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“Não são só 20 centavos”: perspectivas de classe em disputa no interior das mobilizações
por : Iuri Tonelo

19 Jun 2013 | Por Iuri Tonelo

O ultimo dia 17 de Junho foi marcado por manifestações no Brasil como não se via há anos. Centenas de milhares em todo o país (alguns chegam a falar em meio milhão de manifestantes) saíram ás ruas nas mobilizações que tiveram como determinante o problema do transporte no país, mas que já ultrapassam bastante essa questão. As mobilizações seguem durante essa semana.Na boca dos manifestantes, de apoiadores e em diversos meios já se circula uma expressão que vem marcando a tónica dos atos: “não são só vinte centavos” (em referência ao aumento da passagem de ônibus e metro de R$3 para R$3,20).

Dizia um grande dirigente da revolução russa que uma nota de um dólar tem significados diferentes na mão de um trabalhador, de um jovem pobre ou do presidente da república. Assim também estamos diante de uma disputa de conteúdo em torno do lema central da manifestação. Mas qual o conteúdo dessa disputa?

A juventude sai ás ruas: heterogeneidade nos marcos de um país continental

Antes de tudo, é preciso pensar a composição objetiva (de classe) destes atos. É fato que a juventude de classe média tinha peso determinante (hegemonizante) de modo geral nos atos no Brasil. Entretanto, dar uma definição fechada do caráter das dezenas de atos realizados no país também seria incorrer no erro oposto. Se em São Paulo se desenhou um ato mais “pacifico”, em função da “defensiva” da PM a partir da escandalosa repressão anterior, em outros Estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, viu-se um grande enfrentamento dos manifestantes com a polícia, com pontos de mais radicalização e métodos históricos do movimento, como as barricadas. Sem dúvida, entre essas diversas “alas” que compunham os atos, vimos a adesão de muitos jovens trabalhadores e uma confraternização importante com a própria classe trabalhadora, demonstrada incessantemente pelo apoio da população ao ato. Do ponto de vista objetivo, o peso da classe média se combina com a fluidez das camadas nos atos a partir da particularidade da situação política e social nos diversos Estados em que ocorreram as manifestações.

Dispersão ideológica: atos contra o aumento da passagem ou “Brasil da ordem e progresso”?

Muitos dos que estavam nos atos, como os que estávamos em São Paulo, sentiram essa heterogeneidade como um choque de ideologias de classe. O primeiro elemento, notado por vários que comentaram nas redes sociais o ato foi que com a massificação atrelada ao peso da classe média, deslocou-se um pouco do centro do ato a questão do aumento da passagem. Entretanto, esse deslocamento não é aleatório, pois precisamente desse ponto se divide (em termos de classe o movimento): enquanto para alguns, o “não são só 20 centavos” se referia a necessidade de ir por mais, a começar por questionar a privatização dos transportes e conduzir a luta da redução das passagens ã estatização dos transportes sem indenização, controlado pelos trabalhadores e usuários, e ligando essa questão a toda a denuncia da falta de direitos num pais que “tem dinheiro para a copa, mas não pra saúde e educação”; para outros, “não são só 20 centavos” era uma maneira de dissipar as demandas vitais que sentem a juventude e os trabalhadores que sentem a precarização desses aumentos na pele, por isso cantavam falavam contra a “corrupção” em geral, pelo pacifismo adaptado ao regime e especialmente, combatiam as organizações populares, sindicatos e partidos na manifestação, onde o antipartidarismo escondia a luta de classes e o ódio da fração conservadora da classe média contra as manifestações populares. No “meio” dessas perspectivas víamos várias gradações mais a esquerda ou mais a direita; em síntese, não deixa de ser sintomático dos tempos que se aproximam a polarização inicial da sociedade em torno do movimento.

“O fantasma da liberdade”: concretizar a vitória na questão dos transportes e avançar no questionamento do regime de exploração da população

No interior desse conturbado espectro ideológico de uma juventude que não ia há tempos para as ruas e que vem assustando a burguesia com sua força, é necessário disputar com ideias revolucionárias os manifestantes que despertam para a política. Em primeiro lugar, devemos canalizar toda essa energia para travar uma imensa batalha em todo o país por impor imediatamente a redução do valor das passagens e o passe livre para a juventude e estudantes, desempregados e aposentados e conduzir essa luta concretamente a necessidade de se estatizar todo o transporte em todos os estados, com tarifa zero pra população. É necessário impor essa vitória em cima do PSDB e do PT, para desmascarar para a população esses governos de ataques aos trabalhadores. Ademais, o PT de Haddad hoje aparece junto aos empresários (“máfias”) do transporte, defendendo seus interesses e bem longe de uma transporte realmente público e estatizado, o que só poderia livrar o “direito ao transporte” das mãos dos lucros empresariais, diminuindo enormemente os gastos com o transporte e garantindo uma melhoria real para a população.

Depois devemos ligar essa luta ao questionamento do regime, num país que sustenta uma casta de parasitas na câmara e no Senado, que não fazem mais que sugar a riqueza da população para atacá-la. Para ilustrar a questão, como disse Leandro Ventura: “A câmara federal tem um orçamento para pagar os salários e privilégios dos deputados e seus funcionários de R$ 4, 983 bilhões, enquanto o senado (com 6 vezes menos privilegiados que a câmara, 81 senadores contra 513 deputados) tem um orçamento de R$ 3,504 bilhões. Juntos estes 594 privilegiados e seus comparsas custam 8,436 bilhões”. Com toda essa verba (e mais alguns bilhões que deveriam ser arrecadados em impostos progressivos das fortunas milionárias de algumas poucas famílias parasitas no Brasil), seria possível revolucionar completamente o sistema de transporte público brasileiro, mas infelizmente ao contrário de direitos da população, compra-se (com dinheiro público) o whisky que os parlamentares vão tomar com os empresários para conversar e reclamar juntos das manifestações da juventude.

A juventude deve se revoltar contra esses governos e este Estado em sua busca por direitos e pelo futuro. No mar de corrupção, parasitismos, exploração e opressão que esse sistema promove, a classe dominante (expressa a partir de sua ideologia na boca de alguns pequeno-burgueses nos atos) deve realmente tremer a ideia de que possam existir no movimento organizações e partidos de esquerda que queiram conduzir essa luta a uma aliança profunda com os trabalhadores para o questionamento do conjunto do sistema.

Hoje na Turquia, na Grécia e na América Latina se inflama a população contra as décadas neoliberais. No Brasil, a “estabilidade” do lulismo começa a se desfazer nas primeiras turbulências da inflação, dívidas e instabilidade. Estamos apenas no começo de um novo momento. Toda essa disputa no campo politico-ideológico é um reflexo indeclinável de que a luta de classes começou a se aprofundar no Brasil. Ao nosso ponto de vista, realmente, “não são só 20 centavos” que estão em jogo, pois o programa que a juventude e os trabalhadores em nível internacional devem apresentar não cabem nos planos desses governos exploradores e de austeridade e dos políticos que estão ao seu serviço. A classe dominante vai ter de se acostumar a ideia de que a juventude não vai mais aceitar calada esse sistema.

É hora de desafiar a miséria do possível!

Fuente: http://blogiskra.com.br/

 

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