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Continuidade… com giro (direita)
por : Eduardo Molina

06 Nov 2014 | Em outubro, ocorreram as eleições presidenciais no Brasil, Bolívia e Uruguai. Nelas, confirmou-se a continuidade dos governos progressistas nesta parte do continente e a oposição de direita fracassou em impor uma mudança política mais abertamente reacionária. No entanto, os novos mandatos progressistas são anunciados com um marcado giro ã (...)
Continuidade… com giro (direita)

Em outubro, ocorreram as eleições presidenciais no Brasil, Bolívia e Uruguai. Nelas, confirmou-se a continuidade dos governos progressistas nesta parte do continente e a oposição de direita fracassou em impor uma mudança política mais abertamente reacionária. No entanto, os novos mandatos progressistas são anunciados com um marcado giro ã direita.

A chave estava no Brasil, pelo peso objetivo do gigante sul-americano e pela importância de Lula e do PT (Partido dos Trabalhadores) como referência política a nível internacional. Dilma Rousseff foi reeleita no segundo turno por uma estreita margem de votos. Foi um triunfo com sabor amargo que não pode ocultar a desilusão em importantes setores operários e populares mesmo que ao final, tenham votado em Dilma como “mal menor” frente ao neoliberal Aécio Neves.

Na Bolívia, Evo Morales, arrasou com dois terços dos votos, assegurando uma cômoda maioria parlamentar. Contou a seu favor, porém, uma boa situação econômica e a aliança com setores das elites de Santa Cruz, enquanto que a oposição de direita continua em crise e dividida.

No Uruguai, o candidato da Frente Ampla, Tabaré Vásquez, conseguiu cerca de 48% dos votos frente a 44% dos partidos tradicionais em que pese a recomposição da direita, sua presidência estaria assegurada no segundo turno do dia 30 de novembro.
No entanto, a continuidade dos governos progressistas por um novo período não significa que se disponham a ceder maiores concessões e melhoras para os trabalhadores e o povo pobre que neles votaram. Pelo contrário, se preparam para governar mais alinhados com as exigências do grande capital.

“Agora sim, menos”

Como mostra do rumo em que tomaram, estão os primeiros passos de Dilma Rousseff. Ela não era a preferida por uma parte do stablishment, que recorreu ás baixas na Bolsa de Valores de São Paulo como forma de demonstrar sua impaciência. A presidente respondeu com gestos de conciliação, prometendo dialogar sobre a política econômica a seguir, o que abre portas para medidas mais “ortodoxas” para frear a inflação e reativar a economia, alinhados com o que pede o empresariado, os bancos e os “agrobusiness” exportador.

Desde que a crise internacional começou a ser sentida na América do Sul, estes governos começaram a “moderar” mais do que nunca sua política, colocando um freio ás aspirações de melhorias no trabalho e outras demandas do povo trabalhador. Sua política foi se aproximando do famoso “nunca menos”, de Cristina Kirchner. Mas a medida que a situação econômica, como o Brasil e Argentina, escancara os limites e fissuras dos “modelos” progressistas, chega ao momento do “agora sim, menos”, preparando maiores ataques ao salário, ao emprego e ás condições de vida populares pela via inflacionária, políticas repressivas e outros sinais de regressão. Entre eles, o retrocesso em questões democráticas básicas como a criminalização e repressão dos protestos, adotar temas como a agenda reacionária com a “segurança”, ou a restrição ao direito ao aborto.

As bases da decadência progressista

A fase de crescimento sustentada pelo boom das matérias-primas e a recomposição do mercado interno durante a década passada, ficou para trás. Os preços do minerais, o petróleo e a soja estão caindo e a recente alta nas taxas de juros dos EUA, ameaça atrair capitais que viriam em direção a América Latina. Esta evolução da economia internacional afeta a região em seu conjunto: os “modelos neoliberais”, estão se debilitando, como no Chile, Peru ou México; mas também faltam os “modelos progressistas” como no estagnado Brasil, ou a Venezuela e Argentina que enfrentam situações recessivas.

Já não há “círculo virtuoso” de crescimento que possa satisfazer ao capital e conter as demandas operárias e populares. Os governos progressistas não tomaram nenhuma medida de fundo que atacasse a situação de dependência: pagadores da dívida externa, nem sequer reverteram as privatizações dos anos 1990 e apostaram em que a associação com o capital estrangeiro e como os grandes empresários, os bancos e os proprietários serviria para o “desenvolvimento”.

Os governos progressistas basearam sua “governabilidade” em um complexo equilíbrio de mediações entre as classes sociais, o que, com as dificuldades econômicas e fiscais, começa a faltar o chão em baixo dos pés. Para se manter, entre discursos e promessas, cada vez mais sujas, giram ã direita, acomodando-se ás pressões da classe dominante que quer uma política para que a crise seja paga pelo povo trabalhador.

Perspectivas de resistência operária e popular

Isto tudo começa e enterrar as modestas concessões obtidas nos últimos anos, que são consideradas um “piso” para grandes setores dos trabalhadores e da juventude, que aspiram ã algo mais, porém se chocam com a deterioração econômica. Esta é a fonte de um crescente descontentamento, que se expressou nos protestos como os de junho de 2013 no Brasil, e em paralisações, greves e mobilizações como as que foram vividas na Argentina, Chile ou Bolívia.

A direita tratou de renovar sua imagem buscando capitalizar ao descontentamento, mas dificilmente pode “maquiar” seu programa de ajustes e de maior abertura ao capital imperialista. O que alimenta seu fortalecimento é precisamente a política dos progressistas em funções de governo, com seus pactos com o empresariado, as Forças Armadas, a Igreja e as burocracias sindicais, sua política de ajustes contra os interesses populares e sua busca por novos sócios imperialistas. Ocultando isso, a partir da centro-esquerda e certas correntes reformistas, com o argumento de frear a reação, chamou-se ao apoio a o PT, a Frente Ampla ou ao MAS, aprovando seus ajustes e medidas reacionárias.

No entanto, a inevitável e justa resistência operária e popular em defesa de seus interesses básicos diante dos ajustes governamentais e o ataques patronais, coloca mais do que nunca a luta para armar-nos com um programa anticapitalista e antimperialista e conquistar a independência política dos trabalhadores. Estas são as ferramentas imprescindíveis para que a crise seja paga pelos seus verdadeiros responsáveis, os capitalistas, e abrir as portas para uma verdadeira transformação, operária e socialista.

 

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