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Demagogia e submissão para salvar o capitalismo de sua decadência
por : Paulo Matos

19 Nov 2008 |
Demagogia e submissão para salvar o capitalismo de sua decadência

Nos dias 8 e 9 de novembro reuniram-se os ministros da economia e chefe dos bancos centrais das 20 principais economias do mundo. Essa foi uma reunião preparatória para a reunião dos chefes de Estado destes países que ocorrerá nos EUA no próximo dia 15 para "discutir" a crise que abala o capitalismo mundial.

Nas crises que atingiram o capitalismo nas últimas décadas, este tipo de reuniões restringia-se ao chamado G-7, que incluíam os principais países imperialistas, ou o G-8, ao qual era incorporada a Rússia. O próprio fato de que desta vez foram incorporados os principais países dependentes do capital imperialista é uma mostra de como as supostas "soluções" encontradas nas crises anteriores não passavam de medidas que "empurravam para adiante" as contradições mais estruturais do capitalismo; ao mesmo tempo em que acumulavam contradições ainda mais profundas que, mais cedo ou mais tarde explodiriam em uma crise de maiores proporções. É um sintoma de que a magnitude histórica da crise atual - cujos paralelos remontam ã crise de 1929 - está intimamente ligada ao declínio histórico da capacidade dos EUA de lidar com as contradições políticas e econômicas mundiais. Entretanto, ao contrário das ilusões difundidas não só por presidentes de países dependentes como o Brasil, mas também por presidentes de países imperialistas como a França, esta reunião do G-20 não está a serviço de "democratizar" o poder mundial e muito menos planificar qualquer tipo de "governança" global alternativa ao neoliberalismo. Muito pelo contrário, o documento resultante da reunião de São Paulo demonstra como os governos destes países, apesar dos distintos tipos de demagogias contras as "mazelas" provocadas pela sede de lucro das "finanças", estão muito conscientes de que conter ou minimizar a decadência do capitalismo é impossível sem salvar o capital financeiro imperialista; ou seja, são todos conscientes de que é justamente este capital "neoliberal" que tem permitido a sobrevida do capitalismo através do aumento em extensão e profundidade da exploração da classe trabalhadora em todo o mundo. Isso não exclui que a própria reunião tenha expressado também o aumento da competição entre os capitalistas e entre os Estados nacionais que os representam, antecipando uma perspectiva em que, com o aprofundamento da recessão em nível mundial, tende a dar lugar distintos tipos de medidas protecionistas por parte de cada país em relação a suas economias nacionais.

Os fatos por trás da demagogia

Não por acaso, o documento resultante deste G-20 não trás qualquer proposta contra as demissões em massa que já estão ocorrendo em vários países; nem tampouco faz qualquer referência ás condições de trabalho extremamente precárias, ã retirada de direitos ou aos baixos salários que foram impostos pela ofensiva neoliberal nas últimas décadas. Para que o capitalismo se recomponha, estas condições não só vão ter que ser mantidas, mas aprofundadas, pois são a base fundamental de qualquer recuperação da taxa de lucro sem a qual não sobrevive o sistema.

Ao mesmo tempo, foram legitimados os distintos tipos "intervenção estatal" adotados em vários países com o objetivo de salvar as instituições financeiras e os grandes monopólios empresariais em crise, injetando milhões e milhões provenientes dos impostos pagos pela população; dinheiro este que é utilizado ás custas de deteriorar ainda mais as condições de saúde, educação, previdência etc. Desta forma, colocam em evidência a máxima marxista de que o poder político do Estado capitalista nada mais é do que um comitê para administrar os negócios comuns de toda sociedade burguesa.

No atual momento da crise, os distintos governos concordam em se coordenar para evitar uma quebra bancária generalizada ou conter a dinâmica recessiva provocada pela falta de crédito. Entretanto, por trás da discussão sobre os distintos tipos de "regulação" e "intervenção estatal", se escondem os preparativos de cada governo para salvar seus próprios monopólios e posicioná-los para se beneficiarem do inevitável processo de concentração de capitais que vai resultar da falência dos setores mais atingidos.

