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Uma resposta ã polêmica da LIT/PSTU: Teoria, tática e estratégia a serviço de justificar aliança com o PSOL ou para a massificação e combatividade do movimento?
por : LER-QI, Brasil

17 Dec 2011 | Os estudantes da USP em luta têm uma série de inimigos a enfrentar. Em primeiro lugar a Reitoria e sua burocracia acadêmica, mas também o governo do Estado dirigido por Geraldo Alckmin (PSDB) e a imprensa de direita, que faz um serviço sujo para isolar o movimento da opinião (...)

Por Bruno Gilga , Leandro Ventura

Os estudantes da USP em luta têm uma série de inimigos a enfrentar. Em primeiro lugar a Reitoria e sua burocracia acadêmica, mas também o governo do Estado dirigido por Geraldo Alckmin (PSDB) e a imprensa de direita, que faz um serviço sujo para isolar o movimento da opinião pública. Diante de inimigos de tal magnitude, a Liga Internacionalista dos Trabalhadores (LIT-CI), organização internacional da qual faz parte o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) publica na capa de seu site um longo artigo assinado por Ronald León com o título “Os estudantes da USP precisam vencer... apesar da LER-QI”. Falta de proporções ou “perda de norte estratégico”, o fato é que a LIT, em meio a toda a repressão que vêm sofrendo os lutadores e lutadoras da USP, com processos administrativos, 73 presos políticos e ameaça de expulsão dos estudantes, vem a público dizer que o principal obstáculo para a luta dos estudantes da USP é a LER-QI (!). Neste texto buscaremos polemizar com as posições políticas e acusações apresentadas pela LIT, demonstrando que detrás desse longo texto onde buscam argumentar que seriamos uma seita ultra-esquerdista e burocrática com moral stalinista que ignora análise de correlações de força, entre outras críticas e acusações, está na verdade, uma defesa encoberta da estratégia do PSTU de seguir o PSOL, também sua incapacidade em levar a luta contra a PM na USP até o final, pelo simples fato de seu partido apoiar a “luta” dos policiais em diversos estados, como recentemente no Maranhão.


Por que o PSOL e PSTU não lutam consequentemente contra a polícia na USP?

Em meio ás ocupações nas favelas do Rio de Janeiro, avançando na militarização dos bairros pobres através das chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), os estudantes da USP protagonizam uma das maiores lutas estudantis dos últimos anos, tendo como centro a questão da polícia. Com ocupações, atos massivos de rua e atividades cotidianas na universidade, os estudantes também priorizam a pauta contra a perseguição política. Como fruto deste combate ã polícia, 73 estudantes e trabalhadores foram presos e agora estão ameaçados por processos judiciais. Além disso, acumula-se ao longo dos anos dezenas de processos administrativos contra estudantes e trabalhadores, assim como a demissão inconstitucional de Claudionor Brandão, diretor do Sintusp e militante da LER-QI.

Tudo isso ocorre em meio a um clima de repressão social no campo e na cidade, que busca salvaguardar todas as condições para garantir o “bom andamento” da Copa e das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, e que se soma a perseguições na Universidade Federal de Rondônia – com ameaça de morte aos estudantes e professores -, com o recente assassinato de um militante do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST) e com a absolvição do policial que assassinou, há 11 anos, Gildo Rocha, sindicalista e militante do PSTU. Recentemente o governador de São Paulo Geraldo Alckmin nomeou um dos réus do Massacre do Carandiru (1992) para chefiar a Rota, comando da Polícia Militar de São Paulo. Reafirma-se que a violenta repressão policial, sobretudo aos mais pobres, é um dos pilares de sustentação do Estado brasileiro, mantida e aprofundada pelo governo federal do PT, que garante ainda impunidade aos torturadores e colaboradores da ditadura militar.

O ganho que a burguesia teve com a instalação das UPPs pressiona toda a esquerda e faz parlamentares do PSOL, como Marcelo Freixo, adotarem posturas completamente dúbias em relação as mesmas, expressando uma linha geral de humanização da polícia e do Estado burguês. É esta adaptação ao senso comum de “segurança pública” que motiva, com suas diferenças, o fato de PSTU e PSOL não serem capazes de levar até o final a luta contra a polícia, nem mesmo na USP.

Os estudantes da USP colocam no centro de sua mobilização um tema nacional, e dentro desta luta se expressam distintas estratégias tanto para a luta estudantil quanto para a luta contra a polícia. A LER-QI, ao lado de centenas de ativistas independentes, vem participando de todo este processo, buscando não somente levantar as formas de auto-organização dos estudantes que permitam estender e massificar a luta, - uma conquista para a expressão da base estudantil – como também ter uma política para moldar uma vanguarda que se ligue ás amplas massas estudantis. Uma vanguarda que leve de forma conseqüente o combate pela retirada da polícia da universidade, que deve estar intrinsecamente ligado com o questionamento do papel da polícia nos bairros, morros e favelas, e, portanto numa luta intransigente contra a repressão e o aparato policial. Combinado a isso, uma luta decidida em defesa de todos os lutadores e lutadoras, não permitindo que a Reitoria e o governo avancem sobre nosso movimento criminalizando estudantes e trabalhadores, como os 73 presos políticos da USP.

Essa é a lógica que nos leva a encarar, em pequeno, a luta na USP como uma grande oportunidade. Ela se dá em meio a uma situação nacional em que as ilusões de massas na polícia estão ainda mais agravadas pela campanha midiática para legitimar a polícia nos morros com o argumento de combate ao tráfico (que essa mesma polícia arma, e com quem mantem todo tipo de relação política e financeira). Mas faz toda diferença se não acreditamos que essa situação possa se manter por dois, cinco ou dez anos, tranquilamente, e sim que o avanço da militarização e da repressão são preparatórios, para a burguesia, para grandes confrontos de classe gestados pela crise capitalista. Uma crise que já impõe ataques com os quais, cada vez mais, se chocarão os anseios gradualistas e consumistas que 8 anos de lulismo e crescimento econômico forjaram, e que, portanto, também os trabalhadores e seus aliados precisam se preparar, moldando, em cada oportunidade, uma vanguarda contra a polícia e ansiosa por se ligar ã população e aos trabalhadores.

Nada faria sentido na discussão atual, se o PSTU partisse, do ponto de vista estratégico, de uma posição classista firme pela dissolução de todas as polícias e sua substituição pelo povo em armas, único programa marxista para a questão. Mas esse partido educa sua militância com a ideia de que os policiais seriam trabalhadores, que poderiam ser ganhos para uma política revolucionária a partir de moções e apoios a suas greves (como argumentou Eduardo Almeida em polêmica conosco quando da discussão sobre os bombeiros). Defendem a dissolução das atuais polícias para criar uma nova que fosse civil, como diz Eduardo Almeida em um artigo de 2009: “A nova polícia teria que se organizar de forma radicalmente diferente da atual. Deve desaparecer a diferença entre polícia civil e militar, que não serve de nada, e assegurar todas as liberdades sindicais e políticas a seus participantes. É preciso também que seus comandantes ou delegados sejam eleitos pela população da região onde atuam. Ao contrário dos que se escandalizem com a proposta, a eleição de delegados locais é realizada em muitos países, inclusive nos EUA. É uma forma democrática de comprometer esses comandantes com a população local”[1] . Ora, nos Estados Unidos o que existe são verdadeiros “xerifes” eleitos que, como todos sabem não impedem em nada que a polícia seja anti-operária e racista – mesmo com todos epítetos democráticos é uma polícia que é odiada por reprimir quem luta – a quem tem dúvidas, basta olhar as mobilizações contra a polícia dos estudantes universitários da Califórnia recentemente.

