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Não ás ameaças e sanções imperialistas contra o Irã
15 Mar 2006 |

Não ás ameaças e sanções imperialistas contra o Irã

Por: Juan Chingo

Fonte: La Verdad Obrera N° 181

A decisão iraniana de continuar com seu programa nuclear, depois de três anos de negociações com a França, a Inglaterra e a Alemanha, no curso das quais tinha suspendido este desenvolvimento de forma voluntária, está se convertendo dia a dia numa emergente crise que começa a se delinear no panorama internacional.

A discussão imperialista sobre o programa nuclear iraniano demonstra uma enorme histeria de seus protagonistas. O senador John McCain, possível candidato do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2008, declarou recentemente: “Há só uma coisa pior do que uma ação militar, e isto é um Irã armado nuclearmente”. Por sua vez, a França, que se auto-intitulava até não muito tempo atrás, como o melhor amigo dos muçulmanos no Ocidente e o maior oponente ã política exterior dos Estados Unidos no Oriente Médio, num enorme giro, apareceu até mais duro do que os norte-americanos. Sem ambigüidades seu ministro de Relações Exteriores declarou “Nenhum programa civil nuclear pode explicar o programa nuclear iraniano. É um programa nuclear militar clandestino” e chamou ã comunidade “internacional” a fazer tudo o necessário para detê-lo.

Todas estas declarações são marcadas por cinismo e hipocrisia, ainda mais porque alguns tratam de apresentar a existência do armamento nuclear iraniano como uma ameaça iminente quando, segundo observadores sérios, lhe custaria pelo menos dez anos desenvolvê-lo. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - EUA, França, Inglaterra, China e Rússia - têm armas nucleares e nenhum cumpre suas obrigações como signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares de desmantelar seus vastos arsenais. Não podia ser de outra maneira: estes arsenais têm o propósito de amedrontar, ameaçar e eventualmente despregar-se contra aqueles países menores e débeis que devem aceitar assim os ditados das grandes potências. Por isso, os revolucionários num mundo armado até os dentes pelas potências imperialistas e as burocracias restauracionistas da China e da Rússia, não somos pacifistas e defendemos o direito do Irã de desenvolver seu programa nuclear sem restrições de nenhum tipo e inclusive dotar-se de armamento nuclear se assim deseja.

Contra a interessada propaganda sobre o suposto caráter agressivo do regime iraniano, que o converteria num perigo para o ordem regional e até mundial, dizemos que as razões de fundo da oposição dos países imperialistas ao armamento nuclear do Irã radicam em que se este tem sucesso em seu propósito, outras nações como a Coréia do Sul, o Egito, etc., poderiam seguir seus passos. Obviamente isto seria perigoso para a paz mundial, mas na medida que exista o imperialismo com sua lógica infernal de domínio do mundo esta é impossível e pelo contrário a proliferação de armas nucleares nos chamados países intermédios (a maioria de caráter semicolonial como o Irã) claramente reduz a fortaleza militar dos Estados Unidos, como sempre propôs o ex secretário de Estado dessa nação, Henry Kissinger. Por sua vez, no Oriente Médio onde não é um segredo a existência de armamento nuclear no Estado de Israel, a existência de um Irã armado nuclearmente mudaria a correlação de forças regional e diminuiria o poder de dissuação do Estado sionista sobre a região, debilitando a eficácia do “enclave sionista” como polícia imperialista nesta zona estratégica.

Afrouxamento das correntes da opressão imperialista

A atitude desafiante do Irã desnuda o afroxamento das cadeias de opressão imperialista, como conseqüência das dificuldades dos EUA no Iraque. Como expressa Moisés Naím, diretor da revista Foring Policy, num artigo do El País da Espanha: “os EUA têm menos opções do que há quatro anos, e isso impõe um pragmatismo que pode parecer incoerente: “Se se compara o perigo potencial do Irã, hoje, e o perigo potencial de Saddam Hussein antes da guerra, o de agora é maior. Sobre o Irã deveria ter mais do que teve com o Iraque, e não o há. Não há nem como nem com que... é um império menos seguro de si mesmo. O cheque em branco que receberam no 11 de setembro já foi gasto. E é um mundo mais difícil, menos dócil”. (12/02/2006). O regime iraniano, encorajado com a esfera de influência que ganhou em Baghdad [1] aposta agora em conseguir concessões na esfera nuclear por trás de seu objetivo de converter-se num ator importante regional e internacional.

