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A revolta azul, amarela e vermelha contra a burocracia governista
por : LER-QI, Brasil

28 Sep 2007 |

O vidro quebrado no carro de som, na assembléia da última quarta-feira 19/9, denunciava que o ritmo da greve nos correios não caminhava como a direção do sindicato gostaria. Na Praça da Sé, trabalhadores com a roupa azul e amarela exigiam aos gritos que os diretores do sindicato descessem do “palanque” para enfrentá-los cara a cara. A direção, composta pela Corrente Sindical Classista (PCdoB) e pela Articulação (PT), preferiu chamar a polícia militar que reprimiu os trabalhadores com gás pimenta, bombas e balas de borracha para escoltar alguns dos seus diretores, alvo da fúria da peãozada.

Durante essa assembléia, foram distribuídas cópias do pedido de férias de um dos trabalhadores da oposição do sindicato e no carro de som, um diretor apelidado “sem-terra”, pedia que ele fosse expulso. O engano dos governistas foi não perceber que os trabalhadores em greve sabem quem está do seu lado. Vêem esse trabalhador todos os dias no piquete, mesmo estando de férias. Além disso, o pedido vinha com o carimbo de “segunda via”, deixando claro que foi com a empresa que a diretoria conseguiu a cópia.

A diretoria propositalmente implodiu a assembléia, sabendo da disposição dos trabalhadores em passar por cima dos velhos pelegos. Conforme nos falavam os carteiros grevistas: “Vão assinar o acordo de madrugada e avisar a imprensa antes de avisar a gente”. Dito e feito.

Na quinta-feira, dia 20/9, nova assembléia. Desde a manhã diversos jornais informavam o fim da greve. A direção do sindicato tinha, de novo, o mesmo objetivo: entregar a luta. No entanto, os trabalhadores responderam ã altura. Os diretores governistas tentaram dar informes do acordo feito na noite anterior, dizendo ser a “grande conquista” que teriam conseguido para a categoria. A assembléia não deixou informe nenhum: gritou, apitou e agitou até que os governistas desistissem. Tentaram também falar das dificuldades e terríveis sofrimentos que viriam se a greve continuasse. Foi inútil: os trabalhadores responderam com vaias e erguiam os cartazes: “A GREVE CONTINUA”.

O que há de novo é que esta greve não fazia parte dos planos da burocracia governista. Os trabalhadores combativos organizaram um comando de greve por fora da diretoria sindical. Um trabalhador havia nos dito que “se a diretoria tentar acabar com a greve, o comando de greve vai dirigir a luta. Já não são eles que estão dirigindo a greve, são os trabalhadores”; e nessa quinta, dia 20, ele provou que tinha razão. A assembléia votou em peso esmagador, pela continuidade da greve. A diretoria, no carro de som, teve que cantar “a greve continua” junto com o coro vitorioso dos trabalhadores dos correios, uma massa azul, amarela e vermelha, que deu uma primeira mostra de como se combate uma direção burocrática. Enquanto os burocratas tentavam se relocalizar, os trabalhadores já organizavam os piquetes do dia seguinte, por regional.

Durante a madrugada de quinta para sexta, no ABC, o piquete demonstrava disposição em seguir adiante pela manutenção da greve. Nos CEE’s (Centro de Encomendas Especiais) de São Bernardo e Santo André, sob a fina garoa que começava a cair nas primeiras horas da manhã, os trabalhadores diziam: “somos os primeiros a entrar e os últimos a sair”. As 10h da manhã de sexta-feira chegava ao conhecimento de todos, num panfleto da direção sindical, o parecer do TST (Tribunal Superior do Trabalho) que, como previsto, condenava a greve abusiva e estipulava o prazo de 18h do mesmo dia para o fim da greve. Esse era o trunfo que a burocracia queria, além do acordo feito pelas costas dos trabalhadores com o governo e a empresa, para trair na assembléia da tarde.

O que aconteceu na assembléia de sexta-feira, 21/9, era também previsível. Com a carta do TST em uma mão e a proposta do governo/empresa na outra, os burocratas da direção do sindicato e o advogado do sindicato (não menos odiado pela categoria), faziam mil ameaças aos trabalhadores, caso optassem novamente pela continuidade da greve. Falavam de retaliação e ataques ã categoria e ao sindicato, e também das “vitórias” que seriam perdidas. Tudo para enterrar a greve. Na proposta da empresa, lida e relida com fervor no carro de som, aquilo que os trabalhadores já sabiam: pouco mais de 3% de reajuste, adicional de periculosidade, nenhuma punição e garantia de pagar os dias parados.

A oposição sindical do PSTU/Conlutas, impotente, defendeu na assembléia que os trabalhadores rejeitassem a proposta E... voltassem a trabalhar (!!!), dizendo que isso seria sair “de cabeça erguida”. Foi a proposta com menos votos.

Sem alternativa, com a greve derrotada e isolada, os trabalhadores se viram obrigados a aceitar a proposta da patronal, que não viam como conquista da diretoria, mas da sua luta. Mesmo assim, o sentimento anti-burocrático despertado nos companheiros dos correios, e a necessidade de construir uma nova direção, não ficaram para trás. Assim como na quarta-feira, quando os pelegos governistas recorreram ao aparato repressivo do Estado para escapar da fúria da classe trabalhadora, mais uma vez foi necessário chamar os “companheiros policiais” para protegê-los da ira dos mais combativos trabalhadores dos correios.

 

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