FT-CI

Bolívia

O governo do MAS e os socialistas revolucionários

15/03/2006

O governo do MAS e os socialistas revolucionários

Por: LOR-CI

Fonte: Palabra Obrera N°11

Evo Morales iniciou sua presidência em meio a enormes expectativas populares. Muitos votaram nele com a esperança de que nacionalize o gás e cumpra suas demandas, e, como alternativa aos políticos tradicionais da burguesia; mas, apesar das promessas eleitorais e os gestos simbólicos destas primeiras semanas de governo, o MAS não se propõe a iniciar verdadeiras transformações e só a gerir algumas mudanças limitadas em uma “democracia reformada” buscando acordos com os empresários, latifundiários e transnacionais. Por este caminho não podem ser satisfeitas as demandas operárias e populares, nem é possível tirar o país do atraso, da pobreza, miséria e subordinação ao imperialismo.

Das promessas aos atos

Para além de alguns anúncios de valor simbólico, como o corte do salário presidencial e as dietas parlamentares, e do giro na política sobre a coca - questionado pelos EUA - os atos do governo nas primeiras semanas reafirmaram o respeito ã “estabilidade macroeconômica” e ã “segurança jurídica” (quer dizer, ás regras do mercado impostas pelo neoliberalismo). Frente a enorme crise da LAB, Evo Morales apenas instruiu uma “intervenção preventiva” quando o que correspondia era a imediata nacionalização.

A política petrolífera aponta para renegociar os contratos de entrega do gás com as transnacionais e, ainda que consiga finalmente maiores impostos e certa intervenção estatal apoiada na reconstrução da YPFB, a “parte do leão” seguiria nas mãos do capital estrangeiro. Esta é a lógica da “associação estratégica” que se busca com a Petrobrás. Enquanto isso o governo continua o processo de privatização da estratégica jazida de ferro El Mutún. Evo fala de distribuição de terras, mas assegurando que não tocará nas grandes propriedades “produtivas” do Oriente, com isto não é possível satisfazer as necessidades de terra e território.

Ainda que fala de sair da “livre contratação”, o governo rechaçou a possibilidade de elevar o salário mínimo a 1500 Bs. e ofereceu um mesquinho aumento de 7% aos professores e trabalhadores da saúde.

O MAS deriva de todas as demandas e expectativas de mudança na futura Assembléia Constituinte, porém seu projeto para a convocação desta busca o “consenso” com as elites empresariais e limita a livre expressão das aspirações populares.

Um governo para conter os movimentos sociais e colaborar com os empresários e transnacionais

Este rumo do governo não é a toa. O MAS capitalizou eleitoralmente os desejos de mudança popular e o apoio de muitos “movimentos sociais”, mas para subordiná-los a um programa de reformas que não oferece verdadeiras soluções aos grandes problemas nacionais e ás demandas operárias, camponesas e originárias.

O MAS segue uma estratégia reformista de colaboração de classes com os empresários e o capital estrangeiro para desenvolver um “capitalismo andino”. Mas isto leva a diluir as demandas populares ao mínimo para não romper com a burguesia e conseguir formar blocos com seus representantes “progressistas”, como Del Granado (o prefeito de La Paz que “viveu junto” do MNR e aplica os planos do BID), os “pequenos empresários”, as ONGs ligadas ã igreja, ao imperialismo, etc.

O triunfo eleitoral do MAS teria sido muito difícil sem os cinco anos de intensa mobilização de massas, desde a “Guerra d’água” ao levantamento de Outubro e as Jornadas de Junho passado. Mas frente a estes processos o MAS atuou segurando a mobilização e sustentando a “continuidade constitucional” para bloquear o desenvolvimento do processo revolucionário, sempre em nome de “passar do protesto ã proposta” dentro dos marcos da ordem existente.

Apoio internacional ã “moderação” de Evo

Então não é por acaso que governos imperialistas como o da França (proprietária da Total e águas del Illimani) e Espanha (dona da REPSOL, SABSA e outras) combinem “amistosas” pressões com promessas de ajuda, frente a um governo que promete respeitar suas transnacionais e lhes pede novos investimentos. Os vizinhos Lula e Kirchner, por sua vez, esperam que Evo contenha esse foco de convulsões revolucionárias que é a Bolívia, enquanto como advogados da Petrobrás e REPSOL, aspiram a fazer maiores negócios com seu gás. Os Estados Unidos, ainda que exercendo pressão por baixo, cortando sua “ajuda” e clama a continuar a política de erradicação da coca, também mantém uma atitude negociadora, como mostrou a ligação pessoal de Bush a Evo para lhe felicitar ou a cautela do embaixador Greenlee em suas declarações.

