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Diante dos incidentes de Port Said se reabre a crise política
por : Claudia Cinatti

03 Feb 2012 | Os violentos incidentes em Port Said após uma partida de futebol não foram mais um enfretamento entre simpatizantes de dois times rivais mas algo que emerge de uma situação instável e repleta de profundas contradições sociais e políticas.

Os violentos incidentes em Port Said após uma partida de futebol não foram mais um enfretamento entre simpatizantes de dois times rivais mas algo que emerge de uma situação instável e repleta de profundas contradições sociais e políticas. No dia seguinte de uma das jornadas mais violentas dos últimos anos que deixou um saldo de 73 mortos e centenas de feridos, uma multidão voltou a tomar as ruas de Cairo para exigir o fim do governo militar, responsabilizando o governo pelo desastre e acusando-o de ter instigado os enfrentamentos. Segundo o que denunciam os simpatizantes do time agredido, a maioria dos mortos são espectadores que tentavam fugir desesperadamente do estádio, mas encontraram as portas fechadas e perderam a vida no corre-corre. As hipóteses são várias: desde quem suspeita da participação das forças de segurança nos incidentes com o objetivo de justificar com a violência a continuidade das medidas repressivas, até os que afirmam que se tratou de uma vingança da polícia contra os “ultras” – os grupos das torcidas de futebol que atuaram em defesa da praça Tahrir em diversas mobilizações enfrentando a repressão e tiveram um papel destacado na chamada “batalha dos camelos” na qual foram derrotadas as forças de Mubarak. No entanto, mais além de como tenham se desencadeado os fatos, o certo é que, como em incidentes anteriores como o ataque orquestrado contra os cristãos coptas em outubro de 2011, todos os indícios apontam para as forças de segurança.

A Irmandade Muçulmana fez eco com as denuncias contra funcionários do regime e convocou uma sessão de emergência do parlamento para tratar de conter a situação. O Conselho Supremo das Forças Armadas, antecipando-se ã resposta popular, decretou três dias de luto, aceitou a renúncia do governo de Port Said e prendeu a chefe de segurança do local. Entretanto, estas medidas não foram suficientes para evitar o estouro de uma nova crise política com final incerto.

Há um ano das mobilizações que culminaram na queda de Mubarak o processo revolucionário egípcio continua aberto. As eleições legislativas atuaram como um certo desvio diante das intensas mobilizações de novembro. Graças ao acordo com a Irmandade Muçulmana e o aval dos Estados Unidos e outras potências imperialistas, a junta militar se mante
ve no poder e nomeou um de seus agentes, Al Ganzuri, como primeiro ministro. Como resultados das eleições, os dois partidos islamistas – o Partido da Liberdade e da Justiça (Irmandade Muçulmana) e Al Nur ligado ao islamismo salafista – se transformaram nas principais forças politicas do país, com uma maioria parlamentar que gira em torno de 70% entre ambos. Mas este desvio está longe de ter se consolidado. Os incidentes de Port Said não goram um estouro de uma violência isolada. Poucos dias antes, uma mobilização massiva que tentava chegar ao parlamento para exigir o fim do regime militar se encontrou com uma importante força de choque da Irmandade Muçulmana que aos golpes tentou dissolver o protesto. A mobilização colocou em questão a legitimidade do parlamento e abriu um questionamento sobre a capacidade da Irmandade Muçulmana para atuar ao mesmo tempo como força auxiliar e polícia do regime militar contra os setores mais radicalizados dos jovens e trabalhadores.

As profundas contradições que levaram ã explosão do processo revolucionário ressurgem com força nas mobilizações e greves, como se viu no imponente protesto do dia 25 de janeiro a propósito do primeiro aniversário do inicio das mobilizações, que reuniu centenas de milhares de pessoas sob a consigna de “abaixo o regime militar”.

O exército, a burguesia local, os partidos que defendem o estado capitalista – sejam liberais ou islà¢micos como a Irmandade Muçulmana – e o imperialismo buscam estabilizar uma “transição” para um regime de democracia burguesa tutelada, que preserve o papel dos militares como instituição fundamental do regime e garanta seus interesses econômicos e geopolíticos, entre eles o tratado de paz com o estado de Israel. Depois de um ano de luta, o caráter contra-revolucionário deste plano começa a ser evidente para setores da vanguarda operária e da juventude que tiraram a conclusão de que estas forças estão expropriando sua revolução e que devem enfrentá-las. Para derrota-las é necessário forjar uma aliança operária e popular e preparar uma greve geral insurrecional que coloque abaixo o regime militar com a perspectiva de colocar de pé um governo dos trabalhadores e do povo.

02-02-2012

 

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