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Evo Morales reprime os camponeses e tenta conter a irrupção operária
por : David Dias

17 May 2010 | O governo de Evo Morales enfrenta a crise política mais importante de seu novo mandato. Desta vez não se enfrenta com os representantes políticos da direita oligarca e latifundiária, mas que em meio a ataques repressivos a setores de sua própria base social como são os cocaleiros de Caranavi na região dos Yungas enfrenta uma irrupção operária que (...)

O governo de Evo Morales enfrenta a crise política mais importante de seu novo mandato. Desta vez não se enfrenta com os representantes políticos da direita oligarca e latifundiária, mas que em meio a ataques repressivos a setores de sua própria base social como são os cocaleiros de Caranavi na região dos Yungas enfrenta uma irrupção operária que reivindica aumento de salário e luta contra as tentativas de aprovar leis pró-patronais como o novo Código de Trabalho.

O governo, os sindicatos operários e a burocracia sindical

No dia 12 de maio o governo e a burocracia da executiva da COB conseguiram acabar de forma anti-democrática com a marcha que saiu de Caracollo para La Paz, abandonando os trabalhadores fabris em sua luta pelo aumento salarial. Pedro Montes foi resgatado em meio a insultos e agressões na reunião de Panduro, região onde a COB deteve a marcha para apresentar os “acordos” que chegou com o governo. A oposição dos trabalhadores, professores, saúde e COD-Oruro defenderam seguir com a mobilização. A delegação mineira dirigida por Pedro Montes, que partiu em baixo número de Oruro, decidiu abandonar a marcha se apoiando nas importantes conquistas que a Lei de Pensões contém que permitia os trabalhadores de 58 anos de qualquer setor se aposentar e de 56 para os mineiros.

Há doze dias que se iniciou a greve de fome dos trabalhadores industriais, que irromperam na cena política nacional com mobilizações massivas contra o Novo Código do Trabalho pedindo uma lei de pensões favorável e exigindo o aumento salarial de 12% em rechaço ao 5% decretado pelo governo. A isso se somaram as mobilizações do magistério rural e urbano, que obrigaram a COB a convocar uma greve de 24hs (4 de maio) e que foi reprimida pelo governo que deteve durante dias 15 trabalhadores (9 estão sendo processados) . No dia 6 de maio uma reunião ampliada da COB realizada em La Paz proposta pelos mineiros votou a “greve geral indefinida” e a marcha desde Caracollo. Mas uma vez terminada a reunião ampliada, Pedro Montes se decidiu a boicotá-la e a buscar qualquer acordo com o governo para desmontá-la o quanto antes. E que melhor que informar um acordo com o governo que deixa de fora a questão salarial em uma reunião nos altiplanos longe da luta fabril? Desmontando a marcha, o governo com a colaboração de Pedro Montes evitou a unificação das reivindicações operárias sob a bandeira da COB isolando a luta dos operários fabris e do magistério. A burocracia mineira, principal aliada do governo no movimento operário, pôde conter os mineiros de base em um momento chave graças ã conquista real da Lei de Pensões. Enquanto isso, o governo promove o enfrentamento entre os camponeses e os trabalhadores para aprofundar a divisão do campo operário e popular. Por isso, a central camponesa CSTUCB que teve um congresso burocrático e muito questionado, se pronunciou contrário ã marcha da COB e contra o reclamo de aumento salarial, argumentando que eles não tem relação de dependência. A política do MAS e a burocracia dividiu a COB, fazendo-a pagar um custo político muito alto ã cúpula encabeçada por Pedro Montes que agora é vista como inimiga por amplos setores de trabalhadores fabris, magistério, saúde e das COD de vários departamentos.

O levante de Caranavi e a repressão do MAS ã sua própria base social

Em Caranavi, região cocaleira e cafeeira, um dos setores mais importantes dos colonizadores e bastião do MAS (9 de cada 10 votos) vimos uma verdadeira mobilização por uma reivindicação regional que era o cumprimento de estabelecer uma fábrica de frutas cítricas nesta região, e não em Alto Beni como queria Fidel Surco, atual senador do MAS, ex-dirigente dos colonizadores e proprietário de terras nesta zona. A brutal repressão ordenada pelo MAS, com centenas de soldados em um combate de dois dias transmitido pelos meios de TV deixou dois jovens mortos, muitos feridos e dezenas de dirigentes presos. Sacha Llorenti, ex-“defensor” dos Direitos Humanos, atual ministro do governo, provocou rechaço popular para agradar novamente aos ministros que apontam com os dedos as mulheres de origem indígena para serem reprimidas, por que estas bloqueavam o caminho aos Yungas. Despertou o comentário muito repetido em pensões, táxis e ônibus: “parece o zorro”, em alusão ao ministro de governo de Goni, presidente derrubado pelas massas, que utilizava em cada repressão os mesmos argumentos usados por LLorenti: “é um grupo armado que quer dar um golpe de estado”, “atentam contra a democracia”, “são só um grupo de dirigentes” ou negar as mortes até o último momento.

Estado Plurinacional, Regime e Governo

No “Novo Estado Plurinacional” (que não toca a propriedade privada dos meios de produção nem rompeu a dependência com o imperialismo) necessita um regime que organize a vida social e política do país e está se construindo mediante dezenas de leis e regulamentos pactuados com as classes dominantes. Mas como parte da configuração do novo regime, cada lei a ser aprovada significa forcejos legais e políticos entre os setores afetados e interessados.

Neste marco, a irrupção operária na cena política nacional encabeçada pela rebelião fabril foi seguida por planos governamentais de passar um Código de Trabalho e um Estatuto do Servidor Público que são anti-operários e absolutamente pró-patronais, que impedem o direito ã greve e deixam sem direito ã sindicalização aos trabalhadores estatais (saúde, magistério, etc). Além disso, arrancaram uma promessa de lei de pensões favoráveis aos trabalhadores.

Que se escondem detrás dos ataques ao trotskismo?

O vice-presidente Alvaro Garcia Linera saiu a atacar os dirigentes do magistério e os trotskistas em geral de contra-revolucioná rios que sempre serviram ã direita. Isso porque os trotskistas alentamos a luta operária por salário. Para além da ironia e do cinismo de quem se transformou em escudeiro do interesse empresarial em matéria salarial, este ataque tem o objetivo de anular a todos os que alentamos a luta de classes a partir da esquerda. É que a desaparição da direita na vida política nacional, o sustentáculo do MAS nas últimas eleições municipais e as tentativas de passar leis anti-operárias e pró-patronais junto ao despertar da classe trabalhadora, abre um grande espaço ã esquerda do governo, e o objetivo é evitar que este espaço seja ocupado pelos que falam em nome da esquerda operária e socialista.

Coordenar para evitar o isolamento

Para não ficar isolados os fabris e o magistério devem organizar uma coordenadora dos setores em luta com delegados de base votados nos locais de trabalho para continuar a luta pelo aumento salarial e outras reivindicações, incluídas a liberdade dos presos para lutar e a anulação de todos os processos contra os trabalhadores fabris e camponeses. Para impor ã burocracia de Montes e companhia um congresso da COB que seja democrático, combativo e vote um plano que unifique a luta operária em base a um plano de reivindicações comuns evitando a divisão que o governo tenta colocar entre os sindicatos de trabalhadores e camponeses.. É preciso recuperar a COB e os sindicatos para os trabalhadores com um programa para que a crise seja paga pelos exploradores, com uma orientação independente do governo e dos empresários.

 

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