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Raiva popular assola a Inglaterra e debilita Cameron
por : Simone Ishibashi

14 Aug 2011 | Uma cidade em chamas, uma multidão enfurecida nas ruas, protestando contra sua situação de opressão e as medidas de ataque de seu governo, e conseqüentemente, enfrentando a repressão da polícia.

Uma cidade em chamas, uma multidão enfurecida nas ruas, protestando contra sua situação de opressão e as medidas de ataque de seu governo, e conseqüentemente, enfrentando a repressão da polícia. Esta cena que bem poderia ter como pano de fundo algum país árabe, está se desenvolvendo enquanto escrevemos estas linhas, num dos imperialismos mais importantes da Europa, que era considerado um cenário de passividade : a Grã-Bretanha.

Desde o dia 6 de agosto quando a polícia assassinou um jovem de 29 anos morador de um bairro de periferia de Londres, Tottenham, deu-se início a uma série de manifestações populares que expressam a raiva acumulada há tempos. Milhares de manifestantes, em sua maioria composta por jovens, negros e pobres que estão se enfrentando nas ruas com as forças policiais, aproximando a situação britânica da realidade européia em crise, num país que até pouco se embebia do ópio circense de casamentos bilionários de príncipes em pleno século XXI, num espetáculo de decadência. As manifestações, que já deixaram um saldo de mais de 500 pessoas presas, estão extrapolando os limites dos bairros afastados da periferia, e ameaçando a tranqüilidade da burguesia local. Estão se espalhando a outras cidades e bairros centrais de Londres, como Croydon, Camden Town, Brixton e Notting Hill. Também estão acontecendo enfrentamentos nas cidades de Birmingham, Liverpool, entre outras.

Estas mobilizações estão sendo cinicamente tratadas pela imprensa burguesa e pela alta cúpula do governo britânico, chefiada pelo primeiro-ministro David Cameron, como “ações criminosas”. Entretanto, torna-se cada vez mais generalizada, sobretudo entre a juventude, a percepção de que criminoso é o plano de ajustes que o governo de David Cameron quer impor aos trabalhadores e ao povo, para descarregar em suas costas o ônus da explosão da dívida pública inglesa. A atual revolta popular foi precedida em 30 de junho pela maior greve dos funcionários públicos contra o projeto de reforma da previdência, que visava aumentar o tempo de trabalho, e maior desconto salarial para contribuição aos cofres públicos, em troca de uma aposentadoria menor, dentre outros ataques delineados para cortar 80 bilhões de libras em gastos com programas de assistência social, saúde, e educação. Naquela ocasião, cerca de 600 mil trabalhadores tomaram as ruas de Londres contra o plano. Frente a esta situação muitos analistas já fazem alusão ã possibilidade de abertura de um cenário como o do início dos anos 80, quando uma importante greve protagonizada pelos mineiros que durou meses, enfrentou o governo da então primeira-ministra Margareth Thatcher, e cuja derrota foi decisiva para a imposição da era neoliberal, e para uma série de ataques aos trabalhadores ingleses.

Hoje, o levantamento que toma as ruas das principais cidades, e ameaça desatar uma importante crise política, é produto direto da crise capitalista que apesar de não atingir ainda níveis similares ã situação italiana e espanhola golpeia a economia inglesa. O número de desempregados na Grã-Bretanha atingiu 2,48 milhões neste ano. Dentre estes grande parte são jovens, com um índice de 963 mil desempregados com menos de 25 anos. Isso significa que quase um em cada quatro jovens está desempregado há pelo menos um ano. E entre os mais idosos o índice também é alto : entre a população com cerca de 50 anos, 46% também estão sem trabalho. Não surpreende, portanto, que a juventude seja maioria nos protestos.

Soma-se a isso a raiva acumulada pelos setores mais pobres da população inglesa, que é amplamente composta por negros de origem caribenha, que sofrem na pele cotidianamente a opressão por parte da polícia racista, sendo submetidos a perseguições, prisões e revistas sem motivos.

Enquanto a juventude pobre, negra e os trabalhadores ingleses têm o resto de seus direitos atacados, são oprimidos nos bairros onde vivem, além de amargar o desemprego e a falta de perspectiva, a alta cúpula do governo inglês estava de férias na Itália. Obrigado a voltar ao país por conta dos protestos, David Cameron, já anunciou o recrudescimento da repressão, colocando nas ruas 16 mil policiais da Scotland Yard. “O que está ocorrendo é pura e simplesmente criminalidade, ã qual há se que se enfrentar e derrotar. Necessitamos de mais policiais nas ruas, que atuem com mais contundência”, declarou Cameron ao jornal espanhol El País. Há rumores inclusive de que o governo britânico havia avaliado a possibilidade de colocar o exército contra as manifestações, uma medida que foi utilizada pela última vez no solo inglês em 1915. Com o cínico discurso de que esta revolta não se caracterizaria como distúrbio político, mas como mera pilhagem, a mídia e o governo britânicos buscam criar uma opinião pública favorável a legitimar medidas mais duras contra os manifestantes. Dentre estas constam a prisão de crianças de apenas 11 anos de idade, que figuravam entre os 215 detidos do ato de 6 de agosto, ao mesmo tempo em que buscam impedir que os trabalhadores que também estão contra os ataques desferidos pelo governo se unam ás manifestações.

Denunciamos esta hipocrisia, e colocamos abertamente que os saques são uma manifestação distorcida de uma raiva social extremamente legítima. Chamamos ao fim da repressão policial, e nos colocamos ao lado dos jovens e negros que hoje se levantam contra a opressão, a política de gatilho fácil da polícia inglesa, que em outros momentos assassinou Jean Charles de Menezes, sendo uma demonstração concreta de que o mito da Grã-Bretanha dos lordes e da polícia desarmada é uma falácia que em tempos de crise capitalista não se sustenta. É necessário também que os trabalhadores unam suas demandas nas ruas com as da juventude, e avancem para derrubar os planos de ataques de Cameron e impor uma saída independente e classista frente ã crise capitalista.

 

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