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Pela punição aos repressores em meio ao processo eleitoral
por : PTS, Argentina

13 Jun 2012 | Milhares de manifestantes tem saído ás ruas desde o último sábado nas principais cidades do Egito logo após saberem o resultado do julgamento do ex-ditador Hosni Mubarak pelo assassinato de cerca de mil manifestantes...

Por Juan Andres Gallardo, PTS

Milhares de manifestantes tem saído ás ruas desde o último sábado nas principais cidades do Egito logo após saberem o resultado do julgamento do ex-ditador Hosni Mubarak pelo assassinato de cerca de mil manifestantes durante as mobilizações do início de 2011, que terminaram com a caída do ditador. O tribunal lhe condenou ã prisão perpétua, mas deixou em liberdade dois de seus filhos e os principais chefes de segurança que estiveram por trás do massacre. Isso gerou uma onda de indignação com novas mobilizações que pediam a “execução de Mubarak” e justiça para os manifestantes assassinados. Poucos dias após o primeiro turno das eleições presidenciais, do qual passaram ao segundo turno o candidato da Irmandade Muçulmana e o último primeiro ministro de Mubarak, as novas mobilizações que questionam o poder judiciário e pedem que se reabra o julgamento aos responsáveis, não demoraram a somar demandas pela anulação das eleições, como se viu na multitudinária mobilização de terça-feira (05/06). Isso mostra a inconsistência de uma “transição” que, a pesar dos distintos momentos políticos pelo qual passou durante o último ano, não conseguiu fechar o processo revolucionário aberto com os levantamentos de início de 2011.

A “transição controlada” e o processo revolucionário

Após a caída de Mubarak em fevereiro do ano passado, assumiu o poder o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) que havia se “autopreservado” durante os levantamentos, se apresentando como “amigos do povo”, com o objetivo político de manter o essencial do regime de Mubarak, desviando o processo de mobilizações e greves operárias para uma “transição controlada”. O recente primeiro turno das eleições presidenciais foi o último episódio de uma série de atos que tem o objetivo de levar as demandas dos trabalhadores e do povo egípcio levantadas durante as jornadas de janeiro e fevereiro de 2011, para um beco sem saída, combinando a repressão e o desvio eleitoral, apesar de que esse segue repleto de contradições e debilidades, já que o processo revolucionário aberto ano passado ainda não foi fechado. O CSFA manteve o estado de emergência em todo o país, declarou ilegais as greves realizadas por dezenas durante o último ano e condenou em tribunais militares mais de 12 mil jovens e trabalhadores que foram parte do levante contra Mubarak e as mobilizações posteriores, enquanto que, por outro lado, colocou em marcha um calendário eleitoral para descomprimir que incluía as eleições legislativas de novembro de 2011 e as presidenciais de maio de 2012.

Essas últimas “concessões” foram consideradas absolutamente insuficientes e a indignação voltou a explodir em novembro do ano passado, durante uma série de mobilizações que foram brutalmente reprimidas pelo exército e isoladas por várias forças políticas, como a Irmandade Muçulmana, que tentava ganhar as eleições parlamentares (nas quais saiu em primeiro lugar) e da qual as principais figuras se negaram a participar das mobilizações, provocando o rechaço dos manifestantes na Praça Tahir e uma ruptura dentro de suas próprias fileiras. A brutal repressão sobre a mobilização de novembro passado (ver LVO 454) e a celebração das eleições legislativas no final do mesmo mês, deixou a porta aberta para o chamado aos comícios presidenciais de final de maio, quando o próprio CSFA elegeu a dedo os candidatos, deixando alguns de fora do processo, como os salafistas (islamistas ortodoxos, que haviam ficado em segundo lugar nas eleições parlamentares, motivo pelo qual terem sido realizadas mobilizações com incidentes e mortos há pouco mais de um mês), por um lado, e aceitando como candidato Ahmed Shafiq, ex-primeiro ministro de Mubarak, violando a “Lei de Isolamento Político”, recentemente votada, que proíbe a ex-funcionários do alto escalào de Mubarak ocupar postos públicos.

