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A morte de Al Zarqawi não signfica o fim da resistência
por : Juan Chingo

28 Jun 2006 |

A morte de Abu Musab Al Zaeqawi, o líder da Al Qaeda no Iraque, é um importante ganho tático e psicológico para os Estados Unidos quando este mais necessitava. Frente ã piora da situação no Afeganistão e a conquista de Mogadishu, capital da Somália por forças islà¢micas, é um respiro para Bush tanto em nível interno como internacional, ainda que seus efeitos estabilizadores a longo prazo ainda estejam por ver-se.

O impacto da morte de Al Zarqawi

A morte de Zarqawi é o mais importante triunfo público desde a captura do antigo presidente Saddam Hussein no final de 2003. Chega no momento de maior desaprovação ã guerra no interior dos EUA. Seu impacto lhe permite aos EUA encobrir carnificina dos selvagens marines em Haditha (do nível do My Lai, no Vietnam), que sacudiu novamente a milhões de norte-americanos que não podem se recuperar das imagens de humilhações e torturas de suas Forças Armadas na prisão de Abu Gharib. Por sua vez, tenta deter, a cinco meses das cruciais eleições a despencada de Bush, que mantém 22% de “aceitação”, mediante a invenção de um “golpe letal” ao terrorismo islà¢mico global. Por último, a eliminação de Al Zarqawi, responsável pelo assassinato seletivo de xiitas iraquianos, tem causado o beneplácito no Irã e elevou momentaneamente o governo de coalizão de Bagdá dominado pelos xiitas.

A formação do novo governo iraquiano

A Seleção de um Ministro do Interior, um Ministro de Defesa e um Conselheiro de Segurança Nacional outorga ao Iraque seu primeiro governo completo desde as eleições em dezembro de 2005. Sua formação constitui um arranjo político entre os principais elementos dos três grupos étnicos principais do Iraque. A sorte deste arranjo político definirá o futuro do Iraque, e como ele o futuro da região, e em certa medida o futuro da posição norte-americana nela. Daí que Bush tenha viajado pessoalmente para apontá-lo. A base do acordo é o reconhecimento dos xiitas como grupo dominante, devido a sua maioria demográfica, ao mesmo tempo em que são outorgadas garantias institucionais e políticas aos sunitas de que seus interesses não serão ignorados pelos xiitas e curdos. Por sua vez, estipula que parte da renda petroleira não será controlada só em nível regional, o que vai contra os sunitas. Mas para além destes detalhes superestruturais que ainda devem ser revisados na Constituição, a chave do êxito do novo governo radica em se é capaz de derrotar a insurgência e por outro lado deter a violência sectária, se em troca de concessões políticas e econômicas for dada ordem para que a insurgência cesse os ataques, além de influir a população para que esta retire o apoio aos insurgentes que os sunitas não controlam. A morte de Al Zarqawi parecia ser a primeira mostra dos sunitas do que estão dispostos a fazer para garantir sua nova posição na atual repartição de poder no Iraque, uma vez que esperam uma reciprocidade política dos líderes xiitas com respeito ás milícias para dar novos passos que levem ã estabilidade política. Neste ponto é onde entra o papel do Irã e sua influência sobre os grupos armados xiitas. Como se vê, o êxito deste acordo político não está sob o controle dos EUA, senão de toda uma série de atores nacionais ou regionais como o Irã, ainda que os EUA estejam cada vez mais ansiosos com seu resultado já que dele depende uma saída decorosa do Iraque após o fracasso de sua operação militar na derrota da insurgência.

Os limites da renovada euforia norte-americana

Mas apesar das notícias promissoras da última semana, a oportunidade atual, como que outras anunciadas no passado, podem se dilapidar rapidamente. Depois de tanto fracasso da operação iraquiana, os sinais de cautela brotam por todos os lados. O coronel Dale Davis, ex oficial de inteligência ainda ativo no Oriente Médio, citado por Washington Post em 9 de junho diz: “Estivemos nesta situação tantas vezes: a matança de Uday e Qsay Hussein, a captura de Saddam, as eleições, a transferência de soberania, o novo governo - todos marcados pela euforia, infinidade de discussões sobre pontos de inflexão, a elevação das expectativas de êxito, seguidos pela consternação (...)”. No mesmo sentido se pronuncia Anthony H. Cordesman, um expert em defesa do Centre for Strategic and International Studies em Washington: “Se é só Zarqawi é em grande parte uma vitória política e propagandística e pode desaparecer tão rápido como a captura de Saddam ou a matança de seus filhos”. Além disso, não parece provável que Al Maliki (Primeiro Ministro iraquiano) tenha força e o apoio suficiente para impor a ambiciosa agenda que se propõe. Por exemplo, restabelecer o monopólio do Estado sobre as armas eliminando as milícias choca com a dificuldade de que os mais poderosos partidos no governo controlam as milícias mais fortes. Em um sentido, seu governo chega demasiado tarde para frear a dinâmica de faccionalização entre os diversos grupos étnicos, assim como ao interior dos mesmos, que se incrementou notavelmente desde o atentado ã mesquita xiita de Samarra, ao norte de Bagdá.

A insurgência continua

Apesar de eu Al-Maliki celebrou a “liquidação” de Zarqawi, esta não liquida a insurgência no Iraque Pese que os EUA por propósitos propagandísticos apresente a resistência como de origem estrangeira, a maioria desta é nativa. Alguns apóiam as idéias da Al Qaeda, mas a maioria tomou as armas por outras razões que vão desde um rechaço nacionalista árabe ante uma ocupação estrangeira, a um temor profundo sobre o futuro da minoria sunita anteriormente dominante.
A política de Al Zarqawi foi se inclinando cada vez mais a fomentar os temores destes setores da população contra os xiitas e o Irã, mas debilitando cada vez mais as possibilidades de uma resistência comum aos EUA. Um exemplo grosseiro disso é um vídeo veiculado uma semana antes de sua morte, na quall afirma que “as raízes dos judeus e dos xiitas são as mesmas”, e inclusive vai tão longe que qualifica o aiatólá Ali Al Sistani de “ateu”. Sua política de matar centenas de civis muçulmanos com bombas suicidas nas mesquitas foi levando-o a isolar-se de outros setores da resistência iraquiana e, sobretudo da simpatia das massas árabes na região, e no mesmo Iraque. Por isso, os revolucionários condenamos seus métodos reacionários, que tinham a intenção de gerar o caos e fomentar a guerra civil no Iraque, mas que eram totalmente contraproducentes para desenvolver uma conseqüente e tenaz resistência para derrotar a ocupação imperialista. Esta perspectiva só pode oferecer uma direção revolucionária que se organize segundo critérios de classe, e não de caráter étnicos ou de tipo religioso.

 

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