Quando as frases não bastem...

O contundente triunfo eleitoral permitiu ao MAS iniciar seu governo com ampla legitimidade política, mas esta não é suficiente para estender indefinidamente a “lua de mel”, que dá a Evo uma popularidade de 75% nas pesquisas. Somente com gestos não é possível o equilíbrio entre as pressões contrapostas da burguesia e do imperialismo, que esperam “domesticar” Evo para que seu governo se mantenha claramente nos marcos do neoliberalismo, como Lula no Brasil; e as expectativas de um movimento de massas ativo e que espera respostas.

Até agora Evo conta com importantes margens de manobra, que, por exemplo, lhe permitiram conseguir que os cocaleiros de Chapare assumam sua política de “autocontrole”, com uma colheita de coca por afiliado ou as até agora “pacíficas” negociações com a Petrobrás e outras petroleiras; mas não poderá evitar que comecem a se acumular nuvens de tormenta em seu horizonte, como mostra a pugna aberta ao redor da Constituinte.

Sob a superfície seguem fervendo em “fogo baixo” as contradições da profunda crise nacional, das quais se nutre o processo revolucionário que se iniciou em Outubro. Assim como começam a emergir novamente tensões; pela direita, contra o projeto oficial para a Constituinte, os atritos com os ianques ou os protestos empresariais pela intervenção na LAB; e pela esquerda, com as primeiras mostras de impaciência em setores dos camponeses, no magistério e outros.

É por isto que Evo e o MAS, preventivamente, agitam o fantasma da “conspiração” para justificar sua política, ao mesmo tempo que atacam não aos latifundiários e as transnacionais... mas os setores sindicais e de esquerda que começam a questioná-los. Que posição política ter frente ao governo de Evo Morales?

Ainda que se apresente como um “governo popular”, o governo de Evo e do MAS não expressa os verdadeiros interesses dos trabalhadores, dos camponeses pobres, dos indígenas oprimidos. Os ministros de origem sindical ou indígena não estão ali para representá-los, mas somente para servir de “correia de transmissão” da gestão do Estado burguês frente aos “movimentos sociais”. Por tudo isto, os socialistas revolucionários defendemos não oferecer apoio político ao governo e desenvolver a mobilização e a auto-organização operária e popular independente.

Ainda no caso de que se visse obrigado a tomar alguma medida de corte nacionalista, nos localizamos no mesmo terreno de luta das massas, contra a reação, mas sem apoiar politicamente o governo e sem deixar de lutar por uma estratégia de poder operário e camponês. Levantamos um programa que una as demandas mais sentidas a uma resposta de classe aos grandes problemas nacionais, como a efetiva nacionalização do gás, a terra e o território, a Assembléia Constituinte, e aponte ã conclusão de que somente tomando o conjunto dos problemas em suas mãos os operários e camponeses poderão derrotar as forças da reação e o imperialismo e impor uma saída própria ã crise nacional.

Uma tarefa estratégica no próximo período será contribuir ã reorganização da classe trabalhadora para que esta, unindo suas fileiras e conquistando a mais ampla independência política em relação ã ordem estabelecida, se prepare para dirigir a aliança operária, camponesa e popular necessária para terminar com a dominação imperialista e as classes dominantes nativas.
É nesta perspectiva que a vanguarda operária terá que discutir como fazer que os trabalhadores pesem na vida nacional, construindo uma expressão política operária independente, questão crucial pois um partido operário, socialista e revolucionário com influência de massas é imprescindível para triunfar.

Desde Palabra Obrera nos colocamos ã disposição dessa luta, reafirmando a convicção de que somente um governo operário, camponês e originário baseado nas organizações das massas e na mobilização poderá garantir integralmente a resolução das tarefas agrárias e democráticas e abrir o caminho a uma Bolívia socialista.

  • TAGS
Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)