Com este programa e esta orientação política apóiam medidas reacionárias como a PEC 300 que exige salários acima do salário mínimo do DIEESE a policiais e bombeiros, e na prática muitas vezes voltam mais atenção a estes motins do que para a luta dos trabalhadores e da juventude. Isto se expressa na militância que tiveram quando do motim dos bombeiros no Rio de Janeiro, e recentemente com seu apoio a policiais e bombeiros no Maranhão. A ANEL (entidade estudantil dirigida pelo PSTU) se fez campeã dos bombeiros no Rio e agora no Maranhão, mas sequer esteve presente no ato pela retirada dos inquéritos ilegais aos 73 presos políticos da USP

Esta política é ainda mais absurda se levarmos em consideração que se trata de uma polícia que como a paulista tem no símbolo oficial de seu brasão a repressão a greves gerais como a de 1917 e o golpe de 1964. Para completar é uma polícia que mata, a cada ano, 5 a 6 vezes mais que todas as polícias dos Estados Unidos. Os números da polícia carioca são ainda maiores que os da polícia paulista. É neste país e não em algum outro que o PSTU chama estes assassinos de trabalhadores![2]

Vale lembrar a clássica passagem de Trotsky, em sua obra prima Revolução e Contra-revolução na Alemanha, nela ele define a atitude dos revolucionários perante a polícia: "O fato de que os agentes de polícia tenham sido recrutados em grande parte entre os operários social-democratas não quer dizer absolutamente nada. Aqui também a existência determina a consciência. O operário que se torna um policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês, não um operário. Durante esses últimos anos, esses policiais tiveram de lutar muito mais contra os operários revolucionários do que contra os estudantes nacional-socialistas. Uma escola desse tipo não pode não deixar marcas. Porém o mais importante é que cada policial sabe que os governos mudam, porém a polícia fica”[3] . Ainda que recebam baixos salários, e sejam maltratados pelos superiores hierárquicos, isso não significa de nenhum modo que os policiais sejam “explorados”. Um operário é explorado porque rende mais-valia ao patrão. O policial amordaça o operário e ajuda o patrão a mantê-lo escravizado.

Dito isso, passemos a uma breve síntese dos fatos na luta atual.

Por que o PSTU esconde o dia 27/10?

A “gota d’água” que fez explodir uma luta que já estava latente em amplos setores estudantis, a luta contra a polícia, foi a repressão a três estudantes que supostamente estavam fumando maconha dentro da universidade, no dia 27/10.

Essa ação policial foi uma clara quebra da “correlação de forças”, e, por isso, desatou uma reação massiva dos estudantes. Mas esse fator, lamentavelmente, não entra no cálculo da “correlação de forças” que o PSTU faz, como veremos mais abaixo. Aliás, a versão que o PSTU divulgou oculta isso. Mas é só pesquisar um pouco a respeito, e aparecem vídeos do que aconteceu naquele dia, que valem por mil palavras[4] . Depois de assistir a esses vídeos, qualquer um se envergonharia do palavrório do PSTU sobre a “ação irresponsável” de ocupar a administração da FFLCH. Mas na polêmica da LIT, elaborado por alguém provavelmente muito mal informado e afoito em acusar a LER-QI de aventureira, nega que esta foi uma ação semi-espontânea de centenas de estudantes que, apoiados em outros milhares, contestam a polícia e não concordam que ela esteja na USP para viabilizar a implementação do projeto de Rodas.

Nós acompanhamos a ação e radicalização dos estudantes nesta explosão semi-espontânea de combate ã polícia.. Por conta disso, na visão da LIT/PSTU, teríamos cometido nosso primeiro grande pecado “esquerdista” na luta atual! Já sobre o fato publicamente conhecido de que o PSOL escoltou esses estudantes para o carro que os levou ã delegacia, fazendo um cordão de isolamento contra os estudantes que rechaçavam a polícia, o PSTU diz... nada!

Quando ações de luta atrapalham calendários eleitorais

Entretanto, como o PSTU e o PSOL são partidos que não atuam de acordo com a luta de classes, mas sim de acordo com seus calendários, viram nas duas ocupações (da FFLCH e da Reitoria) um obstáculo a seus objetivos eleitorais (eleições pro DCE). Afinal qualquer ponto fora da curva (uma ocupação semi-espontânea, por exemplo) poderia colocar tudo a perder, sobretudo com uma pauta tão espinhosa frente ã opinião pública como desenvolvemos mais ã frente. Por isso, se submeteram ã Ocupação da FFLCH apenas para defenderem o fim da Ocupação com o falso argumento de que seria um obstáculo para chegar a todos os estudantes da USP, a toda a massa estudantil. Aqui tentaram transformar o que era uma mobilização inicial dos estudantes da FFLCH, votando uma Ocupação na sua própria Faculdade, numa luta que deveria ser decidida pelo conjunto das massas estudantis – e que, sendo assim, não poderia ser levada adiante. Toda esta manobra arquitetada, passando por discussões na Congregação da FFLCH, foi amplamente rechaçada por um importante setor de estudantes que estavam na assembléia de 01/11 – e não um “grupo”, como eles insistem em dizer.

Quem decide o fim de uma assembleia? Centenas de estudantes ou um acordo de correntes pelo alto?

A verdade, noticiada até por jornais burgueses como o Estadão, é de que a própria desocupação da FFLCH foi decidida por 559 a 458 votos. Isso considerando que DCE, PSOL e PSTU estavam blocados nessa proposta. Fica claro que, se o PSTU estivesse ao lado do combate, e não querendo preservar seus aliados do PSOL a todo custo, a assembleia teria mantido a primeira ocupação. Mas o que pode acontecer quando a direção de um movimento tenta frear uma luta que ainda pode avançar? Acontece o que é chamado de “passar por cima das direções burocráticas”. Portanto as centenas de estudantes que se mantiveram na assembléia não aceitaram a manobra da implosão, seguiram com a pauta e votaram a ocupação da Reitoria. Sendo assim, é um falseamento da realidade o que Ronald Leon publica em seu texto: “Depois do horário máximo marcado pela assembleia e a declaração de seu final, um grupo de estudantes, encabeçado pela LER, resolveu ocupar outro prédio da USP, desta vez a própria reitoria. Esta ocupação, decidida pelas costas das instâncias deliberativas e resolutivas legítimas dos estudantes, não só permaneceu isolada como também dividiu o movimento estudantil”.

É democrático que uma corrente política decida terminar uma assembleia quando vai ser votada uma proposta que ela não concorda como fizeram o PSTU e o PSOL na assembléia que votou a ocupação da reitoria, retirando-se antes desta votação para evitá-la? Não é a assembléia que deve avaliar um teto de horário que ela própria fixou? Quem realmente “não reconheceu a soberania daquela assembleia”? Quem realmente “dividiu o movimento”? Foi mesmo a LER-QI que se colocou como obstáculo para que “os estudantes da USP possam vencer”?! Esses partidos, supostos defensores da “democracia das assembléias”, depois seguidos neste argumento preciso pela Veja, Estadão, Reitoria e governo do Estado, atuaram na verdade cumprindo o papel de burocracia estudantil para colocar fim à luta dos estudantes. Dizer que a decisão de ocupar a Reitoria foi feita pelas costas dos estudantes, isso sim é uma calúnia.

Quem luta seriamente por organizações estudantis democráticas e de luta? O PSTU se “esquece” da luta contra a burocratização do DCE!

A eleição do comando de greve a partir de uma representação das assembléias de curso em uma proporção de um delegado, revogável, a cada 20 presentes foi uma imensa novidade nesta luta. O professor Luiz Martins, aliado de primeira hora dos estudantes e trabalhadores da USP marcou no ato pela retirada do inquérito aos 73 presos, como esta novidade se constitui num enorme avanço em relação a greve de 2007.

Essa conquista é um exemplo para o movimento estudantil e sindical de todo o país, permitindo que o Brasil dê alguns passos no sentido de grandes exemplos de auto-organização que surgiram em outros países, como as coordenações de delegados de base na greve da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam) em 2000 e nas lutas contra o CPE (Contrato de Primeiro Emprego, que precarizava o trabalho da juventude) na França em 2006. É evidente que seria necessário avançar muito para que o comando de greve se consolidasse como direção da luta, com representação de massas de todos os principais cursos da USP. Porém a atitude de cada corrente frente a esse importante passo dado pelo movimento estudantil nesse ano, não deixa dúvidas sobre quem luta seriamente por organizações democráticas e combativas capazes de concentrar politicamente a força das bases.

