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Existe fúria no povo trabalhador
por : PTS, Argentina

23 May 2007 | A rebelião popular em Santa Cruz e a fúria, expressa nesta terça-feira, 15 de maio, pelos passageiros na estação de trem Constituição, tem como elemento comum a raiva do povo trabalhador.

A rebelião popular em Santa Cruz e a fúria, expressa nesta terça-feira, 15 de maio, pelos passageiros na estação de trem Constituição, tem como elemento comum a raiva do povo trabalhador. Para os trabalhadores se trata de avançar na idéia que, se os enfrentamos com firmeza, o governo pode ser obrigado a retroceder e que Kirchner, apesar de seus discursos, governa para os mesmos grupos econômicos que se enriqueceram na ditadura, na década de 90 e que seguem fazendo na atualidade. Frente a Kirchner e a direita, é preciso colocar de pé um grande partido da classe trabalhadora.

A raiva obriga Kirchner retroceder

A rebelião popular em Santa Cruz e a fúria, expressa nesta terça-feira, 15 de maio, pelos passageiros na estação de trem Constituição, tem como elemento comum a raiva do povo trabalhador. No caso da estado patagônico, com um regime que têm impedido durante mais de quinze anos a realização de negociações paritárias, que mantêm o piso salarial dos professores mais baixos dos país e que não vacila em militarizar as escolar com a Gendarmaria e reprimir violentamente aos servidores municipais.

Um regime que tem beneficiado todos os negócios das empresas mineradoras, petroleiras e pesqueiras, e que tem permitido o enriquecimento dos amigos da família presidencial com a obra pública. E no caso da “revolta dos passageiros” a indignação por ter que viajar diariamente como animais, com serviços concessionados a empresários como Taselli, que recebem grande quantia de subsídios, mas não realizam as inversões mínimas para garantir a qualidade do serviço, como diziam os protagonistas da “terça de fúria”. Taselli, o mesmo empresário que tinha a seu cargo o controle da mina do Rio Turbio quando 14 mineradores morreram.

Também estão furiosos os trabalhadores que saem a lutar, apesar dos burocratas sindicais, como na FATE; ou no Correio oficial, onde auto-convocados se organizam exigindo a estatização definitiva e um salário equivalente ao custo de manter uma família; e entre aqueles que enfrentam manobras de esvaziamento, como os do Casino Flotante. Ou naqueles que estão dispostos a resistir ã prepotência das patronais como a da LAN, hoje enfrentada conjuntamente por pilotos aeroviários da APA. Com as eleições da Capital perto e as de outubro muito longe, o govero parece determinado para tentar de recuperar alguma da credibilidade perdida. Obrigado pela mobilização massiva, começou pelo ex-governador de Santa Cruz, Carlos Sancho e seu ministro de governo, o repudiado Daniel Varizat. E agora acaba de anunciar a separação de dois funcionários afetados pelo caso Skanska, Fulvio Madaro, o titular da ENARGAS, e Néstor Ulloa, a cargo da Fideicomisos Nación. Também parece ter caído em desgraça Guillhermo Moreno, um dos que estiveram por detrás da intervenção da INDEC. Mas, apesar disto, nessas semanas o duplo discurso governamental ficou evidente como nunca antes, em seus quatro anos de governo. Se até o abatido Menen voltou a falar dizendo que “há que lembrar os elogios que o próprio doutor Kirchner derramava sobre mim, afirmando que jamais havia tido um governante que ajudara tanto a Patagônia”.

Para os trabalhadores se trata de avançar na idéia que, se os enfrentamos com firmeza, o governo pode ser obrigado a retrocer e que Kirchner, apesar de seus discursos, governa para os mesmos grupos econômicos que se enriqueceram na ditadura, na década de 90 e que seguem fazendo na atualidade. Frente a Kirchner e a direita, é preciso colocar de pé um grande partido da classe trabalhadora.

Santa Cruz e o 2001

“Não precisamos fazer aparecer o estado do presidente no marco do enfraquecimento que ocorreu em dezembro de 2001 (...) aqui não tem nem haverá vazio de poder”, disse Daniel Peralta em sua assençao na sexta-feira passada, 11 de maio, enquanto, do lado de fora da “La Rosadita”, se organizava a maior manifestação que o estado já havia vivenciado. Aproximadamente 15 mil professores, municipais e estaduais marcharam pelas ruas de Rio Gallegos com ares de triunfo logo após forçar a renúncia do governador Carlos Sancho e do odiado ministro do governo Daniel Varizat.

