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Com o estádio repleto, o PTS fechou um ano com mais força militante
por : PTS, Argentina

08 Dec 2014 | Sob o sol de uma tarde escaldante, 6.000 pessoas entraram, em colunas de diferentes regiões do país onde tem presença o PTS, para o estádio coberto do Argentinos Juniors. Os oradores fizeram uma retrospectiva dos principais acontecimentos políticos protagonizados durante o ano. Sentiu-se o entusiasmo militante de uma corrente que emergiu com (...)
Com o estádio repleto, o PTS fechou um ano com mais força militante

O estádio Malvinas do Argentinos Juniors estava repleto, ás 18 horas, quando milhares de cartazes foram levantados dos assentos. O grito foi um só: "vivos os levaram/vivos os queremos". Eram os rostos dos normalistas mexicanos, assassinados e desaparecidos. Depois veio a saudação do palco: "Bem-vindos ao ato do PTS na Frente de Esquerda". Das arquibancadas veio outro grito em uníssono: "Lutar, vencer/trabalhadores ao poder."

Del Caño: "Frente ao consenso de direita, fortalecer a esquerda"

No fechamento, um discurso inflamado do deputado federal e pré-candidato presidencial da Frente de Esquerda Nicolás del Caño, levantou a necessidade de fortalecer este espaço da esquerda "contra as patronais, sua casta política e a burocracia sindical" frente o que considerou "um consenso de direita" entre os principais candidatos ã presidência, como Daniel Scioli, Sergio Massa e Mauricio Macri.

Del Caño assegurou que "A FIT não vai se romper. Porque a nossa Frente de Esquerda é a única coalizão política nacional que levanta a independência política dos trabalhadores contra os partidos dos capitalistas e tem um programa que defendemos". Sobre sua postulação como pré-candidato presidencial pela Frente de Esquerda, o deputado assegurou que "com minha candidatura queremos expressar o que já vimos no ano passado em Mendoza, dezenas de milhares de jovens que trabalham precarizados, mulheres que lutam por seus direitos se viram representados em nossa campanha e por isso nos deram seu enorme apoio. Minha candidatura pretende ser o símbolo da fusão dos trabalhadores, da juventude e das mulheres com a esquerda, sem isso, a esquerda não tem futuro".

"Da fábrica sob controle operário mais famosa do mundo"

Abriu o ato Claudio Dellecarbonara, figura classista do metrô e dirigente do PTS, apresentando o primeiro orador, Raúl Godoy.

Raúl Godoy, dirigente histórico do PTS e da fábrica Zanon sob controle operário, fez o primeiro discurso do ato, ante o auditório lotado. Subiu ao palco acompanhado de uma substancial delegação de Neuquén que veio com representantes de Zanon e Cerâmica Neuquén, trabalhadores e delegados papeleiros, têxteis, dos Hospitais de ATE da capital Neuquén, de Centenario, de Cutral Co e de San Martín de los Andes, e dos professores de ATEN Zapala, Neuquén Capital, Centenario, Plottier e San Martín de los Andes, juntos a estudantes universitários, que estão na direção de vários centros estudantis. Em uma de suas principais definições Godoy disse que "é a classe trabalhadora a que dá resposta ã crise. Denunciamos a entrega dos recursos naturais na Chevron. Falam de soberania energética, mas entregam os recursos para a Chevron, e isto enfrentamos nas ruas, os trabalhadores, junto aos estudantes e aos mapuches. No Congresso Nacional o companheiro Nicolás Del Caño apresentou o projeto para nacionalizar todos os hidrocarbonetos sob controle dos trabalhadores. Este programa é para ser levado adiante com a luta de classes. Por isso lutamos também para recuperar os sindicatos, e os trabalhadores temos que levantar uma alternativa política", e convocou a se somarem ã construção de um partido revolucionário dos trabalhadores. O auditório respondeu efusivamente ao canto de "já vão ver trabalhadores no poder".

A voz dos funcionários municipais e dos açucareiros do norte

Alejandro Vilca de Jujuy subiu acompanhado de uma delegação da coleta de lixo de SEOM Jujuy, Silvio Choper Eguez do engenho La Esperanza, dirigentes da Lista Vermelha do Comércio, delegados de Aceros Zapla, Natalia Morales e trabalhadores estatais da Lista Marrom, aos que se somaram delegados açucareiros dos engenhos de Tucumán, Lealez e San Juan.