A crise atual coloca em evidência a essência anárquica do capitalismo, em que a competição entre os distintos capitalistas por lucros cada vez maiores leva inevitavelmente ã crises desse sistema. Esta competição, que tende a se acentuar na medida em que a crise se agrava, ao contrário de levar a uma maior "democratização" do poder mundial, levará a maiores disputas inter-estatais, nas quais os países imperialistas do G-7 não farão outra coisa se não, tentar descarregar a crise uns sobre os outros e, sobretudo, descarregá-la sobre as costas dos países ditos "emergentes".

A submissão por trás da demagogia

Os discursos aparentemente "bravos" de Lula contra os "excessos" do capitalismo financeiro nos países centrais não passam de demagogia para esconder a submissão do governo petista a este mesmo capital. Em sua recente viagem ã Itália, Lula expressou de forma exemplar sua clareza em relação ás questões fundamentais. Discursando para uma platéia de empresários, pronunciou-se cético em relação ã reunião do G-20 e tratou de tentar convencê-los de que "o único risco que corre o capital italiano em investir no Brasil é ganharem lucros maiores do que se investissem na Itália" (sic). Os trabalhadores precários e flexibilizados que sendo super-explorados garantem os enormes lucros da Fiat no Brasil "agradecem".

Ainda que Lula hoje queira colocar-se na cabeça da resposta ã crise na América do Sul, recentemente vieram ã tona acontecimentos exemplares que revelam que o ex-operário atua em defesa dos interesses da patronal brasileira. É isso que evidenciamos em casos concretos como a discussão com o Equador sobre os contratos petroleiros, assim como nas fraudes operadas pela Odebrecht neste país. O mesmo vemos na atitude do governo brasileiro no Paraguai, onde se localizou claramente ao lado da burguesia produtora de soja, chegando inclusive a realizar exercícios militares na fronteira com este país; os quais incluíram um simulacro de ocupação da represa de Itaipú, num momento em que Lugo pretende renegociar as tarifas elétricas com Brasil.

Mas a demagogia de Lula revela-se ainda mais no fato de que, enquanto seus discursos defendem uma maior "regulação" do capital financeiro, aqui no Brasil este capital continua "gozando" de toda a liberdade que precisa para expropriar a riqueza produzida pelos trabalhadores no país, não só diretamente através de suas multinacionais, mas também indiretamente através dos milhões e milhões de juros da dívida pública que são pagos com os impostos extraídos da população. Em função de todas as leis de "desregulamentação" que foram implementadas desde a década de 90 (algumas delas no próprio governo Lula) para favorecer a "liberdade" do capital imperialista no país, atualmente mais de 500 bilhões de dólares que circulam internamente podem a qualquer momento sair abruptamente do país por distintas vias de curto prazo como, por exemplo, através de remessas de juros, royalties e lucros para o exterior [1]. Este dado é a maior demonstração de que os tão alardeados 200 bilhões de dólares em reservas nas mãos do governo seria completamente insuficiente se a crise se agrava e se desenvolve uma fuga mais acentuada de capitais do país. Ainda mais quando verificamos que alguns bilhões destas reservas já tiveram que ser "queimados" para evitar a hiper-valorização do dólar nas últimas semanas, e a situação só pode ser minimamente "controlada" em função da "gentil" atitude do Banco Central norte-americano em "ceder" 30 bilhões de dólares ao Brasil. Ou seja, o Brasil mantém as taxas de juros internas mais altas do mundo não só para "conter a inflação", como alega Henrique Meirelles (presidente do Banco Central do Brasil), mas também para garantir uma rentabilidade "atrativa" ao capital estrangeiro. Aqui, mais uma vez, quem "paga a conta" são os trabalhadores através dos impostos.

 

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