Ronald em seu texto afirma que “Foi assim que, na USP, ao defender a importância do comando de greve que se constituiu (que é correto), começaram a questionar a legitimidade do DCE como entidade de massas, como instância legítima dos estudantes (um erro grave, típico de todo ultraesquerdista ou do anarquismo)”. Excelente! Esperamos que o PSTU tenha realmente tirado essa lição do conflito! Pois, até então, em todos os conflitos, sempre foram contrários ã criação de comandos com delegados revogáveis eleitos nas assembleias de base, aos que sempre opunham os “comandos abertos” de mãos dadas com as burocracias estudantis de direita e de esquerda. Basta rever nossas polêmicas com o PSTU na greve de 2009 e de 2007 na USP. E como mostra de que até então isso vinha sendo uma concepção dessa corrente inclusive em nível internacional: na grande greve de 11 meses da Unam em 2000, a sessão da LIT nesse país ficou junto com a “ala moderada” contra o Comando General de Huelga (CGH)[5] . Esperamos que essa mudança não seja apenas uma posição pragmática para não ficar ainda mais mal localizado em função de sua proximidade com o PSOL - que secundariza o papel do comando, defende que não possa sequer transmitir indicativos de uns cursos para outros, e no caso de algumas correntes como o MES, esvazia o comando através do boicote da maior parte dos delegados que elegeu –, apesar do PSTU nunca ter criticado isso. Em seguida diz “Nós temos muitas críticas ã atual direção do DCE da USP, nas mãos de correntes ligadas ao PSOL, mas isso nunca nos pode levar a questionar o DCE como entidade representativa dos estudantes”[6] . Apesar de ninguém conhecer as tais críticas ã atual direção do DCE da USP, o que se vê é que a intenção da polêmica é ocultar como o próprio PSTU tem uma posição vacilante em relação ao comando, de ás vezes legitimá-lo e as vezes boicotá-lo de acordo com os interesses de sua aliança com o PSOL.

Em seu afã polêmico, a LIT toma isoladamente uma frase em que opomos as eleições ano a ano por fora do que está acontecendo e a democracia das assembléias de curso, e utilizam a expressão “democracia dos que lutam” para transformar nossa posição em algo vanguardista e sectário, afirmando que defenderíamos o seguinte: “como a democracia é ‘para os que lutam’ e não para as massas, nossos brilhantes estrategistas só participam e acatam as decisões das assembleias quando estas coincidem com sua política e suas propostas de ação.”[7] Com isso falsifica nossa posição estratégica sobre essa questão, que pode ser verificada não só nos inúmeros textos que publicamos no atual conflito da USP, mas também em todas as nossas elaborações sobre outros conflitos da luta de classes não só no Brasil mas também por parte das outras organizações que conformam nossa corrente internacional a Fração Trotskista. Além disto ignora todas as exigências que fizemos ao DCE para este se submeter ao comando de greve (inclusive na seqüência do próprio texto que utilizam para esta polêmica em questão).

Por trás desta polêmica sobre a tal “democracia dos que lutam” está o verdadeiro incômodo do PSTU, que é o fato de que exista um organismo (que não é uma entidade) que expresse desde a base a posição dos estudantes. Como pode ser que o PSTU queira dizer que nós buscamos uma política de “poucos iluminados” quando fomos nós os que propusemos a criação do Comando de Greve, resgatando o melhor da experiência do movimento estudantil combativo em diversos países? Não é ã toa que seja esta corrente, e também o PSOL, que tiveram a política aberta de boicote a várias reuniões do Comando de Greve. Ao mesmo tempo, ao invés de desenvolverem uma combinação entre as assembleias de curso e as assembleias gerais, de modo que o movimento fosse se dotando de mecanismos cada vez mais democráticos e poderosos para politizar o debate na base e atrair setores cada vez mais amplos para a luta, a aliança PSOL-PSTU atuou para transformar as assembléias gerais em verdadeiros “comícios”, sem discussão política séria e sem permitir a expressão da base onde poucos além dos dirigentes das correntes conseguem se expressar. Nossa política, ao contrário, foi sempre de incentivar que o movimento partisse da base, permitindo que suas posições, minoritárias ou majoritárias, sejam levadas ao Comando de Greve por delegados eleitos nestas próprias assembléias de curso, com mandatos da base e revogáveis. Com o argumento de que o comando só pode executar as decisões das assembléias gerais, que eles próprios transformam em “comícios”, o PSOL e o PSTU impedem que este atue como organismo que unifica e coordena as assembleias de base, se colocando contra, até mesmo, que o comando possa levar uma proposta de ato votada numa assembleia de base como indicativo ás demais.

O PSTU, por exemplo, reivindica a Ocupação de 2007 como legítima, até porque já seria demasiado, até para eles mesmos, dado o caráter massivo e o impacto nacional daquele movimento (que foi favorecido pela postura inicial dos três reitores das estaduais, contrários aos decretos de Serra). Mas esse partido nunca diz que, também ali, e apesar dessas circunstâncias extraordinárias, defendeu mais de 6 vezes a desocupação a partir do momento em que ela completou cinco dias, felizmente a força do movimento conseguiu derrotar o bloco conformado por eles, PSOL, PT e PCdoB, e fazer com que a ocupação resistisse 51 dias e levasse a uma onda de ocupações pelo país. Tampouco extrai lições óbvias daquele conflito. O fato da Ocupação de 2007 ter se transformado em um “fim em si mesmo”, se isolando dos estudantes e sem uma política de massificação, foi um erro muito importante do movimento. Não ter uma política de auto-organização forte, que permitisse que os estudantes desde a base tomassem pra si o “pulso da greve”, também foi um atraso enorme. Mas a verdade é que, enquanto nós da LER-QI defendíamos praticamente sozinhos a formação de um organismo desse tipo, o PSTU, o PSOL, e em alguns momentos o MNN, cada qual por suas razões, formavam objetivamente um bloco contra essa proposta.

Agora, para polemizar conosco, a LIT e o PSTU tentam dizer que somos contra as entidades já existentes (!), ou que estamos contra a participação dos membros do DCE e dos Centros Acadêmicos no Comando de Greve. Ronald afirma “Somente com um movimento forte e unificado será possível conquistar a vitória. A LER se nega a construir esse movimento, assim como se nega a reconhecer as entidades históricas e legítimas do movimento estudantil. Desse modo, não atua no sentido desta grande tarefa”. Dizer que nós “nos negamos a reconhecer” as entidades é uma evidente falsificação, pois todos os membros de gestão podem participar do comando, a maioria efetivamente tem delegados eleitos, e nós - contrariamente inclusive a pequenas correntes na USP que hoje (mas nem sempre) defendem o comando por delegados – desde o início buscamos medidas para comprometer o DCE com o comando, e exigir a participação de seus, quase sempre ausentes, delegados, coisa que o PSTU mesmo nunca fez, apesar de sua aliança privilegiada com o PSOL.

O que se esconde aqui, que é verdadeiramente chocante, é que o PSTU se mostra sempre disposto a fazer uma reivindicação incondicional das “organizações de massas” sem discutir o problema de sua burocratização. Além de confundir a luta impiedosa que nós travamos contra as direções conciliadoras como a do PSOL no DCE com um problema de “negar a legitimidade” das entidades, o PSTU não percebe que se deixa embriagar pelas próprias palavras. Esse partido chega ao ponto de tratar a “representatividade de massas” do próprio DCE como acima de qualquer suspeita, quando a realidade é que a participação da massa estudantil nas eleições para a entidade mal atinge 10% do estudantado da USP. “O cachimbo deixa a boca torta”, diz o ditado, e talvez por isso o PSTU não perceba que, em sua adaptação ã concepção superestruturalista de movimento, moldada historicamente pelo petismo, caiu no absurdo de deslegitimar assembleias de centenas e centenas de estudantes combativos, e fazer um completo “fetiche” de uma gestão de DCE eleita com 2 ou 3 mil votos em “tempos de paz” (num universo de cerca de 58 mil estudantes da graduação).

Por outro lado, reivindicam, assim como o PSOL, a soberania das assembléias, mas sem dizer que o DCE passou meses sem convocar uma assembléia. Nós, ao contrário do que dizem, não desconhecemos as organizações “tradicionais” das massas (sindicatos, centros acadêmicos, etc). Porém, lutamos para que se transformem em organizações democráticas que possam expressar as mudanças nas massas, porque a via eleitoral, dos votos uma vez por ano, expressa o anterior à luta. Não defendemos o “DCE como ele é”. Em momentos de luta como este, defendemos que o DCE se subordine ao Comando de Greve, questão que nunca ocorreu (e que o PSTU nunca denunciou). E nos casos em que as organizações “tradicionais” se enfrentem abertamente com as tendências mais democráticas e combativas das massas devemos “superá-las” assim como está presente na lógica de Trotsky no Programa de Transição ao tratar dos sindicatos[8] .

