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Aprofunda-se a crise na Ucrânia
por : Diego Dalai

15 May 2014 | A crise na Ucrânia segue escalando, tanto no plano político como em terra onde continuam os enfrentamentos com dezenas de mortos e feridos. Domingo, 11 de maio, ocorreram dois referenduns independentistas nas regiões de Donetsk e Lugansk no leste do país. Estes comícios tiveram uma participação aproximada de 75% e ganhou a opção de independentizar-se (...)
Aprofunda-se a crise na Ucrânia

A crise na Ucrânia segue escalando, tanto no plano político como em terra onde continuam os enfrentamentos com dezenas de mortos e feridos. Domingo, 11 de maio, ocorreram dois referenduns independentistas nas regiões de Donetsk e Lugansk no leste do país. Estes comícios tiveram uma participação aproximada de 75% e ganhou a opção de independentizar-se do governo central de Kiev com 86%. Com este aval os dirigentes de ambas regiões declararam a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk e anunciaram o início de conversações para unificar ambas regiões em uma única unidade política que poderia chamar-se Nova Rússia e que tentaria se anexar ã Rússia de Putin.

De sua parte, o governo pró-europeu de O. Turchínov, que assumiu em 22 de fevereiro após o derrocamento do ex-presidente pró-russo Yanúkovich, não reconheceu o referendum e o há rotulado como ilegal e impulsionado por terroristas. A estratégia para deslegitimar seu governo está colocada nas eleições gerais de convocadas para 25 de maio que contam com o apoio da União Européia e dos EUA. As regiões separatistas anunciaram que não reconhecem as eleições e que seguirão seu caminho pela independência para o qual convocaram uma Assembléia Legislativa que redigirá uma Constituição.

A Rússia, que vem apoiando aos separatistas, havia pedido que se suspendessem os referenduns para não agravar a situação, ao mesmo tempo que se pronunciou contra realizar eleições gerais em meio ã ofensiva militar que lançou Kiev a princípios de maio sobre as regiões orientais. No entanto, uma vez que os separatistas mantiveram os referenduns, realizados apesar de todas as pressões da perseguição militar do exército que conseguiu fechar várias escolas, o governo de Putin deu declarações ambíguas, sem reconhecer diretamente os referenduns, mas chamando a “aceitar a vontade do povo do leste”.

Mais próximo da guerra civil

Em terra, os enfrentamentos urbanos, longe de ceder, se aprofundam. Ao “massacre de Odessa” de princípios de maio, onde o exército e os paramilitares de ultra-direita incendiaram o edifício da Casa dos Sindicatos com dezenas de separatistas que se haviam refugiado ali, se somaram vários enfrentamentos em outras cidades, especialmente em Slaviansk, conhecida como “o bastião rebelde”, onde o exército destruiu com armas pesadas uma delegacia matando aos efetivos que haviam se negado a reprimir uma mobilização popular, e outras como Kramatorsk, onde em 13 de maio os rebeldes pró-russos mataram nove soldados ucranianos em uma emboscada, ou em Lugansk onde o “governador popular” foi ferido em um atentado.

Desta maneira, se vem escalando perigosamente em direção a uma guerra civil que confronta, por um lado as forças regulares do exército ucraniano, muito melhor equipado que os separatistas, junto a destacamentos paramilitares formados pelos partidos de ultra-direita, responsáveis dos principais ataques como o de Odessa, e pelo outro as milícias independentistas pró-russas que contam com o apoio majoritário da população nessas regiões, que inclusive saiu para enfrentar com paus e pedras ás forças de Kiev.

Os interesses em jogo

Se a situação ainda não gerou uma guerra civil aberta, se deve a que nem os imperialismos que intervêm, EUA e UE, nem a grande potência regional, Rússia, querem chegar a esse extremo. Em um país da importância geoestratégica e econômica da Ucrânia, um conflito aberto teria conseqüências imprevisíveis. O nível da confrontação atual já é o mais grave desde o fim da guerra fria e ainda que as sanções que até agora vêm impondo os EUA e a UE contra alguns funcionários russos sejam em essência formais (da mesma forma que as ameaças russas de não colaborar com a estação espacial internacional), a situação já tem conseqüências na OTAN, que desde os anos 90 conseguiu integrar a doze países que eram parte do Pacto de Varsóvia e zona de influência direta da União Soviética. Em 13 de maio o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou “mais apoio” e exercícios da OTAN nesses territórios e apontou preparar-se para “relações muito difíceis com a Rússia a largo prazo”, o que dá uma idéia dos riscos potenciais que poderia ter uma escalada militar na Ucrânia.

Por isso até o momento todos tratam de chegar a um acordo diplomático e evitar que o conflito se aprofunde. Contudo, nenhuma das grandes potências pode ceder além de certos limites muito limitados. A Rússia não pode aceitar a perda de influência neste país e sua eventual aproximação da OTAN, e com os referenduns de 11 de maio ficou em uma situação muito difícil, com margens de manobra ainda mais estreitas. Os EUA não pode retroceder e aparecer cedendo ã posição russa, pois além de deus interesses na Ucrânia, afetaria seriamente seu papel como principal potência mundial, tendendo a agravar conflitos crônicos como com a Coréia do Norte ou Irã entre outros.

A União Européia, dirigida fundamentalmente pela Alemanha, quer colocar a Ucrânia sob seu controle e debilitar a Rússia, mas deve manter uma postura mais moderada, já que não pode arriscar o abastecimento de gás russo, assim como tantos outros negócios que compartilham.

A negociação mais “aceitável” para todas as partes seria que os separatistas (e a Rússia) renunciem ás pretensões de independência e de anexação ã Rússia, aceitando o governo central de Kiev e ao mesmo tempo redigir uma nova Constituição que outorgue ampla autonomia econômica e política ás regiões (de forma tal que garanta ã Rússia, por exemplo, que a Ucrânia de conjunto não possa ingressar na OTAN). Evidentemente uma negociação muito difícil e sem entrar em questões secundárias como o desarmamento das milícias ou a anistia para os prisioneiros, que poderiam complicá-la ainda mais. As negociações em Genebra de finais de abril fracassaram logo após serem assinadas, o que mostra a grande dificuldade para chegar a acordos duradouros e aplicáveis na realidade.

Somente os trabalhadores podem dar uma saída progressiva

A grande mobilização e combates na praça Maidan que levaram ã queda do presidente pró-russo Yanukovich, acabaram dirigidas pela direita pró-européia e a ultra-direita fascista impondo um novo governo capitalista dirigido por Turchínov. Com o apoio dos EUA e da UE, o novo presidente negociou um “resgate” pelo FMI para apaziguar a crítica situação econômica ao preço de duríssimos planos de ajuste que deverão enfrentar as massas trabalhadoras e os pobres, em especial das regiões do leste onde se concentram as demissões, fechamentos de fábricas e retiradas de subsídios.

Por isso este novo governo pró-imperialista e ajustador, que não respeita a identidade cultural dos povos de fala russa, é ilegítimo entre as massas do leste da Ucrânia. Entretanto, as expectativas em uma saída favorável a seus interesses das mãos da Rússia de Putin são completamente falsas. O controle da Rússia sobre essas regiões significa o controle das máfias capitalistas russas associadas aos multimilionários oligarcas ucranianos pró-russos para explorar as massas do leste.

A classe trabalhadora é a única que pode oferecer um curso progressivo para a Ucrânia, independente tanto das potências imperialistas como da Rússia capitalista, e baseado em que a crise econômica seja paga pelos exploradores: os monopólios estrangeiros e os milionários locais.

 

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