FT-CI

Bolivia

Um passo na luta para pôr de pé os assalariados de El Alto

23/04/2007

A Central Operária Regional de El Alto (COR) cumpriu um papel importante nas mobilizações dos últimos anos, ganhando prestígio junto a FEJUVE (Federação de Juntas Vecinales - representações de bairro). Apesar de seu nome, na realidade somente poucos dos 100.000 assalariados altenhos estão representados na COR, que se constituiu em base ás associações por categora (pequenos comerciantes e feiristas), mercados e outros setores populares. No entanto, um profundo e crescente processo de organização sindical entre os trabalhadores assalariados está mudando o panorama altenho. Tem começado também um processo de experiência política entre setores avançados com o governo Evo Morales, em função da inconsistência de suas promessas e o desencanto com a suposta “nacionalização dos hidrocarbonetos”, que mediante aos novos contratos deixa nas mãos das petroleiras o grande negócio da exportação de gás.

Estes fenômenos se expressaram na luta e nas discussões em torno do Congresso Orgânico da COR, que se realizou entre 10 e 16 de abril em El Alto, que devia discutir a incorporação formal das novas organizações sindicais surgidas nos últimos anos. O Congresso foi imposto como subproduto de uma dura batalha nas reuniões ampliadas do Comitê Executivo, já que a atual direção, encabeçada por Edgar Patana (do MAS), queria ir diretamente ao Congresso Ordinário (que adotará decisões políticas e elegerá uma nova direção). Todas suas manobras buscavam excluir, com pretextos “estatutários”, os sindicatos assalariados como SITRASABSA, petroleiros de Senkhata, telefônicos e outros, organizados as vezes com importantes lutas nos últimos anos. Assim pensava abrir o caminho a um Congresso Ordinário burocrático e oficialista, com a esquerda de antemão excluída ou “censurada” em suas possibilidades de intervenção.

Nas semanas prévias se formaram três blocos: o primeiro, diretamente vinculado ao governo entretanto é mais fraco, pois seu dirigente, Patana, está muito desprestigiado por seu burocratismo e seu papel desmobilizador com nas incipientes mobilizações de janeiro contra o prefeito direitista de La Paz, Pepelucho Paredes. Um segundo setor era encabeçado por Braulio Rocha, antigo dirigente das associações, ex PODEMOS e agora “reciclado” como a ala direita do MAS dentro da COR. Finalmente surgiu um terceiro pólo, o Bloco Operário e Popular (BOP), como a esquerda operária no congresso. Este se conformou com cerca de 16 sindicatos entre os que estavam todos os assalariados (exceto da saúde) e alguns setores populares como a Federação de Mercados, que tem cerca de 10.000 afiliados. Este grupo de sindicatos é minoritário em número frente a ampla lista de afiliados que declaram as associações por categoria; entretanto, se apóia em setores de importância estratégica, como o aeroporto e os petroleiros, e sua força estava precisamente em expressar o processo operário. O BOP foi articulado e dirigido basicamente pelo magistério urbano de El Alto e o combativo SITRASABSA (aeroportuários), encabeçados por militantes do POR-Massas e a LOR-CI, respectivamente.

Dura luta em um congresso burocrático

O surgimento do Bloco Operário e Popular, fortalecido pelos sindicatos dos assalariados de esquerda, se constituiu em um importante desafio político para Patana e Rocha, ainda que enfrentados pela disputa burocrática de cargos, selaram no início do congresso um acordo para diminuir a participação dos trabalhadores assalariados e inclusive, para excluí-los da COR, negando-lhes até o direito de falar durante o congresso.

Este acordo teve como ponto central preservar a direção para a burocracia e manter o caráter social da COR, hoje essencialmente de associações por categoria, contra os assalariados. Desde o ponto de vista político, Patana e Rocha também concordam em manter a central altenha como um instrumento de contenção a serviço do governo.