Cabe ainda apontar que esta falta de compreensão por parte do PSTU-LIT sobre a importância dos organismos de auto-organização, “ad-hoc”, surgidos no calor da luta, não é um problema que se restringe ã USP, tendo raízes políticas e teóricas mais profundas, e que determinou as posições equivocadas desta organização frente a processos mais importantes da luta de classes internacional. De uma perspectiva mais estratégica, nossa organização, a Fração Trotskista, já elaborou uma série de artigos e polêmicas apontando o problema contido na tradição de Nahuel Moreno, fundador da LIT, em relação ao abandono do combate pela estratégia soviética[9] .

Uma tentativa de desviar a discussão com argumentos “moralizantes”

Para tirar o foco de todos esses problemas, Ronald desvia para uma interpretação interessadamente distorcida de uma denúncia que fizemos da atuação do PSOL (e não do PSTU) nesse dia 27. Conforme dissemos em artigo publicado na época “A burocracia estudantil, o PSOL, que dirige o DCE cumpriu o ‘papel de polícia’ no movimento, ‘escoltando’ os estudantes até o carro da polícia, contra os que queriam expulsar a mesma. Protagonizaram uma das maiores traições que o movimento estudantil da USP já viu: um cordão de militantes do PSOL, Sandra Nitrini (Diretora da FFLCH) e a burocracia acadêmica entregando os estudantes para a polícia”[10] .

Sobre este fato em particular, Ronald quer fazer parecer que acusamos o PSTU de ter feito parte deste “cordão” que escoltou os estudantes, mas a citação acima de nosso texto deixa claro que se trata de uma inverdade: quem fez o cordão foi o PSOL e é isso que está escrito. O que cabe ao PSTU, neste caso, é questionar os seus aliados. Não é estranho que o PSTU gaste mais tempo em criticar a LER-QI do que para criticar aqueles que fizeram o “cordão humano” para ajudar a polícia no dia 27/10?

A explicação para isso seguramente tem a ver com o fato de, em seguida, o mesmo PSTU gastar tanta saliva e tanta tinta para armar um “escândalo”, porque a LER-QI pediu uma comissão de investigação independente (da qual o PSTU e o PSOL deveriam ser parte) para apurar documentos que revelavam espúrias negociações entre a reitoria e “lideranças estudantis” para articular a desocupação da administração da FFLCH.

Uma primeira conclusão dos fatos

O PSTU tenta explicar toda essa sequência de acontecimentos, nos quais se foi delimitando uma clara vanguarda no combate contra a polícia no campus – da qual o PSTU não fez parte –, dizendo que as organizações da esquerda, inclusive as que se reivindicam revolucionárias e trotskistas, têm a obrigação de se ligar ás massas. Mas as “massas”, considerando os estudantes de fora da FFLCH, quando explodiu a crise de 27/10, queriam segurança no campus, e inclusive a polícia. Então, nesse caso, como se ligar ás massas? Ficando de fora do movimento que surgiu? Entrando com a bandeira do “plano de segurança alternativo”?

Nesse caso concreto, fica claro que o “ir ás massas” do PSTU (nem falar no do PSOL) termina na adaptação mais vergonhosa ã ideologia de segurança pública que hoje prima no país. Não seria um pouco mais condizente com as tarefas políticas dos revolucionários ajudar a moldar uma vanguarda para o enfrentamento aberto com essa ideologia para ganhar setores mais amplos para o combate?

Não é casual que o PSTU nunca tenha respondido ã crítica teórica que fizemos ao artigo de Eduardo Almeida, onde este tentava “teorizar” para justificar o apoio do PSTU ás greves de policiais e bombeiros, tantas vezes referidos pelo PSTU através do eufemismo, inaceitável para um marxista, de “trabalhadores da segurança”[11] .

TEORIA E ESTRATÉGIA PARA...?

A única estratégia do PSTU é o seguidismo ao PSOL!

Mas se a política do PSTU não tem por objetivo desenvolver as tendências ã auto-organização das massas, nem moldar uma vanguarda combativa e capaz de se ligar ás massas a partir de posições principistas, quais serão então os objetivos do PSTU, e para que se prepara tal partido?

A análise dos fatos já referidos dá todas as pistas: para o PSTU, sua aliança com o PSOL não possui um valor tático, pontual, mas sim um valor intrínseco, de alcance estratégico. Trata-se de um debate já antigo que temos com a LIT, por uma concepção estratégica do morenismo. Ronald logo no início de seu artigo utiliza uma citação de Trotsky nos acusando de ultra-esquerdistas, porém a interrompe bem quando esta se refere ás questões de estratégia que envolve a frente única e as alianças entre organizações que se reivindicam revolucionárias e organizações reformistas:

“Os problemas da frente única constituem a essência dos problemas táticos. Sabemos que a tática está subordinada ã estratégia. Nossa linha estratégica define os interesses históricos do proletariado à luz do marxismo. Com isso não pretendemos minimizar a importância dos problemas táticos. A estratégia sem sua tática correspondente será sempre uma abstração teórica inerte. (...) A primeira regra para o uso da política de frente única é a ruptura total e intransigente com a conciliação sem princípios. (...) A tática da frente única não é uma panacéia universal. Está subordinada a um questionamento fundamental: unifica a vanguarda proletária sobre a base de uma intransigente política marxista? (...) Em nenhum caso devem-se estabelecer acordo por objetivos práticos ao preço de concessões de princípio, de calar as diferenças essenciais, de fazer formulações ambíguas que permitem que cada uma das partes as interprete ã sua maneira”[12] .

A maneira como o PSTU busca constituir estas frentes com o PSOL no plano eleitoral, sindical e estudantil são, na maioria das vezes fazendo concessões de princípio. Como era chamar Heloísa Helena de socialista, em meio a sua campanha anti-direito ao aborto, como é buscar um Marcelo Freixo para formar chapa no Rio de Janeiro mesmo quando este desenvolve uma política ambígua em relação ás UPPs (que é o tema de maior transcendência na cidade e mais ainda deveria ser para a esquerda). Sistematicamente o PSTU em sua política alianças com o PSOL oculta qualquer crítica fundamental aos olhos das massas, contentando-se, quando muito, com críticas superficiais em seus jornais para consumo interno.

Esta orientação de seguidismo também conhece seu oposto volta e meia. Quando sua linha oportunista não combina com a realidade e as ações de seus aliados lhe dão golpes inesperados, aí, sem abandonar o essencial, partem para o ultra-esquerdismo e sectarismo com o PSOL. Isto ocorreu, por exemplo, na fundação do PSOL quando os setores da esquerda do PSOL excluem-no da formação do novo partido. Como todo centrista oscila do oportunismo ao ultra-esquerdismo, quando foram excluídos do processo de formação do “novo partido”, chegaram a comparar o PSOL com o PFL e se negaram até mesmo a apoiar a assinatura democrática para a criação da nova legenda. Insistiram em uma nova aliança com a “socialista” Heloísa Helena enquanto essa estava de braços dados com a eco-liberal Marina Silva, ao mesmo tempo em que negaram a concessão democrática de legenda para a LER-QI apresentar-se nas eleições. Passaram de negar a frente única com os sindicalistas do PSOL, por esses não quererem entrar na Conlutas, a aceitarem todo tipo de concessões programáticas e estratégicas para construir uma “nova central”. Mas são apenas giros táticos preparatórios para mais cedo ou mais tarde retomarem sua estratégia de alianças com as direções reformistas para "se ligar ás massas".

As razões estratégicas para tal desvio já apontamos em diversos artigos. Para os fins deste artigo basta pontuar que Nahuel Moreno, o dirigente histórico que o PSTU e a LIT, a partir de um balanço equivocado das revoluções da segunda metade do século XX, estabelece uma teoria onde as “etapas” nacionais e democráticas da revolução não precisariam ser dirigidas pela classe trabalhadora com um partido revolucionário ã frente. Desta conclusão ele tira uma orientação: “se isso é correto, muda toda a nossa estratégia a respeito dos partidos oportunistas”[13] . Esses são os fundamentos teóricos, explicados com profundidade nos artigos acima citados, que fazem o PSTU, contra a orientação de Lênin e Trotsky de como manter os princípios em uma frente única com reformistas, estabelecer uma relação oportunista com partidos como o PSOL, como “atalho” para se ligarem ás massas.