A armadilha eleitoral

Essa situação derivou na convocatória ás eleições completamente viciada, cujo primeiro turno, de 23 e 24/05, deixou a Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, e Ahmed Shafiq, ex-primeiro ministro de Mubarak, como os únicos candidatos para ao segundo turno, marcado para 16 e 17/06. Apesar de Shafiq ser o candidato mais respaldado diretamente pelo CSFA, ambos são variantes de um governo que garante o status quo com o imperialismo e Israel. O perfil neoliberal e privatizador da Irmandade Muçulmana tranquiliza o imperialismo, na expectativa de um “modelo turco”, com islamismo moderado e um papel de controle das FFAA. Por isso que, além do ceticismo frente ao processo eleitoral, expresso no baixo nível de eleitores que votaram (44%), se somou uma dispersão dos votos entre diferentes candidatos, fazendo com que tanto Morsi, quanto Shafiq, tenham tido votações medíocres (25% e 24%, respectivamente). Por outro lado, o terceiro lugar, com 22% dos votos, ficou com Hamdin Sabahi, um candidato de perfil nacionalista burguês, que tentou um discurso desafiante frente Israel e EUA, ganhando nas três principais cidades do país e capitalizando uma parte do eleitorado que participou do processo de 2011 e que não estava disposto a votar no continuador de Mubarak nem no programa neoliberal da Irmandade Muçulmana. Também ficaram fora do segundo turno Abdel Abul Futuh (18%), um dissidente da Irmandade Muçulmana, e Khaled Ali, que teve uma votação marginal, mas que junto aos anteriores se apresentava como um dos candidatos da “revolução”.

Nesse marco, as novas mobilizações voltaram a tomar rapidamente uma perspectiva política e a mostrar a fragilidade da “transição”, como também as contradições que um futuro governo deverá enfrentar (se finalmente fizerem o segundo turno). Qualquer futuro governo, devido ao fato de não ter sido fechado o processo revolucionário iniciado com as jornadas de 2011 e por não se reconhecerem nele os manifestantes que tomaram as ruas e praças, terá uma debilidade estrutural que, no marco da profunda crise econômica mundial e local, sem possibilidades de dar grandes concessões, dificilmente possa reverter sem impor importantes derrotas ao movimento. O Movimento 6 de Abril, um dos principais impulsionadores das jornadas de 2011, junto a distintas organizações, está pedindo anulação das eleições e impulsionando a formação de um “governo colegiado” que inclua os candidatos que ficaram fora do segundo turno e a Irmandade Muçulmana, mas não Shafiq. Por esse motivo, as novas mobilizações já começaram a repercutir nos posicionamentos políticos dos candidatos. Frente a essa situação e com a possibilidade de que Shafiq seja desqualificado pela “Lei de Isolamento Político”, a Irmandade Muçulmana vem participando das mobilizações, prometendo “fazer justiça” contra Mubarak e seus sócios, enquanto que Mohamed Morsi já se juntou com alguns candidatos para tentar se reposicionar e sondar uma nova variante de desvio.

Por uma saída independente

Os trabalhadores e o povo do Egito tem dado muitas mostras de predisposição à luta, primeiro contra a ditadura pró-imperialista de Mubarak e, após sua caída, contra o continuísmo e os atropelos do CSFA. A medida que se aproxima a data da teórica entrega do poder por parte dos militares ao “novo governo” (30/06), mais se agudizam as contradições do atual processo revolucionário. As forças políticas como a Irmandade Muçulmana, que tem colaborado abertamente com o governo militar, mas também a maioria das forças laicas eu dizem representar a “revolução”, tem aceitado o calendário eleitoral e agora buscam alguma variante de governo e terminará desviando e disfarçando as legítimas demandas do povo egípcio.

Inacreditavelmente organizações que se chamam trotskistas, como o Revolutionary Socialist, próximo ao SWP britânico, tem seguido essa política, chamando o “voto útil” contra Shafiq no segundo turno e pedindo ã Irmandade Muçulmana uma coalizão presidencial com os outros candidatos. Nenhuma das profundas demandas estruturais colocadas com as jornadas de 2011 pode ser resolvida nos marcos do capitalismo. O único caminho para derrotar o exército, os capitalistas e o imperialismo é a aliança entre os trabalhadores, os jovens, os desempregados e os pobres das cidades e campo, para preparar a greve geral insurrecional para derrubar o governo militar e seus títeres civis e instaurar um governo dos trabalhadores e do povo.

 

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