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Ações operárias e eleições no México
10 Jun 2006 |

Ações operárias e eleições no México

Por: Mario Caballero
Fonte: La Verdad Obrera N° 189

Quando se aproximam as eleições presidenciais se desenvolvem mudanças na situação política mexicana que têm como protagonistas aos trabalhadores e a juventude. Neste 1° de maio, milhares de trabalhadores tomaram as ruas do Distrito Federal e de outras cidades, protestando por suas demandas e em solidariedade com os irmãos imigrantes que se mobilizavam nos Estados Unidos. As importantes ações operárias deste ano não caem do céu, e sim são o resultado de um processo que começou em 2003 com as mobilizações dos eletricistas, e com as lutas do Seguro Social em 2004 e 2005. Frente ã ofensiva de Vicente Fox contra o sindicato metalúrgico mineiro, desde fevereiro de 2006 saíram ás ruas milhares de trabalhadores. O desemprego nacional mineiro (ver “A tragédia de Coahuila”, LVO 182) e as greves em vários estados, junto ã solidariedade de trabalhadores da saúde, eletricistas, telefonistas e universitários, mostraram que a classe operária começa a se levantar para defender suas conquistas.

No entanto, a rebelião de Sicartsa (ver “Rebelião Operária”, LVO 186) foi o grande salto na ação operária. Pondo de pé novos e radicalizados métodos de luta, enfrentando ás forças de repressão, e entrando em greve para conseguir suas reivindicações. Hoje a classe operária mexicana começa a ser protagonista da luta de classes, e Sicartsa mostra que nosso país se vai pondo em sintonia com a ação dos trabalhadores em outras latitudes, como na França, nos Estados Unidos, na Bolívia e na Argentina.

A repressão na Atenco

À medida que se aproximavam as eleições presidenciais, o governo de Fox em acordo com o PRI e o PRD, decidiram disciplinar aos trabalhadores que, descontentes com esta transição “democrática” que só favoreceu aos ricos, se mobilizam por seus direitos. Assim, a polícia do Estado de Michoacán, a cargo do perredista Cárdenas e a Polícia Federal Preventiva (PFP) desatou a repressão contra os mineiros na Sicartsa. No mês de maio na Atenco as polícias municipal, estatal e federal, lançaram uma brutal repressão que custou a vida de um rapaz de 14 anos e 207 detidos. Os detentos são homens, mulheres e meninos e as colegas denunciaram que foram golpeadas e violadas pelos polícias. Houve dezenas de estudantes, camponeses e moradores desaparecidos, e a PFP tomou o controle de toda a população. A selvagem repressão instrumentada pelo governo e os partidos patronais mostrou mais uma vez o caráter anti-democrático, anti-operário e anti-popular deste regime da alternância.

No seio da juventude e do movimento estudantil, surgem novos sectores combativos que vêem a necessidade de tomar as ruas, denunciar os partidos patronais e ás reacionárias instituições desta “democracia” para os ricos. Esta juventude, que tem como referência política o EZLN, se mobilizou neste 1° de maio na marcha de “La Otra Campaña” contra a repressão e hoje continua em pé de luta pela liberdade dos presos e contra a brutalidade das forças repressivas. Depois destas mobilizações, parte importante dos detentos foram liberados (muitos deles prévio pagamento de fiança) enquanto outros continuam presos. Ao não conseguir o objetivo de acalmar os protestos, isto gerou um efeito contrário ao procurado: maior vulnerabilidade do governo na sua “reta final” para as eleições.

Fox acumula um novo tropeço em sua tentativa de avassalar os direitos operários e populares, que se somam ao retrocesso da Atenco. Está ainda para ver-se se a rebelião de Sicartsa empurra para novas lutas operárias que compliquem mais a situação do governo e a própria transição eleitoral. Enquanto sindicatos opositores e várias organizações sociais e políticas realizarão no dia 2 de junho uma grande marcha para a Cuidai de Toluca contra a política repressora de Fox e pela liberdade dos presos da Atenco e preparam ações contra o governo. Igualmente, o sindicato metalúrgico mineiro (que mantém em greve três empresas) anunciou desempregos escalonados para pressionar ã solução do conflito com o governo, que contarão com ações de solidariedade de outros sindicatos. O debilitamento de Fox e a polarização política se dão num marco de disputas entre “os de cima”, que podem ser aproveitadas pelos trabalhadores.