Para nós isso é apenas mais uma mostra de que suas concepções estratégicas errôneas, afastadas do legado trotskista, levaram o PSTU a ser um partido que não busca uma política independente, mas que se vê, pelo contrário, constantemente a reboque de seus aliados situados ã sua direita.

O PSTU acusa de stalinistas a quem os critica para fugir do debate (e assim também foge do materialismo)

Rios de sangue separam o stalinismo do trotskismo, não partir daí é uma deturpação histórica e um uso abusivo do termo “stalinista”. Este uso abusivo está a serviço de invalidar polêmicas, o que o PSTU sempre faz com quem o critica.

Esta acusação feita a nós pelo PSTU-LIT não tem nada de inconsciente. Pelo contrário, já é o segundo artigo em que se dedicam a nos chamar de stalinistas, por conta da discussão sobre a USP, repetindo um método lamentável, e, inclusive, mais antigo. O que acontece realmente é que o PSTU-LIT tenta transformar uma discussão política em uma discussão moral, tratando como “stalinistas” aos que os criticam, numa tentativa desesperada de desviar o foco da crítica política. Acusando-nos de “stalinistas” esperam criar anticorpos aos debates políticos que abrimos frente ã sua intervenção na USP, marcada pelo seguidismo estratégico que fazem ao PSOL, o que os leva a uma atuação cada vez mais passiva e adaptada nas lutas que se abrem e também a nossa crítica a sua posição completamente alheia ao trotskismo em relação ã polícia. Porém o método que consiste em transformar discussões políticas em discussões morais não é menos alheio ás melhores tradições do trotskismo.

Na mais adversa das situações Trotsky (em 1929 quando estava adiante da Oposição de Esquerda, ás vésperas de sua expulsão da URSS, liderando a mais encarniçada luta contra o stalinismo, que levava dirigentes que outrora encarnavam o melhor da tradição revolucionária a capitularem, como Rádek), combatia resolutamente os que propunham colocar as discussões sobre as manobras e as intrigas de Stalin acima dos debates políticos.

Como assinala em O Triunfo de Stalin: “Inclusive depois de que as profundas diferenças políticas saíram à luz, deslocando a intriga pessoal a um segundo plano, tratei de manter a pugna dentro dos marcos de uma discussão principista e de evitar ou impedir que se forçasse uma decisão, para permitir assim que as opiniões e prognósticos em conflito pudessem ser corroborados à luz dos fatos e das experiências. Por sua vez, Zinoviev, Kamenev e Stalin (...) não tinham o menor desejo de que o partido tivesse tempo de meditar sobre as diferenças e corroborá-las à luz da experiência. (...) Esta não é uma explicação histórica da vitória de Stalin, mas um mero esboço de como se alcançou essa vitória. Tampouco se trata de um protesto contra a intriga. Uma linha política que busca as causas de sua derrota nas intrigas de seu adversário é uma linha cega e patética.”

Portanto, fica patente como a “lógica” de nosso polemista Ronald nada tem a ver com legado de Trotsky, quando declara em alto e bom som, que “Não obstante, o que nos parece realmente grave e inaceitável não são nossas diferenças políticas. Estas, ainda que sejam de fundo e irreconciliáveis, passam para o segundo plano se comparadas ao método stalinista utilizado pela LER”. A isto, respondemos a Ronald que de nossa parte, tal como para Trotsky, as diferenças políticas ocupam sim o primeiro plano do debate. Que queremos, sim, que tanto o nosso, quanto o vosso partido possam “meditar sobre as diferenças e corroborá-las à luz da experiência”, questão que para vocês passa “para o segundo plano”, alegando uma calúnia imaginária de nossa parte. Colocar as discussões de método na frente das políticas, sobretudo quando o pretenso “stalinismo” é completamente irreal, é uma má manobra para esconder a sua própria debilidade.

Sobre o argumento mágico da “correlação de forças”

Por mais voltas que dê, toda a argumentação política da LIT e do PSTU se resume a um ponto: as duas ocupações foram feitas por uma minoria “irresponsável” e “antidemocrática”. Se agora a luta adquiriu um contorno de massas dentro da universidade, isso se deve unicamente ã reação desmedida de Rodas e do governo tucano contra a ação de grupos minoritários, como insistem os companheiros.

Porém, tentando dar mais “estofo teórico” a seu raciocínio, nosso infortunado polemista afirma em outro trecho que a política da LER-QI se baseia em “não tomar em conta a análise rigorosa de algo que na ciência militar e no marxismo se chama correlação de forças e que não só Clausewitz, como também Lenin e Trotsky se esforçavam para fazer de uma forma milimétrica antes de defender uma tática ou empreender qualquer tipo de ação”. Saudamos que o PSTU tenha entrado num terreno pouco freqüente para eles como as discussões teóricas relacionadas aos problemas de estratégia. Podemos considerar isso até como um modesto triunfo de nossa parte, ainda mais que tenham chegado ao velho Clausewitz e a relação entre suas teorizações sobre a guerra e o pensamento marxista revolucionário. Porém vemos que sua “incursão teórica” parece estar movida apenas pela necessidade pragmática de justificar suas posições políticas. De nossa parte, tomamos as discussões teóricas com seriedade, e não com espírito retórico para justificar posições, e, por isso, consideramos vital fazer alguns esclarecimentos.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que o PSTU foi presa daquele velho sentimento humano, já descrito por Clausewitz [14], que leva a superestimar sempre a força do inimigo, e subestimar a sua própria. Ora, no esquema do PSTU, a massa estudantil é inerte e atrasada, e a correlação de forças está inteiramente a favor de nossos inimigos. Por isso, nenhuma medida de luta (e não apenas as ocupações) é possível. É preciso contentar-se com participar das eleições estudantis rotineiras, e no máximo, complementá-las com campanhas plebiscitárias por fora da luta de classes.

O que os companheiros não enxergam é que o fenômeno da correlação de forças é muito mais contraditório do que o esquema “a Reitoria e o governo estão fortes, o movimento estudantil está fraco”. É certo que a Reitoria tem conseguido passar diversos ataques no último período, e conseguiu “passivizar” grande parte da combativa categoria de trabalhadores com um aumento salarial; porém também é fato, que o reitor Rodas vinha de ser considerado “Persona non grata” em sua própria unidade de origem (a Faculdade de Direito do Largo São Francisco), que vem sendo acusado de uma série de improbidades, etc. E principalmente, é fato que a presença da PM no campus, imposta de maneira permanente apenas desde setembro passado, constitui em si uma “quebra da relação de forças” histórica, ao violar preceitos democráticos amplamente aceitos, especialmente nas faculdades de Humanas.

Mais ainda, a ação absurda da PM, ao tentar levar presos três estudantes sob suspeita de “fumar maconha no campus”, desencadeou uma reação espontânea massiva na FFLCH, mostrando que todo o processo foi marcado por rupturas da “correlação de forças” pela direita, por consequência dos ataques da Reitoria.

No esquema da LIT/PSTU, nada disso existe ou tem relevância, e apenas o uso do contingente de 400 efetivos na ação da reintegração de posse do prédio da Reitoria é que aparece aos companheiros como “um erro político do inimigo”. Como pode ter qualquer seriedade de análise científica da relação de forças o esquecimento da repressão do dia 27/10, um componente fundamental do desenvolvimento das relações de força no conflito?

Ao contrário do que o PSTU quer fazer parecer, não defendemos uma “teoria da ofensiva permanente”. Aqui é o PSTU quem defende uma posição “fatalista”, onde tudo está predeterminado pela “correlação de forças dada”, sem se dar conta de que própria relação de forças se modifica pela luta. Se não, para que lutar? Como se poderia passar de uma posição defensiva para uma ofensiva? Não ã toa, a “correlação de forças” é muitas vezes usada como “argumento” dos burocratas que não querem lutar nem “arriscar” nada. Não tratamos o PSTU como traidores como é a burocracia sindical, no entanto, trata-se de ver como em sua lógica e seu seguidismo ao PSOL, acaba por se aproximar de posições dos reformistas e não dos revolucionários.

