FT-CI

Apresentação

22/09/2005

Há vários anos a América Latina tem se convertido numa região em “estado de rebelião”, uma trincheira avançada da luta de classes em nível mundial, com levantamentos de massas como os que têm derrubado vários governos no Equador, Bolívia ou Argentina e que apresenta também diversos fenômenos políticos, diante dos quais a vanguarda operária e popular necessita clarificar posições e se orientar, como o chavismo na Venezuela, os governos da “esquerda pragmática” como o de Lula no Brasil ou o Frente Amplo no Uruguai, ou ainda o projeto do MAS na Bolívia.

Um novo ciclo ascendente da luta de classes recorre a região, alimentado pela profunda crise estrutural do capitalismo semicolonial latino-americano e a resistência ã opressão imperialista. Este amplo e tumultuoso ascenso tende a fazer-se cada vez mais urbano, e nele começa a pesar mais o proletariado. Uma nova e crucial tendência é o início de recomposição do movimento operário em vários países, como Argentina e Brasil (mas não só nestes), particularmente em setores de vanguarda que estão acumulando uma importante experiência de luta e politização.

A classe operária latino-americana necessita agrupar suas filas e temperar suas forças no caminho da mais ampla e efetiva independência de classe com respeito ã ordem burguesa. Só assim poderá encabeçar a luta das massas pobres contra o imperialismo, a qual exige antes de tudo estreitarmos laços com o proletariado norte-americano, e abrir passo ã única forma de fazer efetiva a unidade econômica e política de nossos países: uma Federação de Estados Socialistas de América Latina.

Nesta perspectiva, uma tarefa fundamental é extrair as necessárias lições políticas dos gestos que as massas vêm protagonizando pelo continente, em inumeráveis greves e mobilizações operárias, camponesas e populares, mas sobretudo dos grandes acontecimentos marcados pelas rebeliões recorrentes, como as que na Bolívia em outubre de 2003 abriu o que cremos ser o começo de um novo processo revolucionário no coração da América do Sul em início do século XXI.

Se proporcionar as chaves da situação internacional e regional e as lições destes grandes acontecimentos é uma tarefa crucial ã qual este boletim aspira contribuir, não é menos importante o aspecto de luta política e ideológica com as diversas correntes que influenciam a vanguarda e as massas de uma perspectiva reformista e populista (desde Castro ou Chávez, ao MAS boliviano).

Frente a estas correntes e ás adaptações e capitulações das tendências que falam em nome do trotskismo, mas têm se mostrado incapazes de sustentar uma política independente frente aos grandes aparatos reformistas, burocráticos ou populistas, é necessário fortalecer um pólo político, programático e ideológico trotskista, que se forje na intervenção política e também, inserindo-se nos processos mais avançados, buscando a fusão com os elementos mais avançados da vanguarda operária com o objetivo de sentar as bases para partidos operários revolucionários na luta pela reconstrução da Quarta Internacional.

Esta é a orientação de nossa corrente, a Fração Trotskista pela Quarta internacional, que ainda apesar de reunir também militantes na França, Alemanha, no Estado Espanhol e no Reino Unido, é todavia uma corrente essencialmente latino-americana:

Na Argentina, o PTS (Partido de Trabalhadores pelo Socialismo) é parte ativa das experiências mais avançadas da luta operária: desde as fábricas recuperadas por seus trabalhadores, cujos maiores expoentes são Zanon e o sindicato ceramista SOECN, ás greves e paralisações nos setores de saúde, telefônicos ou aeronáuticos e os processos de organização antiburocrática como em Pepsico Snacks e outras fábricas da alimentação. Na Bolívia, a LOR-CI (Liga Operária Revolucionaria pela Quarta Internacional) tem intervindo nos levantamentos como o de Outubro e Junho, levantando uma política transicional para o desenvolvimento dos órgãos de poder operário e popular e a organização política independente dos trabalhadores. No México, a LTS-CC (Liga dos Trabalhadores pelo Socialismo - Contra Corrente). No Brasil, a LER-QI (Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional). No Chile, Classe contra Classe. Na Venezuela, os camaradas da JIR (Juventude de Esquerda Revolucionária) se integraram recentemente ás nossas filas.

Este boletim se propõe aportar ao debate e ã reflexão entre os trabalhadores de vanguarda, com as chaves dos principais fenômenos políticos internacionais e centralmente latino-americanos, extraindo suas principais lições programáticas, estratégicas e políticas, difundindo os processos mais avançados de recomposição do movimento operário; contribuindo para a necessária luta política no interior da vanguarda latino-americana, e sendo um porta voz das campanhas antiimperialistas e internacionalistas, como hoje está colocado pela solidariedade com a rebelião das massas bolivianas ou a luta contra toda ingerência imperialista.

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