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Entre a utopia das «mudanças possíveis» e o potencial revolucionário das massas
14 Feb 2006 |

Entre a utopia das «mudanças possíveis» e o potencial revolucionário das massas

Por: Sofia Andrade

Fuente: Estratégia Obrera N° 48

O auge dos governos “progressistas” na América Latina se confirmou com a chegada ã presidência de Evo Morales na Bolívia. Para além disso, o que predominou nos diferentes países da América Latina desde o ano 2000 é uma sentimento de milhões de trabalhadores e setores populares de estar farto com os velhos governos neoliberais e suas seqüelas de miséria e exploração, onde o mais transcendente é a crescente disposição de lutar contra os mesmos.

A resposta “dos de cima” ã ação das massas

Os impressionantes levantamentos de massas propiciaram a queda de governantes «democraticamente» eleitos em vários paises do continente. É fundamental considerar que nesses processos a classe trabalhadora começa a aparecer, depois de um longo período onde muitos intelectuais a davam por “morta”, como vimos na participação destacada dos mineiros de Huanuni na Bolívia, as lutas operárias e o surgimento de setores anti-burocráticos no caso da Argentina, assim como novas ações do movimento operário no Brasil e no México durantes os últimos anos. Ainda que incipiente, é um sintoma de que o proletariado do continente estaria retomando o caminho da luta que foi trilhado nos anos 70.

Frente ao desprestígio dos antigos movernos neoliberais milhões decidiram confiar, através dos processos eleitorais, em alternativas que se apresentam como “progresistas”. Tanto ás burguesias locais como ao imperialismo é conveniente “essa mudança de rosto” nos quadros políticos dos governos de vários países, sob o auspício de sas próprias instituições e formas “democráticas” de participação. Estes governos são uma resposta das classes dominantes para conter a ação dos trabalhadores, e evite que a dominação capitalista fique em perigo, como na Bolívia e na Argentina. Em outros países (Brasil, Uruguai e possivelmente o México) os governos têm um caráter mais preventivo pelo desprestígio dos regimes e o ritmo lento da ação de massas.

A chegada desses governos reformistas (que se limitam a propor um rosto “humano” para o capitalismo) pretende manter ou recuperar a estabilidade necessária para que os capitalistas continuem se enriquecendo, enquanto é mantida a sangria de recursos em favor do imperialismo através do pagamento da dívida externa como na Argentina e no Brasil, onde seus governos a pagaram com dois de antecedência.
Nesse marco a relação com os Estados Unidos está marcada - como se viu na última cúpula das Américas -, pela tentativa por parte desses governos de pechinchar e renegociar as condições da subordinação ás diferentes potências imperialistas (onde o imperialismo europeu vem avançando). Isto não expressa uma política verdadeiramente anti-imperialista mas a busca de uma maior margem a favor dos empresários locais, enquanto são garantidos os interesses do capital estrangeiro.

Por isto as grandes petroleiras como a espanhola Repsol continuam tendo grandes lucros em seus negócios no Cone Sul, e que estes governos reformistas, indo além de determinados discursos radicais, buscam preservar os laços com a administração Bush como é o caso do próprio Chávez ou Evo Morales, com quem os EUA se “comprometeu a colaborar”, buscando não perder mais terreno em seu quintal ás mãos dos imperialismos europeus.

As tendências na América Latina

Nesse contexto as tendências no movimento de massas e a situação dos regimes políticos são a base de diferentes variantes nos governos “progressistas” do cone sul.
Por exemplo, na Venezuela enquanto a crise social e política se tornava insustentável para o sistema de partidos tradicionais surgiu uma alternativa no interior do exército - um dos pilares do estado - como respostas preventiva ã crise e deslegitimação das instituições entre o movimento operário e popular. Hugo Chávez surge e se mantém com um discurso radical, questionando a ingerência norte-americana na região. Apoiando-se no exército e no aparato estatal Chávez se ergue como árbitro máximo entre as massas e o imperialismo, disciplinando a setores da própria burguesia, e se mostrando como “porta-voz” das aspirações desses, com isto, assume um caráter crescentemente bonaparista.

Contraditório a seu discurso, suas medidas não apontam para terminar com a dominação imperialista, pelo contrário, recentemente assinou novos contratos com a petroleira Repsol para garantir seu enriquecimento na base da pilhagem da principal fonte de riqueza do país. Chávez não realizou nenhum medida similar ás que o governo nacionalista burguês de Cárdenas em 1938 levou adiante, por isto pode ser definido como um reformismo sem reformas.uma maior atividade das massas venezuelanas colocará uma maior instabilidade política e terá que confrontar com a negação o chavismo em atacar o sistema capitalista.

Na Bolíva, diferente da Venezuela, as contradições sociais conduziram ás jornadas revolucionárias de outubro de 2003, quando se combinaram as demandas anti-imperialistas com a exigência de queda do governo. Frente a isso o regime apelou ao papel das forças “opositoras” com base popular (como o MAS do hoje presidente Evo Morales), que colaboraram com a classe dominante para bloquear o caminho da luta e manter a estabilidade. Assim, quando caía Sánchez de Losada o MAS concedeu uma trégua ao novo governo. Posteriormente o recomeço do ascenso derrubou seu sucessor, Carlos Mesa, mas finalmente se desviou o descontentamento rumo a eleição na qual triunfou Morales. Este novo governo ainda que tenha implementado algumas medidas que contam com grande simpatia entre o povo boliviano (como revogar certas leis trabalhistas) já anunciou que preservará a “segurança jurídica” (leia-se os negócios das petroleiras) e considera os patrões como sócios, com isso , é evidente que respeitará a propriedade privada e se limitará algumas mediadas para conseguir “humanizar” a espoliação capitalista. Está em aberto se o governo de Morales consegue realmente conquista uma estabilidade política ou se, pelo contrário, começa a se chocar com as demandas operárias e camponesas na Bolívia.

Uma estratégia independente

Por seu caráter, que explicamos antes, estes governos não podem resolver satisfatoriamente as aspirações dos trabalhas e as massas da cidade e do campo. Para tornar efetiva a entrega da terra aos camponeses (e os recursos necessários para sair da miséria), a renacionalização dos hidrocarbonetos ou a demanda de trabalho digno para todos, deve-se questionar dominação das transnacionais, o imperialismo e seus sócios menores, e avançar em medidas realmente anti-capitalistas e anti-imperialistas. Essa perspectiva não será impulsionada por nenhum destes governos, nem sequer por aqueles que se apresentam demagogicamente como revolucionários, como é o caso do Chávez.

O proletariado latino-americano é a classe que pode efetivamente realizar suas demandas e as do conjunto do povo, começando pela expropriação dos capitalistas e latifundiários e independência efetiva do imperialismo. Mas para isto deve conquista a independência política e organizativa em relação aos governos pós-neoliberais, confiando somente em seus métodos de luta e organização, e tendo como norte estratégico a revolução operária e socialista. Esta é a perspectiva pela qual luta a Fração Trotskista - Quarta Internacional (FT-QI), levantando a necessidade de construir partidos revolucionários da classe operária.

 

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