabalho mas também impor arrocho salarial, cortes de direitos e ameaças de demissões.

O sentido de autopreservação dos partidos dominantes do regime, combinado com a força das oligarquias e caciques regionais dos quais dependem tanto o PT como o PSDB, fazem com que quaisquer propostas de reformas do sistema política não sejam mais que meras maquiagens para manter o essencial dos privilégios. Essa combinação de fatores políticos e econômicos faz com que o governo tenha dificuldade de retomar a iniciativa política e determinam uma situação política nacional na qual qualquer faísca pode servir para voltarem a emergir manifestações massivas ou conflitos da luta de classes que ganhem dimensão nacional.

A burocracia sindical e os sindicatos

O governo busca recuperar terreno através da CUT, CTB, MST e UNE para que possam ser os interlocutores do PT no movimento de massas. Não será uma tarefa fácil, já que o questionamento ao governo e ao regime (partidos, instituições governamentais e legislativas, principalmente) avança em escalada. Essas direções escolheram alguns lugares de trabalho para paralisar, mas conscientemente bararram que o dia 11 fosse uma jornada nacional de greves e ações ofensivas de massas para lutar realmente por nossos direitos. O acordo geral entre as centrais sindicais era realizar manifestações “pacíficas e ordeiras”, ou seja, controladas pelos burocratas sindicais para preservar os governos e as instituições burguesas. Enquanto ocorria o ato na Paulista e o Sindicato de Bancários de SP anunciava a paralisação de dezenas de bancos na mesma avenida, na verdade os bancários seguiam trabalhando dentro das agências sem atender o público, numa farsa controlada para impedir que nas ruas os trabalhadores se unificassem lutando por seus direitos e superando o controle dessa burocracia. Não podemos confiar nessas direções que são porta-vozes de Dilma e Lula, e para seguir a luta dos trabalhadores será preciso impor nossas demandas e superar essa burocracia.

Se não devemos confiar na CUT e na CTB, muito menos devemos nos iludir com o palavreado de Paulinho da Força. Esse burocrata, que já foi do PTB, hoje está no PDT e dirige uma central sindical que esteve historicamente ao lado dos patrões, impondo as privatizações, demissões e reformas neoliberais, tenta chanteagear com o PT para conseguir melhores cargos e conquistar uma boa localização nas negociações eleitorais em 2014, provavelmente voltando a aliar-se ao PSDB ou PSB. A Força Sindical é uma central que do norte ao sul do país entrega os direitos dos trabalhadores, auxiliando os patrões a manter a superexploração e precarização em diversas categorias, e foi só passando por cima dela que os trabalhadores das obras do PAC fizeram greves em canteiros e usinas contra os patrões. Centrais como UGT, CGTB e Nova Central não são diferentes.

Nenhuma confiança e “aliança” com essa burocracia sindical vendida. Por mais que convoquem mobilizações, seus objetivos são frear a luta operária e impedir a unificação com a juventude e o povo pobre, mantendo-se como fiéis colaboradores dos governos e da patronal. Os trabalhadores devem impor sua vontade e disposição de luta, exigindo e obrigando essas direções a colocarem os sindicatos a serviço da unidade e luta operária e popular, e no caso de se recusarem devem ser varridos, instalando novas direções sindicais responsáveis perante as bases nas fábricas, empresas e serviços.

Juventude ás Ruas e trabalhadores classistas construindo a mobilização nacional

Colocamos todas nossas forças para construir a paralisação do 11J pelos direitos legítimos de milhões de trabalhadores. Estivemos desde o ínicio da madrugada com a Juventude ás Ruas e membros do Sintusp apoiando os metalúrgicos em Osasco, para depois organizar a paralisação em unidades importantes da USP, como a Prefeitura e a Coseas, desde onde os trabalhadores junto com os estudantes e moradores da São Remo saíram em ato até a Paulista. No ABC, professores e jovens marcharam ao lado dos metalúrgicos. Em Campinas, a juventude e os professores foram levar sua solidariedade desde a madrugada aos petroleiros e metalúrgicos, para depois organizar um ato composto por secundaristas, universitários, professores e metalúrgicos em um dos maiores terminais da cidade, o Terminal Ouro Verde, terminando as mobilizações em um bloco classista durante o ato no centro da cidade. Em Marília, Franca e Belo Horizonte, nossa juventude também esteve ao lado dos trabalhadores, e no Rio de Janeiro, desde a madrugada, estudantes foram levar sua solidariedade aos motoristas e cobradores nas garagens, terminando sua jornada no ato da Candelária, que mais uma vez foi brutalmente reprimido pela polícia assassina, a mando do governador Sérgio Cabral.

Por um encontro nacional de base para organizar um pólo antiburocrático, classista e combativo

É fundamental desde já tirar as lições do dia 11. A classe operária se apresentou como um fator político na nova etapa política do país. A burocracia sindical, a despeito dos discursos, continuará sua função reacionária de preservar a “ordem” neoliberal – contestada em vários aspectos pelas mobilizações. Para isso, buscará frear e controlar essa força operária. Contudo, se verá obrigada pela pressão dos trabalhadores a convocar mobilizações com o objetivo de “pressionar” os governos e a patronal a conceder para “conservar”. Denunciar esse papel reacionário da burocracia, em todas as fábricas, empresas e serviços, exigir que convoquem mobilizações e impor medidas democráticas de controle das bases (assembleias soberanas, piquetes, comitês de fábricas, coordenações interfabris e interbarriais etc.) serão tarefas fundamentais para “dialogar” com os trabalhadores, estimular sua energia combativa e preparar o caminho para retomar os sindicatos para as mãos dos trabalhadores e sua luta, contra os privilégios e domínio da burocracia sindical, contra os governos e a patronal, em defesa das reivindicações operárias, da juventude e do povo pobre.

