FT-CI

Declaração política LTS (extratos)

Contra o pacto governo-empresários que impulsiona Chávez

19/06/2008

Cada vez é mais nítido para a classe trabalhadora a falsidade do discurso “socialista” de Chávez, que não é mais que uma cobertura demagógica para uma política de desenvolvimentismo nacional burguês. A busca de alianças de Chávez, agora se dá não só com setores pequenos e médios da burguesia nacional, mas também com setores mais concentrados dos capitalistas nacionais. Trotsky apontava que a política internacional de um governo era a extensão fora das fronteiras nacionais da política que se aplica no próprio país. Hoje vemos como Chávez ensaia se reacomodar frente ao imperialismo norte-americano somando-se ã campanha reacionária de Uribe de pedir rendição incondicional das FARC, e defendendo que espera “trabalhar conjuntamente” com o próximo presidente dos EUA, enquanto busca selar um pacto de “desenvolvimento nacional” com a burguesia, outrora golpista.

“Novo impulso produtivo”: benefícios para os capitalistas

Sob o lema “Novo impulso produtivo. O investimento é a Venezuela” e frente a mais de 500 empresários, Chávez chamou a constituir uma grande “Aliança Estratégica Nacional Produtiva”. Desta vez não se dirigia só a médios e pequenos empresários, mas a pesos pesados do setor privado, como Lorenzo Mendoza, das Empresas Polar; Oswaldo Cisneros, da Organización Cisneros; Juan Carlos Escotet de Banesco, Michel Goguikian do Banco de Venezuela; Pablo Baraybar da Cavidea; Omar Camero da Televen; Luis Van Dam, presidente das Industrias Metalúrgicas Van Dam e acionista da transnacional Odebrecht, entre outros personagens do jet set empresarial do país. Tomando uma frase de Velazco Alvarado, nacionalista burguês peruano dos anos 70, Chávez elogiou “aos industriais e empresários que contribuem para forjar a riqueza deste país e que compreendem a necessidade de que o grande capital cumpra sua responsabilidade social”.

As medidas que Chávez anunciou, ainda que celebradas pelos representantes da burguesia opositora - que desde a derrota de Chávez no referendo vem exigindo mais, enquanto este cede -, são favoráveis ao conjunto do empresariado nacional. Eliminação de impostos (ITF), flexibilização para fornecer dólares, criação de um fundo de um bilhão de dólares, perdão da dívida dos empresários do campo, etc.

A mentira burguesa de que a inflação é produto do “excesso de liquidez” (dinheiro circulante) e baixa produção que fazem desequilibrar a relação “demanda-oferta”, é a perspectiva do governo, por isso opta por reduzir a liquidez, cuja uma das medidas é “desestimular o consumo”, adiantar estes “incentivos” aos empresários e, desacelerar o crescimento econômico, que tem implicado em importantes reduções na construção e na manufatura, setores chaves na geração de emprego. Não é difícil adivinhar a quem beneficia esta política e a quem prejudica. É que a economia capitalista em geral, e particularmente a especulação dos empresários e grandes comerciantes, condenam ao povo trabalhador a não cobrir satisfatoriamente as necessidades básicas, e a resposta “anti-inflacionária” do governo tem sido completamente favorável aos interesses do lucro dos capitalistas. Como se agora os banqueiros, os donos dos monopólios da alimentação e os empresários do campo vão salvar-nos do desabastecimento e da inflação. Que cinismo!

Chávez quer um pacto duradouro com a burguesia

Vimos afirmando que “desde o governo e através do Ministério de Planificação, tudo pareceria indicar que se avança para uma política de corte ‘neodesenvolvimentista’ burguês (...) o lucro petroleiro permite a Chávez seguir sua política de ‘satisfazer a todos sem golpear a ninguém’, enquanto tenta reforçar suas políticas para recuperar espaço entre as massas populares”. Mas desta vez se trata de um giro mais decisivo dos acordos com os mais importantes grupos econômicos do país, ainda que não estejamos falando de um “pacto social” no sentido mais clássico, senão da busca de um projeto mais estratégico de “desenvolvimento nacional” que busque não só reativar a economia nacional (e satisfazer as necessidades patronais) como continuar melhorando as condições de negociação da Venezuela no mercado mundial.