O sociólogo Raymond Aron, um intelectual reacionário que escreveu um livro clássico sobre Clausewitz argumenta que “A relação de forças, por si mesma não decide tudo: se somente ela fosse decisiva a luta do mais fraco contra o mais forte se tornaria inconcebível, absurda. Portanto, a teoria estratégica deve vir em socorro precisamente do mais fraco” [15].

Algumas palavras sobre responsabilidades no movimento operário

Ao contrário do delírio de nosso polemista que quer nos fazer um grupo estudantil quando está escrevendo justamente sobre a USP, onde qualquer um, só por ler o Estado de São Paulo ou a Veja sabe que a LER-QI tem, há anos, responsabilidade de direção. Junto a companheiros do SINTUSP estivemos a frente 388 dias de combativas greves durante o governo Lula. Enquanto a maioria da classe trabalhadora era passivizada pela situação econômica e também pela atuação das direções dos sindicatos ligados ao governo; o próprio PSTU, ã frente da CSP-Conlutas, não travou batalhas quando era obrigado a tal (como na demissão de 4.270 operários da Embraer em 2009 por exemplo). Distinto disso, nós não fugimos dos combates necessários e buscamos diferentes táticas para fazê-lo, sabendo educar a categoria a combinar os métodos mais conhecidos dos trabalhadores da USP como os piquetes de greve com campanhas democráticas, a luta judicial e a importância dos trabalhadores conquistarem como aliados os estudantes e os professores combativos da universidade.

Esta atuação permite, em pequeno, este sindicato não só liderar todas estatísticas paredistas do país mas aportar a setores da classe trabalhadora, seja por sua forma de organização que se submete ao comando de greve com delegados de unidades, abrindo espaço para mais ativistas dirigirem o conflito, como por sua prática concreta de classismo, lutando em defesa da educação pública junto aos estudantes, lutando pela incorporação sem concurso dos terceirizados ã USP, defendendo a punição aos torturadores impunes da ditadura, combatendo a perseguição política aos que lutadores e lutando contra a polícia, exemplos que o PSTU não tem para mostrar nos sindicatos que dirige.

Frente ás demissões em massa na Embraer, chamamos, a partir de entidades estudantis e do SINTUSP, a realização de um encontro operário e popular em São José dos Campos para cercar de solidariedade esta fábrica e ampliar a luta em setores de massas e não apenas dentro da mesma, a resposta do PSTU foi uma verdadeira aula daquilo que Clausewitz chamava de “pura passividade”, e em seguida se limitou a substituir o combate com os métodos operários pelos apelos estéreis a Lula para que editasse uma Medida Provisória proibindo as demissões.

Como não era de estranhar, para encobrir sua passividade, taxaram nossa proposta de sectária e ultra-esquerdista.

Sobre sectarismo e ultra-esquerdismo ou como a LIT nos acusa para encobrir sua passividade na luta de classes

Aproveitemos então essa nova aparição do problema de nosso suposto sectarismo e ultra-esquerdismo para lançar um olhar para o modo como Trotsky tratava essa concepção de “se ligar ás massas” em geral: “Os brandleristas dizem que nós somos ‘uma seita’, enquanto eles estão por um ‘movimento de massas’. Falando em geral, essa é a clássica acusação que os mencheviques lançavam contra os bolcheviques. Nas etapas contra-revolucionárias, os mencheviques se adaptavam – até certo ponto, não faziam mais do que seguir de perto todas as mudanças do movimento operário –, e os bolcheviques selecionavam e educavam quadros. (...) Estamos formando quadros. O que decidirá se somos ou não uma seita não é a quantidade de pessoas que se nucleiam ao redor de nossas bandeiras, nem sequer a qualidade dessas pessoas (e estamos muito longe do nível ótimo nesse sentido), mas sim o conjunto das ideias, programa, tática e organização que nosso grupo pode oferecer ao movimento”[16] .

Nesse sentido, é até divertido analisar alguns dos “argumentos” de Ronald, que mal consegue esconder sua satisfação por ter encontrado algumas passagens, em artigos da nossa corrente, que lhe pareceriam justificar a velha cantilena da LIT acerca da LER-QI como uma corrente “vanguardista”, “sectária” e “aventureira”. Com seu espantalho de sectário tem que ignorar que a LER-QI é parte de uma corrente internacional a FT-CI, que na argentina com sua seção, o PTS, junto ao PO e IS conseguiu obter mais de 600 mil votos (umas 7 vezes mais que o PSTU no Brasil) com um programa classista e de independência de classe, que desenvolve um vivo trabalho no sindicalismo de base e classista na Argentina, que é parte da experiência histórica de Zanon, fábrica sob controle dos trabalhadores a dez anos; e que a LER-QI também é parte da mesma organização internacional que o PTR no Chile, que acabou de lançar uma agrupação de mais de 200 jovens, que encabeçaram parte dos processos mais avançados como a luta da USACH e do colégio A90 (ver artigos nos sites da LER-QI e do PTR chileno); enquanto o grupo da LIT naquele país, mesmo em meio a este imenso processo de luta de classes segue estagnado há anos, com meia dúzia de militantes que não se sabe o que fazem

Voltando ao Brasil, o que está por trás da busca de “esquerdismos” e sectarismo é na verdade a aversão do PSTU a todo método radical na atual luta, uma vez que é evidente que trata-se de uma metáfora pensar as lutas como guerras. Não consideramos que as lutas estudantis na USP são uma guerra, mas justamente buscamos encarar qualquer pequena luta como uma “escola de guerra”, no sentido leninista do termo, e transformá-la em uma batalha de classe. Deste objetivo estratégico, de como os revolucionários devem encarar as lutas o PSTU não tem nada a dizer, só o bater no espantalho ultra-esquerdista que criaram. Todo ativista que acompanhou nossa atuação no conflito atual e em outros passados sabe muito bem que a LER-QI se caracteriza por propor tanto as medidas de avanço, como as de retrocesso organizado do movimento, de maneira aberta e de cara ã vanguarda. Para poder recuar, é necessário antes iniciar a luta. O recuo, nesse caso, pode ser fruto da decisão de ir ao combate, e a necessidade de se reavaliar as condições. Porém quem foge ao combate, não pode recuar, e está fadado a repetir aquela que é a pior das derrotas, aquela decorrente de uma luta não dada, como argumentamos em relação a Embraer.

Para ficar no exemplo das lutas já citadas, em nenhum dos últimos processos na USP, desde 2007 até o atual, o PSTU conseguirá apontar uma posição ultimatista da LER-QI, que tenha levado o movimento ã derrota por não reconhecer o momento de recuar. Mas o que sim verá, é que mesmo nas correlações mais difíceis, nunca recusamos o combate quando a ação do inimigo nos obrigou a ele, e assim obtivemos conquistas mesmo quando isso parecia muito difícil[17] .

Uma falsa polêmica sobre “ações exemplares”... para defender as “pesquisas de opinião” como bússola estratégica?

Finalmente, Ronald León parece ter ficado tão contente com a tarefa de bater no espantalho que criou, a partir das caricaturas que fez acerca da política defendida pela LER-QI, que se sentiu capaz de reinventar, de uma hora para outra, todo o método de intervenção do PSTU no movimento. É assim que ele diz: “Como a ‘coragem’ e a “moral” combatente das massas não satisfazem as exigências do refinado paladar político da LER, para que perder tempo fazendo política para elas? Para que perder tempo tentado elevar seu nível de consciência, aplicando o método do programa de transição trotskista?”

Ora, mas a questão é justamente essa: assim como “em tempos de paz” o PSTU não aplica o método do programa de transição trotskista para elevar o nível de consciência das massas, preferindo o método bastante distinto das “uma ou duas consignas que mobilizam” (dissemos “mobilizam”? talvez devêssemos dizer: “que permitem um acordo com correntes que estejam ã sua direita”); assim tampouco em “tempos de luta” o método do programa de transição significa alguma coisa para essa corrente: ao invés de propor medidas políticas e de organização que correspondam cada vez mais ao caráter massivo do movimento (como chegou a ser na FFLCH e em algumas outras faculdades como a FAU e a ECA), o PSTU mantém sua atitude passiva e conciliadora com a direção burocrática que boicotou o movimento (inclusive resoluções de assembleia) repetidas vezes.