Os trabalhadores, na nova etapa, para vencer, precisam constituir uma nova direção combativa (contra a aliança com os patrões e os governos), classista (unindo os sindicatos e programa dos trabalhadores com a juventude e o povo pobre) e democrática (sem burocratas sindicais, pela organização de todos os trabalhadores para fazer valer a nossa força). Como a maioria dos principais sindicatos está nas mãos da burocracia sindical vendida, as organizações que se dizem classistas, combativas e antigovernistas – CSP-Conlutas, as duas Intersindicais e Unidos – devem tomar essa tarefa em suas mãos, constituindo-se como uma real alternativa contra a burocracia sindical e sua política reacionária.

Nos metroviários de São Paulo, dirigidos majoritariamente pelo PSTU e o PSOL, esses dirigentes venderam a falsa ideia de que “com as centrais não estávamos sozinhos”, deixando de organizar nas bases, com toda firmeza, as condições para uma verdadeira paralisação do metrô, o que teria dado um caráter mais ofensivo – de greve – ao 11J na capital paulista, contribuindo como “vanguarda” para que milhões de trabalhadores não fossem ao trabalho. Essas direções, na verdade, privilegiaram os “acordos” e “compromissos” com os burocratas sindicais traidores – que assim são vistos por milhares de metroviários – e não um plano sério para convencer e mobilizar a categoria para parar contra todo tipo de pressão e confusão existente. No boletim do sindicato as vésperas da paralisação (http://www.metroviarios.org.br/site...), não havia qualquer crítica ã burocracia sindical, vendendo falsos informes desses burocratas de que “parariam diversas categorias”. Essa foi a “preparação” que a direção do Sindicato fez, justo numa categoria que para paralisar precisa não apenas estar convencida em sua maioria mas fundamentalmente preparada para enfrentar esquemas de fura-greves organizados pela empresa, repressão e ameaças judiciais. O metrô não parou porque, como vimos, não basta a direção sindical do PSTU e do PSOL dizer que os “burocratas estão conosco” e que “vão parar o país”.

Esta forma de confundir a necessária unidade na ação com as centrais sindicais quando se veem obrigadas a convocar mobilizações com o silêncio público sobre o reacionário papel desses burocratas não permite eliminar os obstáculos para que a classe operária confie em suas próprias forças e se fortaleça para ajustar as contas com os burocratas sindicais, tomando o controle das mobilizações e de um plano de luta efetivo – antigovernista e anticapitalista –, único caminho seguro para impor as reivindicações e soldar a aliança operário-estudantil-popular.

Precisamos nos organizar com força para que o dia 6 de agosto seja de fato uma grande mobilização contra a PL 4330 (Projeto de Lei que busca aprofundar a terceirização em nosso país), impondo a retirada desse projeto e questionando os pilares da precarização do trabalho no Brasil. Precisamos lutar para que os sindicatos e entidades comecem a organizar reuniões, preparem assembleias, material para mobilizar as estruturas. É necessário construir uma grande mobilização que caminhe para a greve geral no dia 30 de agosto, para impor as reivindicações e não apenas “pressionar” o governo e a patronal em troca de enganosas “negociações”.

É necessário que a esquerda tire as lições e possa superar essas debilidades. É fundamental lutar por um encontro nacional de base para que a politização dos milhões de trabalhadores possa se tornar organização consciente. Os trabalhadores não podem mais ser enganados por essas direções sindicais que a décadas mostram que estão do lado do governo e dos patrões. Se a luta por nossos direitos ficar nas mãos da Força Sindical, CUT e CTB, terminará desviada através do plebiscito ou em pressão para que o governo atenda “pequenas propostas” que nada mudará de fato e levará que continuem paralisando os sindicatos.

É mais do que urgente que a CSP-Conlutas, as Intersindicais, a Unidos e demais setores antigovernistas preparem e convoquem um encontro nacional nacional democrático, elegendo delegados de base em todos os seus sindicatos para debatermos e deliberarmos um plano de lutas e um programa operário e popular que parepare a participação ativa de um “polo anti-burocrático, classista e combativo” nas mobilizações de 6 e 30 de agosto e as campanhas salariais no segundo semestre das grandes categorias como correios, petroleiros, metalúrgicos, bancários, apresentando-se como uma real alternativa de direção para os trabalhadores subjugados ao domínio das burocracias das centrais sindicais governistas e patronais. A disposição dos trabalhadores necessita de uma política independente dos patrões, dos governos e da burocracia sindical para lutar por um plano de ação que possa encarar o aumento do custo de vida, os direitos dos trabalhadores precários, lutar pela estatização do transporte e por condições dignas de educação e moradia acabando com os privilégios dos políticos e dos banqueiros que ficam com 50% de nosso orçamento com o pagamento da dívida pública. Mais do que nunca é necessário construir um grande pólo anti-burocrático no movimento operário brasileiro para que toda a politização e energia dos trabalhadores possam se transformar em organização em nossos locais de trabalho.

 

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