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A barbárie capitalista é resultado da maldita recolonização
por : Pablo Oprinari

01 Dec 2014 | O ascenso do PAN ao governo em 2000 e a “alternância” dos partidos veio lado a lado com uma subordinação mais extrema a Washington, aprofundando o iniciado desde o Tratado de Livre Comércio de 1994. Isto se evidenciou também no terreno do “combate ao narcotráfico”.
A barbárie capitalista é resultado da maldita recolonização

O ascenso do PAN ao governo em 2000 e a “alternância” dos partidos veio lado a lado com uma subordinação mais extrema a Washington, aprofundando o iniciado desde o Tratado de Livre Comércio de 1994. Isto se evidenciou também no terreno do “combate ao narcotráfico”.

Washington e o nacrotráfico, uma longa história

A militarização da luta contra o narcotráfico desde os governos do PRI dos anos 1970 – quando se realizaram as queimadas das colheitas no marco da “Operação Condor” – respondeu aos ditames de Washington, que colocou o tráfico de drogas como um de seus grandes “inimigos públicos”. Com a chegada de Vicente Fox (do PAN) ã presidência, isto se aprofundou: em sua campanha eleitoral propôs “não considerar o tráfico de drogas como um assunto de segurança nacional, mas de saúde pública, e retirar o exército da luta contra as drogas”, mas esta retórica foi mudada rapidamente com a vinda do “czar antidrogas”, Barry McCaffrey.

Durante as últimas décadas, a DEA e a CIA ditaram nos fatos as políticas dos sucessivos governos, utilizando, por exemplo, a extradição para encarcerar ou pactuar “proteção de testemunhas” com os chefes da máfia de acordo com seus interesses (incluindo o recrutamento de setores antinarcotráfico pelos cartéis mexicanos). A “colaboração” militar (como a Iniciativa Mérida) foi também um mecanismo de sujeição e monitoramento constante sobre o México; um grande envolvimento nos assuntos de segurança mexicanos que decidiu sobre nomeações no exército (como revelou o New York Times em fevereiro de 2013).

A ação do governo dos Estados Unidos se rastreia também nos vínculos entre a CIA e o narcotráfico. Nos anos ’80, segundo documentou Anabel Hernández em seu livro “Os senhores do narcotráfico”, a aliança entre o narcotráfico colombiano e mexicano foi a via com a qual Washington proveu de recursos a máfia para ingressar drogas nos Estados Unidos. Esta foi a forma em que ascenderam ao estrelato os chefes da máfia como Pablo Escobar Gaviria antes de sua queda, e do “Cartel de Guadalajara” – hoje, de Sinaloa ou do Pacífico – liderado por Ernesto Fonseca Carrillo e Miguel Angel Félix Gallardo.

Estes são exemplos de uma peculiar associação econômica e política entre a Casa Branca e os senhores do narcotráfico. Por outra parte, a política estadunidense proibicionista favoreceu – como em seu momento foi a Lei Seca com respeito ã máfia – o desenvolvimento dos “cartéis” e sua penetração ao norte da fronteira.

Ante o poder crescente dos cartéis mexicanos – que foram superando seus pares colombianos – Washington buscou fixar as “regras do jogo”. A militarização imposta pelos EUA pretendeu disciplinar as distintas facções e manter deste lado da fronteira a instabilidade gerada por suas disputas internas. O México se converteu numa faixa de amortização, um “campo minado” para a população que sofreu terríveis conseqüências.

Dominação imperialista e narcotráfico

O ciclo de recolonização iniciado com o Tratado de Livre Comércio amplificou a penetração imperialista sobre um país que compartilha 3200 quilômetros de fronteira com os Estados Unidos.

Enquanto o México exporta mão de obra, matérias primas, mercadorias e narcóticos ao norte do Rio Bravo, os Estados Unidos exporta capitais que oxigenam as indústrias de ponta e as maquiladoras (aeroespacial, automotrizes, entre outras) o turismo e as “indústrias” ilegais como a prostituição e o tráfico de mulheres.

Este ciclo potencializou o desenvolvimento descontrolado dos cartéis e a disputa pelo controle territorial. E deu origem a fenômenos monstruosos como o aumento do feminicídio e a repressão selvagem contra as classes despossuídas e setores opositores.

Mostra disso – entre outros tantos exemplos – são os migrantes torturados e executados em San Fernando, o massacre de Villas de Salvárcar, as fossas clandestinas, os assassinatos de Maricela Escobedo e outras lutadoras contra o feminicídio, o desaparecimento e massacre de estudantes normalistas, entre muitas outras. A associação entre o narcotráfico e os distintos estratos do governo e das forças armadas, nestes crimes, é absoluta. Isto explica tanta impunidade.

O papel de distribuidores privilegiados de narcóticos aos Estados Unidos conferiu um poder exorbitante aos cartéis que, como dizem muitos analistas, são já grandes corporações capitalistas “globalizadas”. Segundo escreveu o investigador Edgardo Buscaglia, ao redor de 500.000 pessoas trabalhavam neste setor: um amplo mapa que vai dos quadros hierárquicos e os capangas, até os trabalhadores agrícolas explorados e oprimidos pelo narcotráfico.

Neste contexto, o mercado de drogas e outras indústrias ilegais geram uma grande quantidade de dinheiro que depois é posta em circulação mediante o investimento em negócios legais, transformando-se assim em capital.

Alternância e recolonização imperialista

A situação mexicana está longe de responder meramente ã corrupção nos municípios, como pretendem Peña Nieto e seu secretário de Governo, Osório Chong. É a expressão extrema da subordinação aos EUA, que corrói até os alicerces do estado capitalista e o decompõe.

Se a associação entre cartéis e estado já existia sob os governos do PRI, o advento do regime da “alternância”, onde surgiu um entramado constitucional mais fragmentado, potencializou o descontrole: os distintos níveis do estado estabeleceram alianças com o narcotráfico – muitas vezes justapostas entre bandas delinqüentes adversárias. A associação banhou todos os níveis do governo e das forças armadas: municípios, governadores e inclusive os níveis mais altos de poder político.

Uma evidência a mais, não só de que a “democratização” das instituições é impossível, mas de que a “alternância” foi um instrumento da recolonização e do produto mais bárbaro do capitalismo atual: o narcotráfico.

É neste marco que se faz fundamental lutar por derrubar o Tratado de Livre Comércio e os pactos que atam o México ao imperialismo. Por cada dólar que as transnacionais “investem” no México, aprofundam a opressão e a exploração de milhões de trabalhadores, camponeses e indígenas pobres. A integração ã economia ianque é a chave que suga a seiva vital desta nação, para convertê-la em uma estrela a mais na bandeira norteamericana. É preciso acabar com este regime político agente do imperialismo e ligado ao narcotráfico.

Ao mesmo tempo é elementar lutar pela legalização das drogas – que deixaria os cartéis sem sua principal fonte de lucros extraordinários – como parte de um programa que desconheça os ditados da Casa Branca em matéria de luta “antidrogas”, e que busque expropriar os cartéis e todas as empresas “legais” comprometidas com estes. Nesse caminho, a autodefesa por parte das organizações operárias e populares é uma necessidade básica para fazer frente aos narcotraficantes e forças repressivas responsáveis por 200.000 mortos e dezenas de milhares de desaparecidos.

 

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