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A classe trabalhadora precisa entrar em cena como sujeito político
por : Diana Assunção

24 Mar 2015 | Nas últimas semanas,analisamos a situação nacional a partir do emblemático dia 15 de março, um ato hegemonizado pela direita (ainda que com uma participação ampla, para além das direções) e que foi amplamente debatido nos jornais, nas redes sociais e nos locais de trabalho e estudo. Naquele momento, já dizíamos que, frente a um ato de composição (...)
A classe trabalhadora precisa entrar em cena como sujeito político

Nas últimas semanas,analisamos a situação nacionala partir do emblemático dia 15 de março, um ato hegemonizado pela direita (ainda que com uma participação ampla, para além das direções) e que foi amplamente debatido nos jornais, nas redes sociais e nos locais de trabalho e estudo. Naquele momento, já dizíamos que, frente a um ato de composição majoritariamente de classe média, a classe trabalhadora e a população mais pobre ficou num papel de “expectativa”, compartilhando da insatisfação com o governo e com a corrupção, e também com as péssimas condições dos serviços públicos.

Este papel de expectativa se expressou fortemente nas fábricas, universidades e locais de trabalho. Muita gente está se perguntando o que fazer agora, qual é a alternativa, já que o PT mostrou que não deu certo. Aí há um debate importante a ser feito. Já há alguns anos viemos apontando que, no conjunto da América Latina, e não somente no Brasil, vivemos um esgotamento, o que chamamos de “fim de ciclo” dos governos pós-neoliberais, que abarca também o ciclo “lulista”. Em um esgotamento deste modelo, em vários países, governos supostamente mais progressistas estiveram tomando a dianteira, mas fracassaram e não levaram adiante a agenda dos trabalhadores e do povo pobre.

O fato é que este fim de ciclo é na verdade o fim das ilusões. As ilusões que parte da esquerda sempre semeou – e continua semeando – é a de que a estratégia necessária é disputar o governo por dentro (como inclusive estamos vendo com os casos do Syriza e Podemos na Europa). O fim destas ilusões só pode levar ã conclusão de que estes governos, e o próprio governo petista, eram desvios, e não a chegada dos trabalhadores no poder. É isto que viemos sustentando durante todos os últimos anos, com o objetivo de defender uma ação independente dos trabalhadores e da juventude em relação ao governo e ã burocracia sindical.

A palavra “alternativa” está sendo dita por praticamente todos os setores da esquerda. A questão é que precisamos pensar esta alternativa em base ao balanço de quais foram os erros na relação com o governo do PT durante todos estes anos.
Não romper com esta estratégia reformista e eleitoral significará enterrar qualquer possibilidade de alternativa real.

Isso porque a própria estratégia do PT está mostrando sua falência. A esquerda estará pressionada a simplesmente ocupar e disputar este espaço que o PT vai deixar. Não se pode vacilar, é preciso construir um poder de classe, um outro tipo de democracia que quebre a resistência dos exploradores, tirando deles sua maior fonte de poder que é o seu monopólio (de classe) dos meios de produção.

O desafio agora está em levar as ideias para que a classe trabalhadora seja sujeito político, e não os sejam somente meia dúzia de representantes. A classe trabalhadora já começou desde o ano passado a exercitar seus músculos, e entrar na cena nacional através de espetaculares greves, como foi a dos garis, a greve dos metroviários de São Paulo (que sofreu uma derrota com as 42 demissões que continuamos lutando para reverter), a greve de 118 dias dos trabalhadores da USP, Unicamp e Unesp, este ano a greve dos operários da Volkswagen e da GM, a grande greve dos professores do Paraná etc. Foram importantes exemplos de luta e resistência dos trabalhadores contra os ataques dos governos e dos empresários.

Atuar nestes espaços com ideias e uma estratégia revolucionária que parta também de combater e superar a burocracia sindical (retomando os sindicatos para a mão dos trabalhadores) é uma questão decisiva para construir qualquer alternativa. Significa também que é preciso abandonar e superar a perspectiva meramente sindicalista no movimento operário, que separa a luta sindical e econômica da luta política e estratégica. É preciso uma política revolucionária contra todo o tipo de sindicalismo e eleitoralismo.

É por isso que, frente ã política e ás propostas do governo e da direita, tanto a reforma política quanto mesmo o impeachment, levantemos a partir do movimento operário e da juventude (que mostrou toda sua força em junho) um programa que responda as demandas mais sentidas do conjunto da população. Para que mais uma vez a roubalheira não termine em pizza, precisamos lutar por comissões independentes de investigação e pelo confisco dos bens de todos os corruptos. Os políticos, deputados, juízes e funcionários de alto-escalào devem ganhar o mesmo salário de uma professora!

Devemos começar a debater também a ideia de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, impulsionada pelos organismos de luta da classe operária e da juventude, em que a população possa decidir por si própria a saída para os grandes problemas do país (soberania, propriedade privada versus propriedade social, direito ã cidade, serviços públicos, emprego, meio ambiente etc.) e que seja uma forma de enfrentar a situação atual.

Neste caminho, para avançar nesta tarefa de contribuir para que a classe trabalhadora entre em cena como sujeito político, esta sendo lançada uma ferramenta digital, Esquerda Diário, para que trabalhadores, jovens, mulheres, negros e negras, LGBTs, e todos os setores oprimidos da sociedade tenham um portal de informações contra os poderosos e ricos que manipulam por via da grande imprensa o imaginário da população em todo o país. Estamos confiantes de que este projeto pode ser uma ferramenta tomada por um setor muito amplo, no caminho de uma alternativa de notícias e ideias da esquerda.

 

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