"Esses políticos governam para os empresários e latifundiários. Em nosso estado as redes de tráfico de pessoas estão amparadas pelo Estado e pela polícia, onde se julga os protestos, onde a justiça dá aval aos que saqueiam os povos originários. Uma lei proibitiva evitou que haja deputados de esquerda em Jujuy. A esquerda tem que ser uma alternativa política, também no norte, não só uma força eleitoral senão que uma força militante, que expresse a vontade de centenas de milhares de trabalhadores, nas fábricas e escolas, que mostre que somos capazes de fazer política, de acabar com a Argentina capitalista, e transformar o mundo. Com a mobilização é necessário impor um governo dos trabalhadores."

Em seguida saudou Silvio Choper Eguez, dirigente do sindicato do engenho La Esperanza. "Que bom que os trabalhadores nos reunamos para discutir política e para defender todos os trabalhadores contra os partidos capitalistas. Convocamos todos a levantar a bandeira dos trabalhadores".

O Malvinas vibrou com Lear e Donnelley

Uma substancial delegação de operários de Lear em luta pela sua reincorporação subiram ao palco. O delegado Rubén Matu deu a entender que este conflito "foi o mais importante do ano e as patronais notaram que não vai ser tão fácil demitir onde houver delegados de esquerda". Matu anunciou uma nova jornada nacional de luta dos trabalhadores para a semana que vem, que incluirá atos na Panamericana. Em um dos momentos mais emotivos do ato, os trabalhadores de Lear fizeram uma homenagem ã Mãe da Praça de Maio Elia Espen por seu apoio a esta emblemática luta.

A Comissão de Mulheres de Donnelley tomou a palavra, para cumprimentar os presentes e contar sua experiência, tanto na luta junto a seus companheiros, como pelos direitos das mulheres. Subiu depois Eduardo Ayala, o militante do PTS que começou a organizar a fábrica há uma década. Junto a ele, dezenas de trabalhadores de MadyGraf.

Ayala convidou a subir Raul Godoy, e trocaram suas camisas de trabalho. Todo o estádio cantava "Aqui estão, estes são, os operários sem patrão". Ayala retomou seu discurso. "Temos que transformar nossa fábrica em uma trincheira, para organizar toda a vanguarda operária. Junto aos companheiros de Kraft e PepsiCo ã Interfabril. A partir desta vanguarda queremos organizar os milhares de trabalhadores da indústria, como Ford e VW. Esse é o desafio, não podemos ficar dentro da fábrica".

Delegações de mais de oitenta categorias estiveram presentes com suas bandeiras, onde se destacaram os trabalhadores de Kraft e Pepsico com uma substancial delegação da oposição do sindicato da alimentação, telefônicos, aeronáuticos, metroviários encabeçados pelo delegado Claudio Dellecarbonara, ferroviários, vinte operários de fábricas de refrigerantes, professores, metalúrgicos, das montadoras, das fábricas de pneus, coletores de lixo, trabalhadores dos engenhos açucareiros, ceramistas, entre outros.

É importante destacar, entre outras personalidades, a presença no ato do Argentinos Juniors da companheira Patricia Walsh, da mãe da Praça de Maio Elia Espen, de Enrique "Cachito" Fukman, ex-detido-desaparecido da Esma, os pais de Franco Casco, assassinado pelo gatilho fácil da polícia em Rosário, de Raul "Coco" Luna, ex-secretário pessoal de Agustín Tosco, do jornalista Herman Schiller, e de José Castillo e Pablo Almeyda representando a Izquierda Socialista.

A juventude

Cecilia Mancuso, dirigente da Juventude do PTS e Conselheira Diretiva da Faculdade de Ciências Sociais da UBA, subiu ao palco junto a uma delegação encabeçada por várias referências da Juventude do PTS de centros de estudantes e jovens trabalhadores de todo o país.

