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A propósito do escândalo dos interrogatórios psicológicos da CIA
por : Claudia Cinatti

12 Dec 2014 | No informe do Comitê de Inteligência do Senado norteamericano sobre o programa de interrogatórios da CIA, aparecem com insistência os nomes de Grayson Swigert e Hammond Dunbar, pseudônimos dos psicólogos James Mitchell e Bruce Jessen. Estes psicólogos, que trabalhavam para outras unidades militares, foram contratados pela CIA em 2011 para colaborar (...)
A propósito do escândalo dos interrogatórios psicológicos da CIA

No informe do Comitê de Inteligência do Senado norteamericano sobre o programa de interrogatórios da CIA, aparecem com insistência os nomes de Grayson Swigert e Hammond Dunbar, pseudônimos dos psicólogos James Mitchell e Bruce Jessen. Estes psicólogos, que trabalhavam para outras unidades militares, foram contratados pela CIA em 2011 para colaborar na “guerra contra o terrorismo”, por uma soma milionária de 180 milhões de dólares, dos quais já embolsaram 80 milhões.

Ainda que o escândalo estourasse agora, a cumplicidade da American Psychological Association (APA) com a CIA e outras agências de segurança nacional se conhece há anos. Em 2005, a entidade encomendou a um grupo especial fazer um informe sobre Ética Psicológica e Segurança Nacional. A investigação concluiu que “participar nos papéis consultivos em processos de interrogatório e recolha de informação para propósitos relacionados com a segurança nacional é consistente com o Código de Ética da APA, dado que os psicólogos têm uma longa tradição de desempenho em instituições penitenciárias”.

A APA se transformou assim na única associação de profissionais da saúde mental dos Estados Unidos que autorizava seus membros a participar de interrogatórios, e portanto a única contratada pela CIA, o Pentágono e outras agências vinculadas ã guerra contra o terrorismo. A American Psychiatric Association não autoriza seus membros a participar oficialmente desta tarefa.

Isto foi denunciado em carta pública assinada por uma grande quantidade de psicólogos em junho de 2007, depois que veio à luz a colaboração de psicólogos nos cárceres de Guantánamo, Afeganistão e Iraque.

Estes psicólogos torturadores se basearam na teoria da “indefesa adquirida” (Learned Helplessness), um conceito formulado a finais da década de ’60 por Martin Seligman e S. Maier, a partir de um resultado acidental surgido da observação do comportamento animal em um experimento de condicionamento tradicional (cães submetidos a choques elétricos depois de um sinal sonoro). A novidade deste achado não era o condicionamento, que há muito era o centro das teorias condutistas e reflexológicas, mas sim que o estado de impotência também pode ser aprendido através da experiência de perder o controle sobre o estímulo, o que leva a uma situação de aceitação passiva. Este conceito saltou do campo animal ao humano para explicar sobretudo fenômenos como a depressão.

É sabido que a chave do interrogador é quebrar a vontade do interrogado e submetê-lo absolutamente. A tortura neste caso atuava como condicionamento para conseguir a conduta de colaboração. Esta técnica de redução da vontade a nada é a chave dos campos de concentração e, em muitos casos, das prisões.

Lamentavelmente, a colaboração daqueles que têm algum saber sobre a subjetividade com os torturadores, ditaduras e regimes totalitários não é nova.
O caso traz inevitavelmente ã memória Amílcar Lobo, membro da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, que na década de 1970 integrou equipes de torturadores de presos políticos. O caso foi denunciado pela Voz Operária e ganhou estado público internacional por uma nota enviada ã revista argentina “Cuestionamos”.

Isto não é uma casualidade. No campo das disciplinas que investigam o comportamento humano é onde surgem não só teorias que contribuem a libertar a subjetividade de suas ataduras, mas também técnicas de controle social e tortura a serviço da ordem estabelecida.

 

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