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A campanha da Frente de Esquerda e como desenvolve-la
15 Nov 2011 | Entrevista a Cristian Castillo, dirigente nacional do PTS e candidato a vice-presidente pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT)

O que se pode esperar do novo governo de Cristina?

É evidente que o governo sai das eleições com muita força tática. Mas o voto que, entre outros setores, recebeu de uma maioria da classe trabalhadora não é um cheque em branco. Passado o primeiro impacto dos resultados eleitorais, o governo terá que se enfrentar com o fato que a crise capitalista internacional já começou a golpear novamente o país. A administração dos negócios capitalistas implicará a tomada de medidas que afetarão a um ou outro setor que hoje se ampara sob o governo. Os sinais durante toda a campanha foram de attação para os diferentes setores da classe dominante e também de trazer para o bloco do governo setores do peronismo mais conservador. A passagem ao governismo do governador eleito de Chubut que era homem de Das Neves, de Carlos Soria e de Felipe Solá, são as primeiros sinais disto. Por outro lado temos que levar em conta que as diferenças com Moyano não necessariamente apontam a deslocamento da CGT por um burocrata com jogo próprio menor...

Como é isso?

É que Moyano atua como garantia da contenção das demandas salariais como apregoa Boudou nas reuniões com os empresários. Garantia do tão celebre pacto social para no final fazer o que disse Binner: que os trabalhadores não lutem por manter seu poder de compra, mas também que percam com a inflação e os aumentos de tarifas.

Como se prepara o PTS para esta perspectiva?

Nos preparamos para um terceiro mandato onde se choquem as expectativas dos trabalhadores e da juventude explorada e oprimida com a orientação política de um governo que é gerente dos negócios capitalistas. Nos preparamos para intervir ativamente nas lutas dos trabalhadores e dos explorados buscando acelerar a experiência política da classe operaria com este governo.

Neste marco, que significam os mais de 600 mil votos na Frente de esquerda?

Implicam um importante reconhecimento de uma camada minoritária mais muito significativa dos trabalhadores e da juventude, tanto operária como estudantil. E não falo só da campanha eleitoral das primarias e as gerais, mas também ã intervenção ativa da esquerda que tivemos nas principais lutas destes anos, como os dez anos de gestão operária de Zanon, a grande greve de Kraft de 2009, a luta dos terceirizados ferroviários, os combates do metrô, as mobilizações pela aparição com vida de Julio López, as ocupações e lutas dos estudantes universitários e secundaristas, só para citar os casos mais ressoantes. Também por mantermos uma posição de independência de classe perante ao governo como frente ã oposição patronal. O apoio recebido é muito significativo porque frente ã crise da oposição direitista, a FIT se posicionou durante a campanha eleitoral como uma alternativa de independência de classe golpeando pela esquerda o kirchnerismo.

Houve várias tentativas de unir ã esquerda desde o ano de ‘83...

A diferença de acordos eleitorais como foram a Frente do Povo, 1985, ou as distintas variantes de Esquerda Unida que não eram alternativas classistas e onde um dos principais componentes era o Partido Comunista que hoje fechou com o kirchnerismo e antes fundou a Frente Grande com Chacho álvarez, o programa de 22 pontos da FIT continua a linha do que assinamos em 2007 e 2009 nas frentes que desde o PTS integramos com o MAS e Esquerda Socialista e coloca a independência política da classe operária frente ás diversas variantes patronais, uma serie de reivindicações imediatas e transacionais, e a luta por um “governo dos trabalhadores e do povo imposto pela mobilização dos explorados e oprimidos”, “pela unidade socialista da América Latina, pelo socialismo internacional”, sobre fundamentos internacionalistas e anti-imperialistas, como por exemplo denunciando a intervenção da OTAN na Líbia, mas sem que isto signifique dar apoio ao reacionário regime de Kadaffi, como fizeram os setores vinculados ao castrismo e ao chavismo.