Ronald afirma: “Queremos deixar claro que não concordamos com o raciocínio de que quanto pior estão as coisas, se dão melhores condições para lutar. Não concordamos com a lógica de que realizando ‘ações exemplares’ ou gerando ‘fatos políticos’ em que uma elite iluminada, que sabe tudo e pode tudo, distribua heroísmo, sacrifício e inusitada valentia, será possível despertar as massas para a luta”.

A essa altura da discussão, já está claro que nada disso que Ronald aponta contra nós corresponde ã realidade. Mas então de onde surgiu essa resposta pronta, com a qual nosso desafortunado polemista esperava obter impacto decisivo?

Ora, para quem conhece algo da corrente morenista, não há qualquer mistério. É que o furor polêmico de Ronald, e seu desprezo pelas realidades elementares dos fatos o conduziram a tentar aplicar, contra a LER-QI, com o máximo de esquematismo, uma crítica que Moreno fazia a Mandel no início dos anos 1970. Todo quadro morenista conhece ao menos citações dessa polêmica. Mas o que nossos morenistas perdem de vista é que se passaram não dez nem vinte, mas quarenta anos, e com eles toda a etapa reacionária da Restauração burguesa (“neoliberal”); e que isso implica que, longe daqueles anos em que o impressionismo de Mandel o empurrava a adaptar-se ao vanguardismo de tipo guevarista ou maoísta então em voga, a grande corrente de nossos tempos é a que leva ao conservadorismo reformista e sua adaptação ã democracia burguesa, com seu fetiche da “opinião pública” e das pesquisas de intenção de voto incluídos.

Mas a LIT, para encobrir o triste papel a que sua adaptação ao PSOL conduziu mais uma vez, chega ao ponto de “confundir” o que nós chamamos de uma atuação exemplar na luta de classes (como nos esforçamos para ter no Sintusp e nas categorias onde temos uma inserção inicial, como a ala combativa que construiu um comitê de apoio à luta da USP em metroviários, a corrente Professores pela Base, ou a atuação no Piquete da Sete de Abril na recente greve dos bancários) com a noção ultra-esquerdista de “ações exemplares” no sentido guerrilheiro ou “foquista”. A LIT tenta encobrir sua adaptação ao regime sindical brasileiro, ignora na prática a idéia de “escolas de guerra” de Lenin no sentido de ações prévias ao desencadeamento da guerra de classes propriamente dita. Um conflito se transformar numa escola de guerra é um passo fundamental para transformá-lo, de um conflito econômico num conflito entre as classes, mostrando aos trabalhadores que apenas confiando em suas forças e buscando seus aliados de classe é que seremos vitoriosos nas pequenas e grandes lutas.

O que a LIT e o PSTU querem encobrir com essa polêmica forçada, tirada do baú morenista, é uma diferença de método bastante profunda, e de amplas consequências. Afinal, por trás do vozerio acerca do “ultra-esquerdismo” dos métodos de luta que a LER-QI defendeu, o que se esconde é não apenas a recusa do PSTU a entrar no combate, mas uma lógica e um método que tornam todo combate sério impossível.

Estamos nos referindo ao método, sobre o qual após o artigo de Ronald Leon, só faltaria agora terminar de teorizar, fazendo das “pesquisas de opinião” o principal indicador da correlação de forças e das orientações políticas adequadas.

Já vimos que, para o PSTU, a luta contra a polícia que surgiu na USP nunca poderia ter existido, pois segundo as pesquisas de opinião, a maioria dos estudantes está a favor da polícia no campus.

Se levamos essa concepção ao terreno da estratégia, como tenta fazer Ronald ao nos qualificar de “ultra-esquerdistas incuráveis”, então, devemos concluir, que a tomada do poder pelo proletariado no Brasil só poderá acontecer quando mais de 100 milhões de pessoas, em um mínimo de uns 23 estados, estiverem de acordo segundo as pesquisas de opinião ou disserem que “sim” em um plebiscito.

Segundo essa mesma concepção que enxerga a relação de forças de forma estática e independente da luta, Trotsky e Lênin seriam uns ultra-esquerdistas, completamente loucos ao fazerem uma revolução proletária em um país de 95% de população camponesa. Corretos estariam Zinoviev e Kamenev que se colocaram contra a insurreição de outubro por causa do “estado de ânimo das massas”?[18]

Não precisamos dizer que a luta da USP não é a tomada do poder no Brasil. Mas devemos chamar a atenção para um erro fundamental, em matéria de método marxista e de estratégia proletária, que reaparece na atual polêmica, e que marca toda a atuação do PSTU nos principais desafios que a realidade impôs no último período.

Afinal, não terá sido com uma lógica semelhante que o presidente do Sindicato dos Metroviários, militante do PSTU, afirmou que os trabalhadores não poderiam sair em greve, mesmo após terem realizado a assembleia mais numerosa e combativa dos últimos anos, e tendo votado por maioria ir ã greve...? Tudo porque seria necessário garantir a unidade da diretoria do sindicato, porque não estavam todos “unanimemente” a favor, e porque os inimigos eram muito fortes?

Parafraseando Lenin, podemos dizer que a concepção do PSTU de rebaixar constantemente as tarefas políticas da direção, e se guiar pela evolução espontânea (influenciada pela mera propaganda “em frio”) do estado de ânimo das massas, leva esse partido a atuar, no melhor dos casos, a reboque do movimento espontâneo; não como vanguarda, mas sim como retaguarda do movimento.

Já se vê que a “concepção teórica” dos nossos morenistas reside em fazer uma suposta análise da relação de forças, tomada estaticamente e de forma superficial, está a serviço de justificar sua passividade, sua adaptação ao nível de consciência mais atrasado, o seu rebaixamento do programa e suas alianças oportunistas com reformistas de todo tipo. Para nós, a análise da relação de forças, tomada de forma dinâmica e em suas múltiplas manifestações, está a serviço de pensar como, na luta, a vanguarda pode se ligar ás massas, permitindo elevar o nível de consciência dos setores mais atrasados, contribuindo para que esses façam experiências concretas com as direções reformistas na luta de classes e moldar a vanguarda com um programa e uma estratégia que tenda ã revolução.

Conclusão: a serviço de que estão as polêmicas teóricas?

Finalizando esta resposta, temos que retornar ao problema: para que serve tudo isso? A serviço do que estão as polêmicas teóricas? De qual argumento teórico que esgrime se depreende alguma coisa para ser feito na USP fora combater a LER-QI? Não há uma linha para a ação, o que fazer com o comando, como avançar na greve, recuar, mudar, nada. O único que fica explicito é o imexível bloco com o PSOL para fins eleitorais (porque para fins de desenvolver o conflito não há como justificar). Este uso da teoria, que nosso polemista emprega, tem a ver com a localização de sua organização no conflito. Empreenderam dez mil polêmicas táticas sobre a semi-espontânea ocupação da FFLCH, outras polêmicas táticas sobre o deflagrar ou não da greve na maior assembléia da USP em cerca de uma década (enquanto havia 73 presos).

No entanto, não conseguem mostrar uma linha de como não ocupar, não entrar em greve, não denunciar as burocrateadas do PSOL e seu auxílio nisto, se ligam a sua estratégia para o conflito. De nossa parte ocupar ou não ocupar, ir ã greve, organizar atos democráticos, buscar aliados na intelectualidade, organizar ou não atos de rua, com qual caráter, etc, sempre esteve ligado ã questão de como massificar o movimento, como a vanguarda que primeiro se expressou na FFLCH ganhava apoio em outras unidades, buscava mostrar a violência policial na USP e fora dela.

Diferente dos setores propriamente ultra-esquerdistas ou autonomistas, não fazemos fetiche dessa ou daquela forma de luta, mas analisamos a situação concreta em sua dinâmica e nos prontificamos a usar todos os meios, tanto como a descartá-los assim que perderam sua efetividade. Nesse sentido, seguimos os conselhos de Lenin que afirmava: “Temos de concordar que seria insensata e até mesmo criminosa a conduta de um exército que não se dispusesse a conhecer e utilizar todos os tipos de armas, todos os meios e processos de luta que o inimigo possui ou pode possuir. Mas essa verdade é ainda mais aplicável ã política que ã arte militar. Em política é ainda menos fácil saber de antemão que método de luta será aplicável e vantajoso para nós, nessas ou naquelas circunstâncias futuras. (...) Se dominamos todos os meios de luta, nossa vitória estará garantida, pois representamos os interesses da classe realmente avançada, realmente revolucionária, inclusive se as circunstâncias nos impedirem de utilizar a arma mais perigosa para o inimigo, a arma mais capaz de assestar-lhe golpes mortais com a maior rapidez”[19] .

