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Assassinos!
22 Aug 2012 | Mais de 30 pessoas foram mortas nos enfrentamentos de quinta feira entre grevistas e policiais em uma mina de extração de platina no Noroeste da África do Sul.

Por Yann Le Bras, CCR França

O pior crime contra os trabalhadores desde o fim do Apartheid

Mais de 30 pessoas foram mortas nos enfrentamentos de quinta feira entre grevistas e policiais em uma mina de extração de platina no Noroeste da África do Sul. O massacre ocorreu no sexto dia da greve dos trabalhadores da mina da sociedade britânica Lonmin – terceira sociedade de exploração de platina ao nível mundial em Marikana. Estas mortes se somam as dez outras que ocorreram nos atos violentos entre os sindicatos desde domingo nesta mina, onde várias centenas de grevistas reivindicam importantes aumentos salariais.

Os salários das minas de platina são os mais baixos da África do Sul e as condições de trabalho dos mineiros pouco mudaram desde o fim do Apartheid, há quase duas décadas. Como descreveu o Le Monde: “os mineiros, que vivem em barracos miseráveis juntos ã mina, acesso ã água corrente, recebem em torno de 4000 rands (moeda local) por mês (400 euros). Eles reivindicam um importante aumento de salários de até 1250 euros por mês.” “Nós somos explorados e nem o governo e nem os sindicatos vem a nossa ajuda”, declarou um deles na quarta feira, Thuso Masakerang, “as sociedades mineradoras ganham dinheiro graças ao nosso trabalho e eles não nos pagam quase nada. Nós não podemos nos oferecer uma vida decente. Nós vivemos como animais por causa dos salários de miséria” [1].

Antes do massacre dos mineiros em greve, em torno de 3000 dentre eles se encontravam juntos sobre uma colina com vista para a mina. A polícia tentou os prender cercando-os com um fio de corte utilizando gás lacrimogêneo, granadas ensurdecedoras e canhões de água. É na confusão criada por estes ataques que um coluna de mineiros armados de machados e de bastões se aproximou de uma linha de policiais armados com armas automáticas. Nesse momento, os policiais metralharam os trabalhadores sem defesa.

A cólera dos mineiros que provem de suas condições de vida é eloquente: “O porta-voz do sindicato dos mineiros, Lesiba Seshoka, declarou no canal de notícias 24 horas eNews que o presidente da AMCU, o pequeno sindicato que chamou a greve, tentou persuadir os mineiros a voltarem ao trabalho, em vão. “ Eles disseram para o sindicato que eles estavam dispostos a morrer (...) que eles não tinham a intenção de deixar o local que eles iriam chamar suas crianças a se juntarem a eles” sobre a colina onde eles estavam agrupados desde segunda” [2].

A repressão selvagem, que deu lugar a comparações com o massacre perpetrado pelo regime de apartheid em Sharpeville, em 1960, ou em Soweto em 1976, realizado com o apoio total do Congresso Nacional Africano (ANC), que está no poder atualmente, e o com o apoio do mais importante sindicato do país, a Unão Nacional dos Mineiros (NUM), que trabalhou com a direção da mina e governo para acabar com a greve.

O conflito foi sustentada pela desconfiança com o NUM a partir de um sindicato dissidente, a Associação dos Mineiros da Construção da União (AMCU), que organizou uma parte importante dos trabalhadores descontentes com a NUM por causa da subordinação de interesses dos mineiros aos interesses dos proprietários das minas e ao governo do ANC. Estas rupturas de sindicatos atrelados ao ANC são sintomáticas da agitação crescente no seio da classe trabalhadora e do forte descontentamento engendrado pelo nível de desigualdade social na África do Sul, que está entre os mais elevados do mundo.

Tudo isso aponta que o desmantelamento do Apartheid foi em verdade um tipo de « guepardismo » [3]. Negros visando salvar o povo Branco. Durante os anos 1980, a mobilização e a atividade da classe operária Negra foi tão intensa que ela começou a ameaça a dominação da burguesia Branca. Esta última já não podia mais assentar seu poder unicamente pela utilização da repressão. O imperialismo americano percebeu que a situação tinha se tornado insustentável. O governo dos EUA exerceu uma forte pressão sobre o governo de De Klerk (presidente da África do Sul na época) e sobre outros representantes da classe dirigente para forçar a aceitar algumas concessões.

O acordo proposto por De Klerk ao Congresso Nacional Africano (ANC), foi a formação de um governo de compromisso com os representantes de todas as partes, conduzido por Mandela. A direção do ANC, em particular Mandela, aceitou compor um governo com a classe dirigente Branca em troca de sua integração no governo. Os dirigentes do ANC, quanto aos Negros, decidiram aceitar a aplicação de políticas de ajuste na economia, a manutenção da dominação do capital Branco, e a garantia que nenhuma medida fosse tomada contra os responsáveis dos crimes do Apartheid, e assim por diante. Em outras palavras, se tratou de uma capitulação aberta, em troca de uma reforma superficial de apartheid, sem a qual a transição não teria podido ocorrer.

O massacre dos mineiros de Marikana lançou luz sobre as condições de vida deploráveis dos trabalhadores negros na África do Sul e abriu uma crise política importante no seio do regime dirigido pelo ANC. Não haverá solução estrutural aos problemas dos trabalhadores e das camadas populares sul-africanas sem uma mudança radical, uma verdadeira revolução operária e socialista não somente contra a burguesia Branca mas também contra seus lugar-tenentes do ANC.

Notas

1] Le Monde 16.08.2012

[2] Idem

[3] Em referência a frase « Se nós queremos tudo fi que como está, é preciso que tudo mude », trecho do romance o Guepardo, de Guiseppe Tomasi.

 

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