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Estado espanhol: as greves heróicas de Panrico e Coca Cola
por : André Augusto

02 Jul 2014 | Após quase 40 anos de reinado, o Rei Juan Carlos I abdica o trono em favor de seu filho, Felipe de Bourbon, como medida para realavancar o prestígio desta instituição reacionária da monarquia, cravejada de casos de corrupção. Em meio ã crise econômica e o afundamento dos partidos tradicionais da burguesia, a renúncia do Rei abriu um novo período de (...)
Estado espanhol: as greves heróicas de Panrico e Coca Cola

Após quase 40 anos de reinado, o Rei Juan Carlos I abdica o trono em favor de seu filho, Felipe de Bourbon, como medida para realavancar o prestígio desta instituição reacionária da monarquia, cravejada de casos de corrupção. Em meio ã crise econômica e o afundamento dos partidos tradicionais da burguesia, a renúncia do Rei abriu um novo período de mobilizações democráticas e da juventude como não se via desde o 15M de 2011. Sobre este panorama se desenvolve uma crise de representação e do Regime político, em que todas as suas instituições estão implicadas. Os principais partidos capitalistas impregnados por casos de corrupção acabam de sair dos suas piores votações em todo o regime democrático nas eleições europeias. A questão nacional volta ã tona com as mobilizações democráticas no país Basco e na Catalunha. Este pano de fundo, com centenas de mobilizações nas ruas de Barcelona e outras cidades por questões democráticas, contra os desalojamentos de moradia, se desenvolvem dois emblemáticos conflitos operários, grandes batalhas de classe que podem servir de exemplo ao movimento operário europeu: as greves de Panrico e de Coca Cola.

Coca Cola: grande triunfo operário

No último dia 13 de junho, os trabalhadores espanhóis selaram um grande triunfo contra a série de ataques das empresas (patrocinada pela Reforma trabalhista antioperária dos governos do PSOE e do PP): a Audiência Nacional (tribunal de Justiça do Estado Espanhol) declarou nulo o Expediente de Regulação de Emprego [1] da Coca Cola Iberian Partners, medida que previa a demissão de 1190 trabalhadores (821 demissões já executadas) e o fechamento de quatro plantas (Fuenlabrada-Madrí, Mallorca, Alicante e Astúrias). Após três meses de luta, principalmente com a duríssima resistência oferecida pelos trabalhadores de Fuenlabrada (com piquetes na porta da fábrica), a decisão judicial supõe a reincorporação aos postos de trabalho de todos os companheiros e companheiras demitidos, assim como o pagamento integral dos salários desde que foi anunciado o Expediente pela empresa.

Este grande triunfo judicial dos operários de Coca Cola – que será questionado pela empresa no Supremo Tribunal – se conseguiu através da luta grevista, dos piquetes na porta da fábrica e na mobilização. Seguindo o grande exemplo da luta de Panrico (em greve há oito meses, na maior greve desde o fim da ditadura franquista na Espanha, na década de ’70) e coordenando-se com ela, os trabalhadores mostraram que se pode derrotar as patronais mais poderosas unificando as lutas em curso, sem descartar nenhum método de luta: deliberaram greve com ocupação de fábrica, buscando a solidariedade da população e abrindo uma campanha de boicote aos produtos da Coca Cola. As assembleias de base firmaram o caminho da coordenação com Panrico e outras greves, com manifestações unificadas e demonstrações de solidariedade de diversas categorias operárias na Europa.

Esta luta, que continua contra todas as manobras da empresa, até a reabertura definitiva de Fuenlabrada e do restante das plantas, e a readmissão de todos os trabalhadores aos postos de trabalho, dá alento ã difícil batalha de classe dos operários em Panrico.

Panrico: a luta deve seguir contra os planos da patronal

Nas semanas anteriores, para fazer frente a esta heroica greve, a tríade entre o Governo da Catalunha (Generalitat), a empresa e a burocracia sindical de CCOO (Comissões Operárias) começou a trabalhar incansavelmente para derrotar os trabalhadores. A Generalitat permitiu a violação do direito de greve pela empresa, enquanto a burocracia sindical reforçou o isolamento a que vinha submetendo os grevistas, boicotando qualquer campanha de fundo de greve, tratando insistentemente de acabar com a luta, inclusive convocando supervisores e gerentes para votar o retorno ao trabalho nas assembleias. Nesta difícil situação, como viemos expressando no Palavra Operária, depois de rechaçar a tentativa do Governo catalào de mediar o conflito em favor da empresa, os trabalhadores, com 98 votos a favor e 45 contra, decidiram levantar a greve.

Apesar de contar com fortes argumentos legais para exigir a anulação do ERE que pesa sobre a greve de Panrico, esta foi castigada pela mesma Audiência Nacional com uma sentença exemplar, com claro caráter punitivo, contra o exemplo que significava ao conjunto da classe operária europeia – com oito meses de piquetes, mobilizações unitárias e campanhas democráticas de fundo de greve e de boicote ã marca, que comoveram o país – como também por terem se rebelado contra sua direção sindical burocrática, que desde o início da greve em 2013 se colocava no papel de porta-voz da empresa.

Desde o Clase contra Clase (organização irmã da LER-QI no Estado Espanhol), estivemos desde o primeiro dia em todas as medidas junto aos trabalhadores em greve, nos piquetes, atividades públicas, movendo junto aos operários campanhas democráticas, com fundos de luta, e de solidariedade nacional e internacional. Vemos necessário, assim como durante a greve, colocar todas as nossas forças para que esta luta continue. Para nós, ainda era possível quebrar a resistência da patronal mantendo a greve e apontando medidas contundentes contra o governo da Generalitat (a luta de Coca Cola verificou a verdade do que cantavam os companheiros, “Se pode, se deve, lutar contra os EREs”). Que a luta de Panrico não pudesse triunfar como a de Coca Cola está, em grande medida, no papel nefasto da burocracia sindical de CCOO, e mostrou em gérmen que só varrendo a burocracia dos sindicatos e das comissões internas das fábricas é possível colocar de pé um novo movimento operário no Estado espanhol. Esta grande lição se expressou no retorno ao trabalho: o Comitê de Empresa de Panrico-Santa Perpetua (dirigida pela burocracia) veio anunciar que a empresa não deixaria nenhum trabalhador entrar e mandava todos de férias; quando acabou de falar, um grupo de trabalhadores imediatamente anunciou ante a imprensa que juntariam assinaturas para revogar o Comitê, que esteve contra a greve desde o começo. Para poder continuar a batalha em melhores condições, há uma valiosíssima experiência acumulada pelos companheiros de Panrico: é preciso concentrar e organizar a força dos trabalhadores de Panrico para derrotar a burocracia sindical como parte da luta contra as demissões, e conquistar uma comissão interna ã altura do heroísmo que demonstraram.

Em meio ã crise econômica e ã crise política no país após a abdicação do Rei Juan Carlos I, Panrico e Coca Cola já mostraram qual é o caminho para enfrentar a Reforma Trabalhista deste podre regime com ares medievais e seus partidos patronais: a greve, o boicote, a soberania das assembleias, a coordenação desde as bases e a democracia operária contra a burocracia sindical. Este é o caminho para superar as travas burocráticas do PSOE (que dirige a UGT) e do Partido Comunista Espanhol (PCE, que dirige a CCOO), que contêm as bases e permitem os ataques patronais ás conquistas operárias. Estas greves revigoram o potencial transformador da classe operária e seus métodos de luta.

 

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