FT-CI

Enquanto a recessão se aprofunda, a crise financeira não pára

Resgate do Citigroup: um novo salvamento vergonhoso

01/12/2008

Resgate do Citigroup: um novo salvamento vergonhoso

O generoso resgate do CiItigroup definido, entre outros, pelo recentemente nomeado futuro secretário do tesouro de Obama, Timothy Geithner, atual presidente do Banco Central de Nova York, junto ao atual secretário do Tesouro, Henry Paulson e o chefe do Banco Central, Ben Bernanke, mostra que, apesar de toda a demagogia de mudança do novo presidente, são os interesses da aristocracia financeira que ainda decidem o rumo político dos EUA.

A queda do banco mais importante do mundo: ninguém está seguro

O tsunami financeiro foi transferido do setor de investimentos à queles que até agora pareciam estar a salvo: o setor comercial norte-americano. Aquele que há dois anos foi o maior banco do mundo, o criador do conceito de holding financeiro, o Citigroup, teve que ser resgatado pelo governo urgentemente para evitar uma quebra de conseqüências imensas para o sistema internacional.

Até agora os grandes vencedores da crise vinham sendo os holdings financeiros, entidades que combinam o setor comercial com o de investimentos, já que seu negócio tradicional de depósitos e financiamento do consumo os oferecia um colchão contra as fortes perdas do setor de investimentos. Mas esta situação mudou. O JP Morgan comprou o Bear Stearns e o Wahington Mutual, e o (anti-spam-(anti-spam-(anti-spam-(anti-spam-Bank)))) of America ficou com o Merril Lynch, enquanto o Citigroup se encontrava em uma situação mais delicada: havia apresentado perdas durante 4 trimestres seguidos num total de 20 bilhões de dólares.
Em poucos dias, o banco que em outubro era visto como um potencial ganhador da crise creditícia e que se preparava para devorar outros competidores, caiu em desgraça. Na atual crise financeira mundial não há ninguém que esteja seguro.

A gota d’água foi na semana passada quando a cotação do banco desmoronou (83% desde o começo do ano e 60% só na semana passada) pela desconfiança do mercado na capacidade do Citi em seguir adiante, pese o anúncio de 52.000 demitidos e um corte nos gastos de 2 bilhões de dólares. Isso desatou o temor de uma retirada massiva de depósitos de investidores institucionais, o que provocaria a quebra da entidade com 2 bilhões de ativos e 200 milhões de clientes em mais de 100 países.

Um novo degrau na sustentação estatal dos bancos
O resgate do Citigroup marca um novo degrau no uso de fundos públicos para sustentar o sistema. Constitui a maior operação de resgate até hoje, superando os 200 bilhões de dólares usados na nacionalização de Fannie Mae e Freddie Mac, e os mais de 150 bilhões de dólares gastos para respaldar o gigante do seguro AIG (American Internacional Group).

Depois de intensas negociações entre o Tesouro, o Banco Central, a Asseguradora Federal de Depósitos (FDIC) e o Citigroup, foi aprovado o maior resgate da história: 64,5 bilhões de dólares em injeções e avais por importe de outros 306 bilhões de dólares [1]. Isso tudo em condições generosas. O banco seguirá com seu anunciado plano de reestruturação: na semana passada anunciou 52.000 demissões em todo o mundo. Quando se implementar esta redução seu quadro se reduzirá de 350.000 postos de trabalho para 300.000.

O último resgate do Citigroup?

O pior de tudo é que, apesar dos favoráveis termos e da expressiva soma, a viabilidade do Citigroup segue questionada. Suas ações ainda não se recuperaram. Isto resulta dos zig-zags das autoridades que há duas semanas deixaram para trás o emblemático plano de compra de ativos tóxicos de 700 bilhões de dólares, para garantir uma boa parte dos ativos tóxicos do Citi e anunciar em 25/11 um novo plano de injetar até 800 bilhões de dólares no sistema financeiro para comprar hipotecas e valores respaldados por ativos de duvidosa eficácia.

Porém, o mais grave de tudo é que não se pode determinar uma grande parte dos ativos tóxicos do Citi e de outros grandes bancos comerciais dos EUA, como se deu com o JP Morgan que foi absorvido pelo Bearn Stearn incluindo boa parte de seus ativos tóxicos (outra parte foi entregue ao Estado). E não nos referimos só aos créditos de consumo, mas ao astronômico negócio especulativo de derivados que pode explodir a qualquer momento. O dano inimaginável que uma queda do Citi poderia causar salta ã vista quando fazemos a seguinte comparação: o Citi possui uma participação no mercado de cinco vezes o capital do Lehman Brothers, o banco cuja queda abriu uma nova etapa da crise financeira.

Alguns analistas como o ex-consultor de McKinsey, James Kwak, em seu blog disse que o resgate é “débil, arbitrário, incompreensível” e agrega: “... o Citi tem mais de 2 bilhões de dólares em ativos e várias centenas de milhões de dólares passivos (dívidas) fora de balanço. Vinte bilhões é uma gota em um balde.

A semana passada Friedman Billings Ramsey estimou que o Citi necessitava de 160 bilhões em novo capital... Se, há 306 bilhões de dólares em garantias de ativos (os quais não se desembolsarão até que se esgotem esses 20 bilhões), há 2 bilhões em outros ativos, muitos dos quais não muito saudáveis.