Eleições presidenciais e a alternativa burguesa do PRD

Neste contexto, o oficialista PAN (que subiu sua intenção de voto nas últimas semanas) e o PRD, são quem têm mais possibilidades de chegar ao governo, enquanto o PRI passa por uma importante crise, se localizando no terceiro lugar e com o aparecimento de setores internos que se inclinam publicamente pelos candidatos do PRD e do PAN. Isto é uma antecipação de que o desprestigio entre trabalhadores e camponeses pode levar a que setores da burocracia abandonem o PRI e passem ao PRD, ou que se dêem novas rupturas.

Um elemento essencial desta crise, que abarca a todo o regime, são as pugnas e crises recorrentes no aparelho sindical priísta, como o CT (Congresso do Trabalho) e a CTM (Central de Trabalhadores Mexicanos). A causa disto está no desprestigio dos burocratas sindicais, e para a burguesia é preocupante que as lutas operárias ocorram neste contexto.

Nesta tentativa de desvio eleitoral é definidor o papel do PRD. Frente ao desprestigio do regime, López Obrador aparece ante milhões de trabalhadores como uma alternativa frente ao PRI e o PAN, a partir de seu discurso anti-neoliberal e de oposição. Mas o PRD demonstrou, ali onde governa, preservar os interesses dos capitalistas e ser contrário ã resolução das demandas operárias e populares. Por isso aparece como uma oposição “responsável” frente as multinacionais e inclusive tem ex priístas em suas listas. Isto se viu recentemente na política repressiva do governador perredista de Michoacán frente ã rebelião operária de Sicartsa.

Para além das brigas entre os candidatos, o PRD, longe de ser uma ameaça para a patronal, pode ser a melhor carta para restaurar a legitimidade do regime da alternância e dar-lhe continuidade, gerando ilusões entre os milhões de trabalhadores e camponeses descontentes com o foxismo e o PRI-PAN, de que votando em López Obrador irão se resolver as aspirações populares. No entanto, e apesar disto, não se pode descartar que as próximas eleições estejam cruzadas por acusações de fraude e disputas ferozes entre setores do regime, alimentadas por uma provável escassa diferença de votos entre o PRD e o PAN. Já o PRI e o PRD estão acusando o PAN de preparar uma “eleição de Estado”.

Desde a LTS-CC viemos impulsionando uma ampla campanha de solidariedade com os mineiros e suas famílias, desde a tragédia de Pasta de Conchos, participando da mobilização em apoio ã rebelião operária na Sicartsa e contra a repressão na Atenco. Colocamos a necessidade de que os sindicatos se somem à luta pela liberdade dos presos políticos -já que se limitaram a moções de solidariedade- avançando no caminho da unidade operária, camponesa e popular contra a repressão e os planos do governo. Ao mesmo tempo, chamamos a “La Otra Campaña”, que está impulsionando importantes mobilizações pela Atenco, que convoquem o Sindicato Mexicano de Eletricistas, a Central Nacional de Trabalhadores da Educação e a UNT a se somarem à luta, já que não são suficientes as ações convocadas pelo EZLN. Nossa proposta se chocou com o sectarismo da direção zapatista, que se nega a impulsionar a mais ampla unidade de ação.

Frente as eleições, estamos convocando as organizações de esquerda, os trabalhadores classistas e as organizações da “La Otra Campaña”, a uma intervenção conjunta e com independência dos partidos do regime. Recentemente publicamos uma “Proposta Aberta” aos trabalhadores, a juventude e as organizações de esquerda, propondo discutir sobre a urgência de construir uma grande organização revolucionária, dirigindo-nos especialmente aos colegas com os quais, na juventude e no movimento operário, participamos conjuntamente com uma política classista e combativa.

Mario Caballero é Dirigente da Liga dos Trabalhadores Socialistas - Contra Corrente do México


PRI: Partido da Revolução Institucional, governou o país desde finais da década de 1920 até o ano 2000. Este longo período é conhecido como “priato”. Apresenta como candidato para as próximas eleições presidenciais Roberto Madrazo Pintado. PAN: Partido de Ação Nacional, de centro direita, do qual é membro o atual presidente Vicente Fox. PRD: Partido da Revolução Democrática, partido de centro-esquerda. Apresenta como candidato para as próximas eleições presidenciais Andrés Manuel López Obrador. La Otra Campaña: organizada pelo EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), liderada por Marcos. Reúne organizações sociais e políticas e setores da juventude.

 

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