Frente a isto, a decisão da Agência Internacional de Energia Atômica de reportar o caso iraniano ao Conselho de Segurança da ONU, que abre a possibilidade de sanções, constitui um triunfo diplomático dos EUA e da troika européia (Grã-Bretanha, França e Alemanha), ás quais se somaram três potências nucleares: Rússia, China e Índia (e contou com o voto da Argentina). No entanto, o Irã não cedeu absolutamente nada. Decidiu prosseguir com seu programa nuclear, iniciando trabalhos preliminares para começar o enriquecimento de urânio em Natanz. Estas ações aumentaram a probabilidade de uma resposta militar por parte dos EUA e/ou de Israel. Enquanto isso, todos rezam para que o Irã aceite a mediação russa [2], já que o custo desta operação bem poderia superar os benefícios para as potências imperialistas.

A política dos revolucionários

A atitude do Irã de não aceitar condicionamentos que impliquem em uma humilhação nacional o coloca frente ao risco de ver-se submetido aos bombardeios e sanções econômicas que o Iraque sofreu entre 1991 e 2003, que afundaram o país e aumentaram os sofrimentos de sua população antes da invasão anglo-norteamericana. Por isso frente a esta ameaça os revolucionários defendemos o direito do Irã como nação oprimida frente ao imperialismo, de desenvolver seu programa nuclear, e de armar-se, mas não damos nenhum apoio político a seu governo. Em outras palavras nos opomos e defendemos o Irã não só frente a qualquer ameaça militar, senão também contra qualquer sanção econômica que a ONU queira impor.

Nas últimas eleições Mahmoud Ahmadinejad ganhou a presidência, um representante do setor populista islà¢mico cujo discurso de pôr “parte da riqueza petroleira do Irã na mesa do povo”, toca em uma questão sensível para os trabalhadores e os jovens. No entanto, até hoje Ahmadinejad só ocupou posições de poder e não mudou um ápice a estrutura econômica-social desigual do país.
Todas as alas da República Islà¢mica -tanto a que encabeça o atual governo, como os chamados reformistas(que ocuparam a presidência no período anterior) e um setor do establishment conservador ( encabeçado por Rafsajani ) com orientação mais pró-ocidental e que temem que a atual política exterior de Ahmadinejad desencadeie uma guerra, são igualmente reacionárias: não procuram o apoio nos trabalhadores do ocidente, beneficiam-se com a invasão ao Iraque, seu caráter de classe é o mesmo, nenhum regime teocrático nem burguesia nacional que oprime a seus próprios trabalhadores pode enfrentar conseqüentemente ao imperialismo. O discurso xenófobo de Ahmadinejad, sua negação da matança de milhões de judeus europeus durante a Alemanha nazista, por trás de seu objetivo de posesionarse como direção do mundo islà¢mico, leva a isolar o Irã da única força que pode derrotar uma agressão imperialista em caso que esta se desate: os trabalhadores e as massas do mundo, em especial a classe operária e os jovens dos países imperialistas.

Contra esta política burguesa reacionária, só a classe operária iraniana que tem uma enorme tradição de luta revolucionária e que foi um sujeito importante na revolução iraniana de 1979 que destronou ao Sha [3] -e cuja combatividade e organizações foram desarticuladas, uma vez que se afirmou a República Islà¢mica e seu regime teocrático-, é a única classe verdadeiramente nacional que pode encabeçar uma luta até o final contra a opressão imperialista.

[1] Nos referimos ã formação de um governo de coligação dirigido pelos shiitas, que no marco da insurgência sunnita e as demandas curdas por autonomia, é o mínimo aceitável para o Irã. Esta não era a aspiração máxima do regime iraniano que pretendia instalar um governo totalmente fantoche. No entanto, é melhor do que a existência de um governo hostil como era o de Saddam.

[2] A Rússia ofereceu como solução enriquecer urânio em seu território.

[3] A queda do Sha do Irã em 1979 significou um duro golpe para o imperialismo já que este era um de seus principais agentes regionais no Golfo Pérsico.

 

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