"Nos últimos anos, os jovens estamos sendo protagonistas de fenômenos políticos e de enormes lutas em todo o mundo: uma nova geração que se levantou na praça Tahrir, no Egito, e foi contagiando o resto dos países árabes; a dos estudantes franceses que exigem justiça para Remi Fraise, assassinado pela polícia, e enfrentam a perseguição estatal como nosso companheiro Gaetan da juventude do CCR no NPA. É a juventude a que encabeçou os movimentos Indignados e Occupy na Espanha e nos Estados Unidos, a dos jovens negros de Ferguson contra a violência racial e a que no Chile, no Brasil e no México se levanta aos milhares, como as recentes mobilizações que sacodem o México e o mundo deixando ã vista os crimes atrozes neste país. Na Argentina está em disputa que juventude se forjará nos próximos anos: muitos jovens que viram no kirchnerismo uma alternativa, hoje começam a ver que a década, na verdade, foi ganha pelos grandes empresários e não pela juventude.

"Se tocam uma, nos organizamos milhares"

Mais de mil companheiras do PTS e do Pão e Rosas de todo o país deram, este ano, uma luta política pelo direito ao aborto, contra os feminicídios e a violência ás mulheres, e denunciando o pacto do governo com o Vaticano no Encontro Nacional de Mulheres de Salta. Muitas delas estão presentes aqui hoje nesse ato. Antes de D’Atri, tomaram a palavra Máxima e Valeria, em defesa dos direitos das pessoas trans e contra a violência da sociedade capitalista e patriarcal.

D’Atri subiu e cumprimentou em primeiro lugar as delegações de trabalhadoras que a acompanhavam, como as mulheres de Lear, de Donnelley, do metrô, da saúde e dezenas e dezenas de locais de trabalho. "Com elas e muitos de vocês compartilhamos este ano a luta por nossos direitos, como no Encontro de Mulheres de Salta, contra o pacto do governo com o Vaticano que deu no novo Código Civil, que é um novo obstáculo em nossa luta pelo direito ao aborto. Basta que a Igreja e o Estado decidam por nós. Separação entre Igreja e Estado. Também acompanhamos Nicolás del Caño, que denunciou a recusa em tratar o direito ao aborto no Congresso”. "Se tocam uma, nos organizamos milhares", continuou D’Atri contra os feminicídios, denunciando também o papel do Estado na violência contra as mulheres pelas mortes por abortos clandestinos, e na precarização trabalhista que sofrem milhões de mulheres.

Myriam Bregman: "essa batalha Berni perdeu"

Acompanhada por uma grande ovação, fez uso da palavra a advogada do PTS, deputada eleita e pré-candidata a chefe de governo de Buenos Aires, Myriam Bregman. Subiram com ela os advogados do Centro de Profissionais pelos Direitos Humanos e familiares representantes da luta contra o gatilho fácil da polícia em Córdoba, Rosário, Tucumán e na grande Buenos Aires.

"Nós buscamos todos os elementos que nos permitam desenvolver a luta, e fazemos ações como fechamento de ruas que são ações completamente legítimas. Este ano, o governo nacional, com Berni ã cabeça, passou a reprimir com mais persistência e dureza que os últimos anos. Ele parecia imponente, mas lhe ganhamos a rua, vencemos a luta pela Panamericana, por nos manifestarmos livremente. Certamente nos irão dizer que virão novas repressões. Com certeza, companheiros, mas essa luta Berni perdeu. E a mesma juíza que ordenou a repressão, que ordenou atacar com pauladas e com gás lacrimogêneo a minha companheira María Victoria Moyano, a mesma juíza que ordenou que a Gendarmería mandasse mais de 70 para o hospital, mais de 20 detidos, esta juíza se viu obrigada a ordenar que a Gendarmería se retire. Produto da luta, da persistência dos trabalhadores e do PTS foi que se deu este triunfo".

Christian Castillo: "Para quebrar o poder dos capitalistas queremos construir uma grande força militante"

Junto com Christian Castillo (legislador do PTS-FIT em Buenos Aires), subiram os trabalhadores da Shell, de Calsa, da Honda, dos Suteba recuperados, da Alimentação, delegados dos funcionários estatais, dos Estaleiros, e de outros locais de trabalho.