O que foi que em Santa Cruz está relacionado com dezembro de 2001, e faz que aquelas jornadas sejam um ponto de referência obrigatório para a análise do que ocorreu? Não somente o “que se vão todos”, que foi uma das consignas mais cantadas nesses dias, mas que, efetivamente, um governador caiu como produto da ação direta nas ruas, da mobilização de massas, e nada menos que no estado do presidente, que se apresenta em todo o país como o herdeiro daquelas mobilizações que tiraram o De la Rúa.

Este enorme triunfo político de todos os trabalhadores do país, esta vez foi protagonizado pelos professores que recorreram a todos os métodos de luta acumulados na experiência destes anos. O centro foi a ação grevística, mas também se valeu de piquetes e fechamentos de vias em várias localidades, aos funcionários e políticos oficiais , aos panelaços e contou com o acompanhamento e a simpatia de importantes setores da classe média. Muitos pequenos comerciantes fecharam suas portas em apoio aos professores e em repudio a repressão.

Em Santa Cruz é um sentido comum dizer que isto foi “histórico”: todos fazem referência a que “ a gente se cansou dos últimos 17 anos”, quer dizer quando Néstor Kirchner assumiu o governo, impôs a lei de emergência econômica vigente, congelou as paritárias e os aumentos de salários ao mínimo, e privatizou a YPF. O de Santa Cruz é “histórico” porque, no mais profundo, o que expressa a mobilização encabeçada pela greve de professores é a revolta contra um regime de assombrosa continuidade como o de Menem, Cavallo e De la Rúa.

A substancial diferença é que Daniel Peralta não é exatamente um Rodriguez Saa - que assumiu em meio a ruína econômica e o default das arcas do Estado - mas que, pelo contrário, Santa Cruz está, como o país, em pleno crescimento econômico e o Estado conta com fundos milionários de regalías petroleiras. Peralta disse que “temos a maior mudança da história do estado”, mas se esqueceu de apontar que essa mudança “dos fundos do estado” foi para subsidiar as petroleiras e criar uma nova burguesia estadual, novos ricos que são sócios das grandes multi-nacionais petroleiras, pesqueiras e mineradoras. Isso é o que tem feito que um simples chofer do presidente, como Ruby Ulloa, tenha se tornado um poderoso empresário que controla um canal de TV, rádio, um diário de distribuição gratuita e que diz compraria grande parte do pacote de ações do Página/12. Ou que alguém que tinha uma imobiliária como Lázaro Báez com sua empresa Austral, seja hoje o papa da construção de obra pública e seja favorecido em concessões para uma série de explorações em novas áreas petroleiras.

Daniel Peralta assumiu para manter o essencial da continuidade dessas mesmas camarilhas, que para se perpertuar agora apelam ao “diálogo” e ã “negociação”. A partir de sua assenção há um novo momento político. O padre Romanín, que todos os dias se declarava contra o governador Sancho, agora visita Peralta em sua casa (ver foto) e fala de “esperança em uma solução”. A UCR, marcada pelo oficialismo como promotora da mobilização, votou na Câmara a favor da assenção de Peralta e o superintendente de Rio Gallegos, Héctor Roquel, disse que se abria “uma oportunidade”, certamente esperando que ganhe algo a mais no aparato estatal.

O escracho feito ã irmã do presidente, Alicia Kirchner, tentou ser utilizado pelo governo para colocar os grevistas na defensiva. Uma campanha de demonização que pretende igualar a “violência” de atirar ovos e farinha, com a repressão de gases e balas, inclusive de chumbo, como a utilizada contra os servidores municipais e pelo que não tem nenhum policial machicado, e inclusive com o novo governador Peralta segue em funções o odiado chefe de polícia Wilfredo Roque que a comandou. Assim tentam justificar a permanência das tropas da gendarmeria nacional e buscaram colocar os professores na defensiva. Mas eles têm respondido com o panelaço em que centenas de professores colocaram band-aids no rosto em alusão ã que usou a ministra na conferência para a TV.

No fechamento desta edição as assembléias da Adosac se reuniram para avaliar a proposta salarial do governo. A partir de todo o país tem que reivindicar que se retire a polícia de Santa Cruz e apoiá-los até que triunfem em seus reivindicações. Nas páginas centrais entrevistamos delegados da Adosac que refletem sobre sua experiência de luta e opinam sobre a necessidade de um partido da classe trabalhadora.

 

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