Muitos destacaram a campanha militante da FIT…

Assim é. Sem dúvidas. Quem senão a esquerda pode fazer uma campanha de pessoa a pessoa nos lugares de trabalho e estudo? Por exemplo, difundimos milhões de panfletos em todo o país com uma “Declaração frente ã crise capitalista”, com um programa para que esta seja paga pelos banqueiros e empresários e não pelos trabalhadores. Foi uma campanha que realizamos articulada com os acontecimentos da luta de classes que se produziram nesses meses. Durante as primárias, onde fomos a única força na batalha contra a reforma eleitoral prescritiva, difundimos um spot nos espaços gratuitos de televisão denunciando a repressão do governo aos que lutam, que incluía os recentes assassinatos dos que lutavam pela terra em Jujuy pelas mãos da policía do governador kirchnerista junto ao crime de Mariano Ferreyra por parte dos capangas de Pedraza, o dos QOM em Formosa por Insfrán e o do Parque Indo americano pela ação conjunta da Polícia Federal e da Metropolitana. Na campanha, por volta de 23 de outubro, junto aos spots onde destacamos distintos aspectos de nosso programa que denunciam as condições de exploração que sofre o povo trabalhador, denunciamos a perseguição ã Pollo Sobrero por parte do governo, num spot onde dois telespectadores vêem a noticia da marcha pelo aniversário do assassinato de Mariano e a detenção de Pollo e se indagam: “E eu que pensava que só a direita fazia isto”, uma grande denúncia ã ação repressiva do kirchnerismo. Não foi casual que nos últimos dias de campanha a FIT se concentrara na importante mobilização de luta realizada no ano do mencionado crime do jovem militante morto na luta contra a terceirização da ferrovia. Na mensagem que transmitimos a milhões, longe de gerar ilusões em que a realidade se pode mudar com um ou mais deputados, colocamos que a obtenção de deputados de esquerda tinha o fim de fortalecer a luta nas ruas pelas propagandas dos trabalhadores e da juventude e que nosso desafio era construir uma alternativa política dos trabalhadores em todo país. Superamos a prescritiva das primárias para a fórmula presidencial e em 10 províncias com uma grande denuncia ao regime, e aproveitamos os espaços gratuitos conquistados para difundir aspectos centrais do programa da Frente de forma muito mais clara que nas anteriores experiências de 2007 e 2009. Em síntese: em momentos onde primou o conformismo social, a passividade na ação das massas e o governo ganhava espaços, fizemos uma utilização da agitação eleitoral para fortalecer a consciência política independente da classe operária.

Qual a importância do que foi conquistado pela Frente de Esquerda?

O período que estamos vivendo a nível internacional está assinado pela crise capitalista. O que isto significa? Que daqui por diante nós iremos enfrentar grandes convulsões políticas e sociais. A maneira de sermos conseqüentes com o caráter histórico da crise que enfrentamos, mais além dos ritmos com que impacte no país, é aproveitar esses momentos para dar passos em função do objetivo estratégico da construção de um forte partido revolucionário da classe trabalhadora, como parte da reconstrução da Quarta Internacional. Dentro desta estratégia, o PTS vem sustentando há alguns anos a importância de conformar blocos eleitorais das forças que nós reivindicamos ser da esquerda operária e socialista, para agitar um programa comum contra as distintas expressões políticas da burguesia. Assim o fizemos em 1995 e em 2005, 2007 e 2009, e agora se somou o PO, o que agora sim estamos com as principais forças da esquerda operária e socialista. Isso que para nós é uma continuidade, num plano superior, daquelas experiências, permitiu concentrar em candidaturas comuns todos os partidos que nós reivindicamos ser da esquerda classista, fortalecendo a disputa política contra o governo e todas as variantes patronais. Só o grupo que conserva o nome do MAS decidiu condenar-se ã automarginalizacão e ã decadência política por problemas de cargos e não integrou a FIT.

Quais desafios se coloca o PTS para a Frente de Esquerda neste período posterior ás presidenciais?

A FIT conquistou a simpatia de uma camada importante do povo trabalhador, não somente dos que nos votaram, mas também daqueles que não votaram, mas nos escutam com atenção e respeito. Esse capital político, desde nosso ponto de vista, temos que colocá-lo a serviço para ver quantos passos podemos dar em conjunto entre os integrantes da frente, e os distintos companheiros e agrupamentos que aderiram ao mesmo, na construção de correntes classistas para arrebatar os corpos de delegados, comissões internas e sindicatos ã burocracia sindical e de um grande partido revolucionário da classe operária, incluindo a agitação por formas transacionais que levem a este objetivo como poderia ser um Partido de Trabalhadores. A continuidade da FIT deve limitar-se a tirar declarações ante fatos políticos ou, como acreditamos, deve tratar de expressar-se na intervenção comum na luta de classes e em avançar nos debates necessários que permitam ver se há condições ou não para avançar na construção em comum de um partido revolucionário? Como dissemos aos companheiros da direção do PO e da Esquerda Socialista, apoiamos um acordo tático de agitação política contra o governo e todas as variantes burguesas, mas, mais além de que nos próximos dois anos não haveria eleições, acreditamos que devemos dizer com toda clareza as centenas de milhares que votaram na FIT que a tarefa que temos adiante é provar-nos nos duros combates que se aproximam, que é o único terreno no qual podemos avançar para forjar o partido revolucionário sem o qual não poderá concretizar-se o governo dos trabalhadores que inicie a construção do socialismo, como reivindicamos os partidos que compõe a FIT, e ao que só poderemos chegar mediante a revolução operária e socialista. Não ignoramos que isto implica desenvolver discussões programáticas e estratégicas sobre os acontecimentos nacionais e internacionais entre nossas organizações e outros agrupamentos que aderiram ou apoiaram a Frente de Esquerda. Mas, enquanto seguimos intervindo juntos como FIT em tudo o que concordemos, por que não realizar estas discussões indispensáveis para a construção de tal partido revolucionário diante de toda a vanguarda que hoje tem como referência a Frente?

 

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