Esta frente burocrática não se deteve diante nada para reter o controle do congresso e impor-se, incluindo todo tipo de manobras; tentativas de provocação aos membros do BOP; agressões e ameaças aos companheiros do SITRASABSA e mentiras contra a Casa Operária e Juvenil de El Alto. Durante a escandalosa sessão de sexta-feira 13, todo tipo de calúnias foram lançadas para “justificar” que não se considerará como afiliados ã COR até o próximo congresso orgânico - com sorte daqui 5 anos - a SITRASABSA, telefônicos, trabalhadores de fronteiras, trabalhadores do transporte pesado, estivadores do SOBOCE e outros; aos delegados do magistério - que faz parte há anos da COR, lhes ameaçaram com a expulsão imediata.

Entretanto, a burocracia teve que reconhecer em meio de uma dura batalha, a incorporação formal dos sindicatos assalariados, inclusive SITRASABSA (algum burocrata havia jurado dias antes que “isso seria sobre seu cadáver”) outorgando um delegado pleno para cada sindicato, e não pode evitar que, pela primeira vez em muitos anos, surgisse um pólo operário, combativo e fortalecido pelos trotskistas.

El BOP, um fenômeno progressivo

O BOP expressou um fenômeno novo por sua composição social, com grande peso dos trabalhadores assalariados. É a primeira grande intervenção dos assalariados na COR, o que expressa ainda que de forma distorcida e de maneira superestrutural, o fenômeno de recomposição social operária em El Alto, assim como a incipiente diferenciação política frente ao Governo do MAS. É interessante que tenha participado desta luta setores como o sindicato Aseo Urbano (coletores de lixos de El Alto), que vem de um conflito em defesa de sua fonte de trabalho, ou um sindicato de tão recente formação como o dos estivadores de cimento (SOBOCE), constituído há poucos dias com o apoio da Casa Operária e Juvenil e do SITRASABSA.
O programa do BOP reivindicou essencialmente a luta pela democracia sindical e o respeito ás minorias, contra a exclusão dos trabalhadores assalariados, pela independência política e sindical da COR em relação aos partidos burgueses, o Estado e o governo do MAS. Reivindicou também a necessidade de que a COR assuma a luta contra o aumento do custo de vida, que afeta tanto os assalariados como os pequenos comerciantes, associações, artesões e camponeses, e retome a luta por uma nacionalização genuína dos hidrocarbonetos (retomanto a “agenda” do levante de outubro de 2003). Também abriu o debate sobre a centralidade operária, insistindo em que o proletariado, por seu lugar na produção e sua condição de explorados pelo capital, pode cumprir um papel dirigente na aliança com os demais setores populares, o que deveria se refletir na organização da central altenha.

No entanto, desde o ponto de vista político e frente ao papel desempenhado pela esquerda trotskista (LOR-CI e POR-Massas), o bloco era politicamente heterogêneo. Em seu seio havia alguns setores burocráticos e massistas descontentes, ou de esquerda, que aceitaram o programa mas não estavam dispostos a defendê-lo conseqüentemente. Isto explica algumas traições de sexta-feira 13, especialmente a do sindicato dos petroleiros de Senkhata ou a atitude conciliadora do sindicato COTEL (telefônicos), o que debilitou a luta do BOP na reta final.

Redobrar a luta pela organização operária independente

Mais do que a cúpula “das associações” deteve o controle de cara ao Congresso Ordinário, o certo é que não pôde impedir o surgimento de uma ala esquerda e de base operária, que reflete o novo fenômeno social e sindical que começa a emergir em El Alto. A moção defendida pelo BOP está sobre a mesa: organizar os trabalhadores, impor a democracia sindical, independência sindical e política em relação aos partidos burgueses e ao governo do MAS. Começou-se a discutir como seguir a luta e agrupar permanentemente os sindicatos assalariados e a seus aliados.

SITRASABSA e outros sindicatos e grupos de trabalhadores, assim com a Casa Operária e Juvenil e a LOR-CI, concordamos que o acontecido é um primeiro round e a batalha recém começa. Por isso chamamos ás demais organizações, e em especial o magistério, a não abandonar a batalha que iniciamos conjuntamente com o BOP e impulsionar juntos o movimento pela organização operária independente e as demandas dos trabalhadores, fazendo de El Alto um bastião.

  • TAGS
Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)