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Colocou-se em marcha a saída reacionária
por : Claudia Cinatti

09 Oct 2009 | Ao fechamento deste artigo, representantes do governo golpista e do presidente Zelaya deram início ao que a ditadura cívico-militar encabeçada por Micheletti denominou de Diálogo Guaymuras. Entre os representantes designados por Zelaya que estão participando na negociação se encontra o Coordenador Geral da Frente Nacional de Resistência contra o (...)

Ao fechamento deste artigo, representantes do governo golpista e do presidente Zelaya deram início ao que a ditadura cívico-militar encabeçada por Micheletti denominou de Diálogo Guaymuras. Entre os representantes designados por Zelaya que estão participando na negociação se encontra o Coordenador Geral da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado, o dirigente sindical Jaun Barahona.

Esta rodada de negociação conta com a participação da comissão de chanceleres da OEA, de seu secretário geral, Miguel Insulza, do subsecretário de Estado para a América Latina do Estados Unidos, Thomas Shannon, do representante da União Européia e das Nações Unidas.

Entre todos buscaram selar um acordo reacionário que coloque fim ã crise aberta com o golpe militar último dia 28 de junho. Para dar só um exemplo do caráter deste diálogo, em uma entrevista recente, o acordo com os golpistas, deixou claro que se restitui a Zelaya na presidência, poderão reconhecer as eleições presidenciais previstas para o dia 29 de novembro e haverá anistia para os golpistas.

Até o momento não está claro qual será o resultado concreto do Diálogo Guaymuras. Zelaya há tempos tem aceitado as condições impostas nos Acordos de San José proposto pelo presidente costarriquenho Oscar Arias, como mediador designado por Obama e Hilary Clinton. Recordemos que Arias já cumpriu um papel de pacificar a América Central nos finais da década de 1980, reconciliando ás organizações guerrilheiras com os repressores e integrando-as aos regimes burgueses. O chamado Plano Airias para Honduras inclui a conformação de um governo de unidade nacional com os golpistas, a anistia para os que deram o golpe e cometeram abusos e violações aos direitos humanos e o compromisso de não convocar a uma Assembléia Constituinte. Entretanto, Micheletti apóia por setores empresários e da elite política local, e por alguns congressistas e funcionários norteamericanos, segue negando-se a aceitar todos os termos do Plano Airas. Entre os planos alternativos dos golpistas estão: a renúncia tanto de Micheletti como de Zelaya e a assenção de um presidente interino e a realização das eleições de 29 de novembro, a restituição de Zelaya, mas só depois de que se conheçam os resultados das eleições, a anistia para os golpistas, mas não para Zelaya, e outras variantes. Frente a isso Zelaya tem colocado como condição para respeitar as eleições ser restituito como presidente antes do dia 15 de outubro.

Para além dos termos concretos que se terminem negociando ou não, o Diálogo Guaymuras, da mesma forma que os Acordos de San José, é uma via para impor uma saída reacionária que legitima aos golpistas, busca outorgar-lhes uma ampla anistia aos que cometeram abusos e violências aos direitos humanos, e preserva o regime oligárquico e pró-imperialista imposto pela burguesia hondurenha na constituição de 1982.

Nenhum acordo com os golpistas

As mobilizações que se desenvolveram com o retorno de Zelaya a Honduras abriram uma situação de uma grande instabilidade política, colocando a perspectiva certa de que se radicalizou a resistência operária, camponesa e popular que, há três meses, vem enfrentando o regime golpista. Entretanto, Zelaya não voltou a Honduras para alentar a caída revolucionária de Micheletti, mas sim que com o aval do Brasil, tinha por objetivo exercer uma pressão in extremis sobre os golpistas para que estes aceitassem os Acordos de San José. Sua política foi iniciar o diálogo com a Igreja católica e os candidatos dos partidos golpistas, o Partido Nacional e o Partido Liberal, chamando ao povo hondurenho a confiar não em suas próprias forças, e sim em uma resolução pacífica e negociada supostamente garantida pelo imperialismo e a OEA.

Micheletti mostrou que não ia ceder facilmente e decretou o estado de sítio para disciplinar ao movimento de massas. A suspensão das garantias constitucionais se manteve durante uma semana e implicou um salto nas ações repressivas do exército, com centenas de ativistas detidos, e a clausura dos meios de comunicação antigolpistas.

A política “dialoguista” de Zelaya e a repressão de Micheletti e os golpistas atuaram para desarticular a mobilização popular e facilitar a implementação de uma saída reacionária.

Ainda que originalmente tinha questionado alguns pontos dos Acordos de San José, a estratégia da direção majoritária da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado esteve de acordo com a orientação de Zelaya. Inclusive um de seus dirigentes mais reconhecidos, Rafael Alegría, declarou que a convocatória da Assembléia Constituinte, uma das demandas centrais da resistência, podia suspender-se para o próximo ano. Desta maneira, a política de subordinar ao movimento de massas ã direção de Zelaya não faz mais que manter intacto o poder dos exploradores hondurenhos.

Desde o começo, a estratégia de Zelaya, como a da OEA e o bloco da ALBA, foi subordinar-se ã política do governo imperialista de Obama que se expressou no Plano Arias, de dialogar com os golpistas, aceitando sua restituição condicionada ã presidência e permitindo a legitimidade do regime oligárquico ao serviço da burguesia pró-imperialista hondurenha, do que o mesmo forma parte.

Agora o bloco zelayista busca conseguir na mesa de negociação a reinstalação de Zelaya na presidência antes de 15 de outubro, em troca disso legitimaria as eleições do dia 29 de novembro. Mas inclusive esta saída que parece tão conveniente aos olhos de Obama e dos governos latino americanos, não está garantida no marco da grande polarização política e social de Honduras onde uma minoria de capitalistas e latifundiários, sócios menores do imperialismo norteamericano, buscam manter submetida ã grande maioria da população.

Ao se concretizarem, os acordos com os golpistas seriam uma grande estafa para o povo hondurenho, ainda que restituam a Zelaya na presidência. É necessário que os trabalhadores, os camponeses pobres, os jovens, as mulheres e os setores populares que tem vindo sustentado a resistência contra o golpe durante mais de três meses, e que começaram a desenvolver elementos embrionários de auto-defesa nas em bairros e colônias populares ante a repressão do exército, dotem-se de uma política e uma estratégia própria independente de Zelaya. É preciso que o exijam ás direções operárias e camponesas desconhecer qualquer acordo que eventualmente se firme com os golpistas e retomar o caminho da luta e da mobilização na perspectiva de organizar o boicote ás eleições e a greve geral indefinda até derrotar os golpistas e impor um governo provisório das organizações operárias e populares.

 

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