Sem fetichizar nenhum meio tático, procuramos empregar com criatividade e audácia todos os meios, exigindo unicamente que as táticas estejam sempre ligadas ã estratégia, ao desenvolvimento do conflito. A persistência de um amplo setor de estudantes em seguir lutando, e o fato de que os setores combativos que mantiveram as ocupações estejam na linha de frente da luta mesmo após a entrada em cena de setores mais amplos após a repressão de 8/11, são a expressão cabal disso. Para que deixe de estar separado, e em muitos momentos contra, esses setores combativos, o PSTU deve romper sua adaptação ao senso comum ou ao que especula serem os limites da subjetividade de massas, e romper também com seu seguidismo ao PSOL. Se por um lado suas vacilações se justificam pela aliança eleitoral com o PSOL para o DCE, agora irão querer justificar essa aliança, por sua vez, pelo fantasma da direita nas eleições, rebaixando-se ao discurso do voto útil. Depois de tudo o que dissemos, nada mais claro do que a completa esterilidade da política do PSOL, ã qual o PSTU se adapta, para combater a direita no movimento estudantil – e isso é muito mais decisivo do que um resultado eleitoral. Se quiser de fato contribuir para que ‘os estudantes da USP possam vencer’, o PSTU deve estar ao lado dos setores combativos, pela auto-organização e intransigentemente contra a repressão. De nossa parte, toda esta argumentação está a serviço de contribuir para um movimento que tome as lições das últimas lutas na USP e no mundo, que não fuja ao combate quando este lhe é imposto (como foi em 27/10) e que pense as táticas mais variadas em função de uma estratégia: organizar democraticamente o movimento através da auto-organização e erguer um movimento estudantil que ecoe a voz dos trabalhadores e do povo dentro da universidade elitista – ou seja, que se contraponha ã polícia na USP e nos bairros, periferias e favelas. Isto passa por uma fortíssima campanha nacional e internacional pela retirada dos processos ilegais aos 73 presos políticos da USP, construída a partir do comando de greve junto ás entidades estudantis que participarem por falta de delegados ou como delegados de assembléia para iniciar o ano junto aos trabalhadores da USP erguendo em alto e bom som a luta pela retirada dos inquéritos e da polícia da USP.

Notas

[1] “Como enfrentar a violência urbana?”, Eduardo Almeida em http://www.pstu.org.br/jornal_materia.asp?id=10918&ida=22

[2] Para se aprofundar esta polêmica ver “Polêmica com o PSTU: Porque os revolucionários não devem apoiar a “luta” dos bombeiros”, disponível em http://www.ler-qi.org/spip.php?article2980

[3] León Trotsky, Alemania, la revolución y el fascismo, pág.15

[4] Por exemplo: 1) http://www.youtube.com/watch?v=6PLh6GwEJxc; 2) http://www.youtube.com/watch?v=aMOXsvb79YA; 3) http://www.youtube.com/watch?v=sNEYWkpZn6k; 4) http://www.youtube.com/watch?v=Kam6jdK6E1A; 5) http://www.youtube.com/watch?v=I04csVkgysE.

[5] Entre outros artigos da FT sobre a UNAM, ver http://www.ft.org.ar/estrategia/ei15/ei15la8.htm

[6] Ronald León, “Una polémica con la ultraizquierda stalinizada”.

[7]Ronald Leon, op.cit.

[8] “Os sindicatos, mesmo os mais poderosos, não abarcam mais do que 20 a 25% da classe trabalhadora, e por outro lado, suas camadas mais qualificadas e melhor remuneradas. A maioria mais oprimida da classe trabalhadora não é arrastada à luta a não ser esporadicamente nos momentos de ascenso excepcional do movimento operário. Nestes momentos é necessário criar organizações ad-hoc, que abarquem toda a massa em luta, os comitês de greve, os comitês de fábrica, e finalmente os sovietes.(...) Por tudo que antecede, as seções da IV Internacional devem se esforçar constantemente não apenas para renovar o aparato dos sindicatos, propondo audaciosa e resolutamente nos momentos críticos novos líderes dispostos para a luta no lugar dos dirigentes rotineiros e carreiristas, mas inclusive criar, em todos os casos em que seja possível, organizações de combate autonômas que respondam melhor aos objetivos da luta de massas contra a sociedade burguesa, sem vacilar, caso necessário, diante de uma ruptura aberta com o aparato conservador dos sindicatos. Se é criminoso dar as costas ás organizações de massa para se contentar com facções sectárias, não é menos criminoso tolerar passivamente a subordinação do movimento revolucionário das massas ao controle de camarilhas burocráticas declaradamente reacionários ou conservadoras disfarçadas (“progressistas”). Os sindicatos não são um fim em si, mas um dos meios da marcha para a revolução proletária”.

[9] Ver por exemplo “La estrategia soviética en la lucha por la republica obrera” e “Polémica con la LIT y el legado teórico de Nahuel Moreno”, ambas disponíveis em www.ft-ci.org

[10] “Estudiantes organizan masiva lucha contra la policía” http://www.ft-ci.org/article.php3?id_article=4856?lang=es

[11] Ver: “Polêmica com o PSTU: Porque os revolucionários não devem apoiar a ‘luta’ dos bombeiros”. http://www.ler-qi.org/spip.php?article2980.

[12] L. Trotsky, “Prólogo a la edición polaca de El izquierdismo, enfermedad infantil del comunismo”, de Lenin, 6 de outubro de 1932.

[13]Nahuel Moreno, “Escola de Quadros, Argentina 1984”, p. 94. Disponível www.nahuelmoreno.org

[14] Cf. Carl Von Clausewitz, Da Guerra, Ed. Martins Fontes, p. 23.

[15] “Pensar la guerra, Clausewitz”, tomo I, capítulo III, tradução nossa

[16] L. Trotsky, “Problemas prácticos y de principios que debe enfrentar la Oposición de Izquierda”. 5 de junio de 1931.

[17] Para ficar num exemplo claro: em 2010, enquanto boa parte das categorias do funcionalismo público que entraram em greve no país tiveram seus pontos descontados (muitas delas dirigidas pela Conlutas), e o próprio Lula dava legitimidade a esse ataque ao direito de greve, com suas declarações de que “greve não é férias”, etc., o Sintusp lutou até garantir o pagamento dos dias parados (inclusive com a devolução do que chegou a ser descontado). E essa importante conquista parcial foi obtida com base a uma ocupação da reitoria que, se tivéssemos confiado nas “pesquisas de opinião” da maioria (ou, imagina-se, nos conselhos do PSTU), simplesmente não teria chance de acontecer.

[18] Argumento similar também foi desenvolvido por Kautsky ao que Trotsky dedicou copiosas páginas em Terrorismo e comunismo, e o próprio Lênin em A revolução proletária e o renegado Kautsky. Trotsky, em Lições de Outubro, relatando esta situação e as grandes questões em jogo, a necessidade de superar o fatalismo na análise da correlação de forças, afirma: “A pressão constante, contínua, incansável, exercida por Lenine no Comitê Central durante os meses de Setembro e Outubro, justificava-se pelo receio de que deixássemos escapar o momento. Que bagatela! respondiam os direitistas, a nossa influência nada mais fará do que aumentar. Quem tinha razão? E que significava deixar escapar o momento? Com isto abordamos a questão na qual a apreciação bolchevique ativa, a avaliação estratégica das vias e métodos da revolução, mais nitidamente contrasta com a social-democrática, menchevique, impregnada de fatalismo. (...) Toda a arte táctica consiste em saber aproveitar o momento em que combinação das condições é mais favorável”. O tempo e o cálculo das táticas, incluindo a tática das táticas que pode colocar tudo a perder, a insurreição exige o exame super-minucioso da correlação de forças, mas sabendo que as informações são sempre contraditórias em situações como estas e que a perda da oportunidade da ação consciente (a tomada do poder marca uma viragem histórica na correlação de forças) pode colocar tudo a perder.

[19] Lenin, Esquerdismo, doença infantil do comunismo, Ed. Global, p. 112.

14-12-2011

 

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