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Grande processo de mobilização no Estado Espanhol
por : La Verdad Obrera, Argentina

28 May 2011 | Entrevista realizada pelo jornal “La Verdad Obrera” (jornal do PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina) que entrevistou Santiago Lupe, dirigente do Clase contra Clase, do Estado Espanhol.

Publicamos abaixo a tradução da entrevista realizada pelo jornal “La Verdad Obrera” (jornal do PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina) que entrevistou Santiago Lupe, dirigente do Clase contra Clase (integrante da FRAÇÃO TROTSKISTA) do Estado Espanhol.


(Quinta-feira, 19 de maio de 2011) Santiago Lupe: Boa noite, falo com vocês da Praça ‘Catalunha’ de Barcelona, rebatizada esta mesma noite pela massiva assembléia de mais de 5.000 pessoas como Praça ‘Tahir’, em homenagem a praça que foi epicentro da revolução egípcia e ao grito de “aqui começa, a revolução!!”.

No dia de hoje, a Junta eleitoral ameaçou reprimir todas as praças acampadas, em especial a de Madrid, onde o movimento é ainda mais massivo, e isso fez com que fossem mais pessoas ainda ás praças.

LVO:Como começou todo este movimento?

SL: Bom, o Estado Espanhol é um dos países que mais fortemente está vivendo a crise econômica internacional e até o momento tanto a classe trabalhadora como a juventude haviam dado pouca resposta aos ataques que estão sofrendo. No entanto, vinha crescendo um mal-estar contra os efeitos da crise como dos ajustes que o governo vem aplicando. Este mal-estar foi expresso pontualmente em manifestações como a do 7 de abril em Madrid que reuniu a 5.000 jovens, na luta contra os cortes ã saúde em Catalunha, as manifestações do 1° de maio do sindicalismo alternativo, etc. Tudo isto foi um “esquentar de motores” que fez explodir este domingo, o 15 de maio, com uma jornada de manifestações em mais de 60 cidades de todo o Estado, que foram verdadeiramente massivas. Foi uma jornada que se convocou pelas redes sociais, e que congregou dezenas de milhares, sobretudo jovens, mas também de trabalhadores. As duas mais importantes foram as de Barcelona com cerca de 15.000 pessoas e a de Madrid com umas 25.000.

É um movimento que coloca sobretudo uma denúncia a situação de desemprego de massas, de despejo de milhares de famílias, de falta de perspectivas para toda uma geração de jovens a que o próprio FMI nos chama geração perdida. Ao mesmo tempo em que se denunciam todos os ajustes como a reforma trabalhista, o “pensionazo” [1], a liquidação das negociações coletivas que estão acordando agora mesmo entre o governo e a burocracia sindical, e outros mais que venham depois como os cortes da saúde e educação que já estão ensaiando em Catalunha; o movimento também coloca uma crítica bastante profunda, uma denúncia, ao regime político, a democracia existente atualmente. Há um desgaste e uma crítica constante ás instituições, aos partidos do regime.

LVO: Como surgiu a questão dos plantões, o método de luta dos acampamentos?

SL: Olha, o epicentro do protesto em Madrid, que teve o precedente da manifestação de 7 de abril e onde a mobilização foi muito mais massiva. O governo implementou uma política de repressão seletiva, não reprimindo o conjunto dos protestos, mas sim tratando de reprimir o que era a cabeça do movimento, o de Madrid. Quando terminou a mobilização, a polícia carregou os manifestantes, espancou as pessoas e realizou 23 prisões. Foi por causa desta repressão que os jovens que haviam realizado a marcha, decidiram concentrar-se na “Porta do Sol”, fundamentalmente para exigir a liberdade dos companheiros. Isto foi entre o domingo ã noite e a segunda. Na segunda de madrugada, a polícia novamente reprimiu e desalojou o acampamento detendo outro companheiro. Contra esta nova repressão, começaram a generalizar este tipo de ações em outras muitas cidades. A primeira delas é Barcelona, onde na mesma segunda pela noite se fez o acampamento, ao mesmo tempo em que em Madrid os jovens voltam a ocupar a “Porta do Sol”, mais de 2.000 jovens, e reinstalam o acampamento. Na terça, podemos dizer que o movimento volta a dar um salto porque os acampamentos se estendem a mais de uma dezena de cidades e, sobretudo, tanto a de Madrid como a de Barcelona, se massificam chegando a de Madrid a reunir mais de 10.000 pessoas.

LVO: E quais são as principais características do movimento?

SL: No movimento prima, sobretudo a espontaneidade. As pessoas que participam dos acampamentos e que participaram das manifestações, sobretudo os jovens, estão dando vazão a um mal-estar que até agora não havia se expressado em forma de protesto pelo efeito paralisador que tem semelhante crise econômica e pela política criminosa das burocracias sindicais de paz social que mantêm como o governo. Sobretudo a partir de hoje, quarta, quando as mobilizações têm voltado a crescer, o movimento está se estendendo a muitos outros setores. Está começando a empalmar com setores, por exemplo, do movimento estudantil ou de trabalhadores que estão lutando contra os cortes de saúde em Catalunha, contra as demissões em muitas empresas, em defesa de seus acordos coletivos como dos motoristas de ônibus em Zaragoza. Ou seja, esta juventude, tem começado a confluir com estes setores que previamente ao 15 de maio estavam em luta. Então, o que aconteceu hoje é que o processo se massificou, as assembléias foram duplicadas e triplicadas, e também alguns setores de trabalhadores que já estavam em luta, têm começado a ir ao acampamento pra mostrar sua solidariedade com os jovens e para unificar-se. Como exemplos posso te mencionar, os condutores de ônibus de Zaragoza que hoje tinham uma marcha por seu acordo, e terminaram essa manifestação no acampamento, ou aqui em Barcelona, trabalhadores de Alstom, uma fábrica de ferrovias que enfrentam as demissões de 40% do pessoal e vieram pela manhã aqui no acampamento; trabalhadoras da saúde que também se fizeram presentes, ou os bombeiros (que são um corpo civil, não policiais) que também se encontram em luta pelo seu convênio e vieram.

LVO: Que perspectivas podem resultar desta situação?

SL: Em primeiro lugar, o movimento está em ascenso, é provável que o mesmo êxito que tiveram hoje as assembléias quanto a assistência e quanto a confluir com outros setores, vá ocasionar provavelmente que as próximas assembléias sejam ainda mais numerosas. Todas as previsões indicam que estamos longe neste sentido de ter chegado ao máximo. Mas em perspectiva, há que assinalar que esta irrupção da juventude vai ter um efeito nos setores que vêm se mobilizando e de fato já estamos vendo. Criam um clima mais favorável para que possam surgir certa radicalização e extensão das lutas existentes atualmente. Inclusive se começa a colocar nas assembléias a necessidades que estes acampamentos atuem como um centro de resistência e coordenação de todas as lutas existentes. Provavelmente a irrupção da juventude no último 15 de maio pode significar um ponto de inflexão entre uma etapa na que a crise golpeava muito forte mas não se dava nenhum tipo de resposta e outra etapa na que o governo vai seguir aplicando duríssimos planos mas vai ter que enfrentar-se a uma resistência crescente por parte dos trabalhadores e da juventude.

Podemos dizer que a paz social na que o governo tem trabalhado com a burocracia sindical durante todos estes meses, começa a ter um sério oponente e a ver uma possibilidade real de começar a naufragar.

 

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