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Projeções regionais da disjuntiva brasileira
por : Eduardo Molina

08 Oct 2014 | A menos de 20 dias da disputa pelo segundo turno, é previsível que a última parte da corrida eleitoral vai ser dura. Dado o peso econômico e a importância política do Brasil, a briga entre Dilma Rousseff e Aécio Neves pela presidência vai aumentar o interesse externo por uma definição que terá importantes consequências regionais e internacionais. O que (...)
Projeções regionais da disjuntiva brasileira

A menos de 20 dias da disputa pelo segundo turno, é previsível que a última parte da corrida eleitoral vai ser dura. Dado o peso econômico e a importância política do Brasil, a briga entre Dilma Rousseff e Aécio Neves pela presidência vai aumentar o interesse externo por uma definição que terá importantes consequências regionais e internacionais. O que está em jogo não é somente o futuro político do gigante latino-americano, mas também uma das peças chaves para a reconfiguração do tabuleiro regional. Claro que, por enquanto, é um “final aberto“, mas já estão circulando distintas análises explorando as possíveis definições. Vale ã pena indicar alguns elementos.

Pouco para os “pós-neoliberais” latino-americanos festejarem

Desde o ponto de vista dos alinhamentos político-ideológicos na América Latina, podemos dizer que o resultado do primeiro turno – uma primeira “vitória com sabor amargo” para Dilma – confirma o definhar da hegemonia petista e marca um importante golpe ao conjunto das forças “pós-neoliberais” latino-americanas. Depois de 12 anos de governos do PT, considerado internacionalmente como modelo e vitrine do projeto reformista, o petismo comparte sua decadência com o conjunto dos “pós-neoliberais” sul americanos. Se uma derrota no dia 26 representará um golpe maior (alentando a direita nas eleições uruguaias ou na crise da Argentina e da Venezuela, por exemplo), a continuidade de Dilma também não assegura uma recomposição. Ela mesma está se preparando para aplicar uma política mais ã direita, não somente no terreno econômico, mas também em aspectos democráticos básicos, partindo de manter o regime e a corrupta casta politica que integra o PT e seus aliados, deixando de pé as condições de discriminação aos negros, os acordos com a igreja e a bancada evangélica contra o direito ao aborto e outras “perolas” deste tipo.

A centro-esquerda e o nacionalismo latino-americanista insistem em que a continuidade petista garantiria a liderança brasileira por uma “integração” latino-americana progressista. Portanto, a politica exterior “soberana” também reflete este giro ã direita do governo petista que a fraseologia de campanha não pode dissimular. Se trata de uma determinação compartilhada por outros governos pós-neoliberais que se preparam para gerenciar uma “época de vacas magras”, adaptando-se mais as exigências do capital, aplicando ajustes e buscando flexibilizar as relações com o imperialismo.

Disputas da política exterior

Nos grandes meios reacionários, alguns analistas importantes propõem duas hipóteses para um giro ã direita no Brasil que arraste aos outros países da região. A preferida seria que Aécio Neves ganhe no segundo turno e, aplicando um programa econômico abertamente mais neoliberal, mude a politica exterior brasileira para se alinhar com os Estados Unidos. Entretanto, precisam encarar como bastante provável uma segunda hipótese: a de que a própria Dilma se veja obrigada a redefinir seus planos para um segundo mandato, com sua politica exterior se adaptando ao que pedem “os mercados”, sob a pressão de uma direita fortalecida.

Dilma Rousseff, que manteve uma politica exterior ainda mais moderada que Lula, em aspectos importantes convergia com propostas de Marina Silva (neste sentido, parecidas ás de Aécio Neves). Por exemplo, na disposição em negociar acordos com a União Europeia sem o consenso dos sócios do MERCOSUL.

De fato, Aécio e o PSDB afirmam que se chegarem ao poder vão recompor as relações com Washington, rever a relação no BRICS e flexibilizar o MERCOSUL para poder negociar com a União Europeia e com a Aliança do Pacífico.

