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Governo Dilma: a estabilidade política de um castelo de cartas
por : Iuri Tonelo

25 Feb 2015 | Se estivéssemos como a plateia em meio a peça dos primeiros meses do novo governo Dilma o cenário seria devastador. A combinação de elementos dinâmicos levava a crer uma crise já no início do novo governo: a economia caminha para uma recessão, o novo ministro anuncia ajustes contra os direitos trabalhistas, as montadoras anunciam demissões - com greves (...)
Governo Dilma: a estabilidade política de um castelo de cartas

Se estivéssemos como a plateia em meio a peça dos primeiros meses do novo governo Dilma o cenário seria devastador. A combinação de elementos dinâmicos levava a crer uma crise já no início do novo governo: a economia caminha para uma recessão, o novo ministro anuncia ajustes contra os direitos trabalhistas, as montadoras anunciam demissões - com greves amplas, é eleito um desafeto de Dilma como presidente da câmara, os escândalos de corrupção da operação Lava-Jato se aprofundam e a popularidade da presidenta cai em níveis de junho. Nesse contexto que, entre boatos e intrigas ganha o vocabulário das massas a palavra “impeachment”.

Esse era o cenário no início, mas a peça continuou. E o fato é que se olhássemos uma fotografia do quadro político atual dá a impressão de uma conjuntura relativamente mais amena. Parecem ter se desenvolvido elementos de equilíbrio no governo, um pequeno fôlego.

O fato é que, de lá pra cá nessas semanas, o governo Dilma (com ajuda de Lula) vem “mexendo os pauzinhos” para reconstituir elementos de estabilidade política. No nível da economia, tem combinado um discurso “firme” de Joaquin Levy em defesa dos ajustes, mas negociando com as grandes centrais uma possibilidade de sutil concessão (modificando uma das MPs sobre o seguro-desemprego, reduzindo o prazo para o benefício, no marco ainda de um grande ataque); frente ao regime político, Dilma e Lula tem se reunido sistematicamente com PMDB (Temer, Renan Calheiros, Sergio Cabral, Eduardo Paes...e mesmo com Eduardo Cunha) para fazer os “negócios políticos” que agrade a base aliada.

E como coroamento da mudança de estratégia, Dilma tem vindo a público. Tem discutido na imprensa os ajustes, tem feito marketing presidencial nas obras e gestões do governo e, principalmente, tem atacado a oposição na questão da corrupção. Uma e várias vezes Dilma tem tentado envolver o governo FHC nos escândalos da Petrobrás, dizendo que desde aquela época já existia corrupção, mas agora estão investigando mais.

Parece que o governo vem tendo certo sucesso: abafou um pouco o “debate impeachment” e tem tentado até se aventurar contra a oposição (PSDB). As dúvidas que ficam são duas: qual o preço político e qual a durabilidade desse equilíbrio?

Sem dúvida se pudermos falar de “equilíbrio”, teríamos que acrescentar um “instável” como complemento, e devemos notar que estamos no plano da conjuntura imediata (e não da situação geral que continua turbulenta): a recessão continua caminhando, os ajustes continuam afetando os trabalhadores, os escândalos de corrupção estão aí e a popularidade de Dilma continua baixa.

Mas o fundamental aqui é outra questão: o custo político (se é que podemos falar nesses termos) desse equilíbrio instável é a mais intragável política de aliança com setores reacionários do regime político brasileiro. O emblemático acordo com Eduardo Cunha (que chegou a um acordo na questão dos ajustes e da corrupção – de ser menos espalhafatoso) tem aberto uma avenida para que esse político ataque qualquer direito democrático, seja das mulheres (como a questão do aborto) ou dos LGBTs, chegando a acelerar projetos como estatuto da família, que prevê a adoção de crianças apenas por heterossexuais, únicos que podem ser considerados família.

Assim o governo Dilma se assemelha a um endividado que contrai novo empréstimo para pagar as dívidas. Está apenas cavando novas contradições e estilhaçando qualquer elemento progressista nesse governo. Hoje, a oposição não fala mais em impeachment, mas como parte de um acordo espúrio, e sabendo que, sendo parte dos interesses de todos os partidos dominantes, não é vantajoso criar uma instabilidade maior, ainda mais num país com enorme crise de representatividade. Isso porque com um PT atacando trabalhadores e fazendo concessões a setores reacionários em direitos democráticos, até poderíamos dizer que fica pouco espaço para a oposição!

Assim, podemos notar que a estabilidade atual é como um castelo de cartas, que fez a oposição “parar de assoprar”, mas manteve a janela de ventos das lutas operárias aberta: o PT pode fazer acordos detestáveis com partidos como PMDB e com burocracias sindicais, mas diante de sua crise histórica não será mais tão fácil controlar o movimento operário, que já protagoniza no começo do ano greves como a da Volks e da GM na indústria, faz uma greve histórica de professores no Paraná (contra os arrochos governamentais) e outros movimentos como a recente greve de caminhoneiros.

Esse é o maior foco de instabilidade e o maior entrave para um governo petista em crise se tornar “estável”.

 

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