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O primeiro turno mostrou que Junho segue vivo: Nem Pezão nem Crivella!
por : LER-QI, Brasil

13 Oct 2014 | O primeiro turno mostrou que Junho segue vivo: Nem Pezão nem Crivella! Como parte da campanha nacional em defesa do voto em Dilma não faltam ativistas nas redes sociais e até analistas em grandes meios que analisam os resultados das eleições no Rio para concluir duas coisas: Junho não se expressou ou a “direita” se fortaleceu. Esta análise (...)
O primeiro turno mostrou que Junho segue vivo: Nem Pezão nem Crivella!

Como parte da campanha nacional em defesa do voto em Dilma não faltam ativistas nas redes sociais e até analistas em grandes meios que analisam os resultados das eleições no Rio para concluir duas coisas: Junho não se expressou ou a “direita” se fortaleceu. Esta análise interessada não corresponde aos fatos. A reeleição do deputado direitista Bolsonaro e outros candidatos conservadores com votações superiores a 2010 não muda o sentido geral destas eleições: elas expressaram Junho. Em três sentidos: fragmentação e debilidade dos representantes do “regime” e do governo Cabral e Dilma, aumento da crise de representatividade, grande votação do PSOL em geral e especialmente no “centro” do Junho carioca (capital e Niterói).

Os representantes do governo Cabral e Dilma saíram divididos e chamuscados

O ex-governador Cabral havia sido reeleito em 2010 com 5,2 milhões de votos (54% dos eleitores que compareceram ás urnas). Havia concorrido com Fernando Gabeira (PV) e Fernando Peregrino (substituiu Garotinho, que teve seu registro cassado). Os três candidatos dos empresários e do regime político carioca tinham somado 7,7 milhões de votos (80,4% dos presentes ás urnas).

Agora, a classe dominante carioca, impactada pela crise do governo Cabral, contestado como nenhum outro governo estadual pelo mais profundo e mais longo “Junho” do país, saiu mais dividida e obteve muito menos votos. A soma dos “4 Cabrais” (Pezão, Crivella, Garotinho e Lindberg) alcançou 7,2 milhões de votos dos que compareceram ás urnas. Com mais candidatos, todos falando em “mudança”, com três deles tentando se mostrar como “oposição” a Cabral-Pezão, terminaram menores em relação a 2010. A rejeição a esses candidatos confirma-se como expressão de Junho.

A juventude e os trabalhadores que tomaram as ruas no Junho e as greves que se enfrentaram com os governos Cabral e Eduardo Paes castigaram estes políticos. Pezão e Crivella vão ao segundo turno muito contestados. Crivella perdeu para a soma de votos brancos e nulos (1.701.650). A soma dos votos de Pezão e Crivella (4.861.678) foi de apenas 50% dos votos apurados! A abstenção eleitoral aumentou muitíssimo e nenhum deles pode sonhar em se tornar uma “maioria” como era Cabral. Devem se contentar, os dois candidatos, em se tornar a “primeira minoria” entre várias minorias em que se dividiram.

Dilma e Lindberg (PT) estarão juntos com Pezão, prioritariamente, mas também com Crivella. Garotinho apoia Crivella. Tudo que se viu na campanha foi mero “jogo de cena”. Para não alimentar divisões e arriscar perder votos Dilma talvez nem suba aos palanques dos seus aliados. Aqueles que em Junho estavam na barricada dos empresários, da violência policial e da corrupção se unirão de novo para retomar o controle da situação e continuar aplicando os planos capitalistas contra os interesses dos trabalhadores e das massas exploradas. Nenhum desses quatro candidatos em que o regime se dividiu criticou quando aumentaram as passagens do transporte neste ano. Estão todos unidos contra os trabalhadores. Mesmo quando se apresentam separados em candidaturas concorrentes não deixam de ser parte de um único “partido dos exploradores”, “partido político dos ricos.

Crise de representatividade

Outro aspecto marcante das eleições no Rio foi o que se chama crise de representatividade. E não poderia ser diferente, depois do “não nos representam” de Junho, da contestação aos sindicatos burocráticos e ligados aos empresários, como vimos na greve dos garis e, depois, dos rodoviários, e mesmo toda a contestação ao governo Cabral e seus aliados políticos e associados empresariais (Jacob Barata, Eike Batista, Cavendish).

A abstenção, ou seja, aqueles que se negaram a votar, cresceu muito. De 2 milhões de eleitores em 2010 para 2,4 milhões em 2014. O voto branco e nulo também cresceu em praticamente todos os cargos. Para governador ficou estável (de 17,51% a 17,55%) e isso só ocorreu porque vários milhares de jovens e trabalhadores ao invés de anular levaram seu protesto votando em Tarcísio Motta do PSOL, que era o único candidato que aparecia como não pertencendo a este “partido da casta política”. Este aumento expressa um aumento desta crise de representação e, ganhe quem ganhar, haverá maior contestação e menos legitimidade.

A grande votação do PSOL também é uma expressão de Junho

O PSOL conseguiu captar eleitoralmente uma parte expressiva dos votos daqueles que foram ás ruas em Junho. Isso pode ser medido pelo seu aumento de votos em todos os níveis. Luciana Genro conseguiu 220 mil votos no Rio, ficando em quarto lugar atrás de Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. O candidato a governador Tarcísio alcançou impressionantes 712 mil votos (8,92%), e as votações para deputados federal e estadual também aumentaram muito (mais de 530 mil votos nos dois níveis).

