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O conflito de Kraft-Terrabusi em momentos cruciais
por : PTS, Argentina

19 Oct 2009 | Quase dois meses de luta contra uma das maiores multinacionais da alimentação, enfrentando demissões, a repressão policial, as manobras do ministério, os ataques da burocracia sindical e as pressões da justiça transformaram o conflito de Terrabusi na mais importante luta operária em (...)

Quase dois meses de luta contra uma das maiores multinacionais da alimentação, enfrentando demissões, a repressão policial, as manobras do ministério, os ataques da burocracia sindical e as pressões da justiça transformaram o conflito de Terrabusi na mais importante luta operária em anos.

A política de enfraquecer do ministério do Trabalho e da empresa nas negociações tinha e tem o objetivo de desgastar os companheiros demitidos, normalizar a produção e assim matar a luta. No entanto, a persistência do conflito na cena política nacional obrigou a Kraft a ter que aceitar a sentença dos juízes e reincorporar primeiro Ramón Bogado e depois outros 3 companheiros. Ficava para fora apenas o companheiro Javier Hermosilla do turno da noite, por uma medida judicial, que pôde ser revertida de forma parcial e o companheiro Poke (como é chamado) pôde entrar na fábrica essa terça-feira, 13 de outubro, a noite. Com a entrada da totalidade dos membros da comissão interna, mudou o ânimo dos companheiros “de dentro”. Ainda que fosse em simples caráter de trabalhadores já que o mandato deles venceu e o sindicato se nega a reconhecê-los uma prorrogação como é habitual em casos similares. Isso a empresa notou já quando entrou Bogado na semana passada e por isso daí em diante fechou as negociações. Não houve mais nenhuma reincorporação.

A auto-crítica de Moyano (“desculpem se ofendi alguém”) por tê-los chamado de ultra-esquerdistas, mesmo que tardia (porque serviu em seu momento para justificar a brutal repressão) e as declarações de apoio da CGT foram interpretadas pela base da fábrica na qual a Kraft estava mais isolada, e quando os membros da CI reingressaram isso foi mais notório. Era o momento de passar ã ofensiva com mais medidas e denunciando a intransigência patronal. Por isso, no sábado, 10, na reunião de organizações solidárias decidiu-se com apoio aos demitidos e da CI mobilizar na terça-feira aos tribunais de San Isidro onde se tratava a situação de Hermosilla e a realização de uma grande marcha ã Praça de Maio na quarta-feira, 14. Com o êxito parcial e momentâneo do reingresso de Poke, a patronal sofreu um novo revés. No dia seguinte, ou seja, na quarta-feira, 14, se realizava uma nova e decisiva audiência no Ministério do Trabalho da Capital. Mas foi uma surpresa desagradável que as organizações solidárias convocantes, com a exceção do PTS, decidiram postergar a marcha com a desculpa do jogo Argentina-Uruguai. Tanto é que a imprensa capitalista se enganou com tal decisão e Néstor Pitrola tentou justificar com pouco êxito ficando quase ridículo. Mas nessa mesma quarta-feira o PTS decidiu mobilizar-se ás portas do ministério onde o resto das organizações tinham apenas algumas pessoas ou pequenos grupos.

A armadilha da Kraft e do ministério

Depois dos primeiros 30 reincorporados (que em sua maioria eram “verdes”), os ministérios de Kristina e de Scioli não conseguiram a menor concessão por parte da empresa. A comissão interna reingressou apenas por ordem judicial. Nessa quarta-feira, a “audiência” foi um escândalo. Durante as quase 9 horas que durou, nunca a empresa apresentou uma oferta ã delegação dos trabalhadores, nem boa nem ruim. Nenhuma. Nem sequer se sentaram a mesma mesa.