Mas Dilma já vem adotando parte desta agenda. Começou tratativas com a União Europeia ã margem dos sócios do MERCOSUL. Também ensaiou com os países da Aliança do Pacífico. Evita uma maior confrontação com os Estados Unidos mantendo um perfil mais cabisbaixo e moderado do que o “ativismo internacional” que caracterizou a gestão de Lula, e mantém uma relação mais moderada com Nicolás Maduro, Evo Morales e até mesmo com Cristina Kirchner.

Um governo de Aécio Neves, mais alinhado com Washington, debilitaria o esquema atual das alianças regionais, particularmente com Venezuela, Cuba e Argentina. Porém, também não seria fácil se desprender bruscamente de todos os compromissos, nem redefinir a orientação geopolítica brasileira, orientada a busca de um papel como “ator global”, o que de fato implica rever alguns termos da inserção internacional do Brasil. Além disso, no MERCOSUL existem fortes interesses comerciais de investidores brasileiros.

Nas condições atuais de crise internacional e decadência hegemônica dos Estados Unidos, uma maior subordinação ao imperialismo não garantiria nem ajuda estadunidense em grande escala, nem apoio ás propostas brasileiras como a de chegar ao Conselho de Segurança da ONU ou reformar as instituições financeiras internacionais. Para Washington, o Brasil não é um sócio do mesmo patamar e sim um país dependente, apesar de que por seu tamanho mereça certa consideração. São vários os pontos frágeis da politica exterior de Aécio Neves
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Entretanto, um novo mandato da Dilma poderia se inclinar a um “multilateralismo pragmático”, mesmo tentando não abandonar as pretensões de liderança sul-americana. Dificilmente uma orientação intermediaria vai satisfazer aos setores interessados em uma reorganização geopolítica. Para atrair maior caudal de capital estrangeiro, abrir maiores oportunidades de negócios com o petróleo e outras ramas e modernizar a economia segundo os requerimentos das filiais estrangeiras, os bancos, o agronegócio e as translatinas brasileiras, seriam necessárias definições mais radicais. No marco das diferenças e questionamentos entre a classe dominante e a orientação internacional do PT, pode-se estar criando uma crise maior da localização geopolítica do Brasil. De qualquer maneira, Dilma deixa poucas esperanças de um Brasil de unidade e soberania latino-americanas, como sonham os progressistas deste subcontinente.

Por outro lado, é previsível que diante de um 2015 difícil, o novo governo brasileiro – seja Dilma ou Aécio – deva aplicar medidas econômicas de ajuste e desvalorização que surtiram efeitos nos países vizinhos.

Analistas reconhecem que o programa de Aécio traria prejuízos inevitáveis para os países da região, seja pela desvalorização da moeda, seja pela maior abertura comercial com outras regiões, ou ambas. A burguesia argentina, particularmente, não teria muito o que festejar frente a uma politica comercial brasileira mais alinhada com “os mercados”. A “Brasil dependência” poderia resultar em problemas para importantes setores da indústria e o agronegócio local.

A direita latino-americana espera que o rumo do Brasil, se é possível com Aécio, senão com uma Dilma “alinhada”, lhe ajude a girar a seu favor o rumo em seus próprios países. No entanto, não deveriam ter muitas ilusões. Na década passada, ao calor do boom das matérias primas, do papel do seu mercado no comercio regional e do papel politico e social da contenção lulista, o Brasil pôde ser um grande fator de equilíbrio regional, assim como um impulso extra para a expansão das economias vizinhas. No novo período que se abre, as dificuldades do gigante latino-americano e as medidas que deve tomar seu novo governo poderiam converter a seus movimentos políticos, econômicos e também sociais (não foi em vão que viveram as jornadas de Junho de 2013, nem uma notável onda de greves) em um fator de desestabilização inesperado.

 

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