Além desse grande resultado o partido também conseguiu votações expressivas em bairros que foram o “coração” de Junho. Na Zona Sul Tarcísio alcançou 24,8% dos votos válidos, e mais de 14% em toda a capital, ficando em terceiro lugar com mais de 400 mil votos. Em Niterói foi o segundo colocado. Marcelo Freixo foi o deputado estadual mais votado (350 mil), Chico Alencar e Jean Wyllys foram, respectivamente, quarto e sétimo deputados federais mais votados, principalmente nos bairros da Zona Sul e da Tijuca, com boas votações em todos os bairros da capital, até mesmo naqueles bairros de trabalhadores e pobres.

Esta votação foi produto de o partido aparecer como “diferente” do “partido da casta política” carioca. Expressavam de modo mais “popular” parte dos temas que Junho havia colocado na rua –direitos democráticos para a população LGBT, legalização das drogas e denúncia da violência policial – e foram vistos como oposição aos “4 Cabrais”.

Porém, fizeram isso sem apresentar um programa anticapitalista, sem buscar criar um movimento que se expressasse em organização nas ruas durante e depois das eleições. O grito “cadê o Amarildo” não foi feito para desenvolver um movimento nas ruas pela punição dos culpados, incluindo Pezão e Cabral. Não aproveitaram as eleições e o repúdio aos políticos para levar ã frente uma consigna que pudesse fazer desta raiva um avanço a uma posição de classe, como seria a reivindicação que deputados, governadores, juízes e funcionários políticos ganhassem o mesmo que um professor, como vimos em cartazes de Junho.

Omitiram temas centrais da realidade política carioca, como a campanha pelo direito ao aborto, quando em nosso estado as mortes das mulheres Jandira e Elisângela repercutiam nacionalmente escancarando a realidade de milhares de mulheres que perdem suas vidas ao recorrer a abortos clandestinos, a máfia das clínicas clandestinas que inclui empresas, bancos e policiais e nem sequer mencionaram as importantes greves que sacudiram o Rio. Porém, mesmo com estes limites, e apesar deles, centenas de milhares de jovens e trabalhadores buscaram expressar seu anseio de mudança ou seu repúdio ao regime e governantes votando no PSOL.

Se esse partido fosse consequente com os temas que abordou iniciaria já um chamado para construir movimentos unitários, de toda a esquerda e ativistas que mobilize e leve ás ruas, locais de trabalho e estudo as reivindicações da população LGBT, das mulheres, da juventude, dos trabalhadores e do povo pobre pelos direitos sociais, contra a opressão e violência do Estado.

No segundo turno não há opção dos trabalhadores: voto nulo!

Crivella e Pezão são duas frações de um mesmo “partido dos exploradores”, do “partido da casta política”. Pezão virou vice-governador de Cabral como “representante” de Garotinho e Rosinha, que apoiaram a primeira eleição de Sérgio Cabral. Pezão era vice-governador e responsável pela repressão brutal da PM durante as manifestações de Junho e a greve dos professores. Era vice-governador quando a PM torturou, matou e desapareceu com Amarildo. É responsável direto por tudo de ruim que acontece no Rio desde 2005, ao menos. Agora Pezão tenta atacar Crivella por ser ligado a Igreja Universal, mas esconde que Malafaia (da Assembléia de Deus) o apoia, e que foi secretário de governo de Rosinha, o governo que instituiu o ensino religioso nas escolas. Neste aspecto como em outros não há “mal menor”.

Crivella foi quem, durante as manifestações de Junho, como parte da base governista do governo Dilma, propôs projeto de lei criminalizando os protestos na Copa do Mundo como “terrorismo”, com penas de 15 a 30 anos. Calou-se diante de todas as medidas autoritárias e violentas de Cabral-Pezão. Não moveu uma palha contra o prefeito Paes e a direção da Comlurb em favor da greve dos garis ou dos professores.

Por isso dizemos que são todos do mesmo “partido dos exploradores” e da “casta política”.

Nenhum trabalhador e jovem pode se deixar enganar ou tentar encontrar em qualquer deles um “mal menor” ou “aliado” do povo. Ganhe quem ganhar, no dia seguinte estarão juntos contra os trabalhadores, a juventude e o povo, mas a favor dos ricos e da casta política. Devemos seguir na luta para conquistar as reivindicações de Junho, dos trabalhadores, da juventude e do povo, enfrentando os exploradores capitalistas e seu regime político de lobistas e funcionários dos ricos.

Isso só será possível mediante nossa organização independente de todas as alas da classe dominante, dos empresários e da “casta” política que lhes serve no Palácio Guanabara, na Alerj e no Planalto Central. Os trabalhadores e a juventude devem construir sua própria organização de esquerda para dirigir as lutas populares e operárias, com independência política, um novo partido revolucionário de trabalhadores que lute sem vacilação contra a exploração capitalista, seus políticos e os órgãos governamentais que trabalham para os ricos.

Atua contra essa perspectiva de classe, combativa, para todo o nosso país, a direção do PSOL e seus principais parlamentares e dirigentes ao passar por cima da realidade e propor “voto em Dilma”, como se não fosse a responsável por toda a indignação que tomou as ruas em Junho, como se não fosse o PT quem há 12 anos governa com grande parte da direita (PMDB, PP, PRB, PTB, PSB, PDT), contra os direitos democráticos e sociais, contra os trabalhadores e o povo. Se Aécio Neves ganhasse governaria com essa mesma direita.

A “direita” são todos eles, juntos ou separados. A esquerda são os milhões que enfrentaram todos esses governos, patrões, políticos, os sindicalistas vendidos e a repressão policial em Junho e nas greves. Não nos representam! Nem Dilma nem Aécio! Nem Pezão nem Crivella! VOTO NULO! Confiar em nossas próprias forças e construir uma esquerda revolucionária dos trabalhadores e da juventude.

 

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