O leitor se perguntará se pelo menos o fez o ministério com os trabalhadores. Tão pouco. Então? As propostas do Ministério, inclusive a ata final, foram feitas através de um porta-voz, que assessora a maioria da comissão interna, que defendia as mesmas como se fossem próprias. Só em uma oportunidade aproximou-se um funcionário de segunda linha do ministério. Nem Tomada, nem Rial, nem Cuartango deram as caras frente aos trabalhadores. Houve debate entre a delegação operária durante toda essa longa tarde e, sobretudo havia-se que firmar um acordo. A maioria opinava que tinha que firmá-lo, o que implicava aceitar seus termos e depois “ratificá-los” em assembléia. Finalmente se decidiu consultar aos companheiros demitidos que esperavam na porta pacientemente. E, vendo que não havia consenso, o companheiro Ramón Bogado propôs um intervalo até segunda-feira para que nas assembléias da fábrica os demitidos e os suspensos pudessem debater e resolver essa questão. Isso soldou a unidade. O ministério muito a seu pesar teve que aceitar mesmo que tenha imposto que seja apenas até sexta-feira, 16, ás 15 horas.

Qual é a proposta?

A polêmica ata diz, de forma clara, que se mantêm demitidos 53 trabalhadores. Em nenhum momento se diz qual a lista de companheiros reincorporados, no entanto, a ata diz em seu 2° ponto: “A empresa deve dar a lista dos 20 trabalhadores comprometidos com sua re-incorporação no dia 6 de outubro e o nome dos outros 20 trabalhadores que se reincorporarão dia 19 de outubro...” ou seja, o Ministério tem a lista, que a empresa lhe deu, mas no entanto, negou a dá-la aos trabalhadores e pressionou durante todo o tempo para que a delegação firmasse esse acordo ás cegas.

Sobre o reconhecimento da Comissão interna (que está com o mandato vencido), Daer e seus porta-vozes disseram que nem pensam em dar uma prorrogação de mandato. A ata do ministério nem sequer solicita ao Sindicato que outorgue esse direito elementar. Diz em seu 4° ponto: “no que diz respeito ã situação dos trabalhadores da Comissão Interna, atentando ao vencimento dos mandatos com data de 9 de outubro, os Ministros exortam ã empresa a respeitar as condições e status dos mesmos, sem que se interrompa o processo produtivo e desde que se cumpra a normalização da Comissão Interna, através da ata eleitoral respectiva”. Ou seja, apenas “exorta” a uma empresa que até agora não cumpriu nem sequer as resoluções e exigências que fez o Ministério. E ao dizer “sem que se interrompa o processo produtivo” nega o direito elementar de realizar assembléias.

E no ponto 9 que se refere ã “paz social” por 60 dias diz: “O sindicato e a Comissão Interna se absterão de toda medida que possa afetar o funcionamento normal da produção e evitarão todo tipo de atos que possam afetar a normal circulação de pessoas e veículos”. Aqui não somente impede durante 2 meses de fazer paralisações ou fechamentos de colaboração, nem sequer uma simples assembléia mas também que os 53 demitidos que propõe o ponto 2 sejam proibidos de se manifestar com bloqueios de ruas. Um escândalo! Há que avisar a Tomada e companhia que nesse país não há estado de sítio! Fica claro que ele e seu par Cuartango foram mais cúmplices da repressão desatada contra os trabalhadores semanas atrás.

Esse “acordo” é ruim e a paz social não pode ser firmada de jeito nenhum. Os trabalhadores podem amarrar as mãos dizendo que não vão lutar por 2 meses. Outra coisa seria se a correlação de forças não permitisse realizar medidas de luta; mas amarrar previamente as mãos é inaceitável. Por isso era correto não firmá-la. Não era pouca coisa, seu 7° ponto diz: “A Comissão Interna reitera que continuará lutando pelas re-incorporações pendentes e aceita as prescrições do presente acordo, sem prejuízo de sua posterior ratificação pelos trabalhadores”. Ou seja, firmar-se-ia sem consultar, aceitar um acordo que deixa 53 companheiros demitidos sem nem sequer saber quem são, paz social por 60 dias inclusive para os que ficam nas ruas e não há prorrogação do mandato da Comissão Interna.

Serão os trabalhadores da Kraft, em especial os demitidos e suspensos que resolverão em assembléia.

A luta da Kraft, seja qual for a decisão que tomem os próprios trabalhadores democraticamente, já é uma grande gesta que se inscreve na história das grandes lutas do movimento operário argentino. Viva a luta dos trabalhadores da Kraft-Terrabusi!

 

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