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Mobilização e greve geral para derrotar o golpe
por : Juan Andrés Gallardo

23 Jul 2009 |

A segunda rodada de negociações convocada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, no último fim de semana terminou em um fracasso após o governo golpista de Honduras, encabeçado por Roberto Micheletti, rechaçou a última proposta do presidente costa-ricense. No plano impulsionado pelos Estados Unidos e proposto por Arias constava sete pontos que sob a desculpa de reconciliar o país e propor uma saída pacífica, encobriam uma aberta legitimação ao governo golpista dando-lhe todo tipo de concessões.

Este acordo incluía o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya a seu cargo, mas com um gabinete composto por golpistas em um “governo de reconciliação nacional”, promovia uma anistia geral, isto é, a impunidade dos responsáveis do golpe e anulava qualquer possibilidade de reforma ã constituição começando pela proposta de instalar uma “quarta urna” nas próximas eleições.

Apesar das incríveis concessões que significavam os pontos deste acordo, Zelaya o aceitou imediatamente demonstrando sua “vocação” para as negociações com os golpistas que, impulsionadas pelos EUA e apoiadas pela OEA, buscaram desde o primeiro momento desativar e descomprimir as mobilizações contra o golpe no interior de Honduras. Semeando expectativas no diálogo com os golpistas vem tratando de evitar que as mobilizações, que havia chegado a seu ponto máximo em 5 de julho frente ao aeroporto de Toncontin, se desenvolvem e se tornam incontroláveis para o governo golpista.

Apesar das condições favoráveis do acordo proposto por Arias, os golpistas o rechaçaram e negaram a possibilidade de que Zelaya volte ao poder. Micheletti fez no mesmo dia um ato rodeado da cúpula empresarial hondurenha para mostrar o apoio que o golpe tem entre os principais setores da burguesia, as Forças Armadas e a igreja.

Ante o rechaço dos golpistas, Arias pediu um prazo de 72 horas para seguir com as negociações antes de finalizá-las e finalmente, no dia 22 de julho ã noite apresentou uma nova proposta que não é mais que uma readequação do plano anterior eliminando do primeiro lugar o retorno irrestrito de Zelaya e pedindo em seu lugar ao congresso que retroceda ás condições prévias ao golpe. Isto é, não só seguem fazendo concessões aos golpistas, como se voltam ã prolongar os prazos enquanto o governo golpista continua no poder. O rechaço de Micheletti ao plano de Arias tinha lançado sinais de alerta do imperialismo e os organismos regionais como a OEA e a UNASUL que saíram a “chamar a calma” e a evitar “derramamento de sangue” ante a possibilidade de que a intransigência dos golpistas desate uma nova onda de mobilizações, bloqueios e paralisações, com os que estão sendo convocados para esta quinta e sexta-feira. Ante um cenário deste tipo é que o governo norte-americano respondeu, mostrando que não tem nenhum problema em falar diretamente com os golpistas, quando a secretária de Estado, Hillary Clinton, numa conversa telefônica privada com Micheletti, o chamou a reconsiderar a proposta de Arias, ameaçando cortar a ajuda econômica ou estabelecer sanções, pressão ã qual também se somou a União Européia.

Entretanto, este “endurecimento” retórico dos EUA se dá enquanto a política norte-americana de estender os prazos nas negociações tem brindado ao regime golpista o tempo necessário para se consolidar. Assim o demonstra o fato de que durante as três semanas que Micheletti está no poder, os EUA não tenham tomado uma só ação decisiva contra os golpistas, mantendo seu embaixador em Honduras em diálogo permanente com o governo golpista e assegurando a continuidade das estreitas relações entre militares norte-americanos e hondurenhos mediante a base militar de Palmerola que o Comando Sul dos EUA mantém no país centro-americano.

Um neogolpismo na medida da administração Obama

Em meio ao impasse atual, Zelaya que vem “ameaçando” retornar a Honduras há duas semanas, anunciou que pelo momento irá esperar até esgotar todas as vias diplomáticas e enviou uma carta ao governo de Obama para que pressione os golpistas – pedido que fez extensivo a organismos internacionais como a ONU e a OEA – semeando expectativas de que o governo norte-americano possa oferecer alguma saída progressiva ã situação.

Nada mais longe da realidade. Os pronunciamentos de Obama e Hillary Clinton a favor da “restituição de Zelaya” nada tem a ver com respeitar os direitos democráticos elementares do povo hondurenho. O imperialismo norte-americano compartilha com os golpistas desde o princípio o objetivo de evitar que se consolide o alinhamento de Honduras com o bloco da ALBA, o que incluía a destituição de Zelaya. O próprio embaixador dos Estados Unidos em Honduras, Hugo Llorens, admitiu ter participado em reuniões secretas onde se discutiram os planos para destituí-lo e antes do golpe já tinham anunciado que rechaçavam a intenção de Zelaya de realizar um plebiscito, compartilhando com os golpistas o argumento de que se estava violando a constituição.