A classe trabalhadora tem que entrar em cena: aprofundando e unificando as lutas!

Ainda não chega a consolidar-se um verdadeiro pacto nacional com a grande burguesia, que não considera a Chávez como “seu homem”, se não que aproveita sua debilidade pós referendo para pressioná-lo cada vez mais. O projeto da Chávez se apóia sobre pernas curtas pois depende centralmente da injeção de recursos provenientes da renda petroleira, enquanto os capitalistas seguem sem grandes investimentos e não têm detido a fuga de capitais ao exterior. Mas os trabalhadores devemos entrar em cena com todas nossas forças, pois Chávez evidencia mais seu projeto de conciliação de classes, que busca convencer os trabalhadores de que é possível uma unidade nacional das distintas classes para “desenvolver o país”. Como se não soubéssemos que essas alianças são como a “aliança” do burro e daquele que o monta!

Os socialistas revolucionários, ainda que estivemos conseqüentemente nas lutas contra a reação pró-imperialista nos dias do golpe e da paralisação-sabotagem nunca depositamos nenhuma confiança em que Chávez avançaria em resolver os problemas de fundo do povo, nem muito menos a fazer uma verdadeira revolução social anticapitalista. Mas muitos trabalhadores ainda confiam em Chávez, e começam a perguntar-se, Chávez está nos dizendo que os inimigos que combatemos ontem são hoje nossos aliados? Mais ainda, acaso é possível algum tipo de “aliança” com quem nos explora nos lugares de trabalho e são os responsáveis diretos da pobreza de nosso povo?

Frente ã “aliança estratégica nacional produtiva” deve-se contrapor a aliança estratégica da classe operária e todos os setores explorados e oprimidos do país, lutando para impor as demandas mais sentidas, como o aumento geral dos salários, moradia para o povo trabalhador, emprego estável e com assistência social para todos, terra para os camponeses, etc. Os trabalhadores começam a lutar como classe na arena sindical apesar de que ainda terem ilusões em Chávez. Já desde meados do ano passado vários setores da classe trabalhadora vinham dando importantes lutas, mas assistimos hoje a um salto de magnitude, onde através de numerosas lutas em todo o território nacional, entram em cena muitos mais setores de trabalhadores a lutar por seus direitos e demandas, de uma maneira como não se via desde pelo menos desde últimos anos do governo de Caldera e os primeiros tempos de Chávez no governo, vindo a ser o triunfo dos operários da Sidor uma grande referência e exemplo que alenta as lutas.

Coordenar e unificar as lutas em curso é uma tarefa central do momento, fazer pesar na vida nacional a voz dos trabalhadores de maneira independente contra os empresários e sua inflação, contra os pactos “anti-inflacionários” do governo com estes, e pelo cumprimento das demandas levantadas, para começar a arrancar dos capitalistas e do governo nossas conquistas, nesta hora em que se começa a exercitar os músculos da classe, já não só contra a oposição burguesa para parar suas tentativas de tomar o poder político, mas diretamente por nossos interesses como classe.

Como insistimos, um Encontro Nacional de trabalhadores, com delegados votados em assembléia em cada centro de trabalho e mandatados pela base, aberto tanto aos sindicalizados como aos que não estão, é um passo importante neste caminho. Frente a postergação salarial e a inflação, frente a falta de moradias e assistência social, os trabalhadores devemos postular nossas próprias soluções, em contraposição ás que o governo e os empresários pactuam ás costas do povo.

Construir uma alternativa operária revolucionária

Há que dar passos na construção de uma verdadeira alternativa socialista, um partido operário revolucionário que se coloque a luta pela independência de classe dos trabalhadores frente a todas as variantes burguesas, na perspectiva por conquistar um governo dos trabalhadores e do povo pobre, que exproprie as empresas imperialistas, a burguesia nacional, os banqueiros e latifundiários, como única maneira de começar a resolver os problemas de nosso povo.

Traduzido por Miriam Rouco

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