"Os que estamos aqui presentes somos parte de uma grande tradição histórica que está resumida na definição de Marx de que ‘a libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores’. A nossa classe se forjou em grandes marcos revolucionários. Como as barricadas de Paris em Junho de 1848, onde a classe trabalhadora aprendeu que sua libertação social não se daria lutando junto ã burguesia senão que contra ela, onde se cunhou o objetivo da ‘ditadura do proletariado’ durante cinco dias de combate a sangue e fogo contra as forças repressivas da burguesia republicana e todo o partido da ordem. Luta que se nutre da luta e das lições da Comuna de Paris de março de 1871, os setenta e três dias onde os trabalhadores parisienses ‘tomaram o céu de assalto’ antes de serem afogados em sangue, em um massacre que levou trinta mil dos melhores filhos da classe trabalhadora, incluindo mulheres e crianças que lutaram até o fim. Uma tradição continuada já no século XX pela Revolução Russa. Em 1917, a primeira vez que trabalhadores e camponeses, sob a liderança de Lênin, Trotsky e do Partido Bolchevique, conseguiram o poder em todo um estado, e que conseguiu resistir ã invasão de 14 exércitos imperialistas. Uma tradição forjada também em grandes revoluções expropriadas, como a alemã de 1918 ou a revolução boliviana de 1952, onde a classe trabalhadora, com os mineiros ã cabeça, derrotaram o exército e formaram milícias, mas em vez de tomar o poder o entregaram ao nacionalismo burguês encarnado no Movimento Nacionalista Revolucionário. Uma tradição forjada nos cordões industriais da revolução chilena. Uma tradição de luta a que também tem contribuído a sua parte nossa classe operária, com a greve geral de janeiro de 1919, violentamente reprimida durante a Semana Trágica, a grande greve da construção de 1936, a resistência ã "fusiladora" de Rojas, Aramburu e dos repressores, o Cordobaço, os Rosariaços, os Tucumanaços ou as jornadas de junho e julho de 1975 contra o Plan Rodrigo do governo de Isabel e López Rega, durante o ascenso dos anos 70. (...)

Somos revolucionários, porque somos realistas, porque sabemos que só mediante a mobilização e organização de centenas de milhares e milhões vamos poder tomar o poder da burguesia. No século XX, vimos revoluções, começando pela russa, onde os trabalhadores e camponeses derrubaram o poder dos latifundiários e capitalistas e começaram a construção do socialismo.

Mas vimos também que se essas revoluções se burocratizam e se se abandona a perspectiva da luta pela revolução socialista internacional, as conquistas das grandes revoluções começam a se perder e as burocracias procuram transformarem-se elas mesmas em capitalistas, permitindo a sobrevivência do imperialismo.

Por isso a tradição que defendemos é também a da luta incessante contra as burocracias surgidas das organizações da própria classe trabalhadora, que têm sido e são fundamentais para manter a dominação capitalista e do imperialismo. Como as burocracias que controlam os sindicatos e agem como verdadeiros policiais nas fábricas ã serviço das patronais, como vimos o SMATA em LEAR e Gestamp. Ou como as que tomaram o poder na União Soviética com a mão de Stálin e foram enfrentadas teórica e praticamente, entregando a sua própria vida, por León Trotsky e seus companheiros de luta". (...)

"Somos entusiastas impulsionadores da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, sabemos que é uma grande conquista que permitiu agitar em comum contra os candidatos das patronais e conseguir expressar 1.200.000 companheiros que votaram na esquerda classista e socialista de nosso país. Mas, companheiros, sabemos que hoje os votos estão aí e amanhã podem ir. Que o estratégico para quebrar o poder dos capitalistas, para derrotar o imperialismo, é construir uma grande força militante presente nas fábricas, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades.

Queremos pôr em pé essa força com dezenas de milhares de militantes para poder mobilizar centenas de milhares e quebrar o aparato repressivo da burguesia e poder chegar ã conquista do poder político pela classe trabalhadora". (...)

Um fechamento de ano com mais força militante

Em suma, o PTS fecha um ano em que emergiu como a corrente de esquerda mais dinâmica, com um ato com forças semelhantes ás reunidas pelo Partido Obrero no Estádio Luna Park, ainda que no caso do Argentinos Juniors tenha sido uma convocatória mais claramente partidária.

 

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