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A grande greve de Nova Iorque
03 Jan 2006 |

A grande greve em Nova Iorque

Por: Celeste Murillo
Fonte: La Verdad Obrera N° 178

A firmeza dos trinta e três mil trabalhadores do
transporte mantém paralisada uma das maiores cidades
do mundo. Nova Iorque amanheceu terça 20/12 sem metrô
nem ônibus, só uma semana antes das gigantescas vendas
natalinas, o que ameaça provocar algo mais que um caos
no trânsito.

Há semanas que o local 100 do sindicato TWU [1] que
agrupa os trabalhadores de coletivos e da maior rede
de metrô dos EUA, e a Autoridade do Transporte
Metropolitano (MTA pela sigla em inglês) não chegaram
a um acordo. As reivindicações são de aumento salarial
e um sistema de aposentadoria igualitário para todos.
A greve despertou Nova Iorque com filas intermináveis
de transeuntes cruzando as pontes nevadas que
comunicam a ilha de Manhattan com as outras ilhas.
Somente no primeiro dia, calculou-se 400 milhões de
dólares em perdas e sete milhões de pessoas sem
transporte. A última lembrança de uma greve similar
remonta a 1980, a anterior a 1966, em ambas se
conseguiu melhorias, ainda que nelas a burocracia
sindical também desempenhou um papel nefasto,
permitindo que depois de 1966 fosse estabelecida a lei
Taylor [2] ou aceitando pagar multas, assentando assim
um pesado precedente.

O prefeito republicano Bloomberg lançou uma dura
campanha contra os grevista em nome do bem comum da
cidade. Ao mesmo tempo, pesam sobre os grevistas as
multas de 1 milhão de dólares diários e a prisão dos
dirigentes por ignorar a lei Taylor. Um dos ameaçados
é o dirigente sindical negro Toussaint, imigrante
nascido em Trinidad e Tobago.

Até quarta-feira não se conheciam novas propostas da
empresa e os trabalhadores ratificaram a paralisação.
Apesar da campanha contra eles, existem mostras de
apoio entre os milhares que chegam a pé em seus
trabalhos, enquanto também há setores que enfrentam a
ação dos trabalhadores. O sindicato nacional e a
central sindical AFL-CIO literalmente abandonaram os
grevistas a sua sorte, chamando a voltar ao trabalho
porque a greve foi declarada ilegal, uma verdadeira
traição. Isto a faz uma greve combativa, onde os
trabalhadores não só resistem as ameaças patronais e
do governo da cidade mas também o boicote de sua
direção. Já outras vezes a burocracia ficou na margem
oposta aos interesses mais elementares dos
trabalhadores, como foi este ano durante a bancarrota
da empresa de autopeças Delphi, onde a direção da UAW
aceitou um enorme rebaixamento nas aposentadorias.

A reacionária unidade nacional pós 11/9 se dissipa [3]

Um dos elementos mais importante que a greve mostra é
a diferença com o clima reacionário imposto na cidade
desde os atentados terroristas de setembro de 2001. A
unidade nacional detrás da “guerra contra o
terrorismo” afetou a vida dos trabalhadores, com
desemprego e perda de conquistas em nome da
recuperação econômica. Há alguns anos era impensável
uma greve como esta no coração financeiro
norte-americano. O clima reacionário foi aproveitado
pelo governo para atacar os trabalhadores enquanto
restringia seus direitos tornando quase impossível
levar adiante greves importantes, sobretudo em Nova
Iorque. Os trabalhadores do transporte votaram a greve
em 2003 ao término do contrato laboral, mas não foi
realizada uma vez que se impôs a dura unidade
nacional, que disciplinava quem enfrentasse os
“esforços de guerra”.

Como demonstrou a dura e exitosa greve de 28 dias
contra a Boeing em setembro, os tempos começaram a
mudar e a luta dos trabalhadores de Nova Iorque mostra
uma vez mais, sintomas da incipiente recuperação do
poderoso movimento operário norte-americano depois de
importantes derrotas.

Durante os últimos anos ocorreram lutas testemunho que
mostraram a vitalidade da classe operária. Umas delas
foi a greve de quatro meses (que contou com apoio
ativo de clientes e vizinhos) dos empregados de
supermercados do sul da Califórnia no começo de 2004
por seguro médico, que apesar de uma enorme
resistência foi levada ã derrota pela direção do
sindicato.

O triunfo dos grevistas de Nova Iorque é vital não
somente para os trabalhadores do transporte. Seria um
grande impulso para muitos que viram desaparecer suas
conquistas econômicas, sociais e políticas nas mãos do
governo republicano. Por isto é essencial que junto à s
suas demandas os trabalhadores se coloquem ã frente
para derrotar a política beligerante de Bush e seus
ataques ás liberdades democráticas. A baixa
popularidade presidencial e os últimos reveses que
sofreu o governo dão fôlego a esta e outras lutas.

A greve mostra os métodos mais brutais que utiliza a
reacionária oligarquia financeira para dominar o país
em defesa de seus lucros. Mas também mostra a enorme
força dos trabalhadores que têm em suas mãos uma
cidade como Nova Iorque. Isto, como Katrina (que
demoliu o mito dos Estados Unidos como terra de
bonança para todos) pode ter um impacto internacional.

Portanto é fundamental que todo trabalhador consciente
siga com entusiasmos esta luta. Ao mesmo tempo é de
vital importância que os sindicatos e federações de
transporte, organizações de trabalhadores de todo o
continente se solidarizem, animando o triunfo desta
importante greve no coração do imperialismo.

[1] Nos Estados Unidos existe uma tradição de nomear
os locais gremiais de cada cidade com números.

[2] Lei que proíbe os empregados de transporte público
de fazerem greve.

[3] Referência a 11 de Setembro de 2001 quando foram
realizados os atentados terroristas ás Torres Gêmeas.

 

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