O governo de Obama promovia algum tipo de “golpe legal” com uma destituição acordada por via parlamentar, mas a forma como terminou ocorrendo com os militares tirando Zelaya do país e gerando rechaço a nível internacional, fez com que Obama tivesse que sair a repudiar o golpe. Para deixar claro o objetivo almejado pelos EUA nada melhor que as próprias palavras do porta-voz do Departamento de Estado, Phillip Crowley: “Se estivéssemos elegendo um modelo de governo e um modelo de líder a seguir pelos países da região, a atual liderança da Venezuela não seria um modelo. Se esta é a lição que o presidente Zelaya aprendeu deste episódio, seria uma boa lição”.

O governo de Obama manteve seu embaixador em Honduras como uma peça chave das relações com os golpistas. Segundo o jornal hondurenho La Tribuna – propriedade de um poderoso empresário do país – o embaixador norte-americano não só sabia de antemão do plano de Arias, como que o havia contado a políticos e empresários que apoiaram o regime golpista um dia antes do início do diálogo em San José.

Para além de que Obama tenha que questionar o golpe, tentando se distanciar do anterior governo Bush e da direita republicana que pede apoio aberto ao golpe, a política de dar ar ao governo de Micheletti por meio das negociações e estendendo os prazos de um hipotético retorno de Zelaya enquanto os golpistas seguem no poder, não faz mais que fortalecer as tendências e oposições de direita na região com o objetivo de por limites ao bloco da ALBA. Num momento em que se começam a sentir os primeiros efeitos da crise econômica internacional sai a ofensiva uma direita continental que já demonstrou não estar disposta a ceder um centavo de seus lucros e tenta descarregar os custos nas costas dos trabalhadores e dos povos da região.

A direita regional tomou nota. Ante o recente anúncio do presidente nicaragüense Daniel Ortega de chamar um plebiscito para reformar a constituição, a oposição de direita encorajada pelo golpe em Honduras já respondeu rechaçando e considerando “inaceitável” qualquer tipo de consulta. Por sua vez, uma semana depois do informe do congresso norte-americano em que se catalogava a Venezuela como “narco-Estado”, uma “delegação” da oposição de direita venezuelana acaba de se reunir em Washington com representantes da OEA para pedir a intervenção deste organismo ante a “delicada situação política e social” que o país vive. Tampouco deixa de surpreender a “oportuna” aparição de um vídeo difundido pelo exercito colombiano, em que um dos principais dirigentes das FARC declaram ter dado dinheiro para a campanha eleitoral do presidente equatoriano, Rafael Correa.

Ainda que a direita norte-americana acuse Obama de “chavista” como vem fazendo o jornal Wall Sreet Journal em seus editoriais, a realidade é que o governo teve uma dupla atuação ao condenar o golpe e negociar com os golpistas. Para além da forma como Obama tente maquiar, a política imperialista foi se segue sendo a ingerência mais ou menos “diplomática” no que considera seu quintal para proteger seus interesses estratégicos a região.

Mobilização e greve geral para derrotar o golpe

Como ficou demonstrado nestas duas semanas, a mesa de negociações só fortalece os golpistas. Zelaya se mostrou disposto a entregar tudo, inclusive qualquer mínima possibilidade de convocar uma Assembléia Constituinte, como pedem muitas das organizações que encabeçam a resistência nucleadas na Frente Nacional contra o golpe de Estado. As expectativas postas numa resolução mediante o diálogo com os golpistas não tem outro objetivo que o de desmobilizar.

O fim do prazo de 72hs coincide com as ações que estão chamadas para quinta e sexta-feira em todo o país junto a uma paralisação nacional para o qual confirmaram sua participação as três principais centrais sindicais, incluindo os docentes que vem tendo um papel central nas últimas semanas. É chave redobrar a ofensiva e avançar em uma greve geral indefinida até que caia o governo golpista.

Enquanto Zelaya pede que a resistência seja pacífica e as organizações internacionais chamam ã calma, o governo golpista que voltou a reinstalar o toque de recolher antes as mobilizações da semana passada, reprime, persegue e prende aqueles que resistem nas ruas. Na semana passada foram denunciados assassinatos seletivos de dirigentes da resistência. Ante a repressão dos golpistas é necessário organizar a auto-defesa operária e popular.

Só a mobilização poderá ipedir que os golpistas fiquem impunes e que se efetive a demanda da convocatória de uma Assembléia Constituinte que é negada por todas as instituições do regime que avalizaram o golpe, e já foi descartada por Zelaya.

Por isso a única saída progressiva para as massas hondurenhas é a realização de uma Assembléia Constituinte Revolucionária, convocada sobre a base da queda revolucionária do regime, por um governo provisório das organizações operárias, camponesas e populares que enfrentam o golpe. A discussão dos principais problemas estruturais do país, como a submissão ao imperialismo ou o problema da terra, e a necessidade de impor suas resoluções com a mobilização significará um passo adiante na experiência das amplas massas de trabalhadores, camponeses pobres e demais setores explorados e oprimidos para avançar na luta por um governo operário e popular baseado em organismos de auto-determinação das massas.

 

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