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I Congresso da LER-QI
por : LER-QI, Brasil

01 Nov 2007 |

Nos dias 13 e 14 - 27 e 28 de outubro, aconteceram as sessões do I Congresso da LER-QI [1], com jornadas de debate aberto a todos os companheiros simpatizantes de nossa organização e convidados especiais da Fração Trotskista - Quarta Internacional da Argentina, Chile e Bolívia. O congresso contou com a significativa presença de militantes e simpatizantes jovens estruturados nos serviços (transportes aeronáuticos, metrô, estatais,telemarketing), industrias (montadoras, metalúrgicas) e nas principais universidades de São Paulo, além de companheiros de outros estados do país.

A primeira parte foi dedicada ã análise da situação internacional e as tarefas internacionalistas que se depreendem disso, e a socializar as experiências de nossos grupos irmãos. Adiantamos parte das discussões e dos informes do congresso, e publicamos várias notas em nosso jornal e em nossa página na internet, dando conta das possíveis perspectivas da crise econômica nos principais países imperialistas e as repercussões que poderão ter no cenário latino-americano e nacional. Publicamos também uma nova edição da revista Estratégia Internacional - Brasil onde analisamos o processo de decadência do imperialismo norte-americano e apresentamos, no formato de teses, uma análise marxista do processo revolucionário brasileiro que culminou com o golpe militar de 1964.

Na segunda parte discutimos a situação nacional, a situação social e política da classe operária e seus fenômenos de recomposição e reorganização; os projetos da esquerda e as tarefas de nossa liga. Apresentamos também para o debate as teses com as conclusões do importante ascenso operário dos anos 70 que deram origem ao PT (Partido dos Trabalhadores), de Lula.

No congresso avançamos em duas questões que queremos destacar: a) em superar o ponto débil que tinham nossas análises no que se refere ã compreensão marxista da economia e dos fundamentos do crescimento atual e b) em tirar lições do ascenso dos 70 quando surgiu o PT, o partido trabalhista de massas mais importante a nível mundial, e que foi o processo com centralidade operária no qual se provaram todas as correntes do trotskismo hoje atuantes no país.

Os fundamentos do atual crescimento

A primeira tese que apresentamos e demonstramos, é que o atual ciclo de crescimento se baseia em um substancial aumento da taxa da exploração da classe trabalhadora, que utiliza e aprofunda os mecanismos que já vinham se expressando desde o início da ofensiva neoliberal. Explicamos que o aumento geral da dita taxa de exploração se expressa na diferença entre o crescimento das riquezas das empresas por um lado e o reduzido aumento salarial obtido pelos trabalhadores, por outro. Ressaltamos que a ampliação e intensificação do trabalho precário e flexibilizado é o mecanismo fundamental do aumento da taxa de exploração no último período e do “milagre” do crescimento atual em que se baseia o governo de Lula e do PT. Alertamos que a burguesia e o governo manipulam os dados estatísticos, propagandeando a ampliação e intensificação do trabalho precário como uma “diminução da desigualdade e da pobreza” na medida em que a renda dos mais pobres cresceu mais que a renda dos menos pobres [2].

Entre outras coisas, queremos destacar a tese na qual polemizamos com os setores que promovem a idéia de um “Brasil potência”. Neste ponto analisamos a participação das empresas brasileiras no PIB, mas fundamentalmente seu papel no comércio mundial.

Partimos de reconhecer que um dos componentes fundamentais do atual ciclo de crescimento é a estratégia dos setores mais concentrados da burguesia brasileira de concentrar capitais em algumas poucas grandes corporações multinacionais capazes de competir com as corporações imperialistas e buscar um espaço próprio na nova divisão internacional do trabalho, como a Petrobrás, por exemplo, que adquiriu várias empresas fora do país. Este fato inclusive, expressa o “ressentimento” de alguns países latino-americanos, como a Argentina, pela penetração das empresas brasileiras em seus mercados.

No entanto, mostramos como a economia brasileira está na retaguarda dos países atrasados no aproveitamento do atual ciclo de crescimento. Em 1980, tanto o Brasil, Coréia do Sul e China participavam da economia mundial em cerca de 1%. Hoje, o Brasil segue participando em um 1%, enquanto que a Coréia do Sul subiu para 3% e a China para 9%.
Para desenvolver os debates sobre este e outros temas, incluiremos em breve todos os informes e os principais aportes dos debates do congresso em nossa nova página na internet.

O ascenso operário dos anos 70 e a transição democrática

Destacamos a importância dos anos 70 na vida política brasileira pelo fato de ter levado ao poder os dois últimos presidentes da República: Fernando Henrique Cardoso e Lula. Em primeiro lugar colocamos o ascenso brasilero como parte do desenvolvimento da situação internacional, marcando suas semelhanças e diferenças. No terreno nacional, as teses se distinguem de toda a bibliografía da época chamando a atenção sobre o ascenso que se desenvolveu em São Paulo, em contrapartida ao do ABC [3], sem esquecer a importância deste. Assinalamos que em São Paulo se organizou o setor mais combativo e radicalizado da vanguarda operária, ao redor do processo de surgimento das comissões de fábrica, verdadeiras protagonistas e direção efetiva das greves por fábrica, encarregadas de armar os piquetes e estar ã frente nos enfrentamentos com a polícia. Nossas teses desmistificam o ABC, assinalando que foi justamente nesse setor do jovem proletariado concentrado das montadoras onde houve mais preparação das direções reformistas em parar e limitar a espontaneidade das massas desde as direções. Desmascarou-se o papel de Lula como a principal figura de transição a democracia, desde que conseguiu se fixar no processo grevístico, traindo primeiro as greves e preparando em seguida o desvio eleitoral. Mostramos como as correntes de esquerda se disciplinaram na estratégia de Lula convivendo mais de uma década no PT, onde foram moldadas por sua direção reformista. Para nós, os anos 70 deram um giro petista-lulista que cumpriu o papel de “ala esquerda” da transição “lenta, gradual e pacífica” impulsionada por setores da burguesia brasileira, ao mesmo tempo em que cumpriu um papel chave na contenção e no desvio do auge operário, sendo as distintas correntes do movimento trotskista incapazes de levantar uma política independente para que a classe operária derrubasse a ditadura, em chave revolucionária. Com Lula e o PT no governo, os distintos setores que hoje se dizem antigovernistas demonstram que não romperam com o que nós chamamos “o modo petista de militar”, assentado sobre um sindicalismo e um eleitoralismo completamente adaptados ao regime burguês. Por isso, as conclusões de nossas teses são um aporte fundamental para impulsionar uma nova tradição no movimento operário.

Novos desafios

Finalmente nosso congresso votou novos desafios: dar um novo salto em quantidade e qualidade em nossa construção ocupando ofensivamente o espaço ideológico “vazio” do trotskismo entre a intelectualidade, mas também no movimento operário, para sentar as bases de uma atividade teórica, política e prática distinta do “modo petista-lulista de militar”. Nos lançar em outros estados e colocar de pé uma forte liga marxista revolucionária, que destaque uma nova geração de jovens intelectuais no movimento estudantil. Como parte destes objetivos lançamos um projeto editorial - Edições Iskra - que busca difundir e recriar as elaborações do marxismo revolucionário, suas obras econômicas, filosóficas-culturais, especialmente entre as novas gerações de jovens operários e estudantes.

 

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