Um acidente econômico ou financeiro que pode desencadear uma depressão

O caso do Citi mostra que é falsa a idéia de que agora caminhamos para a recessão, e que o pior da crise financeira ficou para trás. Pelo contrário, a queda econômica e a duração da recessão desencadeará uma onda de falências, fechamentos e demissões que pode alimentar um novo pico da crise financeira. A perspectiva do aumento do desemprego pode multiplicar a incapacidade de pagamento dos cartões de crédito e/ ou dos créditos estudantis de milhares de pessoas, pondo em dúvida a viabilidade de muitos bancos. E ainda, uma quebra de uma das Três Grandes montadoras (GM, Ford e Chrysler) e suas seqüelas em toda a rede de produtores e distribuidores nos EUA seria grave não só para a indústria automotriz, mas poderia ser pior para os bancos, especialmente para aqueles envolvidos em credit default swaps (CDS) [2]. Dependendo de como alguns acontecimentos imprevisíveis se desenvolvem nas próximas semanas, a economia norte- americana pode terminar numa depressão deflacionária (ou uma espiral inflacionária se faz-se o impossível para evitá-la, ou uma alternando com a outra).

Tudo para o capital financeiro, cacetada para os trabalhadores

Enquanto as autoridades, com o aval de Obama, saíram correndo para resgatar o Citi, o pedido de ajuda das patronais das Três Grandes automotrizes segue em debate. Obama ao mesmo tempo em que colocava a importância de evitar a queda destas, esclarecia que não deve ser incondicionalmente, deixando claro que exige uma série de medidas para aprovar seu resgate, exigências que não foi imposta a nenhum banco.
Diferente do sistema financeiro que é resgatado incondicionalmente, a burguesia e o novo governo querem utilizar este caso para atacar o nível de vida, as condições de trabalho e os direitos sociais que ainda restam dos trabalhadores da velha indústria automotriz norte-americana, apesar de anos de retrocesso e concessões da burocracia sindical da UAW [3]. Este é a entrelinha do “plano de viabilidade futura” que Obama e os líderes do Congresso exigem aos gerentes das empresas automotrizes antes de receberem um dólar, enquanto tratam com luvas de seda os gerentes dos bancos.
O objetivo é usar os trabalhadores da indústria automotriz, que são referência para o conjunto dos trabalhadores, como bode expiatório.

Recentemente, sob o governo de Reagan, quando havia um alto índice de desemprego nos anos ’79 e ’82, perderam-se 200.000 empregos somente na indústria automotriz e a classe operária sofreu grandes derrotas, em particular na greve dos controladores aéreos, o que encorajou a ofensiva patronal. Sob a pressão formidável do governo, a UAW firma um contrato com enormes perdas de conquistas (suspensão do aumento automático e sistemático do salário por hora nominal, dos aumentos ligados ã inflação e o abandono dos feriados remunerados), depois de anos de avanços nas negociações coletivas.

Depois, a adaptação das direções sindicais se generalizou ao conjunto do movimento operário e foi um enorme retrocesso das conquistas da classe operária, iniciando a recuperação do lucro capitalista depois da crise dos 70. É essencial que os trabalhadores não se submetam ã chantagem de Obama e do parlamento, nem aceitem a pressão dos patrões da GM, Ford e Chrysler. Há que lutar pela nacionalização das Três Grandes sob controle operário. A política de Obama de apoiar o salvamento dos bancos e exigir duras condições para os trabalhadores da indústria automotriz, mostram que sua propaganda de mudança é só propaganda, enquanto defende a aristocracia financeira que dirige o país, que deve boa parte de suas fortunas a homens como Bob Rubin, ex-secretário do Tesouro de Bill Vlinton na década de 90 e que agora ajuda a vários de seus protegidos como Geithner.

Só rompendo com os dois grandes partidos patronais e confiando em suas próprias forças os trabalhadores norte-americanos poderão impedir o novo retrocesso que mais cedo do que tarde o novo governo quer impor. É essencial que os custos da crise sejam pagos pelos que a criaram: os grandes bancos e empresas que defendem o conjunto da elite política da qual Obama não é mais que sua nova cara.

  • NOTAS
    ADICIONALES
  • [1A primeira cifra compreende varias magnitudes: 20 bilhões de injeção direta de capital; outros 7 bilhões em ações preferenciais como pagamento pela garantia de 306 bilhões, dos quais 3,5 bilhões se contabilizam como capital do banco; 25 bilhões de outra injeção de capital que foi liberado com as garantidas recebidas hoje. As garantias são espécies de avais contra perdas por 306 bilhões de dólares em empréstimos e títulos que figuram no balanço do Citigroup. Os termos do resgate contemplam que o banco cobrirá os primeiros 29 bilhões de perdas e, a partir daí o governo se encarregará de 90% das perdas do Citi. Um plano similar ao resgate do grande banco UBS por parte do governo Suíço. Tenhamos em conta, além da injeção de capital que se faz similar ao valor de mercado do Citigroup, que chegou a 20,5bilhões, que equivalem a 7,6 por centro do valor que a empresa financeira teve em fins de 2006, de 270 bilhões de dólares.

    [2Os CDS são produtos de seguro totalmente desregulados que os investidores compram para se proteger de um default de um bônus corporativo ou soberano. A proteção contra um default da General Motors estava entre os contraltos mais requeridos.

    [3O poderoso sindicato da indústria automotriz.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)